É muito gira a ideia da Inciativa Liberal, de que os pais podem escolher livremente a escola e que o Estado suporte o custo.
Espero que a IL também proponha que o trabalhador escolha livremente o restaurante, ao invés de comer na cantina, e que o patrão pague a conta.
Uma questão de liberdade de escolha
Que agora comer é um luxo, é um luxo
Não se percebe, ou será apenas uma dificuldade minha, como pode ser que, apesar da crise, continuem a multiplicar-se os restaurantes. Nem sequer aqueles capazes de agradar a um público heterogéneo, mas cada vez mais especializados em coisinhas pequenas, maniazinhas, tiques refinados. Depois da moda das hamburguerias, agora é ver abrir as casas que só têm chás, as que só têm torradas, o restaurante que serve comida em pratos para cão (por Tutatis!), a casa que se especializou em cereais com leite, a que só confecciona refeições com conservas. No meu nada turístico bairro, cheio de casas em ruína e velhotes a sobreviver com reformas miseráveis, abriu um restaurante gourmet, com cozinha de fusão, ementas em inglês, citações refinadas na parede. Durou exactamente cinco semanas, das quais passou quatro às moscas. Era uma espécie de extraterrestre que nos aterrou ali e que olhávamos com a mesma estupefacção com que espreitaríamos uma manada de unicórnios a atravessar a rua. Um dia desapareceu para dar lugar ao velho cartaz “Aluga-se” que já conhecíamos bem. [Read more…]
O país do tudo a mais
Era uma vez um país tão pequeno, tão pequeno, tão pequeno que até começou a parecer que as coisas deixaram de caber lá dentro. De um dia para o outro, talvez por causa da desarrumação, o país passou a ter tudo a mais. Pelo menos, foi o que os governantes do país disseram, porque os governantes são pessoas que dizem.
Passou a ser conhecido pelo país do tudo a mais. De um dia para o outro, como havia muitas coisas a mais, como, por exemplo, dívidas, impostos, miséria ou fome, também começou a haver pessoas a mais. As pessoas e as coisas a mais já não cabiam todas dentro do país. Como as pessoas tinham pernas e as coisas não, as pessoas, quando deram por ela, estavam fora do país e começaram a andar para países em que havia coisas a menos ou pessoas a menos, ou esperança a mais, que a esperança era das poucas coisas que havia a menos no país do tudo a mais.
Ao fim de algum tempo, por causa das pessoas que foram, porque estavam a mais, e por causa das que ficaram, porque tinham dificuldades a mais, as lojas começaram a ser lojas a mais. O mais curioso foi saber que no país do tudo a mais, em que passou a haver fome a mais, os governantes acabaram por dizer que havia restaurantes a mais, porque os governantes são pessoas que dizem.
Esta história era para ter uma moral, mas, no país do tudo a mais, até a moral estava a mais.
Deputado português só come perdiz, lebre, pombo torcaz e camarão/gamba grande
Sempre soubemos que os deputados portugueses se tratavam bem, mas até agora não sabíamos até que ponto podia chegar o descaramento.
No caderno de encargos do concurso de fornecimento de refeições na Assembleia da República, o critério mais importante na selecção do fornecedor não é o preço, como seria de esperar num país mergulhado na crise, mas a ementa apresentada na cantina e nos 2 restaurantes de luxo existentes.
Os senhores deputados não podem comer qualquer coisa e alimentos como perdiz, lebre, pombo torcaz, rola e similares, lombo de novilho, lombo de vitela, lombo ou lombinho de porco preto (bolota) e camarão/gamba grande (24 por Kg ou maior) são receita garantida para ganhar o concurso. É ainda obrigatório disponibilizar diariamente aos representantes da nação 5 pratos à escolha, 8 variedades de sobremesa, uma mesa com um mínimo de 8 complementos frios e uma mesa com 4 componentes de comida vegetariana.
O caderno de encargos chega ao ponto de indicar a única espécie de bacalhau permitida, o tipo de café servido aos deputados (de 1.ª, obviamente), o tipo de músculos a partir dos quais se devem obter os bifes e por aí fora. No bar, a empresa vencedora deve garantir 3 variedades de vodka, 16 tipos de whisky, 4 vermutes, 4 brandies e 8 licores. [Read more…]
Um restaurante em Coimbra
Tenho dois amigos visionários, casados um com o outro, ele, um comunicador puro, ela, uma mulher de acção. Há uns anos, contra todas as expectativas, resolveram criar um restaurante numa aldeia improvável, perto da Guarda. Deixando para trás comodidades e enfrentando riscos, o Eugénio, hedonista a tempo inteiro e antigo relações públicas, fez-se chefe de sala; a Manucha saltou dos jornais e das escolas para a cozinha, dotada também de mãos que tornam simples o acto de criar pratos extraordinários. [Read more…]
Aumento do IVA na restauração para 23%
O IVA na restauração aumenta só 77%, de 13 para 23%. Uma sopa paga 23% de valor acrescentado ao estado. Um galão também. O mesmo para uma refeição rápida, tomada de pé e à pressa, no intervalo do trabalho para dar energia para um resto de dia produtivo.
Nas cidades portuguesas são cada vez mais raras as pessoas que vivem suficientemente perto das suas casas para aí fazerem as suas refeições. Restaurantes vão perder clientela, muitos vão fechar. Trabalhadores serão despedidos. O turismo será menos competitivo e o turismo cá dentro corre o risco de se transformar em pequenas saídas de curtíssima duração. Agricultores portugueses que hoje cultivam produtos de elevada qualidade para restaurantes terão maiores dificuldades de escoamento.
