Jacuzzi não é uma "banheira" para o relax…

jacuzzi

Volta e meia as empresas surpreendem-me.
Já sabia que as Chiclets eram uma marca mas que acabaram por designar toda uma gama de produtos. Também já conhecia a história semelhante da Jeep. Até sabia que o famoso “cimbalino” no Porto derivava do nome das primeiras máquinas de café.

Não querendo estar aqui a fazer publicidade gratuitamente, o que eu não sabia, era que Jacuzzi também era uma marca e não um tipo de “banheira” para o relax…

E o que é que isto interessa? Absolutamente nada! Às vezes gosto só de partilhar… e partilho especialmente com o chefe Ricardo que pelos vistos anda exausto. Um jacuzzi vem mesmo a calhar…

Será que a RTP Porto está mesmo ao Serviço de Elisa Ferreira?

Tenho estado atento, em particular nos últimos dias, à comunicação da RTP Porto, mais propriamente aos serviços noticiosos.
Não vou aqui e agora reflectir sobre o seu serviço público (discussão sem dúvida muito importante), mas sim sobre a parcialidade que nos últimos tempos a RTP Porto tem demonstrado.
E para sermos objectivos e pragmáticos, vamos a factos das últimas semanas:
1. Inauguração da Feira do Livro. Regresso à Avenida dos Aliados. SIC e TVI estiveram presentes. A RTP faltou;
2. Apresentação do novo projecto de reformulação do Palácio de Cristal (Pavilhão Rosa Mota). SIC e TVI estiveram presentes. A RTP faltou;
3. Sessão formal de inauguração do Sea Life, Grupo Merlin (segundo maior grupo mundial na área do entretenimento, logo a seguir à Disney). SIC e TVI estiveram presentes. A RTP faltou.
Obviamente que não existem coincidências. Ainda para mais quando é a RTP a estação televisiva que de longe tem mais meios técnicos e humanos para poder fazer cobertura televisiva na Cidade do Porto. A SIC e a TVI com recursos escassos conseguem fazer reportagem, mas a RTP falta sistematicamente.
É pena que assim seja. A RTP Porto é sem dúvida um dos poucos meios que ainda sobrevivem ao centralismo estúpido e burocrático instituído pelos sucessivos governos. Mas, com muita pena minha, hoje está a prestar um serviço parcial e autoritário ao serviço de uma candidatura partidária. Nunca, como hoje, se viu a RTP Porto ao serviço de um interesse partidário. Os bons jornalistas que existem na RTP não merecem isto. O cúmulo desta partidarite está mais uma vez bem patente na escolha de Elisa Ferreira para comentar a relevância de Carlos Candal na democracia portuguesa. Carlos Candal não merecia isto (pessoa que aprendi a admirar pela sua frontalidade e força das suas convicções). O trágico desaparecimento de Carlos Candal, fundador do Partido Socialista e um dos rostos da história do Partido, é comentado por Elisa Ferreira, uma independente, sem ligação nenhuma ao Partido (como ela sempre está a dizer). Já não há vergonha. Uma instrumentalização da RTP Porto como nunca se viu.
Este trabalho, pouco inteligente diga-se, mas instrumental e ao serviço de Elisa Ferreira (candidata à Câmara Municipal do Porto) tem um rosto. Em breve será denunciado!

I'm telling you for the last time

Por motivos familiares, vou ter de abandonar o Aventar durante algum tempo. Não sei por quanto, vai depender das circunstâncias. Espero que não seja por muito.
A gente vê-se por aí.
Beijos e abraços a todos.

Luís Melo – A suspensão (definitiva? do TGV*

A notícia de que a decisão final sobre o TGV ficaria para o próximo governo, foi a medida mais inteligente que tomou este governo (a seguir à substituição de Correia de Campos). Ainda assim, peca por tardia e por apenas ter sido tomada em consequência dos resultados eleitorais, o que prova que não foi por sensatez, mas por taticismo eleitoral.

De qualquer forma, é preciso mesmo saber se os compromissos até agora tomados, não implicam grandes indeminizações, caso o projecto seja abandonado. Já aconteceu o mesmo recentemente com outras obras que foram abortadas.

