Da campanha negra à do medo!

A campanha negra traduziu-se pelas suspeitas que foram lançadas sobre José Sócrates, no âmbito de processos que correm termos no Ministério Público.
Há muita coisa por explicar e a verdade é que esses processos contêm muita matéria directamente ligada a Sócrates, bem como a familiares, amigos e camaradas de partido.
Agora, pela mão do PS, vem aí a caminho a campanha do medo.
A ingovernabilidade!
Traduzido isto quer dizer que se não for o PS a formar governo, e com maioria absoluta, o país não encontrará forma de exercer a governação.
Esta ideia disparatada é, antes de tudo, antidemocrática. Porque a Democracia Parlamentar tem na sua essência a possibilidade de arranjos parlamentares, vários, para que a governação possa ser exercida com estabilidade.
A este governo não faltou estabilidade e, no entanto, o que verificamos é que é um fiasco total. A estabilidade não é um objectivo em si mesmo. Pelo contrário, o que verificamos é que os governos mais criativos e mais produtivos são os que exigem negociação.
Mas, mesmo que assim não fosse, é imperdoável que os dirigentes do PS, olhem para o eleitorado como um grupo de criancinhas a quem se mete medo, a quem se aponta o “papão” que está no quarto no fundo do corredor.
O que mete medo ao eleitorado, como ficou demonstrado nas recente eleições, é a prepotência de quem nada ouve, a campanha de propaganda nunca vista, que todos os dias promete céu e terra e a arrogância de quem julga que está acima da própria Lei, e da ética democrática.
Para já, ficou a vitória de gente insuspeita, que anda na política sem dar margem a campanhas negras e sem prometer campanhas negras.
Para quem gosta da democracia e do Estado de Direito é um avanço sem preço!

Adeus, meninos. A gente vê-se por aí!

Chega, como sempre em Junho, o fim do ano lectivo. E aqueles que foram os amores de um ano vão-se embora. Para sempre. Fazem-se rapazes e raparigas e lá vão eles.
Falo dos meus alunos.
A verdade é que eu é que vou. Eles ficam. A Ministra bem prometeu, em 2006, que ia ser por três anos e eu, feito burro, acreditei. Deixara de ser contratado nesse ano e pensei que ia finalmente estabilizar. Que ia poder acompanhar os meus meninos durante três anos. Vê-los crescer. «Ei, estás tão grande, puto. Há 3 anos eras tão pequenino», poderia dizer-lhes no final de um ciclo.
Pois bem, mesmo com os tais concursos de três anos, e mesmo como QZP, foram quatro escolas desde 2006. E no final, sempre a mesma angústia de me despedir sem tê-los conhecido a sério.
Nada de novo, pois, neste final de ano lectivo. Só que, como sempre, a gente afeiçoa-se mais a umas turmas do que a outras. Quem é professor sabe disso e compreende.
Com esta turma, a relação foi-se desenvolvendo ao longo do ano, dentro da sala de aula e através do blogue que criei para eles e onde partilhámos interesses, momentos e solidões. E na última aula do ano, após o sumário do costume («Auto-avaliação. Despedidas») e a sua concretização, deu-se algo de muito especial. Disse-lhes adeus, desejei-lhes boa sorte para a vida e deixei-os sair mais cedo. Acto contínuo, de forma completamente espontânea, TODOS os alunos, em vez de irem embora, vieram ter comigo. Cumprimentaram-me, abraçaram-me, beijaram-me. E agradeceram-me. Não sei o quê, mas agradeceram-me.
Foi um momento único, mesmo que se vá repetindo ano após ano. É sempre um momento único. E esse ninguém mo tira. Foi apenas um minuto, mas parece que, naquele bocadinho, foram apagados quatro anos de humilhações, insultos e tentativas de esmagamento de uma classe. Por parte de uma Ministra e de dois Secretários de Estado que, depois de terem destruído a Escola Pública, sairão como entraram. Sem saberem o que são momentos como o que eu descrevi. Sem saberem o que é o amor de uma turma. Sem saberem o que pode ser a relação entre um professor e um aluno – algo que nunca nenhuma avaliação poderá aferir.