Espanha e França – concorrentes de Portugal na captação de turistas – têm IVA a sete e a oito neste sector. A Irlanda, com o FMI tão dentro de casa como cá, baixou esta taxa do IVA para 9%. Um colar de pérolas paga o mesmo IVA que uma bifana, um iate que uma sopa, comer um caldo verde equivale a um luxo. A segurança social terá mais subsídios de desemprego a pagar. Pessoas que não têm qualificações noutras áreas delapidarão os seus saberes. Locais actualmente arrendados serão devolvidos aos proprietários e permanecerão encerrados. As receitas diminuirão, a fuga ao fisco aumentará.
Deve ser burrice minha, mas não vejo o que vai o país ganhar com isto, nem em números. Alguém me faz um desenho?
Hotéis e clínicas médicas sem licença pode ser, bolas de berlim na praia é que não
O Diário de Notícias avisa-nos que o hotel de cinco estrelas Crowne Plaza, em Vilamoura, está a funcionar "sem alvará de utilização". É normal.
Acontece com hóteis, clínicas médicas, restaurantes e muitos outros estabelecimentos. Podem abrir sem legalização. E sem problemas.
Agora se for para vender bolas de berlim na praia, lá isso, não… Afinal somos um país europeu.
A propósito de amar uma cidade
Passo aqui belas tardes a ler, depois de um almoço nos pequenos restaurantes instalados nas belíssimas casas do SEC XVll, outrora beijadas pelas águas do Tejo. Lugar histórico de onde saíram as caravelas que descobriram o Mundo moderno. Foi tambem aqui que se construiu o Mosteiro dos Jerónimos das jóias mas belas que o homem concebeu, agora acompanhado pelo Centro Cultural de Belém onde se podem apreciar belos espectáculos e exposições. Aqui tambem se passaram coisas menos bonitas como foi a execução dos Távoras. Árvores centenárias oferecem-nos a sua sombra, flores enchem o espírito de cheiros e cores, a Fonte Monumental jorra água que ameniza o calor dos dias. Uma multidão “…de muitas e desvairadas gentes…” vindas dos quatro cantos do mundo enchem este lugar iluminado pela luz reflectida no Tejo azul, espelhando o céu sem núvens. Pode-se morrer de amor…e o “Youtube” pode contribuir e muito com imagens destas, tão estraordinárias! PS: Para o João JC. Este é o meu primeiro texto com imagens. É chato mas conseguiu!
Crianças vs. restaurantes
Uma escapadela de fim de semana, a criança já vai quase nos três anos e a gente começa a devanear com um tímida recuperação de uma coisa parecida com uma vida social.
Como uma ida a um restaurante decente, por exemplo. A esperança ilumina-se quando espreitando a carta descobrimos que milagrosamente, entre o creme de espargos, o carpaccio de novilho e o crocante de frutos silvestres existe um inesperado esparguete à bolonhesa. Ah, isto vai agradar-lhe. O restaurante, sendo carote e de aspecto cuidado, tem poucos clientes a esta hora. Tudo parece bem encaminhado.
Conduzem-nos a uma mesa um pouco mais afastada, como aliás é comum quando levamos crianças ainda por civilizar, o que, de resto, os pais agradecem. Uma revista do Ruca até aí escondida é o trunfo que a ferinha não esperava e que parece suficiente para entretê-la.
Há um número alarmante de copos e talheres sobre a mesa que nos fazem lembrar a última experiência num restaurante semelhante em que a ferinha, sonolenta e desesperada com a lentidão da cozinha que nunca mais lhe fazia chegar o leite creme, resolveu usar os pãezinhos de sete cereais como arma de arremesso e os copos de água como alvo. Mas isso foi há uns meses e a ferinha já não faz essas coisas.
A música ambiente é agradável, ainda que um pouco pedante, como parecem ser, aliás, os ocupantes das outras mesas. Esboço uma tentativa de dar início a um diálogo adulto e interessante, agora que a ferinha se mostra contente com a revista. O meu par aceita o desafio e conseguimos, por segundos, sustentar a aparência de que mantemos um diálogo inteligente e adulto. E então ouve-se aquela vozinha, tão melodiosa e, ainda assim, capaz de se fazer ouvir a uma distância de um quilómetro. “Mamã, o Ruca fazeu chichi nas cuecuas”.
O chefe de sala olha com horror para nós, antevendo o desastre, mas todos respiramos de alívio quando constatamos que, de facto, apenas a revista do Ruca, sobre a qual tombou o copo da água, parece ter tido um acidente.
Tem, então, início uma sucessão de desastres de magnitude vária. Talheres que caem ao chão emitindo o máximo ruído possível, guardanapos de linho mergulhados no prato da sopa, arroz saltitante e que se gruda à cobertura aveludada e aparentemente caríssima dos estofos das cadeiras, saleiros avant-garde transformados em carrinhos que se lançam em loucas perseguições pela mesa, a nossa refeição devorada às pressas e à vez para que possamos conter a espiral de destruição que está em marcha.
Finalmente, ante a visão do prato de arroz doce, as tréguas parecem chegar. A cada colherada que leva a boca a ferinha parece tranquilizar-se. Respiramos fundo, os olhares afastam-se por fim de nós. Talvez ainda nos atrevamos a pedir café. Nesse momento de paz, irrompe um som inconfundível, escandalosamente inconfundível.
“Mamã, dei um pum”.
Pedimos a conta e vamos passar a tarde ao parque. A partir de amanhã voltamos à pizzaria.
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