Decotes

Nós-temos-mais-para-oferecer

Vera Lengsfeld é uma conservadora alemã, do partido de Angela Merkel, que tenta a sua eleição para o Bundestag num círculo eleitoral dominado pela esquerda. Vai daí inventou este cartaz, onde aos generosos decotes, seu e da sua líder, sobrepõe a frase “Nós temos mais para oferecer”.

Isto é que é falar verdade, acho eu, mas não, de maneira nenhuma, não vou sugerir, nem pensem nisso, ia agora propor, bolas, a sr. Ferreira Leite não precisa destas coisas para dar nas vistas, aliás quer dar nas vistas não dando nas vistas, pois, eu não disse nada disso, caraças, nem sequer insinuei. Já disse que nem tal coisa me passou pela cabeça.

Bolas, não digo mais nada.

AS QUESTÕES ÉTICAS NOS CUIDADOS DE SAÚDE (10)

AS QUESTÓES ÉTICAS NOS CUIDADOS DE SAÚDE (9)

Pensamos que o exemplo da linguagem e da comunicação é um bom exemplo de análise na reflexão sobre as sementes da dignidade do médico e da relação médico-doente. Tudo é explicável ao doente. Por exemplo, complicados conceitos actuais de estabilidade ou instabilidade, inflamação e rotura de uma placa ateromatosa, angina de peito estável ou instável, a complexa estrutura de uma cardiomiopatia hipertrófica, a dimensão e a projecção sistémica de uma hipertensão, são facilmente entendíveis por qualquer pessoa, se soubermos usar uma linguagem que se adapte à sua compreensão. O que acontece é que muitos de nós não sabem falar, não sabem escrever, não querem perder tempo, ou acham que o paciente não merece tal atenção. Isto é tão real que eu próprio recebo, por vezes, cartas de colegas que me enviam doentes ou me pedem opiniões, com uma composição literária que pouco ou nada difere das cartas de pessoas com a quarta classe. Não pensemos que este fenómeno é de somenos importância. A comunicação, a arte de se fazer ouvir e entender são fundamentais em tudo e indiscutivelmente fundamentais na nossa profissão e no elevado conceito da relação médico-doente. Aquando de um congresso na Corunha, foi-me oferecido um livro intitulado “El artículo científico en Biomedicina”, da autoria do Dr. Hernandez Vaquero, professor de traumatologia e ortopedia na Faculdade de Medicina de Oviedo, grande investigador, galardoado com vários prémios. Ao iniciar a leitura do livro, deparei com um capítulo que tratava de “La escritura del artículo científico” e de “Los errores e horrores del lenguage”. Aí ele diz que a linguagem é de fundamental importância, e que o conhecimento das suas regras é dever do médico e do investigador. Reconhecendo que a clareza deve tomar o lugar da retórica e do hermetismo, ele denuncia o pouco valor dado pelos autores e editores à escrita e à comunicação. Quem fala ou escreve mal não pode ter investigado bem. A exigência de qualidade não é uma questão parcelar. Que crédito se pode dar a um artigo que li há algum tempo, da autoria de uma pessoa com elevado grau académico, cheio de “calinadas” do princípio ao fim? Que confiança pode incutir uma revista médica cujos artigos se encontram cheios de erros? Que credibilidade científica pode transmitir um médico que faz uma comunicação ou uma palestra sem saber falar nem comunicar? Como pode um médico fazer-se acreditar perante um doente que todo se arrepia ao ouvir atropelos e dislates? A corrupção da língua e do pensamento, a negação intencional da expressão e do arranjo linguístico como factor importante da nossa própria estrutura, são parte integrante da mediocridade, fermento da confusão entre inteligência e indigência, humildade e petulância, formação e deformação, rigor e confusão, seriedade e manigância. (Continua).

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Dead Can Dance: The carnival is over

Dead Can Dance: The carnival is over, realização de Ondrej Rudavsky.