Rui Tavares e a tese da estabilização da economia

Há dois dias, critiquei no ‘Aventar’ o conteúdo do documento dos Ministros das Finanças do G8 que, em simultâneo, publiquei. Um ponto crucial da minha crítica incidia sobre a tese propalada ‘dos sinais de estabilização das nossas economias’.

Hoje, ao ler o artigo ‘A depressão escondida’ no Público, de Rui Tavares, congratulo-me, passo a imodéstia, com a partilha da minha opinião pelo citado, quando peremptoriamente afirma: ‘Se a economia tiver de facto estabilizado, ela pode simplesmente ter estabilizado em baixa. Aceitar que isto é o “normal” será aceitar uma crise lenta e prolongada’. Para além de confirmar que o meu ponto de vista é idêntico ao de quem foi eleito para o PE, parece-me, de facto, grave e assustador que os grandes líderes mundiais, se é que fizeram o diagnóstico correcto, demonstrem incapacidade de encontrar uma terapia que, como é óbvio, tem que ter projecção global e  resultados reais – a recuperação efectiva.

Como disse anteriormente, enquanto os exércitos de desempregados (cadáveres da economia) continuarem a engrossar, a história da crise resolvida com tal estabilização equivale a um soporífero.

Homenagem a Igor Stravinsky

Hoje, comemora-se a data de nascimento de Igor Stravinsky (17-06-1982 / 06-04-1971). Permito-me juntar a minha singela homenagem à do ‘Google’, comemorando a vida e obra de um histórico compositor, pianista e maestro. Curvando-me, pois, perante o talento e a arte de um dos mais destacados compositores do século XX, reproduzo um vídeo revelador da qualidade de condução, pelo próprio, de uma interpretação de ‘Firebird’ (L’Oiseau de Feu), uma das melodias emblemáticas de sua autoria:

  

Nas agruras do quotidiano, a boa música tem um papel purificador, permitindo expelir, ao menos por instantes, José Sócrates e toda a tralha do género para o seu lugar próprio: a história dos “filhos de deuses menores”.
Viva Igor Stravinsky!

Ana – Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo*

 

Embora nunca tenha feito comentários neste blogue, lembrei-me de aceitar o convite do Aventar, que leio todos os dias, para enviar textos escritos pelos leitores.
Gosto muito de futebol, algo que, assumo, não é normal numa rapariga. Mas no meu caso, não tenho problema nenhum em assumir que só vejo jogos de futebol por causa dos jogadores. O que me interessa é vê-los de calções, a correr, e de tronco nu quando festejam.
Assim, não tenho clubes. Mas tenho «jogadores». E a verdade é que sou maluca pelo Ricardo Quaresma. Para mim, é dos jogadores mais belos que já vi na minha vida. É lindo, lindo, lindo! Aquela tez, morena, de cigano legítimo, aquele sorriso, aquelas pernas!
Para mim, é muito melhor do que o feioso do Cristriano Ronaldo. E mesmo como jogador, é melhor. Só lhe falta um nome esquisito – tipo Horácio Osvaldo. Ou fazer umas caras parvas sempre que marca ou falha um golo. Ou criar uma intensa campanha de «marketing» à sua volta, incluindo roupa e óculos de sol todos estilosos. Ou mudar de penteado todos os dias. Aí sim, nem precisava de jogar – era simplesmente o maior!
Peço ao blogue que ponha fotografias dos dois jogadores para se ver a diferença entre eles, utilizando os «links» que vos deixo.

* Ana é leitora do Aventar.

