Apesar dos britânicos estarem fartos das trapalhadas políticas dos conservadores, apesar do Brexit, apesar da impopularidade do político errante Boris Johnson, os eleitores do Reino Unido deram uma derrota colossal à esquerda radical, liderada pelo marxista Jeremy Corbin, provavelmente o pior resultado do labour desde a 2ª guerra mundial. Longe vão os tempos de Tony Blair, os militantes trabalhistas podem agora escolher continuar o caminho que os leva ao precipício, ou regressarem ao bom senso e voltarem a merecer a confiança da sociedade britânica.
Faço votos para que do outro lado do Atlântico, o partido democrático não caia na tentação de eleger Sanders ou Warren, oferecendo de bandeja mais 4 anos a Trump. Por muito graves que sejam os problemas no presente, não é com ideologias do passado, que serão resolvidos. No século XXI ninguém quer ser governado por socialistas de inspiração marxista, pelo menos nos países desenvolvidos.
Países desenvolvidos não são para governo de marxistas…
Suspender a democracia por 6 meses
Manuela Ferreira Leite fez a proposta há uns anos. Boris Johnson conseguiu-o ontem. Tempos e razões diferentes mas com o mesmo princípio. Levar a cabo o que alguns imaginaram, independentemente da vontade dos restantes, sem oposição nem contraditório. Há uma palavra para isto. Depois das areias assentarem, como podem pedir novamente o voto, sabendo-se que este conta quando calha? O populismo não cresce nas hortas. Mas este estrume fortalece-lhe as raízes.
O Extravagante Boris Johnson
[J. A. Pimenta de França]*
Desconcertante, brilhante, despenteado, amoral
Conheço o Boris Johnson pessoalmente, fomos colegas de trabalho no início dos anos 90 quando estive colocado durante três anos na delegação da Lusa em Bruxelas. Ele era o correspondente do Daily Telegraph na capital belga.
Por dever de ofício encontrávamo-nos todos os dias em serviço, incluindo nas muitas viagens ao estrangeiro que os jornalistas encarregados de cobrir a UE e a NATO em Bruxelas são obrigados a fazer para acompanhar os trabalhos das instituições.
É um tipo muito inteligente, culto, simpático, embora arrogante (acho que é uma característica da “British upper class” a que pertence), com um notável sentido de humor, extremamente ambicioso mas, simultaneamente, extremamente desonesto.
Não era exactamente um jornalista, mas sim um político a fazer política através do jornalismo. Mente sem remorsos, torce a verdade de forma que ela se enquadre no que lhe der jeito no momento. Inventava notícias com a maior das facilidades, sempre para pôr em causa as instituições europeias.
Nas suas notícias e crónicas no Daily Telegraph, Boris Johnson apresentava uma narrativa sobre a União Europeia na qual as medidas de Bruxelas só tinham duas leituras: umas eram exigências tresloucadas de burocratas excessivamente bem pagos e desligados da realidade obcecados com a normalização de tudo, desde o tamanho das bananas às placas de matrícula dos automóveis, desligados da realidade; as outras, que não se enquadravam nesta primeira descrição, eram medidas sinistras destinadas a tornar a União Europeia num super-estado policial anulando todas as especificidades nacionais. [Read more…]
Os europeus fogem da Europa sem saber para onde
Abandonados pelo poder na União Europeia, os cidadãos compreenderam que a sua voz e vontade deixaram de encontrar nos partidos dominantes do sistema qualquer eco ou respaldo na tomada de decisões para a sua construção, sentindo-se defraudados nos nobilíssimos ideais que lhes venderam sobre uma “Europa dos Cidadãos”. De costas voltadas para os cidadãos, os políticos do Partido Popular e do Partido Socialista Europeus, aplicam há quase duas décadas os ditames da alta-finança internacional sem nome nem rosto, impondo políticas de empobrecimento da classe média e dos mais desprotegidos, seja em nome da manutenção de uma moeda forte, seja em nome da dívida soberana, seja em nome do que entenderem dizer.
A verdade é que a Europa deixou de interessar aos investimentos da alta-finança desde que escancararam as portas à livre circulação global do capital, [Read more…]
Trump pairando sobre os céus de Londres
Ao contrário do que muita gente por aqui acha, Trump não é propriamente destituído de inteligência prática e sabe exactamente onde quer chegar.
Trump quer redesenhar a política mundial, nem mais nem menos, e pô-la ao serviço da “America great again” e das grandes corporações privadas, fazendo tábua rasa de organizações humanitárias e/ou garantísticas, género ONU ou UNESCO, e blocos transnacionais como a CE, as quais, na sua concepção, só atrapalham.
