Homens fatais

A Glória Colaço Martins e eu estamos numa minoria tão acentuada no Aventar que, não estivéssemos nós entre amigos, seria assustadora. Dezoito homens e duas mulheres! (Ricardo, já pensaste implementar um sistema de quotas?). Alego esta condição minoritária para justificar o que aí vem.

Porque hoje apetece-me escrever sobre homens. Ou melhor, sobre um grupo específico de homens, aqueles que sofrem dessa preguiça congénita que faz com que, na conquista amorosa, se entretenham, nos intervalos das relações mais significativas, com as mulheres que não lhes interessam verdadeiramente mas que estão disponíveis e próximas.

O mais temível de entre estes espécimenes é esse tipo de galã sedutor que baseia a conquista no seu encanto pessoal e não simplesmente num encontro de necessidades. Estes homens tendem a desejar mulheres que correspondam à imagem que eles têm de si mesmos: sedutoras, provocantes, perfeitas. Não se atreveriam a exibir outro tipo de mulher, não baixariam os seus padrões. Mas quando essas semi-deusas partem – e normalmente são elas a bater com a porta – não é no dia seguinte que aparece outra à sua altura. E é nesses momentos que o sedutor se torna pragmático.

A tímida colega de trabalho, a vizinha, a empregada do restaurante, a amiga da amiga… em cada uma vai descobrindo alguma qualidade que possa vir a motivar um interesse que, estando condenado à nascença, não precisa de ser muito nutrido. Por razões que encontram sempre uma justificação em que elas aceitam acreditar, a relação, não sendo clandestina, também nunca será assumida.

Elas costumam ser inseguras. Porque não se sentem tão capazes como as outras, ou tão inteligentes, ou tão bonitas, ou tão magras, ou tão curvilíneas… Vêm de relações de desamor, ou estão há muito sozinhas. E o interesse desse sedutor que, a princípio, lhes parece inverosímil, transforma-se em pouco tempo num veneno. Inebriante, intoxicante, delicioso, fatal. Porque cada hora com ele agudiza a percepção do vazio que ficará depois. Porque nenhum sacrifício, por mais dilacerante, bastará para que elas se sintam à altura dele. Porque o que lhes restará quando tudo acabar será a tentativa de despertar os ciúmes que sabem que ele nunca poderá sentir.

Quando uma nova sedutora aparecer em cena, para elas restará um almoço de despedida, ou talvez só um café, e cairão depois nos braços das amigas que, mordidas pela inveja, não podem deixar de soltar um “eu bem te dizia” que arde como limão nas feridas… E tudo isto, imaginem, a propósito de alguém a quem acabo de ver um olhar tão triste.

Novo Logo: procura-se

agricultura biologica

Agricultura Biológica procura novo logo

A comissão europeia abriu concurso para a elaboração do novo logotipo para produtos biológicos. Apesar de eu querer muito participar, estou fora de quotas. No entanto, posso tentar ajudar quem estiver interessado em participar. Acaba a 25 de Junho.

O drama dos clientes do BPP

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O clientes do Banco Privado Português vivem uma situação dramática. Admitem ter cometido o “erro” de confiar nesta instituição “supostamente” regulada pelo Banco de Portugal, como escreveram no comunicado. Na realidade, o seu verdadeiro erro foi confiarem em que o Banco de Portugal poderia garantir o futuro das suas aplicações financeiras.

De boa fé, nenhum cliente do BPP pode atrever-se a alegar que o banco que escolheram era um banco comum, igual aos outros. Não era. Numa definição simples, clássica e básica, quem pretendia definir o BPP anunciava-o como “banco de investimentos”. Em rigor, todos os bancos são de investimentos. Mas neste os investimentos realizados eram mais profundos, mais intensos e com inevitável maior risco.

No passado, o BPP deu-se bem. Com os mercados em alta, o banco ganhou dinheiro, deu dinheiro a ganhar aos clientes, alargou o leque de investimentos e prosperou. Até que a crise dos mercados financeiros começou, desenvolveu-se a aprofundou, levando a instituição a fechar as contas de 2008 com 800 milhões de euros de perdas, numa espécie de fossa das marianas para onde foram sugados os clientes.