Depois dos eleitores fantasma, os eleitores duplos

Não bastavam os eleitores ‘fantasma’, que nos obrigam a olhar para trás a ver se, junto às urnas, não somos apanhados desprevenidos por um qualquer lençol com olhos, agora temos os eleitores duplos, num fenómeno interessante de clonagem à moda da casa.

Proponho “ghostbusters” para os primeiros, tinta para encharcar os dedos dos eleitores, no segundo caso.

O «laptop» do terceiro mundo sob investigação

O Público noticia que a JP Sá Couto foi alvo de buscas, hoje, por parte da Polícia Judiciária.
Para os mais distraidos, sempre se dirá que a JP Sá Couto foi escolhida por José Sócrates, sem concurso público, para fabricar o famoso computador Magalhões, o «laptop» do terceiro mundo.
Agora, está a ser investigada por fraude fiscal. Nada de surpreendente para quem viu uma empresa, partindo do nada, chegar onde chegou (1308% de crescimento no último ano). Ao que parece, os crimes fiscais são anteriores ao Magalhães, o que ainda piora as coisas – porque torna inexplicável a sua escolha para o fabrico de tão importante produto, sobretudo quando o próprio João Paulo Sá Couto é arguido.

Duas datas num só dia

O Presidente da República lá deu a volta ao texto depois de se estender ao comprido. Temos duas eleições, as legislativas e as autárquicas. Serem ou não marcadas para a mesma data ou para datas diferentes tem só a ver com o ganhar ou perder dos partidos. O resto é música.
Mas não devia ser. Há muito dinheiro em jogo e que se pode poupar, ainda por cima num tempo de crise como o que estamos a viver.
O PSD ancorado na sua base de apoio autárquico vai querer que as eleições se façam juntas.
O PS pelas razões opostas vai querer que se façam desfazadas no tempo.
O PCP já disse que as quer em dias diferentes e o Bloco vai pelo mesmo caminho.
Todos se assustam que por uma espécie de “osmose” eleitoral duas eleições no mesmo dia se transformem numa só.
Vem aí o verão e durante dois meses as pessoas não querem saber da política para nada. Lá para Setembro o pessoal (em crise) volta de férias e o tempo não sobra para campanhas.
Este será o argumento decisivo do Presidente da República?

Mário Soares: Mais momentos de «lucidez»*


«A probabilidade de, nas próximas eleições legislativas, Portugal se poder tornar ingovernável é alta e perigosa para a democracia.»

A sentença só podia vir de alguém que tem pautado uma duradoura carreira política por extraordinários momentos de «lucidez». Falo de Mário Soares, que ontem publicou aquela inacreditável frase no «Diário de Notícias».
No fundo, é a mesma «lucidez» que o fez meter, quando lhe deu jeito, o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu governar sem ler os «dossiers».
A mesma «lucidez» que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com «testas de ferro» no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu passar incólume ao caso Emaudio e ao caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, «Contos Proibidos», e ter a sorte de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu passar incólume às «ligações perigosas» com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba
A mesma «lucidez» que o fez não processar o Ministro da Comunicação Social de Angola, que disse que esse avião ia carregado de diamantes.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países («record» absoluto para a Espanha – 24 vezes – e França – 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).
A mesma «lucidez» que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da República Portuguesa.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da República.
A mesma «lucidez» que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu, abandonada a Presidência da República, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente num incêndio dos Paços do Concelho, como ainda há poucos meses o PSD acusou.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a um milhão de contos.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de quinhentos mil contos, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifício cedido pela Câmara de Lisboa.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-Presidente da República, na… Fundação Mário Soares.
A mesma «lucidez» que lhe permite, ainda hoje, receber quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era… João Soares.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do «Público», José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu considerar José Sócrates «o pior do guterrismo» e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais uma última vez.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu ler os artigos «O Polvo» de Joaquim Vieira na «Grande Reportagem», baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.
A mesma «lucidez» que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas.
No final de uma vida de «lucidez», o que resta a Mário Soares? Erguer a voz e, em mais um momento de despeito, dizer que sem o PS, será o caos? Pensar que alguém ainda o ouve na sociedade portuguesa?
* «Post» originalmente publicado aqui.