Também a propósito do TGV, ao contrário de alguns notáveis, não sou a favor da suspensão do projecto. Sou totalmente contra a sua realização. Só pode pensar em TGV quem, das duas uma: ou nunca andou nem sabe o que é o Alfa Pendular, ou vai beneficiar (financeiramente) com a realização desta grande obra.

Já agora, e por causa desta certeza em Abril 2009, o Ministro Mário Lino leva mais 3 pontos para a Superliga “incompetente-mor”

* Luís Melo é leitor do Aventar

Arrufadinha – Is the end?

Quando sabemos que tudo acabou? Quando já não sabemos se há amor? Quando quase tudo o que o outro faz ou diz nos irrita? Quando percebemos que já não nos respeitamos mutuamente? Quando cada um de nós está só com os seus pensamentos? Quando apesar de juntos nos sentimos sós? Quando já nenhum tem a capacidade de pedir desculpas ao outro? Quando nos sentimos inseguros e mal-amados? Quando se partem coisas, se atiram objectos, se berra ao invés de engolir o orgulho e «fazer as pazes»? Quando um espera e o outro não vem? Quando esperamos em silêncio que o outro nos faça um carinho e nos abrace? Quando nos tratamos como rivais e não como companheiros? Quando se fazem listas de coisas-que-hoje-fiz-mais-do-que-tu? Quando nos sentimos desamparados e em queda-livre? Quando tememos as discussões durante o tempo que vamos passar juntos? Quando estamos juntos por compaixão? Quando um faz declarações de «amor»/ saudade a um amigo, mas não é capaz de as fazer ao outro?

E se for o fim? Quem deve dar o primeiro passo? Eu? Tu?

E como sabemos que está na altura de dar esse passo? Que todo o passado está irremediavelmente enterrado?

Prémio Lemniscata, o primeiro prémio do Aventar

Ao fim de dois meses e tal de vida, o Aventar conquistou o seu primeiro prémio: o Prémio Lemniscata.
Seja lá o que isto for, parece-me bom. É sempre agradável receber um prémio pelo facto de demonstrar «talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.»
Lemniscata significa «curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante». Resta dizer que foi O Valor das Ideias, do Carlos Santos, a atribuir-nos o galardão.
Infelizmente, parece que não podemos ficar com ele. Temos de entregá-lo a sete outros blogues que consideremos merecedores do prémio.
Em nome do Aventar, atribuo o Prémio Lemniscata aos sete blogues que se seguem:
5 Dias
A Educação do Meu Umbigo
Do Portugal Profundo
Bitaites
A Baixa do Porto
Blog da Animal
Avesso do Avesso
com os meus agradecimentos pelos bons momentos que me têm proporcionado. Não poderia deixar de destacar, aqui, os meus amigos do 5 Dias, o caríssimo colega Paulo Guinote e o excelentíssimo Prof. António Balbino Caldeira.

E agora, será que também poderiam inventar o Prémio anti-Lemniscata? Já tenho aqui umas ideias engraçadas e uns blogues que eu cá sei como possíveis receptores do prémio…

5 Cubanos Dignos


Intelectuais de Cuba pedem aos intelectuais dos Estados Unidos difundir a verdade sobre os 5 Patriotas

 Da «France Press»:

«Intelectuais e artistas de Cuba apelaram nesta sexta-feira aos seus colegas norte-americanos para que “difundam a verdade” sobre cinco cubanos condenados por espionagem nos Estados Unidos, depois que a Corte Suprema desse país se negou a revisar o caso.
“Apelamos novamente a vocês, estimados colegas, para solicitar-lhes que difundam a verdade sobre este caso por todas as vias que tenham a seu alcance”, diz uma carta ‘‘a intelectuais e artistas estadunidenses”, tornada pública pela União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC).
O texto assinala que com a decisão da Corte Suprema sobre os cinco presos, condenados a draconianas penas e presos faz mais de dez anos, “se soma desse modo um novo capítulo à longa cadeia de arbitrariedades que por mais de uma década se privou de liberdade a Gerardo Hernández, René González, Ramón Labañino, Antonio Guerrero e Fernando González”.
Na ilha comunista, esses presos são considerados heróis. Cuba os reconhece como seus agentes, porém não para espionar os Estados Unidos, e sim para vigiar os grupos anti-castristas de Miami.
O etnólogo, poeta e novelista Miguel Barnet, presidente da UNEAC, disse, ao apresentar a carta, que está dirigida “ao nobre povo norte-americano”, a “muitos intelectuais proeminentes” e a organizações não governamentais.
Disse estar seguro que personalidades como o ator Danny Glover, a romancista Alice Walker ou o escritor Gore Vidal, acolherão o chamamento cubano.
“São amigos que estão bastante sensibilizados e muito irritados com a decisão da Corte”, acrescentou.
Apelos similares foram emitidos pelo Parlamento, pela União de Jovens Comunistas, pelos Comitês de Defesa da Revolução e outras organizações.»