Está bom de ver que aquela centena de clientes que hoje esteve na filial do banco, no Porto, representa apenas uma parte pequena dos clientes do banco que João Rendeiro ergueu e afundou. A esmagadora maioria permanece silenciosa. A esmagadora maioria sabia que o BPP não era um banco comum e sabia que o dinheiro que lá entregava não se destinavam a simples depósitos. Sabiam que corriam riscos. De ganhar dinheiro (como aconteceu durante anos e não me lembro de ver protestos) ou de perder (como aconteceu agora e com protestos).

Acredito que muitos clientes terão sido surpreendidos pela crise mundial e pela crise do banco. Mas têm de resolver esse diferendo com os ex e actuais administradores do banco e deixar de esperar que o Estado os vá salvar.

Com honrosas excepções, as chantagens e ameaças de encerrar empresas e enviar para o desemprego os funcionários é um sintoma de desespero, sim, mas também de desatino. Pergunto-me se o dinheiro que terão ganho no passado com os “depósitos” terá beneficiado os trabalhadores agora, eventualmente, em risco de desemprego.

Henrique Neto e os partidos

Livre de grilhões que lhe poderiam apertar os calos, Henrique Neto há muito mostrou que não obedece a estratégias partidárias nem se verga perante eventuais interesses que lhe poderiam prometer mundos e fundos a troco de algum silêncio. Embora ligado ao PS, continua a dizer o que lhe vai na alma. E, pelo que diz, a sua alma deve estar ‘negra’.

Há umas semanas dizia que há medo no PS, agora acusa o chefe do partido de favorecer a corrupção e não poupa ninguém na questão do financiamento dos partidos.

Memórias do Pintarroxo (I)


Uma componente forte do Aventar será a colaboração, a nível de parcerias, com a imprensa regional. Com as Autárquicas no horizonte, algumas surpresas estão guardadas para o futuro.
A partir de hoje, dedicarei uma série de «posts» a José Pinto da Rocha, o «Pintarroxo», desconhecido jornalista regional de meados do século XX. Boémio, libertino, desregrado, doidivanas. Mas inteligente, sarcástico, divertido, fascinante e muito talentoso. A crónica social, a crítica mordaz, os problemas familiares do «Zé da Pouparelha», no seu trabalho de correspondente no jornal «O Progresso de Paredes».

«Hoje, dia de Entrudo, vamos comer um caldinho de azeite, porque estamos em dieta rigorosa. O médico que nos recomendou isto é um bocado azarento!… Mas, diz ele, que tenho os intestinos corrompidos de beber tanta vinhaça americana! Como tenho uma correia para apertar o estômago e vão arrancar as videiras, talvez melhore da barriga. Vou passar a beber vinho de seis tostões o quartilho, visto não poder beber água; basta falar-me nela para apanhar uma constipação! Se for obrigado a bebê-la, duro pouco tempo, e é uma pena morrer…»

in «O Progresso de Paredes», 5 de Março de 1935

Sugestão para ida ao videoclube (2)

“Estou totalmente doido e não vou aturar mais isto!”

Parlamentares da III República (1974 – 2009)

in http://www.marcos-sa.net

 
Em jeito de boas-vindas ao Ricardo Fonseca de Almeida, o mais recente elemento do Aventar, inicio hoje a publicação regular, mas sem periodicidade certa, de uma obra encomendada há uns anos por uma editora de Vila Nova de Gaia, que nunca chegou a ver a luz do dia devido à falência da empresa.
Chamar-se-ia essa obra «Dicionário de Políticos Portugueses» e a parte que estava a meu cargo era a da III República – entre 1974 e a actualidade. Mais do que meras biografias e curriculuns, pedia-se uma apreciação pessoal, dentro do possível, de cada um dos parlamentares que passou pela Assembleia da República desde o 25 de Abril.
Apresento esta obra, a partir de hoje, como a deixei na altura, com os erros e as lacunas decorrentes do facto de nunca ter sido concluída.