Além de ser um excelente vídeo de uma canção que muito prezo, tem uma história youtubesca bastante interessante: depois de ali ter sido colocado a primeira vez, foi vítima de uma queixa da Warner Music Group, distribuidora da 4AD, a editora dos DCD, e retirado. Quem tinha feito o upload não se conformou: achava, e bem, que a divulgação do vídeo servia para dar a conhecer os artistas, e como tal escreveu a Brendan Perr, músico dos DCD, que autorizou a sua republicação.

A música é de quem a faz, não é de quem a distribui. E a Warner que vá distribuir para o raio que a parta.


CARTA ABERTA A BARAK OBAMA (2)

CARTA ABERTA A BARAK OBAMA (2)

Meu caro amigo Barak Obama (e uso a palavra amigo com sinceridade), eu sou um gajo sério e não tenho maldade, pode crer. Por isso lamento a dor de cabeça que esta carta lhe vai dar ao chegar-lhe às mãos, não fisicamente, como é óbvio, mas, porque você é um homem inteligente e não o bronco do seu antecessor, ela já está há muito dentro de si. Nada preciso lembrar-lhe, pois tudo conhece melhor do que eu. Mesmo assim, gostaria de lhe dizer o seguinte:
A política externa do seu país, o domínio e o endeusamento da força, a incapacidade do respeito pelos outros, a arrogância, a prepotência, a ignorância e a incultura de muitos que a conduzem, a mentalidade das figuras que a comandam, a genética sede de rapina fazem dela um mal para a humanidade. Só assim se compreendem as atrocidades divulgadas, as mais cruéis manifestações da perversão do ser humano, que muito provavelmente não são de agora, que são de todos os tempos, que não tiveram lugar apenas no Iraque e que são do crónico conhecimento dos principais mandantes. Mandantes que as definem e as impõem, como muito bem denunciaram as revistas New Yorker, a Stern e a Newsweek. Dizem ainda que Rumsfeld aprovou um plano altamente secreto que autorizava e impunha novos e específicos métodos torcionários. Dizem ainda que a Secretária da Defesa dos EU autorizou, com o aval do Pentágono, o uso da tortura. Como se eu e os que temos dois olhos na testa, não o soubéssemos de há muito! Ao virem a lume tais expressões da mais abominável baixeza humana, é fácil a pessoas sem quaisquer princípios de ética, de moral e de justiça, sacudirem a água do capote, mentirem descaradamente e atirarem as culpas para cima de meia dúzia de mentecaptos e energúmenos.
Não sou eu quem acredita que tais actos bárbaros e selvagens são fenómenos isolados e pontuais. A história está repleta de exemplos. São inúmeras as notícias e os trabalhos jornalísticos que sempre o mostraram. Pelo contrário, penso que é ignorância, má-fé ou ingenuidade não acreditar que sempre foram a prática sistemática do exército americano e da CIA, em qualquer parte do mundo onde quase sempre entraram pela força. Penso que eles são e sempre foram a prática e a norma. Por saber isso, meu caro amigo Obama, eu louvo a sua atenção para corrigir esta América, a que se diz defensora dos direitos humanos e cria o mais vergonhoso campo de concentração do nosso tempo. Por alguma razão Bush se recusou a submeter os soldados americanos á jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Era o que faltava! Ele sabia bem as linhas com que a América se cose. Quem não deve não teme, diz o ditado, mas ele sabia bem o que devia e sabia bem as consequências trágicas de uma submissão desse tipo. Se eles se deixassem julgar e se o Tribunal Penal Internacional merecesse algum crédito, não faltariam cadeias repletas de americanos, criminosos de guerra. Choca saber que uma boa parte do povo americano, a tal que apoia esta América, não ficou particularmente chocada com as imagens das atrocidades. Ficou chocada, isso sim, com a sua divulgação, por colocar a descoberto a histórica hipocrisia deste país.
Amigo Obama, não deixe que a humanidade esqueça a lágrima de alegria que se fez mar de esperança, ao sonhar que o SENHOR Barak Obama era o homem que haveria de transformar uma nação grande e nada recomendável numa Grande Nação que fosse exemplo para o mundo. (Continua).