Com o ano lectivo a terminar, é hora de apresentar contas

Com o ano lectivo a chegar ao fim, e o mandato também, Maria de Lurdes Rodrigues resolveu apresentar contas. Sem precisar de empurrar ninguém, a ministra da Educação publicou o seu relatório de contas num “AaZdaEducacao“, onde faz um balanço positivo, comprovando com “mais eficiência na organização das escolas, novas lideranças, escolas mais orientadas para os alunos e para as suas famílias, mais estudantes e melhores resultados, menos abandono e menos insucesso escolar é o que encontramos hoje no nosso sistema educativo”.

Bonito, não? O facilitismo, os exames acessíveis, os resultados a olhar para as estatísticas em vez de promover uma escola de qualidade, é que nem vale a pena abordar. Uma reforma que já precisa de ser reformada, também não. Para não falar na trôpega avaliação dos professores, que ora avança, ora não avança, ora se simplifica, ora não se simplifica.

Nos deves e haver, a confederação de pais diz que o balanço do ano e da legislatura foi positivo. Os sindicatos garantem que foi negativo.

Enfim, nada de surpreendente. Cada vez fico menos espantado. Isto está a ficar chato.

Fica para a próxima, Michelito!

Tal como se previa, o toureiro mexicano Michelito, de 11 anos, foi impedido de actuar na quinta-feira no Campo Pequeno e ontem em Portalegre. Uma queixa da Animal ao Ministério Público, à Autoridade para as Condições do Trabalho e à Comissão de Protecção e Crianças e Jovens de Lisboa acabou por dar os seus frutos e acabou por ser esta última instituição a proibir o jovem de entrar na arena. Entretanto, já foi anulada a participação de Michelito nas restantes 10 touradas em que iria estar presente.
Já falei aqui de touradas, relativizando o sofrimento dos touros em relação aos animais que, por exemplo, servem para a nossa alimentação. Ou os animais utilizados para experiências científicas. Ou os animais do circo. Ou os animais utilizados pela indústria das peles e dos cosméticos.
Nada que desculpe, obviamente, um espectáculo que, em pleno século XX, só poderia sobreviver mesmo num país de terceiro mundo. E neste caso concreto, estamos a falar de uma criança que tem 11 anos e cuja formação está a passar por espetar farpas em animais.
Quando estive a acompanhar, entre 2006 e 2007, por motivos profissionais, o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, vi que nos treinos, eles colocavam à frente das vacas crianças com 4 ou 5 anos. Sempre a ajudá-las, claro, amparando-as, ficando a segurá-las – e eram animais de treino. Mas não deixavam de ser crianças de 4 ou 5 anos!
A partir daí, já nada me espanta.

Os comentários que não comentam

Às vezes tenho dúvidas sobre se vale a pena os jornais nacionais terem comentários livres nas notícias que colocam na internet. O caso do Público é gritante e nem é novo. É um fenómeno que leva já uns bons anos, embora, por vezes, pareça recrudescer de impacto.

Nos últimos tempos, o pensamento alarve voltou a sair da caixa e a espalhar perfume por um sem número de notícias. Veja o caso de hoje, na notícia sobre as vítimas de confrontos em Teerão. Em menos de duas horas surgiram (na altura em que escrevo) 43 comentários, quase todos sem o mínimo sentido.

