Olha a uniformização ortográfica fresquinha! (6)

Acelerômetro (Bras.)/Acelerómetro (Port.)

Privatizações à moda do Porto

Rui Rio (pela mão do Vereador líder distrital do CDS que apoia entusiasticamente Rui Moreira) decidiu privatizar a limpeza da cidade. Disse que tinha uns estudos técnicos (que nunca apresentou) que provavam que, com a privatização, a Câmara pouparia cerca de 700 mil euros anualmente. Lançou o concurso público com uma base de 5,4 milhões de euros/ano. No entanto, adjudicou esses mesmos serviços por 7,1 milhões de euros. E, no primeiro ano completo em que essa concessão funcionou, pagou 8,1 milhões de euros! Nos anos seguintes, esse valor aumentou, tendo-se situado, em 2011, nos 10,2 milhões de euros – num quadro de redução dos resíduos sólidos produzidos!

Ou seja, de uma poupança ”prevista” de 700 mil euros anuais, a concessão da limpeza traduziu-se num aumento anual de cerca de 5 milhões de euros! Isto não são ”contas à moda do Porto”! Isto é, apenas, um caso de gestão danosa de quem se intitula como ”rigoroso”. Uma situação que não anda longe do escândalo dos contratos ”swap”, de que, aliás, Rio é um dos responsáveis enquanto administrador, principescamente pago, da Metro do Porto.

A ler todo o artigo de Rui Sá. Via 5 Dias.

O Que Vai o PS Segurista fazer?

1. Vai a Belém, pela enésima vez, exigir a dissolução do Parlamento, antes que fique evidente para toda a gente que os culpados da presente crise política são exclusivamente os ex-governantes do PS, a actual direcção do PS, a dívida colossal que os primeiros geraram, a incapacidade para dançar o tango soteriológico do País com quem está ao leme, e não o impasse governamental diante do precipício eleitoral do corte permanente de 4,7 mil milhões de euros. Seguro tem medo. Dependendo do que diga e do que faça, o seu PS definhará na simpatia dos putativos eleitores, enquanto o grosso do eleitorado geriátrico olhará para o PSD-PP como olharam os que aplaudiram Passos de pé, na Sé Patriarcal, reconhecidos por se manter em funções e por ser e parecer o salvador da Pátria em contraste com Portas. Os portugueses, se forem inteligentes, pouparão um Governo que fez tudo o que a Troyka quis e mais faria, se não fosse tão violento, impopular e grotesco do ponto de vista das respectivas consequências sociais e eleitorais.

2. Vai mudar de Secretário-Geral, suscitar um Costa Tostado, um Ferro Cara-de-Cu, um caramelo qualquer mais vociferante, recrudescer a crítica ao Governo, ao Presidente, à Troyka, à Comissão Europeia, ao FMI e ao BCE, pedindo eleições já, pedinchando mais tempo e mais dinheiro, fazer e dizer tudo o que as sereias diriam a Ulisses, antes que seja tarde para apanhar o eleitorado doido, disposto, nas sondagens, a mais demagogia xuxa; antes que se veja condicionado nas próximas eleições, tal como o PSD e o PP, com compromissos de salvação nacional entretanto assumidos.

Monte de merda é uma metáfora

Adoro, adoro, adoro, quando uma figura pública, depois de fazer uma declaração, vem explicar a declaração que fez. Raramente a dita figura pública pede desculpa pelo que disse, preferindo inventar desculpas: que foi um mal-entendido, que foi mal entendida, que retiraram as palavras do contexto, que retiraram o contexto das palavras, que havia ruído nas proximidades.

Assunção Esteves, mesmo tendo chamado Beauvoir a Babeuf, comparou os cidadãos que protestaram nas galerias a “carrascos”. Depois, é claro, veio explicar a declaração, reduzindo o apodo lançado a uma metáfora: “Carrasco significa qualquer elemento de perturbação. Sem querer ofender nada nem ninguém. Significa que quando as pessoas nos perturbam, não devemos dar atenção.”

Podia, agora, dar início a um debate sobre a importância de criar escolas para utentes de metáforas, à semelhança das escolas de condução, mas prefiro deter-me no precedente criado, inconscientemente, pela jurista Assunção Esteves: o que fazer, a partir do momento em que se explique que aquilo que parecia um insulto era, afinal, uma metáfora?

Quando Miguel Sousa Tavares chamou “palhaço” a Cavaco, poderia ter recorrido a uma argumentação semelhante: “Palhaço significa qualquer elemento que nos faz rir. Sem querer ofender nada nem ninguém. Significa que quando as pessoas nos fazem rir, não devem ser presidentes.”

Às vezes, dei por mim a pensar que a maioria que nos governa é um monte de merda. É claro que é uma metáfora, porque não há nenhum ser humano que seja apenas um monte de merda, mesmo que esteja com prisão de ventre há vários dias, porque ainda sobra muita pessoa para além das fezes acumuladas.

Poderão objectar-me que um monte de merda é o resultado encontrado no meio da rua, mas isso ainda torna mais evidente o carácter metafórico da expressão, porque nenhum grupo de pessoas é uma acumulação de excrementos no passeio.

A verdade é que ao considerar que um grupo específico de cidadãos é um monte de merda não quero ofender ninguém, até porque não tenho nada de pessoal contra um monte de merda. O meu principal objectivo até é caridoso: não quero pisá-lo. O meu grande desejo é que seja removido, porque com a saúde pública não se brinca.