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A ARTE (1)

A ARTE (1)

Ars, em latim, significa técnica ou habilidade, e seria o processo através do qual o conhecimento é usado para realizar determinadas habilidades. Mas esta definição, apesar de pretender ser abrangente, não satisfaz. Aliás, a Arte não tem definição que nos satisfaça. Por outro lado, tenho muito receio de que as definições nos imobilizem. Todos os que tentaram definir a Arte, através dos séculos, de forma mais superficial ou mais profunda, deixaram sempre, felizmente ou infelizmente, uma falha sináptica no padrão neural da nossa compreensão. O puzzle poderia ser aparentemente perfeito mas havia sempre umas peças estranhas que não encaixavam. Penso que nunca se saberá verdadeiramente o que é a Arte. Talvez a neurobiologia nos dê, mais tarde ou mais cedo, quando a biologia do espírito for uma ciência incontestada, uma aceitável definição, pelo menos de carácter neurofisiológico. Mas tudo isto não deve impedir-nos de pensar e de transmitir a nossa opinião sobre a natureza da Arte. Faço aqui um parêntesis para dizer que gostaria de usar em vez da palavra Arte, a designação de sentimento artístico. A palavra Arte é capaz de remeter para um certo elitismo, criando a ideia de que ela é propriedade do artista e de mais ninguém, enquanto a designação de sentimento artístico permite considerar que este mesmo sentimento existe no observador, e pode ser mais forte e profundo naquele que contempla do que naquele que produz. O sentimento artístico tem uma certa parecença com o místico. É um sentimento quase indefinível, é um estado de hipersensibilidade, um desejo de experimentar ser-se de outra maneira, uma necessidade de sair do não autêntico, um quase sentir a verdade total e o amor universal.
Desde as expressões artísticas anteriores ao século XX, passando por todas as correntes artísticas do século XX anteriores à Segunda Guerra Mundial, até aos movimentos artísticos contemporâneos, todas as intervenções procuram apoderar-se e assenhorear-se da Arte como sua definitiva herança ou conquista final. Dentro da Arte moderna, quer tenha sido no Realismo, no Impressionismo, no Simbolismo, no Expressionismo, no Abstraccionismo, no Surrealismo e outras, qualquer artista, abraçando uma qualquer destas formas de expressão, ter-se-á sentido, porventura, na recta final do caminho da arte. O mesmo se dá na Arte Contemporânea, em qualquer dos seus ramos, Pop Art, Minimalismo, Arte conceptual, Performances, Instalações e outras. Muito pequeno sentimento artístico revela quem assim pensa ou quem assim se comporta, desconhecendo que a Arte, como sentimento, é universal, intemporal e transversal ao longo dos séculos. É o mesmo que pensar que a ciência, a despeito da actual magnitude da ciência da evidência, não foi sempre ciência e sempre mãe do conhecimento e do desenvolvimento. A Arte Conceptual, por exemplo, pode usar meios e materiais não directamente relacionados com as artes plásticas, como o vídeo, projectores de slides, fotografia, mas não pode pôr em causa o conceito de Arte, insistindo que é na imaginação, no idealismo, na ideia geradora, no conceito, que a Arte prevalece, de forma exclusiva, sendo a execução apenas um fenómeno dela decorrente. Apesar de eu considerar, como veremos adiante, que a morada da Arte está na ideia e na mente, chegar ao exagero de aceitar a obra como um sub-produto acidental do salto imaginário, é uma forma redutora. Muito provavelmente continuará sempre a haver em qualquer ideia e em qualquer expressão concreta um elemento surpresa, uma originalidade ou um golpe de génio que revolva outras ideias e outros pensamentos. Uma simples mudança de cor ou de forma pode exprimir imediatamente estados emocionais completamente diferentes. A Arte é muito pouco analítica e programável. Por outro lado, dentro da Arte Conceptual e em nome da independência do artista e da sobrevalorização da exclusividade da ideia, proliferam excessos e banalidades, por vezes premiados e aplaudidos como processos de rebeldia e que não passam de frivolidades ao sabor da ordem estabelecida, levando à confusão entre a verdadeira criação e aquilo que se diz novo. Com a agravante de o artista, muitas vezes senhor de mentalidade banal, hiperbolizar a obra com conceitos e considerações de filosofia barata e legendas ridículas, pretensiosamente sábias. (Continua).