Há trocas de recados, de piadas e de insultos entre comentários, há os que dizem que a Mossad está infiltrada em todo o mundo, que os judeus até podem ser superiores, que digam que os judeus sionistas são “homosexuais, satânicos…”, que peça desculpas por “ter nascido assim tão aborto, sempre tive azar na vida”.

Estes são exemplos curtos e apenas de uma notícia. Mas parvoíces deste género são habituais no site do Público. Outros jornais são também afectados, embora em menos número, por excrementos deste género.

Confesso que não sei se a culpa é do Público, por permitir comentários sem moderação, se é dos comentadores que poderia dar outro rumo à sua vida ou minha, por perder tempo a lê-los.

Falando de Transportes – A Falácia do Ministério das Obras Públicas: O TGV (V)

(continuação de aqui)
4 – São por demais visíveis e indisfarçáveis as dificuldades que a MOPTC tem para encontrar argumentos – e soluções válidas – para as novas linhas de AV. É uma matéria na qual se podem constatar erros de palmatória que tenho vindo, sucessivamente, a denunciar; basta ler alguns trabalhos que publiquei neste sítio e a ausência de argumentação contraditória (v., entre outros, os textos de 3 de Abril e 8 de Agosto de 2006 e o de 25 de Abril de 2007).
Já não me lembro quem disse que os caminhos-de-ferro portugueses são o maior desafio mas, também, podem ser o maior fracasso dos sucessivos governos que têm vindo a atabalhoar soluções, sem qualquer orientação estratégica visível. Mas sempre com o objectivo bem claro de “calar” os melhores técnicos e as empresas de consultoria, à custa de muitos milhões de euros destinados a estudos, estudos e mais estudos, muitas vezes do mesmo.
O declínio dos caminhos-de-ferro portugueses não resulta de uma fatalidade ou de um “mau olhado”; resulta, sim, de escolhas e opções de vários dirigentes políticos (alguns bem mal preparados), mesmo se eles não têm a coragem de assumir os seus erros perante a opinião pública.
E não são as orientações políticas, mais ou menos ilusórias, que irão sustentar projectos irrealistas; é fundamental (para evitar cair no erro), ouvir oportunamente o sector económico e, evidentemente, os técnicos. Há, pois, que dispor de equipas pluridisciplinares que possam decidir sobre as várias propostas e as suas alternativas, com ideias bem claras e conhecimento de causa; mas, antes de mais, valorizar os Serviços, premiando e pondo em destaque os que o merecem.
Isto não é o que tem vindo a acontecer. E, assim, direi que faz falta o Conselho Superior de Obras Públicas (CSOP), extinto por este MOPTC, muito embora dispondo de alguns engenheiros de alto gabarito, funcionando como órgão de consulta permanente de alguns Ministros e Secretários de Estado, mais curiosos. Tanto mais que, em Portugal, não dispomos de um órgão equivalente ao Strategic Rail Authority, como sucede no Reino Unido.
O CSOP era uma instituição de grande prestígio que, ao longo de 150 anos assessorou os mais variados governos, ao mais alto nível.
A sua voz, por vezes incómoda, era veiculada por técnicos no topo da carreira, muitos deles conhecidos pela sua competência e isenção (os Ministros passavam e a instituição permanecia), o que lhes garantia uma certa dose de independência e permitia dizer aquilo que pensavam, sem os entraves do “politicamente correcto”.
Jorge de Sena, engenheiro distinto, mas mais conhecido como poeta e prosador notável, aconselhava a que “Não se dedique à adulação da mediocridade e (não) ouça respeitosamente as opiniões dos críticos mais influentes, porque mais cretinos…”.
Por mais extraordinário que isso pareça, direi mesmo escandaloso, o desmantelamento deste órgão não foi obra dos governos de Salazar ou de Marcelo Caetano acabando, sem glória, às mãos de um Ministério de tutela que, apesar do seu carácter eminentemente político, pode considerar-se o mais técnico entre os seus pares.
E assim, pouco a pouco, este MOPTC está a dar cabo … do MOPTC, ao transferir para os privados a iniciativa dos estudos e das propostas; há uma clara transferência de competências, em moldes ainda desconhecidos (passando, demasiadas vezes, pelas grandes empresas consultoras e pelo “outsourcing”), esquecendo que o poder de decisão terá sempre que ser da responsabilidade do Estado e não, unicamente, a escolha entre duas ou mais alternativas. Será este o caminho inovador para a sua privatização?
Mais recentemente, para recuperar a credibilidade que tanta falta lhe faz, atrela-se a um organismo que conheci altamente prestigiado, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), com o desígnio de desculpar as hesitações e desacertos; o perigo consiste em compromete-lo com o seu assédio, tanto mais que as suas actuais atribuições (na parte em que substitui o CSOP), são presentemente muito mais limitadas.
Como vão longe os tempos em que pontificava o Manuel Rocha (seu fundador e dinamizador durante largos anos, até à morte), Ferry Borges, Laginha Serafim, Abecassis, Ulpiano Nascimento (cito-os ao correr da pena e sem a pretensão de esgotar o seu número) e tantos outros de reconhecida competência no país e no estrangeiro, solicitados que eram, frequentemente, para a elaboração de estudos altamente especializados e, muitas vezes, originais.
As competências do LNEC – e são muitas – não se podem confundir com as do CSOP. A sua extinção foi um acto espúrio de um Ministério que, assim, calou uma voz potencialmente incómoda. Acto este que terá de ser corrigido mais cedo ou mais tarde.