Falando sobre Transportes – A Falácia do Ministério das Obras Públicas: O TGV (I)

Nota do Administrador: Henrique Oliveira Sá é engenheiro civil. Foi Ministro do Equipamento Social e Ambiente e Ministro dos Transportes e Comunicações, em 1975, durante o V Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves. Tem feito diversos estudos e trabalhos na área dos transportes, como por exemplo acerca do traçado do futuro TGV. Esses trabalhos serão publicados diariamente, a partir de hoje, no Aventar.
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Só é possível concretizar uma rede de caminhos-de-ferro se houver um consenso abrangendo, mais em particular, as suas especificações técnicas.
Esta exigência obriga à existência de sistemas ferroviários compatíveis, o que desde logo ficou estipulado no tratado de Maastricht, mediante os meios indispensáveis para assegurar a interoperabilidade das redes transeuropeias; mais concretamente, referimo-nos às características dos traçados e das suas infra-estruturas, às correntes eléctricas de alimentação, assim como à harmonização dos sistemas de sinalização e de segurança.
Além disto, a interoperabilidade obriga, também, a determinadas acções nos domínios da exploração, regulamentação e, cada vez mais, nos aspectos humanos ligados a esse tipo de exploração internacional.
Do que ficou escrito, depreende-se que Portugal tenha de apostar – com a máxima urgência – na concretização da bitola europeia de forma a não ficar isolado, dado que ela já constitui uma realidade com forte implantação, em Espanha.
Caso se mantenha por muito mais tempo a bitola actual, todos os produtos que importamos ou exportamos por via terrestre irão sofrer um agravamento de preços resultante de situações de rotura na fronteira, e que irá implicar atrasos, demoras, manuseamentos vários e, também, mudanças de pessoal e de material rolante.
Deste modo, os nossos portos correm o risco de serem votados ao esquecimento pelo comércio internacional, tanto mais que os nossos vizinhos procedem aceleradamente à recuperação e modernização dos seus. E com um sentido de oportunidade apreciável, entretanto, os espanhóis acabam de instalar mais duas plataformas logísticas perto das nossas fronteiras: uma em Badajoz e uma outra em Salamanca. Como consequência imediata, esta concentração pressupõe um tráfego acrescido de camiões, em Portugal, com os efeitos que facilmente se adivinham.
Optando pelos caminhos-de-ferro como meio preferencial de transporte de massas, lembro que a alta velocidade (AV), com velocidades máximas superiores a 250 km/h, não se coaduna, geralmente, com o tráfego misto de passageiros e mercadorias; outrotanto não sucede com as linhas de velocidade elevada (VE), com velocidades máximas entre os 200-250 km/h, essas sim, que o suportam. Sendo muito grandes as diferenças de custo no primeiro estabelecimento e na exploração, num e no outro caso, são por demais evidentes as vantagens da VE, uma vez que o aumento despiciendo dos tempos de percurso é consequência das distâncias relativamente curtas a percorrer em território nacional.
Entre nós, a pouca importância de tráfego previsível a médio prazo justifica, também, a construção de linhas mistas de VE nos trajectos principais. Não se alimentem falsas ilusões para sustento de algumas vaidadezinhas.
Hoje, a tendência europeia baseia-se na construção de linhas para VE, de tráfego misto; e só quando o tráfego de passageiros desde logo o justifica, se opta pela AV. Esta utiliza muitas vezes, na prática, essa velocidade em linhas LGV, até uma determinada estação prosseguindo o comboio, a partir daí, em linha clássica melhorada, porém com velocidades muito mais moderadas.
Nesta ordem de ideias, as linhas clássicas (convencionais) estão a ser modernizadas o que implica, quase sempre, a construção de variantes ao traçado existente com o objectivo de encurtar distâncias e, também, conseguir uma maior abertura nas curvas apertadas, o que permite aumentar as velocidades, dando um melhor aproveitamento do material rolante e, portanto, uma diminuição dos gastos de exploração. Em trabalhos anteriores pus em destaque este procedimento, nomeadamente no Reino Unido e na Suécia, países que adoptaram a VE em larga escala, permitindo o aproveitamento das linhas clássicas e o uso de comboios pendulares para aumento das velocidades comerciais.
Lembro que as características admissíveis para uma determinada linha e para um determinado tráfego (misto, por exemplo) podem calcular-se e, assim, desenhar um traçado em condições de segurança e de conforto aceitáveis para os utentes. E, o que é particularmente importante, reduzindo substancialmente as operações de conservação e manutenção dessas linhas, tendo em conta as velocidade médias comerciais – diferentes – nos dois tráfegos: passageiros e mercadorias.
Lembro, também, a alta sensibilidade das linhas de AV no aspecto sísmico, e que não se pode esquecer, mais especialmente na hipótese de um traçado pela margem esquerda do rio Tejo, nas proximidades de uma falha sísmica existente, a partir de Santarém e prosseguindo entre Benavente e a Península de Setúbal, falha esta que alguns especialistas parecem ignorar. Desde a necessidade, caso insistam, em se espalharem inúmeros sensores ao longo das linhas, o que permitirá interromper o tráfego em caso de alerta (é um procedimento caro e muito delicado).