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QUADRA DO DIA

Tudo enfiam na goela
Comem euros aos milhões
Se maior fosse a gamela
Nem ficavam os tostões.

A esquerda anti-democrática aos sábados, domingos e feriados, descansam o resto da semana

O episódio do periódico Sábado, que resolveu tirar de um denominado blog de esquerda as pessoas de esquerda que lá andavam, não me parece ter nada de inovador. Nem será tão grave como isso. Bem vistas as coisas é de esquerda quem quer, e de direita quem o invoca.  Sócrates descobriu-se agora de esquerda, o que além de algumas gargalhadas faz parte do seu legítimo direito à liberdade de expressão.

Já quanto ao ser-se democrata a conversa é outra.

Normalmente para encontrar um representante da “esquerda autoritária” procura-se um daqueles rapazes sempre ávidos em defender o capitalismo chinês ou o feudalismo norte-coreano.  Pelos lados do tal sábado encontraram Tomás Vasques, paladino nacional da causa pinochelitizadora nas Honduras:

Hoje chegou a notícia de um «golpe de Estado» nas Honduras, acontecimento «pouco apropriado» nos dias que correm, apesar das tradições latino-americanas. Os militares foram ao palácio presidencial e levaram o presidente, Manuel Zelaya, eleito em 2005, pelo Partido Liberal, depositando-o, literalmente, na vizinha Costa Rica. Mas estas «histórias» nunca são lineares. Manuel Zelaya termina o seu mandato este ano e a Constituição hondurenha não lhe permite a reeleição. Mas ele não estava de acordo com a Constituição. Estorvava-lhe o projecto de poder pessoal. E tentou, contra o partido pelo qual foi eleito, contra o Congresso, eleito democraticamente, e contra o Tribunal Constitucional, um «golpe de Estado» à Chávez, com o qual começou a ter estreitas relações desde 2007, e que o inspirou a realizar um referendo que o perpetuasse no poder. Em boa verdade, os militares hondurenhos, hoje, ao contrário do que escrevem os jornais, foram protagonistas de um «contra-golpe» e não de um «golpe de Estado». A via chavista para a ditadura nem sempre funciona.

O facto de tudo isto ser completamente mentira, e desmascarado como tal por toda a comunidade internacional (pelo menos em palavras, que em actos não é bem assim), não tem importância nenhuma. Se Chavez está dum lado, o Vasques está do outro. Está deste lado:

Pedro Magdiel Muñoz Salvador, hondurenho torturado e assassinado pelos golpistas.

Pedro Magdiel Muñoz Salvador, hondurenho torturado e assassinado pelos golpistas.

E fica a matar, no tal blog de esquerda.

Sócrates, aperta-me as mamas… Ou o perigo dos directos

Para dar vida às emissões estivais da tarde, os canais de televisão usam e abusam dos programas de rua e em directo. Algumas vezes com ‘rede’, outras nem por isso. Daí os momentos imprevisíveis. Este, numa das recentes tardes da SIC, é uma ilustração perfeita do imprevisto.

Uma vida nova

Acompanhei-o ao aeroporto. Trazia o casaco coçado de sempre e aquele jeito estranho de cruzar os braços como se tivesse recebido um par de mãos recentemente e ainda não soubesse o que fazer com elas. Um saco minúsculo a tiracolo e uma mala já bastante esmurrada, que ergueu com surpreendente facilidade para cima do tapete. A balança marcou dezoito quilos e meio e eu pensei o óbvio: como pode a vida toda pesar só isto? Sentámo-nos a tomar café, o peso da despedida ia apertando cada vez mais, tragava as palavras ainda antes de as proferirmos. – Já tens casa? – atrevi-me a perguntar. – Fico num hotel na primeira semana, depois de certeza que arranjo qualquer coisa. Novo silêncio. Foi então a vez da minha fuga para a frente. – Isto de começar uma vida nova depois dos 50 é só para valentes!