Rui Neves da Silva – A Comendadora (III)*

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Hospedando-se no Grande Hotel Batalha, João de Almeida Coutinho contactou, na mesma tarde da sua chegada ao Porto, dois amigos de longa data – um antiquário com galeria aberta na Rua Barão de Forrester e o advogado que habitualmente tratava de todos os seus assuntos de natureza legal. A ideia era convidá-los para jantar e pôr as notícias em dia, pois como confidenciou ao Dr. Avelino Salcedo, em cujo escritório se encontrava, “estava a precisar de um banho de civilização”.

Nessa noite, enquanto saboreavam um Porto velho após uma refeição bem regada por um tinto da região do Douro, o Comendador confessou aos seus dois amigos o sentimento de solidão que experimentava e para o qual não via solução.

– Estou a perder com demasiada rapidez a alegria de viver, meus amigos! – E acrescentou, com voz amargada de tristeza: – Custa-me dizê-lo, mas até a satisfação moral que eu obtinha em ajudar os meus conterrâneos a viver melhor está a ceder lugar a um sentimento de tédio… Que Deus me perdoe, mas começo a ficar farto deste papel de Bom Samaritano!

Os outros dois convivas entreolharam-se. Um homem com a fortuna de João de Almeida Coutinho não podia penar de solidão.

Segismundo Pedrosa, que como antiquário ganhara o hábito de datar tudo, incluindo os estados de alma, levou o cálice do Porto aos lábios e deixou que o líquido rubiginoso lhe humedecesse o palato. Só depois de gastar-lhe o sabor indagou:

– Ó João, desde quando começaste a sentir esse apartamento do mundo?

O interpelado franziu o rosto, como se pensasse em datar o evento com todo o rigor. Mas a razão era outra… Receava que os seus amigos duvidassem da sua saúde mental quando lhes dissesse que tinha sido nessa manhã.

– Então? – Insistiu Segismundo.

Viciado na defesa dos seus interesses, Avelino Salcedo interveio em socorro do Comendador:

– Saber “desde quando” é o que menos importa para o caso, Segismundo. Até podia ter sido esta manhã que…

– Pois foi mesmo esta manhã, meus amigos! Não gostei do homem que vi reflectido no espelho… Morreu-me a mulher há seis anos, e a minha única família – um primo casado e com dois filhos – vive no Brasil. Dediquei-me tanto a cuidar dos outros que acabei por esquecer-me de mim. – Deteve-se por momentos, prosseguindo depois no tom de voz que utilizaria num confessionário: – Vivo como um anacoreta. Deito-me só e quando acordo continuo só. Vivo isolado naquele casarão imenso… apesar de ter ao meu serviço uma velha governanta, uma cozinheira, duas criadas, um jardineiro e um motorista.

Os seus dois interlocutores ouviram-no em silêncio. Quando João Coutinho se calou o antiquário assobiou baixinho. No entanto, foi o advogado que se atreveu a opinar sobre o mal de que padecia o seu cliente e amigo.