O fim de Belgais


Após vários avisos de Maria João Pires, parece que o projecto de Belgais acabou mesmo. A falta de dinheiro era uma realidade há muito e não foi resolvido por quem de direito. O próprio Presidente da Câmara de Castelo Branco, eleito pelo PS, encarou o assunto como se nada fosse. Quanto ao Governo, o que interessa mesmo é salvar Bancos.
E assim acaba o sonho de um conjunto de rapazes e raparigas que, um dia, pensaram poder vir a seguir as pisadas de Maria João Pires. Alguém que, pelos vistos, Portugal não merece mesmo.

Dois Estados e uma só Jerusalém

O que quiz dizer, na verdade, o Primeiro Ministro Israelita com a declaração de que aceita a existência de um Estado Palestiniano?
Precisamos de saber o que é um Estado. É um território e um povo, política e juridicamente organizados!
Ao aceitar a existência de um território está tambem a aceitar a existência de um povo e a sua organização politica e jurídica? Desde logo ressalvou que só aceitaria um Estado desmilitarizado, o que implica que o povo Palestino fique à mercê do próprio Estado de Israel.
Depois explicou que os colonatos existentes se manteriam e deixou no ar a possibilidade de se expandirem. Está a fixar um território. E aceitará uma organização política e jurídica diferentes das que existem em Israel?
E quanto a Jerusalém? Dois Estados, uma só capital? Se sim, com controlo internacional?
Como se percebe Israel entreabriu uma porta que vai durar muito tempo a abrir e muito trabalho a manter aberta.
Foi um passo em frente, dirão os optimistas.Não ofereceu nada, dirão os pessimistas.
Uma coisa é certa. Um território e um povo, mesmo que não sejam um Estado, não desaparecem do mapa, por mais bombas que se usem.
E, perante a força de Obama e o seu discurso sensato, Israel por uma vez, não pode fazer de conta que não ouve.

Damião Romualdo, o portista absoluto

Descendo de uma longa linha de portistas e, como sabem, tanto quanto a genética, pode o costume. Na minha fase de rebeldia, nos tímidos ensaios que fiz de possíveis afrontas ao meu pai, a mais terrível foi dizer que, se calhar, ainda me fazia sportinguista.

Creio que ele percebeu que o tom não seria muito convicente e nunca chegou a demonstrar o choque que eu esperava. É claro que eu não acreditava no que dizia, e apenas consegui dizer “sportinguista” porque a imagem de proferir o pronome “eu” e o adjectivo “benfiquista” na mesma frase parecia-me não só assustadora como fisiologicamente impossível de concretizar.