Ele soltou uma risadinha nervosa, murmurou um “pois é”quase inaudível. A vida dele aqui estava terminada e esta espera no café do aeroporto era só uma encenação que procurava iludir esse final, prolongando-o artificialmente, mas ansiávamos ambos pelo momento da partida. Que esperava ele? África era uma memória nebulosa de juventude, mas tinha sido a terra da felicidade. Aqui tudo se transformara numa rua sem saída, um caminho solitário que ele se fartara de percorrer. Ofereci-lhe o presente de despedida, uma piada entre nós: um canivete suíço. – Nunca se sabe que terrenos terás que desbravar. Trinta anos separavam-nos, mas neste lapso de tempo que antecedeu a sua nova vida tínhamos conseguidos ser amigos. Trocámos um abraço sem jeito, desejei-lhe boa sorte, prometemos que trocaríamos mensagens que já sabíamos que iriam espaçar-se depressa, até desaparecer quase de vez. Vi-o avançar com passos rápidos, um último aceno, e escapou-se. Imagino o seu alívio quando viu o velho continente ficar para trás, com a sua carga de sofrimento, as memórias sombrias, os dias solitários, o absurdo dos dias iguais. Uma nova vida esperava-o, sem aridez nas relações humanas, sem a angústia das noites de Verão passadas a sós. O trabalho não engoliria a sua vida, haveria de haver muitas noites caseiras, com música a tocar baixinho na varanda, e um perfume de mulher a esvoaçar pela casa. Ainda não tinha saído do avião e já a velha vida o tinha apanhado de novo.

Ele está de volta

E em Valongo!

SIC – Um dia especial para a Carolina


Paralisia cerebral
A Câmara da Maia contratou uma jovem com paralisia cerebral para os serviços administrativos.
In SIC – Jornal da Noite- 10-08-2009

Uma reportagem muito bem feita e bastante bonita, merecedora do devido destaque. Num país tão cinzento, por vezes temos momentos especiais como este. (basta clicar no título “paralisia cerebral” para ver a reportagem da SIC).

Francisco Leite Monteiro – Apelos: Pela Madeira

Os calores precoces fizeram antecipar o calendário tradicional e por arrastamento o “tempo de parvoidades”, pretexto para nos últimos artigos mensais, ter abordado umas quantas. Bem longe de se terem esgotado e enquanto se aguarda a abertura da “universidade de verão” do Porto Santo, sempre prolífica, o momento que se vive, recomenda mais ponderação e um pouco menos de ligeireza. São três as questões que hoje abordo, sumariamente, e que sem alarmar, diria motivo de preocupação, qualquer delas contendo um apelo que oxalá seja entendido.

1. Começo por repescar uma questão de que me ocupei há algum tempo – o caso “Quinta do Lorde” – importando, da evolução que se conhece, que sejam tomadas medidas sérias que impeçam o alastramento do processo de descaracterização daquela zona, que já defini como um “susto”, a tudo que resta desde aí até à Ponta de São Lourenço. A confirmar-se a notícia que veio a público, há cerca de um mês, sobre a decisão do Procurador da República mandando arquivar o processo que pôs em dúvida as condições de licenciamento do “Quinta do Lorde Resort”, é verdadeiramente preocupante e permite quase extrapolar-se que o mesmo poderá ser considerado “modelo” de desenvolvimento para ser repetido. Um absurdo, mas maior seria, esperar uma decisão que pudesse conduzir à total destruição do que está feito, por total impossibilidade de repor a situação. Como já escrevi a irreversibilidade do que bem ou mal foi autorizado, é um facto e o que importa agora é impedir a ampliação do que foi licenciado e está em vias de conclusão, sem qualquer possibilidade de extravasar para além do perímetro demarcado. Nessa perspectiva há que acautelar contra a repetição de novas situações, não mais consentindo qualquer uso ou alteração do solo, do que resta da Ponta de São Lourenço até ao farol.