A recente cimeira da NATO mostra que Trump pode facilmente ameaçar torpedear uma organização que, além das questões estratégicas, não sirva os interesses da indústria americana e o seu ascendente geoestratégico, neste caso a do armamento.
O mesmo se passa hoje, na visita a Inglaterra. [Read more…]
Pulhas Analytica
Robert Mercer, proprietário da Cambridge Analytica, é um dos homens mais ricos do mundo. E como grande parte dos bilionários norte-americanos, Mercer é um batoteiro, que pratica o tipo de batota que a grunharia liberal-fascista venera, porque a grunharia liberal-fascista vive precisamente da batota, seja manipulando os mercados e a economia através dos seus fundos abutres, seja através da evasão fiscal em massa, seja com recurso à injecção de milhões de dinheiro sujo para distorcer a percepção pública sobre os mais variados temas. Uma cambada de parasitas e filhos da puta. O mundo estaria infinitamente melhor sem eles. [Read more…]
Animais nos restaurantes?
Anda por aí muita discussão por causa de animais nos restaurantes, vivos, entenda-se.
Nos pubs de Inglaterra, a discussão é de outro teor. Cheers…!
Metam Gibraltar por ele acima
Instiga o The Sun no seu sempre polido desperdício de árvores.
Gibraltar é nossa
A patética declaração de Boris Johnson, ministro dos negócios estrangeiros de sua majestade, sobre Gibraltar, dá o tom em que decorre esta tragicomédia. Agitando as louras melenas e fazendo aquele ar que inspiraria, decerto, o grande Jim Henson a produzir o correspondente “muppet”, proclamou um sonoro “Gibraltar é nossa (…) e a decisão sobre o seu futuro cabe ao governo e ao povo Britânico”.
Está bem, ó Boris, será assim. Mas que é um cómico remate no habitual estilo imperial inglês, lá isso é. Lembra-me, já lá vão muitos anos, aquele etilizado compatriota penicheiro que, no rescaldo da nossa descolonização, declarava, naquele tom pomposo que só o bom tintol confere: “levem lá o que quiserem, mas as Berlengas são nossas! Mai’ nada!”.
BBB day
Hoje foi o dia bye, bye Britain. E a seguir, não estará a caminho o bye, bye United Kingdom?
O governo britânico rejeitou a proposta da Escócia para o segundo referendo da independência [tradução automática], mas falta saber o que é que os escoceses agora pensam sobre o assunto. Aproveitando a boleia escocesa, o Plaid Cymru e o Sinn Fein (partidos independentistas do País de Gales e da Irlanda do Norte, respectivamente) estão a pressionar [tradução automática] o governo britânico quanto à questão das respectivas independências.
60 anos depois, temos uma Europa mais fragmentada, apesar da União. O Brexit é só uma particularização da divisão na Europa, bem patente nas teses das duas velocidades, por exemplo. Dizem que os ratos são os primeiros a abandonar o navio. Mas também se diz de quem a sabe toda que é rato.
Send ‘em over!
Mandem médicos, mandem enfermeiros, mandem professores. Aqui não se trabalha de borla ou a troco de pratos de lentilhas.
É mesmo para acabar.
“Com a retirada de Obama e a entrada em cena do Luís XIV da Quinta Avenida, o mundo entra noutra fase. Podemos chamar-lhe incerteza mas incerteza é o que menos existe” – Clara Ferreira Alves, Expresso, 21 de Janeiro de 2017.
Quando acabei de ler o artigo desta semana de Clara Ferreira Alves na revista do Expresso fiquei a pensar que nunca como nos últimos tempos concordei tanto com aquilo que ela escreve. Sempre gostei de ler os seus artigos e ainda mais quando discordo das suas opiniões. Mas este seu texto, com o título “É para Acabar”, é do melhor que tenho lido nos últimos anos. Está ali tudo, devidamente retratado e colocado no seu real contexto:
A maior prova, se tal seria necessário, foram os resultados das eleições nos Estados Unidos. A imprensa a fazer campanha contra Trump e o resultado foi ao contrário. O mesmo se diga no que toca ao Brexit. Retomando o texto de Clara Ferreira Alves:
Estou plenamente convencido que assim será. Um a um, eleição a eleição os “Trump” mais ou menos letrados por esse mundo fora, a começar pelas próximas eleições em França, vão vencer com o voto popular. Porque o povo está farto. Completamente farto e prefere o “quanto pior, melhor”. As elites merecem que assim seja, para desgraça de todos. Voltando ao artigo de Clara Ferreira Alves:
Subscrevo tudo isto que a Clara Ferreira Alves escreveu. Para mal dos nossos pecados, estou convencido que assim será. É mesmo para acabar…
O leão desdentado
Theresa May – a antiga moderada hesitante quanto ao Brexit – atirou-se que nem uma leoa à União Europeia, honrando a heráldica da velha Albion. Mas o leão da Albion está desdentado e a fúria da primeira-ministra britânica é mais fruto de uma agressividade nascida da frustração que um sinal de força e firmeza.