O meu pai tem sido sempre a imagem do portista absoluto. Na primeira vez que lhe substituíram uma válvula cardíaca, acordou na sala de cuidados intensivos, percebeu, para seu alívio, que tinha sobrevivido, e fez, a custo, três perguntas que resumiam a sua mundividência: “A minha mulher? A minha filha? Como é que ficou o Porto?” O portismo do meu pai tem sido, desde que me conheço, uma das poucas verdades absolutas deste mundo. E como todas as outras, também esta recebeu um embate.

O meu pai leva vários dias hospitalizado. Como sempre aconteceu nas anteriores estadas no hospital, tornou-se o doente favorito de enfermeiros e auxiliares (nunca dos médicos, porque faz demasiadas perguntas), porque colabora em tudo o que pode e faz piadas a toda a hora. Tanto quanto percebi, havia uma espantosa amizade – tendo em conta o pouco tempo de convívio – com um dos auxiliares, que corria para dar resposta a cada um dos seus pedidos, com uma celeridade e uma bonomia que me fizeram pensar que a tão falada humanização dos hospitais públicos é já uma realidade.

No último fim de semana, o meu pai mudou de serviço e despediu-se do seu amigo. Pôde então contar-me o seu segredo. Perante a insistência daquele auxiliar, que era uma figura fulcral, de cujo dinamismo parecia depender a eficácia do serviço, o meu pai aceitou dizer aquilo que o outro queria ouvir, e assentiu que era benfiquista.

Sentei-me. Sentia-me zonza. Olhei para o meu pai à espera de ver o ar trocista de quem tinha acabado de pregar uma partida, mas, ao invés, deparei-me com um meio sorriso envergonhado.

– Ele estava sempre disposto a ajudar… Se eu lhe pedia um copo de água, ele ia a correr buscar. Se queria sentar-me ele vinha logo subir a cama. Quando eu não conseguia comer o almoço que traziam ele ia buscar um iogurte ou uma peça de fruta… E eu só tinha de dizer com ele…

Eu entendia, claro, mas… como integrar esta faceta do meu pai?

– Mas tu dizias-lhe que és… que és… benfiquista?!

– Mais ou menos. Dizia “esses andrades ganham tudo, não deixam ficar nada para nós!”

O meu pobre pai, tão pouco convincente, tentava fazer-se benfiquista elogiando o adversário.

– Ele falava mal do Pinto da Costa e aí eu já não me queria meter. A única coisa que lhe disse foi que também não acreditava que alguma vez o prendessem. “Sabe porquê que nunca o vão prender? Porque, se o fizessem, no ano seguinte o Custóias subia à primeira divisão!”

Respirei de alivio. Nenhuma daqueles afirmações de benfiquismo era credível e ocorreu-me que talvez o auxiliar nunca tivesse acreditado. Talvez, como eu, se comovesse com a figura daquele homem a quem a doença fragilizara, e que, a troco de uns gestos de companheirismo, aceitara negar a paixão de toda a vida e o admitia, agora, com vergonha, à espera da absolvição.

Poder

A Direita e o PS em coro anunciam aos sete ventos a chegada da «ingovernabilidade», com a expressiva votação que a esquerda alcançou nas Europeias, particularmente o Bloco. Esquecem-se de falar do caos que a «governabilidade» causou na vida de tantos e tantas. A Direita dos intelectuais orgânicos e do capital financeiro, tão bem representada por este Governo e até pelo Exmo. Senhor Governador do Banco de Portugal, acentua ainda mais os presságios, qual Cassandra ideologicamente manietada: «vêm aí os socialistas» (os autênticos, claro…); «imaginem o Bloco no Governo» ou até, na prosa jactante do inefável Director do Jornal de Notícias e indisfarçado «compagnon de route» do PS, o «Bloco de Esquerda só atinge orgasmos políticos na oposição».