2. Causa de alguma inquietação, é o do futuro desenvolvimento do Hotel Savoy, propriedade da SIET, que já fez correr muita tinta e, em sentido figurado, algum “sangue”, dado o processo que ainda se arrasta, com o encerramento do hotel e o despedimento de pessoal, processo que oxalá chegue a bom termo. Quase alarmante é o que poderá vir a desenvolver-se nos terrenos propriedade da SIET, ocupando quase na totalidade o quarteirão delimitado pela Avenida do Infante, a Rua do Favila, a Rua Imperatriz Dona Amélia e a Travessa que liga esta à Avenida, que implicou já a necessidade de uma revisão do Plano de Urbanização. Estar-se-á na iminência de um novo “susto”, considerado o aumento significativo da volumetria prevista para a nova construção distribuída por 3 núcleos, uma verdadeira “muralha”, praticamente, ao longo da Avenida do Infante, com 12 andares, atingindo no bloco central 14, acima do solo. Aos poderes públicos e em particular à Câmara Municipal do Funchal, lanço um voto, quase desafio, para que seja revista a situação, enquanto é tempo e antes que seja irreversível, como no caso da Quinta do Lorde.

3. A terceira questão, de natureza bem diversa das outras duas, está intimamente relacionada com ambas e com todas as questões que à Madeira e aos Madeirenses dizem respeito. Não será por acaso que o Diário de Notícias, fundado que foi em 1876, há 133 anos, é um diário com uma posição de relevo a nível nacional e é, indubitavelmente, uma referência dos temas regionais, assim como o verdadeiro porta-voz dos Madeirenses, abertas que tem as suas colunas e o “site” na Internet, aos seus leitores. Leio o Diário desde que aprendi a ler, na Madeira e, hoje com 77 anos, vivendo no continente, assino o Diário, o que não dispensa a leitura matutina da edição electrónica. O comunicado da Gerência do Diário de 31 de Julho e o que está subjacente, não pode deixar um qualquer Madeirense indiferente.

Regresso adiado

shumi

O anunciado regresso de Michael Schumacher às pistas de Fórmula 1 foi adiado.

O anúncio foi feito hoje de manhã e esta retirada, segundo dizem, deveu-se a problemas no pescoço.

Lembre-se que o antigo campeão do mundo iria substituir o brasileiro Filipe Massa que sofreu um grave acidente num dos últimos Grandes Prémios.

Para os restantes pilotos, penso que será um descanso uma vez que terão mais hipóteses de ganhar as corridas que ainda faltam até ao final das competições.

Cartazes das Autárquicas de tempos idos

(explicação da iniciativa aqui)
bacalhau
Custódio Bacalhau, PS, Grândola (Autárquicas de 2005)
via Autárquicas em Cartaz

Apontamentos & Desapontamentos: Os nossos queridos irmãos brasileiros


Há um livro do Mario Vargas Llosa, «A Tia Júlia e o Escrevedor», que deu lugar a um magnífico filme americano, realizado por Jon Amiel e interpretado pelo Peter Falk, o velho Columbo, pelo Keanu Reeves e pela Barbara Hershey – Tune in Tomorrow (1990). O livro é delicioso e o filme uma pérola. Falk representa o papel de «criador» de folhetins radiofónicos que não perde uma oportunidade para dar alfinetadas nos albaneses (no livro, passado no Peru, o alvo são os argentinos). As referências maldosas vêm sempre embrulhadas em elogios como, «os nossos queridos imigrantes albaneses que, como se sabe, têm a antiga tradição de urinar na sopa antes de a começar a comer»… Não sei se esta frase concreta existe, apenas quis dar um exemplo dos maldosos elogios a albaneses (argentinos) que a personagem central vai debitando ao longo da história. Ora bem, quando digo, os «nossos queridos irmãos brasileiros» não é com a intenção de em seguida os denegrir. Apraz-me que haja em Portugal um fluxo de imigração brasileira. Acho que, tanto quanto possível e cada um de per si o mereça, os devemos tratar tão bem como tratamos os nossos compatriotas. Nunca esquecendo os milhões de luso-descendentes que vivem no Brasil.

