Acho que nunca escrevi sobre isto, ou seja sobre o que tecnicamente se chama Avaliação do Desempenho Docente. A publicação pelo Paulo Guinote de um formulário de avaliação dos professores, a ser preenchido pelos alunos, e a discussão que se lhe seguiu, levam-me a fazê-lo agora. [Read more…]
Lágrimas de Cavaco
“Tal como Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, Cavaco Silva acha que uma vitória eleitoral elimina todas as dúvidas sobre negócios que surgem nas campanhas”, escreveu Miguel Pinheiro na edição da revista Sábado de 27 de Janeiro.
O procurador-geral da República entendeu haver matéria para processozinho judicial e Cavaco deu o amém. Longe de mim, portanto, vir agora questionar o milagre da multiplicação do preço das acções da famigerada SLN ou a clareza do negócio da casa da praia da Coelha azul. Ou as actuais lágrimas de crocodilo a propósito da destruição da agricultura nacional (sem subtrair ao assunto, e só a título ilustrativo, o “giracídio”, os “jipes ifadap” e a Odefruta – 6 milhões de euros, bingo! – em governos do agora mui impoluto e venerando chefe de Estado).
Afinal, no entender desta gente, o voto é como uma esponja a legitimar tudo. E o estado de direito uma carapuça para patego ver. Sobretudo agora, quando a gula de dezasseis anos sente as costas quentes de uma maioria, um governo e um lá o que quer que seja. É fartar, vilanagem!
Alegre cavaqueira
De acordo com o Público, Cavaco Silva “acredita que os portugueses querem curar a “doença” que neste momento os afecta, o Presidente da República explicou que essa “doença” é “o grande desafio de responder aos desafios que foram colocados pela comunidade internacional”.”
Limito-me, prudentemente, a citar o jornal e não posso deixar de notar que a língua portuguesa sai com alguns ferimentos, devido ao desafio que é responder a desafios.
A ser verdadeira a citação, ficamos a saber três coisas.
A primeira poderá ser surpreendente, mas é compreensível: os portugueses sofrem de uma doença.
A segunda não parece ilógica: segundo Cavaco, profundo conhecedor da psicologia lusa, os portugueses querem curar-se, o que os assemelha a grande parte dos doentes.
A terceira é a mais importante, porque corresponderia à identificação da doença. Ora, é aqui que a linguagem cifrada do Presidente obriga a cálculos exigentes: se a doença é “o grande desafio de responder aos desafios que foram colocados pela comunidade internacional”, manda a lógica e ordena Hipócrates que nos curemos, exactamente, desse grande desafio e que nos recusemos, portanto, a responder aos desafios colocados – ou transmitidos, em linguagem médica – pela comunidade internacional, responsável, portanto, pela doença de que todos padecemos.
Os serviços prestados por Cavaco à língua portuguesa são inestimáveis. De qualquer modo, já não é a primeira vez que tem problemas com a palavra “doença”, como nota muito bem Rui Unas, que deve estar quase a ser processado por ofensa. [Read more…]
10 de Junho: a medalha de Sócrates
Há quem chame ao 10 de Junho o dia das medalhas. Sócrates também foi medalhado hoje em Castelo Branco, não pelo Presidente da República, mas por populares.
Se, a troco de alguma sanidade, um bom banho de realidade e de confrontação com os sentimentos dos portugueses faz bem a Sócrates, pergunta-se onde estava esta gente quando o ex-primeiro ministro era ainda um “animal feroz” e andava pelo país a distribuir auto-estradas, ventoinhas e barragens? Ou será que só lhe batem depois de vencido?
António José Seguro e o arejamento do PS
Segundo avança a imprensa, Seguro parte em vantagem, por controlar o aparelho do PS. No entanto, qualquer pessoa que conheça minimamente os meandros partidários sabe que é fatualmente incorreto dizer-se que qualquer candidato domina o aparelho. Quando um candidato dá a impressão de dominar o aparelho partidário, o que se passa é exatamente o oposto: o aparelho domina o candidato [Read more…]
10 de junho
Esta é a pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões
Almada Negreiros – A Cena do Ódio
Mestre Georges Brassens canta a versão castelhana de La mauvaise Réputation. Quando ouço isto, lembro-me sempre do dia de hoje:
Cuando la fiesta nacional
Yo me quedo en la cama igual,
Que la música militar
Nunca me pudo levantar.
João Gilberto: o senhor Bossa Nova faz 80 anos
Há uns trinta anos, carregando o peso do acne e do buço adolescentes, já eu era um candidato a intelectual e, nas loucas noites tentugalenses, que passava fechado no meu quarto, dedicava-me a ler livros que não entendia, ao mesmo tempo que ouvia programas de rádio, no tempo em que a rádio tinha programas.
Muito do que tenho de melhor, por pouco que seja, devo-o a muitas horas de rádio e a nomes como Maria José Mauperrin ou Aníbal Cabrita ou José Nuno Martins e a programas como “Café-concerto”, “Pão com Manteiga” ou “24ª Hora”.
No silêncio nocturno da minha solidão juvenil, foi exactamente na “24ª Hora” que descobri, maravilhado, um fio de voz que era, também, uma viola: João Gilberto. A primeira música que me lembro de lhe ter ouvido foi “Disse alguém”, versão de “All of me”, um standard que viria a (re)conhecer mais tarde.
O veludo, a leveza e o rigor da voz nunca mais me saíram do ouvido, até hoje, tal como a Bossa Nova e, à falta de melhor designação, a MPB. Hoje, João Gilberto completa 80 anos de idade. Parabéns, João Gilberto. Obrigado, 24ª Hora. [Read more…]
Só boas notícias
Ir mais além
Existe um dado curioso nas tendências de voto nas mais recentes eleições legislativas: o crescimento dos votos em branco. Nas legislativas de 2005 foram 63789, nas legislativas de 2009 foram 99161, e agora nas de 2011 cerca de 148058. Um crescimento interessante de acompanhar. Como é interessante, também, apreciar o quanto isto começa a afligir os partidos políticos.
Como falar de votos é falar de votantes, lá continuam a pairar suspeitas quanto a centenas de milhares de eleitores, que distorcem a realidade estatística do país e permite números de abstenção irreais, com as consequentes viciadas conclusões. Nada de novo, assim, que se continue a falar a cada acto eleitoral da necessidade de actualização do número de eleitores, na esteira da velha lógica do “tem que se ver isso”.
Quanto ao resto, tudo se resume à fria constatação de que a Esquerda falhou e a Direita ganhou. E de que é mais fácil a Direita unir-se do que a Esquerda entender-se. Como bem exemplifica a queda do Bloco de Esquerda que se esqueceu de atacar a Direita e centrou-se em José Sócrates e na concorrência com o PCP. [Read more…]
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