Em resumo, o que a zangada senhora disse foi: queremos sair da UE, queremos manter todas as vantagens e dispensar todas as obrigações e desvantagens, ou nos dão o que queremos ou a vingança – quiçá traduzida num mega-paraíso fiscal – será terrível; mandem-nos os vossos quadros mais qualificados que os outros nos encarregamos nós de devolver. [Read more…]
Retrocesso e radicalização: o alarmante destino de Theresa May
A chegada da eurocéptica Theresa May ao poder no Reino Unido não está a ser particularmente animadora. Poucos dias após se mudar para o nº10 de Downing Street, a nova primeira-ministra inglesa já conseguiu a proeza de promover uma onda de retrocessos de proporções consideráveis. Margaret Thatcher iria adorar.
Para a pasta do Ambiente, May convidou Andrea Leadsom, a Ministra da Energia de David Cameron que recentemente questionou a veracidade do problema das alterações climáticas, flagelo que ainda esta semana regressou à ordem do dia, após a divulgação de um relatório encomendado pelo executivo Cameron que avisa para a necessidade do país se preparar para cheias, vagas de calor e escassez de alimentos provocadas precisamente pelas alterações climáticas. Leadsom é também uma apoiante da caça à raposa, do abate da floresta e do regresso em força do carvão, caminho que o seu antecessor tentou reverter. [Read more…]
Bilhete do Canadá – Heil Schäuble!
Quem nasceu para escorpião, morde sempre, envenena sempre, porque é essa a sua natureza. É o caso do Ministro das Finanças da Alemanha, o Sr. Schäuble, que gostou de humilhar a Grécia e se prepara agora para humilhar Portugal e Espanha. Porque é isso que transparece das suas ameaças, rosnadas, e depois desmentidas de forma ridícula.
Contra a natureza das pessoas que nascem más e nada aprendem com a História, temos obrigação de as afastar de lugares onde podem fazer mal a milhões de pessoas. E se for caso disso, esmagar o escorpião com a bota. Sem apelo nem agravo.
Para já, estou grata à Inglaterra. É a segunda vez na minha vida que ela me defende de certa gente que domina a Alemanha.
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Não, os ingleses não foram aos magotes pesquisar no Google o que é a UE
Na sexta-feira, estava o abanão do Brexit ainda fresco quando o Washington Post escrevia que “muitos britânicos poderão nem saber em que é que votaram”, num artigo com um título desdenhoso afirmando “Os britânicos estão a pesquisar freneticamente sobre o que é a UE, horas depois de votarem pela saída“.
No entanto, a notícia espalhada pelo Washington Post, e amplamente disseminada, é falsa. Este jornal baseou-se num tweet gerado pela ferramenta Google Trends, a qual analisa em tempo real o que é que as pessoas estão a pesquisar. [Read more…]
Eurocídio
Não consigo acompanhar os meus amigos que conseguem ver na actual situação da União Europeia, após o brexit, uma oportunidade para uma virtuosa reforma da organização. Pelo contrário. Todos os sinais indicam o caminho oposto. A preparação de sanções contra Portugal e Espanha – depois das eleições…- são apenas mais um sintoma. As ameaças a todos os países que hesitem na obediência, as reuniões restritas à clique dominante, as interpretações abusivas e distorcidas, quer do comportamento dos britânicos, quer da resistência democrática noutros países, tudo conduz ao mesmo fim. Os mandantes alegam que querem curar a UE. Parece mais que querem fazer-lhe eutanásia. Isto já não é só uma crise aguda do capitalismo. Também é, claro. Mas há aqui uma sombra, talvez de crueldade social, quiçá de sociopatia ou, quem sabe, uma vertigem de pura estupidez que, como estabeleceu Einstein, pode tender para infinita em condições determinadas.