O fetiche de Catroga

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Assunção faz citação em segunda mão

Bourreau_executionHá dias em que uma pessoa se sente herói de uma epopeia, capaz de enfrentar multidões em nome de um ideal. Assunção Esteves, agarrada ao leme da Assembleia da República, foi atingida pelos protestos de cidadãos presentes nas galerias, elementos incómodos que mandou evacuar.

Excitada pela descarga de adrenalina, Assunção incitou os deputados a não terem medo, tendo sido aplaudida pelos do PSD e do CDS. Impelida pelas aclamações, ei-la, pressurosa, a declarar que é necessário repensar o acesso às galerias. Muita animação na maioria gozosa.

Eis senão quando, Assunção, já imparável, já de velas enfunadas, declara julgando-se preclara: “Como dizia Simone de Beauvoir, não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus costumes.” Escusado será dizer que a maioria sentiu calores e calafrios e revirou os olhos.

Seria, no entanto, importante, que alguém explicasse a Assunção que é feio fazer uma citação em segunda mão e que é bom confirmar as fontes, regra fundamental para quem tem uma carreira académica. Ora, Simone de Beauvoir não disse; citou, isso sim.

Na realidade, a frase foi escrita por Gracchus Babeuf numa carta à sua mulher. A escritora francesa fez uma citação truncada dessa mesma carta, no ensaio “Oeil pour oeil” que consta da obra L’existentialisme et la sagesse des nations (há edição portuguesa na Esfera do Caos).

Babeuf escreveu: “Les supplices de tous genres, l’écartèlement, la torture, la roue, les bûchers, le fouet, les gibets, les bourreaux multipliés partout, nous ont fait de si mauvaises mœurs !”. Simone citou: “«Nos bourreaux nos ont fait de bien mauvaises mœurs.» écrivait avez regret Gracchus Babeuf.” Assunção enganou-se na autoria e terá consultado uma tradução manhosa, já que o revolucionário francês relata factos num pretérito infelizmente perfeito; Assunção transformou uma constatação num incentivo, o que é um exagero, mesmo sabendo-se que todo o tradutor é um traidor.

Porque temos a preocupação de que o Aventar funcione como um serviço público, deixamos aqui a frase que Assunção Esteves poderá dizer quando voltar a haver agitação nas galerias, o que já não deve tardar muito: “Como escreveu Simone de Beauvoir, citando, de forma incompleta, Grachhus Babeuf, «os nossos carrascos habituaram-nos mal»”

Quero, ainda, aproveitar para sossegar Assunção, porque aprendi a lição: os nossos carrascos são o Presidente da República, os membros do governo e os deputados da maioria e não há maneira de me acostumar a que continuem a torturar o país.

A Puta da Semântica

Desculpem, Esquerdóides, mas estou cansado dos vossos anúncios do fim do mundo e da vossa boca cheia de mortos: «o Governo está morto»; «o Presidente matou a esperança». Ide matar o caralho! Maldita semântica. De repente, os vossos comentadores descobrem que vão nus. Após a surpresa pelo discurso presidencial do dez de Julho, vêm os cromos Adão e Silva e os insuportáveis Pedro Marques Lopes, sempre os mesmos, sempre a mesma merda, encher de cínico e sonso ou de falsete e risonha histeria os ecrãs das TV, mostrando um desprezo pelas instituições lá, onde o Supremo Corrupto mereceu mesuras e deferência. Contra os ventos e marés da actual popularidade maravilhosa do Partido Socialista, o Presidente da República ousa não convocar eleições?! Toda a socialistice e a esquerdice dão tau-tau ao Presidente. Chamam-lhe Múmia, Estarola, Esfinge. O Presidente tem inimigos. Sócrates é inimigo mortal e mortífero do Presidente. O Presidente tenta sacudir a maledicência dos socratistas com a vingança de um aperto no torno de um dilema: respaldar ou não o caminho sob o Memorando até, pelo menos, Junho de 2014. [Read more…]

Cavaco Silva e o governo de salvação pessoal

maroteira

O presidente do qual se dizia à boca cheia ter perdido espaço de manobra, por se deixar colar ao governo devido a acções como promulgar em apenas um dia um diploma governativo, ao ponto de se contar com o ovo no cu da galinha, decidiu cuidar do que a História de si dirá e mostrar ao mundo que ele é que é o plesidente da junta.

Cavaco Silva escolheu um caminho que dificilmente trará um governo capaz mas, por outro lado, tratou da sua imagem, mostrado que arrisaca tomar decisões fora do seu ecossistema. E o interesse do país?

Zeca e os vampiros

Há cinquenta anos, Zeca Afonso publicava um EP intitulado “Baladas de Coimbra”. Lá estava “Os Vampiros”. Os vampiros lá estavam.

A lembrança do composipoetocantor resiste na limpidez da voz e na frontalidade do homem (e a frontalidade é só uma maneira de ser límpido).

Os vampiros continuam irrevogavelmente agarrados ao nosso pescoço. Austeridade é o nome que dão aos caninos.

Detesto a frase feita: “Isto é tão actual!” Hoje, não tenho outro remédio senão repeti-la, porque continua a haver pouca gente a comer tudo.

O vídeo é o do célebre concerto no Coliseu, em 1983. O Zeca estava muito doente e o país também não se sente muito bem.