Ou Sócrates muda ou a crise devora-nos

Maria João Rodrigues, conselheira junto das instituições europeias e ex-ministra da Segurança Social diz: «O objectivo central é evitar o desemprego em massa e criar empregos alternativos – em tudo o que tem a ver com tecnologias verdes e novas tecnologias energéticas, transportes,reabilitação urbana e habitação,serviços às pequenas e médias empresas e às pessoas e industrias criativas. Os investimentos públicos têm de ter uma justificação de longo prazo, efeitos rápidos no curto termo e traduzirem-se na criação de emprego!»
Que tal, não é muito mais racional e lógico do que os Megaprojectos? E quanto ao desbloqueamento dos créditos junto dos bancos? Temos que ser muito claros com os bancos – se querem ter o apoio público, têm que conceder o crédito a custos muito mais baixos, porque a taxa de juro geral está a baixar e não é de excluir que desça ainda mais. Tudo muito parecido com o que se passa em Portugal, não é?
E onde se vai buscar o dinheiro? Com emissão de “eurobonds” que só podiam servir para financiar os investimentos com prioridade definida a nível europeu! Uma maneira discreta de “meter a massa que está fora do circuito” no sistema e de trazer para a europa “paletes” de eurodólares que estão nas mãos dos Chineses e dos produtores de petróleo (isto sou eu que digo). Trazer dinheiro para a economia do futuro – novas redes de enegia, energias renováveis, educação e formação para empregos do futuro e redes de equipamentos sociais.
Como se pode ver, a nossa desgraça é o nosso primeiro ministro ser muito determinado e trabalhador. Se ele tivesse o bom senso de ouvir as pessoas e faltasse às diárias conferências de imprensa na RTP1, teria tempo para pensar. Assim, temos que o acordar com o voto…

Inauguração:

É já esta sexta, 8 de Maio, pelas 19h09, a inauguração do “Na Garagem da Vizinha” na Rua Padre António, no centro da Maia (em frente à Câmara e ao Fórum da Maia).

Estão todos convidados.

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i há espaço para um novo jornal diário?

Sempre gostei de jornais. Do desfolhar das folhas, do papel mais ou menos grosso, mais ou menos aguado, da tinta, mais ou menos suja, das letras a saltitar, das fotografias grandes ou pequenas ou mais ou menos, dos filetes, dos desaparecidos linguados, dos títulos, das gordas, das magras, das colunas, das caixas baixas ou altas, de tudo.

Leio jornais desde pequeno, desde o tempo em que as páginas eram todas a preto e branco e cinzento. Desde a altura das enormes páginas do Jornal de Notícias, que eram quase do meu tamanho. Desde o momento em que colocar as mãos no jornal significava sujar os dedos de tinta.

Eram os dias em que o Expressa chegava ao grande Porto, na maior parte das vezes, ao início da tarde. Era a hora da corrida ao quiosque para o comprar. Algumas vezes vinha de mãos a abanar. Já tinha esgotado. Após umas três ou quatro vezes, tomei uma resolução: reservei o jornal. Foi tiro e queda.

Às bancas chegou hoje um novo jornal: i. Elogie-se a coragem. O i terá de algo muito mais do que apenas mais um. Terá de ser um produto diferente e de qualidade para chegar junto do seu público. A tarefa não é fácil.

Hoje, continuo a gostar de jornais, embora, admito, em grande parte a internet ganhe muito mais tempo na minha consulta de notícias e informação. Apesar disso, as folhas continuam a fazer parte do meu dia a dia. Há mais páginas, há mais informação, mais notícias, mas há menos jornalismo, menos reportagem, menos entrevistas de qualidade. Para compensar, há mais e melhor opinião.

Às bancas chegou hoje (à hora a que escrevo ainda não o li ou sequer toquei) um novo jornal: i. Num momento em que alguns reformulam o seu projecto editorial e outros mexem nas redacções e no estilo, em busca da redução de custos ou obtenção de mais leitores, o grupo Sojormedia investe mais de dez milhões de euros num projecto que, disse o director do novo periódico, Martim Avillez Figueiredo, destina-se a ser rentável num prazo de cinco anos.

Elogie-se a coragem. Em período de crise económica, que afecta a angariação de publicidade, numa etapa do nosso mundo em que a comunicação social é um dos sectores que mais pesados desafios enfrenta para se adaptar ao ‘admirável mundo novo’, é preciso bravura para lançar um projecto deste género. Com uma redacção das mais modernas do país, 74 jornalistas e edições de segunda a sábado (não sai ao domingo), o i terá de algo muito mais do que apenas mais um. Terá de ser um produto diferente e de qualidade para chegar junto do seu público. E, desde já, com a missão de mostrar que não é um veículo de estratégia empresarial de um grupo que ganha cada vez mais espaço no nosso país. A tarefa não é fácil.

P.S. O Boston Globe salvou-se. Pelo menos para já. Fico satisfeito por isso.