Aprecio muito a cultura brasileira, as obras de Machado de Assis, Graciliano Ramosl, João Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais, alguns dos livros de Jorge Amado, Ruben Fonseca, a pintura de Cândido Portinari, a arquitectura de Óscar Niemeyer, a obra musical de Heitor Vila-Lobos, de Tom Jobim, de Caetano Veloso, de Chico Buarque, os programas televisivos de Jô Soares, a mestria dramática de Paulo Autran… Poderia encher todo o espaço que vou dedicar a esta crónica com nomes de brasileiros que admiro. E muitos ficariam por referir. Para não falar nos muitos amigos. Contudo, custa-me compreender a razão por que gastamos dinheiro a importar lixo televisivo brasileiro, tão competentes que nós somos a produzi-lo. Ruy de Carvalho disse há tempos numa entrevista que se sentia ofendido de cada vez que ouvia dizer que «No Brasil é que há bons actores». Não que não os haja – os maus, porém, são em muito maior quantidade (como cá, aliás).

Os portugueses dos níveis culturais mais «desfavorecidos» adoram «falar brasileiro». Sempre é mais fácil do que ter o trabalho de aprender inglês, francês, alemão ou castelhano – basta falar abrindo vogais, usando expressões como «vou pégá um cineminha!» ou o meu filho anda na «escólinha», em vez de «vou ao cinema» ou «o meu filho anda no infantário». Já aqui disse – gosto muito de ouvir os brasileiros falar – portugueses a macaqueá-los é um espectáculo degradante. Até porque não conseguem. Uma amiga brasileira com quem estava a ver um programa do Herman, afirmou-me que o «sotaque brasileiro» dele é deplorável.

A nossa diplomacia e os mecanismos culturais de que dispomos, deveriam, no entanto, esforçar-se por esclarecer os brasileiros (os do Brasil e os de cá) que as chamadas «piadas de português» são uma grosseria que não merecemos. É conhecido o episódio de Collor de Mello quando em 1990 fez uma visita a Portugal, em pleno jantar no Palácio das Necessidades, resolveu contar uma «piada de português». É curioso que qualquer brasileiro, mesmo os das camadas culturais mais baixas, entendem que «português é burro». Uma arquitecta brasileira que trabalha num gabinete de projectos em Lisboa, ao concluir uma pós-graduação em que obteve uma excelente classificação final, felicíssima, telefonou aos pais dando-lhes a boa nova. Resposta do pai: «Ó minha filha, isso não tem valor, não. Você não sabe que português é burro? O que vale um pós-graduado feito aí?» Dos brasileiros que dizem estas coisas, não gosto mesmo e não preciso de embrulhar em papel de seda – burrice não usa passaporte nem respeita oceanos ou fronteiras! E este tema da burrice dos portugueses já viaja pela blogosfera a todo o gás.

Para falarmos com a franqueza que entre irmãos deve ser usada e, sempre generalizando, claro, a maioria de nós gosta dos brasileiros, acha graça à maneira como falam, às suas expressões. Em contrapartida, a maioria dos brasileiros não gosta de nós. Às vezes são sinceros e reconhecem que assim é – «É uma recordação do período colonial», dizem. Mas de qual período colonial? Os angolanos, os moçambicanos, sim, tiveram de lutar para conquistar a independência. Os brasileiros não – a independência foi-lhes dada. Porque, nas tropicais cabeças, se gerou a lenda de que os portugueses escravizaram os brasileiros, os quais em 1822, num arroubo de valentia, se libertaram. Disparate. Os portugueses escravizaram negros importados de África, tratados como gado. Mataram índios. Fizeram tudo isso e muito mais. Porém, os «brasileiros» que proclamaram a independência (começando pelo imperador), não eram escravos africanos, nem índios – a independência foi proclamada por portugueses que, rendidos às delícias do Rio de Janeiro, não estavam pelos ajustes de voltar a uma Lisboa bisonha e onde muitos deles perderiam o estatuto que ali, naquela corte de circunstância, tinham alcançado.

Isto mesmo disse, por palavras mais elaboradas, Eduardo Lourenço num colóquio que há anos se fez no Centro Nacional de Cultura e em que um brasileiro fez uma intervenção na base do «nós, oprimidos/vocês, opressores». Eduardo Lourenço, muito delicadamente, perguntou-lhe o nome. Por sorte, tinha um apelido português. E o professor desfechou-lhe esta: «Sabe? Foram os seus antepassados quem escravizou e quem oprimiu. Os meus, nunca saíram de Portugal e, portanto, não podem ser culpados disso».

