Nada justifica o vandalismo

Paris, Grécia,  Londres. Três capitais europeias, três verões, três cidades em tumulto. A moda de destruir os bens daqueles que estão na mesma condição dos “manifestantes” parece ter chegado para ficar. E se ainda não aterrou em Portugal não será por falta de vontade de alguns, pois já em 2009, ainda nem se suspeitava do que estava para vir, e já eu ouvia  suspiros na linha do “os gregos não brincam em serviço e os de cá são uns mansos”.

Indignados, manifestantes, rebeldes. Mas o que os indigna? Manifestam-se contra o quê? Espalham o caos para quê? Sabe-se que se queixam da sua parca condição mas nada fizeram quando os navios vindos da China traziam para cá contentores de Levis baratas e, na volta,  lhes levavam o emprego. Indigna-os não terem o plasma da montra e portanto fazem a justiça das montras partidas.

A mim mete-me asco esses que parasitam das benesses que a política lhes traz. Ainda há meses o PSD gritava contra os boys do PS e agora vejam-se os salários milionários que as nomeações estão a trazer. Impostos para uns, 3000 euros por mês para outros. Mas neste campo não existem virgens imaculadas. Do poder central ao regional e local, não há partido que não tenha telhados de vidro.

O nacional-tachismo é uma vergonha mas não justifica o estado miserável a que chegámos. E não será um eventual vandalismo importado de Londres que algo mudará. Precisamos de um paradigma económico diferente, sem empresas encostadas ao estado e onde a concorrência internacional tenha regras.

Comecem por ganhar nas urnas, em vez de querem conquistar as ruas. Nada justifica o vandalismo.

A História e a literatura fantástica em Raul Iturra

Decidiu o meu colega Raul Iturra dedicar-se à ficção escrevendo sobre Karl Marx. Podia dar-lhe para pior, mas tem alguma gravidade o facto de apresentar o seu texto como sendo resultado de uma investigação científica, ainda por cima de uma ciência que manifestamente lhe é estranha,  a História.

Não sei como se faz em Antropologia, mas em História consultam-se fontes credíveis, e depois trabalha-se.

Ora não é esse o caso. Fonte para afirmações tão idiotas como “É sabido e conhecido que Marx cumpria rigorosamente as regras judaicas, como as luteranas.” não são referidas, pela simples razão que é complicado inventar uma origem para tal atoarda.

Fontes como http://br.answers.yahoo.com/ não têm qualquer credibilidade científica.

Afirmações como “Em Marselha foi-lhe solicitado, em 1887, escrever um Manifesto para comemorar os 100 anos da morte de Babeuf, guilhotinado pelos seus colegas de partido por ter escrito o Manifesto dos plebeus” além de algum delírio pecam por uma coisa que usamos em História chamada datas, como por exemplo a data em que o Manifesto foi escrito, por Marx e Engels, ou seja nos idos de 1847/48.

Nada tenho contra a imaginação do novelista Raul Iturra, note-se. Já o vício de se apresentar como professor catedrático, correndo-se o risco de alguma alma ali parar e se convencer que se trata de ciência, esse risco, como professor, preocupa-me um bocado. Quem te manda a ti, sapateiro Iturra, tocar rabecão?

Baronesa Johanna Von Westphalen da Prússia, redactora e autora do Manifesto Comunista

Jenny

«Finalmente pensaram a frase, pronunciada por Jenny: proletários do mundo, uni-vos. Quem finalmente escrevera o Manifesto Comunista fora Johanna von Westphalen, denominada a baronesa vermelha».  (excerto do meu livro Marx, um devoto luterano (2010). Dedicado aos colegas aventares que são da minha cor e ideologia)

 

Muitas surpresas foram encontradas na pesquisa que fiz para este livro. A primeira, os comentários de Ratzinger sobre Karl Marx e o apoio que procurou nos seus conceitos para escrever o seu livro Jesu von Nazareth, Editora Vaticana, Estado Vaticano, Roma, traduzida ao português no mesmo ano como Jesus de Nazaré, Esfera dos Livros, Lisboa. [Read more…]

Hooligans

-Tenho lido por aí algumas mentes um pouco mais exaltadas, certamente entusiasmadas pelo Verão, época do ano onde sempre se bebe um pouco mais para refrescar, tentando evitar delírios provocados pela subida de temperatura, que nos últimos dias tem afectado o território português. Em Portugal e não só, há quem pretenda ver no comportamento dos arruaceiros ingleses, sinais de uma revolução que tarda, mas lamento meus caros, não passam de um bando de desordeiros, vulgares ladrões, reles escumalha, que se julga no direito de possuir telemóveis topo de gama ou roupa de marca, sem terem de pagar. Por cá também existem alguns, como em qualquer outro país do mundo. Não vejo saques em padarias ou supermercados para matar a fome, aquilo é outra coisa, hooliganismo a fazer lembrar as temíveis claques de futebol nos anos 80, que após algumas vítimas foram colocadas na ordem pela senhora da foto e banidas dos estádios, permitindo ao futebol inglês ser hoje um lugar respeitável, local de festa, com a presença de famílias enchendo estádios, bem diferente do que se passa por cá. David Cameron nem precisa procurar muito longe inspiração para resolver a questão, bastará percorrer os quadros na sede do seu partido.

 

Isto dá jeito, dá

Isto do pessoal se manifestar a destruir o que é dos outros é muito giro, sim senhor. E dá jeito, também. O pessoal liberta o stress e os outros pagam a conta.

Tal como aqueles que enriquecem à custa da estupidez de quem pede emprestado com juros de 20% a 30% para comprar carro, ir de férias ou fazer extensões no cabelo. Também lhes dá jeito que haja gente que se proponha a asfixiar-se financeiramente pela vaidade, pela inveja ou pela futilidade.

Como dá jeito a quem se endividou estupidamente assim, chamar nomes aos credores quando estes vêm cobrar o que é deles.

Aos governos também dá jeito aproveitar a crise provocada pelo endividamento com que eles mesmos também foram coniventes ao longo de anos, em governações alternadas – ou melhor dizendo, alternadeiras – para agora fazerem aquilo que em outras ocasiões não havia lata para fazer.

Ou seja: uns têm uma boa desculpa para destruir o que é dos outros – seria bom de ver a reacção deles se fosse gente partir o que é deles a título de protesto; outros podem impor as suas regras aos dependentes do seu produto – tal como um dealer faz a um drogado; outros podem chamar nomes a quem lhes fez as vontades, agora que cobram a factura; e outros, ainda, têm a oportunidade de deitar as garras de fora e mostrarem quais são os seus desígnios.

Apesar dos argumentos expostos pelos nossos Ricardo e JJC, para mim nada justifica que  a coberto do direito de protesto se destrua propriedade alheia. Isso não é manifestão, é vandalismo.

Novas músicas portuguesas: Silence is a boy – Vais de metro

Veja a ficha técnica.

Estação de Nelas, 1995

Autocarro CP – Suspensa que fora, anos antes, a circulação de comboios na Linha do Dão (Santa Comba Dão-Viseu), a ligação daquela cidade à Linha da Beira Alta foi, durante alguns anos, efectuada por autocarros CP. Por esses anos, a CP era, na gíria ferroviária, também citada como “Camionetes de Portugal”.  Entretanto, Viseu liga-se ao mundo por duas auto-estradas “grátis” (o que é bom não dura para sempre) e pela ecopista do Dão (outrora uma linha de caminho-de-ferro).

A foto é do meu amigo José Luis Covita. Autocarros é com ele…