Bilhete do Canada – Depois queixem-se
Desde que estourou a bomba do Brexit tem havido duas preocupações por parte da nomenklatura de Bruxelas: enquanto Merkel afirma que não há pressa nas negociações de saída da Inglaterra, que não é preciso ser desagradável nesta rampa final, outros sublinham que até o processo estar terminado não cessam os deveres e os direitos de quem decidiu sair.
Cameron, que pôs o pé na argola e trata agora de limpar-se o melhor possível, respondeu à letra, em sede própria, no parlamento, com aplauso geral: quem trata do timing somos nós, porque cá em casa mandamos nós. E com isto deu a entender que percebeu a jogada da chanceler: fazer de conta, levar tudo em pianinho para que fique tudo na mesma.
Juncker é que, na primeira sessão depois do desastre, perdeu as estribeiras: invectivou a delegação britânica, foi desabrido. Farange não se ficou, passou rodas de inúteis a todos, acusando-os de nunca terem feito nada na vida, de não terem proporcionado um único posto de trabalho.
Se puxam mais por ele e acompanhantes, arriscam-se a que o Farange, que como os malucos diz tudo, conte ali pelo claro o caldinho da estrondosa fuga ao fisco que Juncker ajudou a medrar no Luxemburgo quando foi governante. E mais coisas. Mesmo muito mais coisas.
Ponham-se a puxar por eles e depois digam que têm pouca sorte na vida. Vai linda a peixeirada, vai.
O RU está em vias de sair
O que faz a “europa”? – Uma reunião a seis membros, pois claro. O resto é paisagem.
Carta do Canadá – Pega de Caras
Que podemos fazer se estivermos dentro duma arena para onde largaram um touro? Ou fugimos ou o pegamos de caras.
Tal é o caso com a situação criada pela União Europeia, que levou ao referendo de Inglaterra. Porque, de facto, a UE anda, desde há dez anos, pelo menos, a esticar a corda da desigualdade de tratamentos, da política da ameaça e da punição, da imposição (quadrada) dos métodos económico-financeiros alemães que desaguaram no desemprego massivo, na falta de horizontes para a juventude, nos cortes cruéis dos direitos dos trabalhadores, do completo desleixo no que se refere à maneira como os governos seus apaniguados aproveitam alegremente da corrupção, do irrealismo duma moeda (o euro) que não se flexibilizou para facilitar o comércio livre, da falta de controlo de fronteiras e last but not least o espectáculo degradante que está a oferecer ao mundo com a questão dos refugiados. [Read more…]
Notas sobre o Brexit
- Algumas almas pretendem apresentar o referendo como uma vitória dos eurocépticos contra a União Europeia. É verdade. Mas não é toda a verdade.
- Esta campanha foi baseada na discussão sobre a imigração. Tornou-se um voto contra a entrada supostamente desenfreada de imigrantes vindos da União Europeia (o caso mais notório, polacos e búlgaros). Provas? Quem está à frente da campanha foi Nigel Farage e Boris Jonhson. A palavra chave da campanha foi Imigração.
- Isto não quer dizer que todas as pessoas que votaram Leave são racistas ou xenófobas. Isso é uma visão redutora e simplista. Muitas votaram porque têm de facto preocupações legítimas sobre o futuro da União Europeia. E os votos, todos eles, seja porque razão forem, têm legitimidade e devem ser aceites. É a democracia.
- Contudo, é inegável que muitas outras pessoas votaram em nome daquilo em que em Inglaterra se chama “the little Englander mentality”. Mais do que isso, a campanha foi conduzida de acordo com essa mentalidade. Isto quer dizer o quê exactamente?
Brexit – Um sopro de Liberdade…
Os dinamarqueses rejeitaram em referendo Maastricht, mas foram obrigados a repetir votação. Os irlandeses rejeitaram Lisboa e tiveram o mesmo destino. Pelo meio os franceses rejeitaram uma Constituição europeia e entre outras chapeladas até os irrelevantes portugueses nunca viram concretizada a promessa de realização de referendo. [Read more…]
BREXIT
Entre outras, uma coisa é certa: a arrogância de Bruxelas foi castigada. Sem defender que isto foi bom – tanto menos pelas tendências subjacentes – também não deixo de achar que foi uma paulada para saberem que quando se anda a impor aos cidadãos europeus ditames a bel-prazer, mais cedo ou mais tarde se recebe a factura. Democracia, transparência e justiça social meus senhores, tinham-se esquecido dessas condições. Lembrem-se disso em relação ao CETA e TTIP, se não querem partir mais loiça.
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