A política cultural do nosso país é deficiente (aí está uma inegável burrice dos sucessivos governantes). Até no seio das colónias de emigrantes, no Brasil, em França, na Alemanha, existe a ideia de que Portugal é um país que parou no tempo. Com todas as deficiências que temos, com todos os atrasos endémicos, somos tão burros como os outros, que o mesmo é dizer, tão inteligentes como os outros. Claro, que não depende só de nós o haver no exterior uma avaliação correcta do que somos como povo – isso depende também da inteligência e do nível cultural de quem avalia. Porém, os nossos queridos irmãos brasileiros já deviam ter sido informados de que os emigrantes que daqui foram, sobretudo no princípio do século XX, eram gente muito pobre, completamente iletrada, muitos deles desembarcavam no Rio ou em São Paulo e era a primeira cidade que viam, pois de Lisboa ou do Porto só tinham visto o cais de embarque. Decorrido um século, as coisas mudaram; não tanto como gostaríamos que tivessem mudado, mas mudaram. Falando há tempos com imigrantes portugueses em França, pareceu-me (afirmar seria generalizar) que aquelas pessoas, vivendo em grandes cidades, mas em comunidades fechadas, mal falando a língua de acolhimento e nunca tendo verdadeiramente aprendido a sua, estão mais atrasadas do que os habitantes de qualquer aldeia do interior do País. Atrasadas no sentido cultural de compreensão das novas realidades. Os jovens, ajuizando Portugal pela pobreza cultural dos avós e dos pais, desprezam profundamente tudo o que é português.

De quem será a culpa desta incompreensão?

Enquanto pensam na resposta, ouçam um dos verdadeiramente grandes actores brasileiros, Paulo Autran (1922-2007) declamando Ricardo Reis. – «Vem sentar-te comigo, Lídia; à beira do rio» – Que maravilha quando nem nós nem eles
s
omos burros e trabalhamos em conjunto.

Citações de desencanto

Esta crise é tão severa que não só destruiu uma boa parte do dinheiro gerido como desacreditou completamente os gestores do dinheiro” L.Randall Wray Dep. de economia da Univ. do Missouri
 
“A ideia de que as economias capitalistas podem crescer consistentement sem recessões está seguramente morta ” Jamie Morgan Univ. Helsínquia
 
“O debate mais fundamental, sobre como será o ambiente de regulação do futuro, ainda agora começou. Para já é impossível dizer como vai ser o futuro na economia financeira.” Centro de estudos Bruegel
 
” O Estado teve que endividar-se por conta das famílias e empresas pois os bancos deixaram de funcionar” José Reis, professor de economia.
 
“Os bancos funcionam, estão estão é ainda na fase de construção da sustentabilidade e não tanto da concessão de crédito” Filipe Garcia, economista.
 
“O Estado foi avisado que o dinheiro dos contribuintes devia ser dirigido para as famílias e empresas e não para bancos falidos” Luis Moreira,ecomista, aventador

10 razões para não votar PS

– A taxa de desemprego subiu de 6,8% em 2005 para 9,3% em 2009;
– A dívida pública subiu de 62% do PIB em 2005 para 70,7% em 2009;
– O défice do Estado subiu de 5,2% do PIB em 2005 para mais de 6% em 2009;
– O endividamento das famílias subiu de 118% do rendimento disponível em 2005 para 135% em 2008;
– O IVA subiu de 19% em 2005 para 21% em 2006 e 20% em 2009.
– O número de portugueses com médico de família biaxou 11,3% entre 2005 e 2009;
– O rendimento por habitante é em 2009 o segundo pior da Zona Euro.
– Os Bancos continuam a pagar impostos mais baixos do que a generalidade das empresas.
– As competências adquiridas pelos alunos do ensino básico e secundário baixaram drasticamente de 2005 para 2009, bem como a permissividade e o facilitismo.
– Os professores do ensino básico e secundário continuam sem ser avaliados.
Também publicado no Do Contra.