Enganam-se. A velha táctica da chantagem e do medo é há muito conhecida pelo Bloco de Esquerda, alvo preferencial de quem teme a força da mudança. Porque o Bloco tem poder, cada vez mais poder: poder de influenciar; poder de propor e ser apoiado por vastas camadas da população; poder de desocultar, desmistificar e dizer quando o Rei vai nu; poder de mudar as estruturas mais atávicas da sociedade portuguesa. É um poder enorme que usamos com responsabilidade e competência. Sabemos que os votos se ganham a cada eleição. Que cada ciclo político é para nós um estimulante começar de novo. Aprendemos a aprender e, por isso, estamos muito melhor preparados para ser…poder.

O poder significa uma intencionalidade definida assente em recursos que permitem a concretização dessa intenção. Nenhum português ou portuguesa desconhece o que pretendemos para o país e o mundo. A clareza distingue-nos da sombra e do pântano. Por isso nos dão cada vez mais recursos: confiança, motivação, cumplicidade, aliança. Em suma: poder.

Ricardo F – Liberta o blogue que há em ti (II)

Tomei-lhe o gosto.
Por isso vou tentar outra vez. Agora para falar de uma das minhas sugestões.
Imaginem que assinam um contrato com uma entidade patronal, durante um ano. Passado esse ano renovam por mais dois anos. Passados esses dois anos, renovam por mais dois e assim adiante, em renovação em renovação.
Qual a empresa onde isto é possível?
Depois a empresa aconselha-vos a fazer formação avançada, vocês tiram um mestrado e inscrevem-se em doutoramento, mesmo fora da empresa conseguem ser aceites pelos vossos pares através de publicações em revistas com arbitragem científica internacional. O que ganham com isso. Apenas as palavras: “Parabéns! Continua com o bom trabalho!”
Qual seria o trabalhador da empresa que desmotivaria?
Depois a empresa decide que afinal quer uma percentagem de trabalhadores doutorados, mas não os ajuda a tirar doutoramento e outra percentagem a fazer trabalho em tempo parcial na empresa e o restante noutro local qualquer e oferece um período para decidirem e trabalharem para atingir aquele objectivo.
Que conselho dão a este funcionário?
Despeço-me com amizade e até um próximo post.

Ricardo F.

Nós, Humildes

Será que ouvi mal?
Estou em pânico.
Corro para o dicionário:

humildade | s. f.

humildade
(latim humilitas, -atis, pequenez, modéstia)
s. f.
1. Qualidade de humilde.
2. Capacidade de reconhecer os próprios erros, defeitos ou limitações. = modéstia ≠ altivez, arrogância, orgulho
3. Sentimento de inferioridade. = rebaixamento
4. Demonstração de respeito, submissão. = deferência, reverência ≠ desrespeito
5. Ausência de luxo ou sofisticação. = simplicidade, sobriedade ≠ ostentação
6. Pobreza, penúria.

A sério. Ouvi o inginheiru a falar em humildade duas vezes no mesmo dia e das duas uma: ou a micose na virilha direita me afectou o tímpano esquerdo ou então é mesmo uma questão de surdez.

Já estou a imaginar o próximo cartaz:

“Nós, Humildes”

E quando o Estado não cumpre as suas leis, isso é… uma parvoíce

A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) tem vindo a exigir o pagamento de coimas em excesso aos contribuintes, contrariando uma norma em vigor desde 1 de Janeiro de 2009 e que entrou em vigor no âmbito do Orçamento do Estado sob proposta do próprio Governo. O Ministério das Finanças diz que, na eventualidade de tal estar a acontecer, os contribuintes podem sempre recorrer para o tribunal.

Eis um dos exemplos da falta de qualificação do Estado e de muitos dos seus serviçais. Depois acham estranho continuarmos na famosa “cauda da Europa”.