– Pesa-te a viuvez, o que é natural! Precisas de uma companheira, de uma esposa… Há mulheres livres, com idade entre os quarenta e os cinquenta anos, que são extremamente interessantes!

Segismundo Pedrosa franziu o sobrolho, agastado com a sugestão do causídico.

– Ó Salcedo, quem vende antiguidades sou eu…! Então isso é conselho que se dê? O João é um homem bem parecido, rico que nem Creso, forte como um touro e respira saúde. Se tem que arranjar alguém que lhe acabe com a solidão, que meta em casa coisa que se veja… uma mulher nova e bonita! E se for prendada, melhor! Não de dote, que o nosso amigo não precisa, mas de qualidades que a recomendem como uma boa companheira até ao fim dos seus dias. – Volveu depois o olhar para o Comendador, que o olhava com expressão indolente enquanto deixava que o fumo do “havano” lhe esbraseasse o rosto: – João, se investires numa mulher assim investes na cura de muitos dos teus actuais problemas. Que, a não tomares uma atitude, vão agravar-se com a passagem dos anos. Vais gastar uns tostões a mantê-la bem ataviada de roupas, jóias e perfumes?! É claro que vais! Mas a boa caridade, meu amigo, começa por casa!

Estavam no Renascença, o restaurante do Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina. O tinto da casa Ferreirinha que acompanhara a refeição e o vinho do Porto Taylor em que confiavam para os ajudar a apreciar melhor as trouxas de robalo com estufado de legumes envolto em pão de azeitona que tinham acabado de deglutir estavam a começar a fazer efeito. Não que estivessem a um passo da embriaguês, longe disso!, mas notava-se já nas faces dos três convivas um certo rubor que indiciava a perda de inibição que o álcool normalmente produz. E, à excepção do interessado, vai de abordarem a solidão do Comendador numa óptica de desejo sexual insatisfeito.

– Bem vistas as coisas, o Pedrosa é capaz de ter razão. Por que hás-de tu de comer galinha velha quando podes arranjar franga tenrinha? Porque ao fim e ao cabo a tua solidão tem a ver com falta de pito…!

Se outros fossem os seus convidados, João de Almeida Coutinho torceria o nariz a este tipo de gracejos, mas àqueles dois perdoava-lhes, pois sabia que por detrás daquelas observações brejeiras havia uma genuína intenção de o fazerem abstrair-se dos seus medos. E resolveu entrar na galhofaria.

– Já vi que vossemecês só querem o meu bem. Mas essa de eu ser forte como um touro, ó Pedrosa, tem que se lhe diga… Estamos a falar de um animal galhudo!

Segismundo Pedrosa engoliu em seco. Ao contrário de Avelino Salcedo, que era um indivíduo que já descansava parte do baixo-ventre em cima das coxas, o antiquário era enxuto de carnes. Mas numa coisa eram parecidos: na expressão manhosa dos olhos.

– Cruzes, canhoto! – protestou o antiquário, benzendo-se três vezes para, dizia ele, afastar o chifrudo. – Essas coisas não se dizem, João! Nem a brincar!

A pança do advogado começou a estremecer, antecipando um risinho malandro, quando recordou:

– Tu é que o aconselhaste a “meter em casa coisa que se veja”! É um risco, amigos! É um risco!

* Rui Neves da Silva é escritor e Revisor Oficial de Contas.

A agricultura morreu

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Dizer que a agricultura morreu é algo tão exagerado como o próprio Mark Twain definiu as notícias sobre a sua morte. No entanto, os últimos anos trouxeram amplas novidades sobre esta matéria nos últimos anos. As grandes empresas têm cada vez maior importância e os pequenos e médios agricultores perdem espaço. Nada que seja de estranhar. A evolução da espécie é assim. A evolução da economia também.

“Food, Inc.” acaba de ser lançado nas salas de cinema, embora ainda em número limitado, dos EUA. É um documentário de Robert Kenner, baseado num ensaio de Eric Schlosser, “Fast Food Nation”.

O documentário aborda a morte da agricultura e o crescimento das grandes corporações da indústria alimentar. É capaz de valer a pena ver com atenção.

Este é o trailer: