Escada sem céu

Quem mandou construir a escada que dá acesso às celas dos frades apiedou-se desses homens. A pedra é fria e austera, o vento que corre à solta pelo claustro corta a pele, e as celas situam-se no piso de cima, o mais castigado pelo Inverno de Castela. A vida é severa, a carne recebe o castigo sem queixume, e até ao sonho se impõe ser casto. [Read more…]

Passadiços do Paiva

passadiços do paiva

Vão reabrir.

Jogo de espelho

paulo abrantes

Fotografia Paulo Abrantes

Enquanto os seus filhotes bolsavam a mais sórdidas asneiras…

… e moviam as suas patéticas manobras cá por casa, Paulo Portas quer convencer-nos de que pediu encarecidamente à Comissão Europeia que fosse condescendente para com o governo português. Asco! Mas alguém ainda acredita neste tartufo?

Os milionários que ganham 2000 euros por mês

A experiência diz-me que terei muito tempo para dizer mal do Governo, do Primeiro-Ministro, do Ministro das Finanças e de muitos outros que se ocupam das funções executivas. A mesma experiência diz-me que já não deve faltar muito, porque os governos começam muito depressa a dizer e a fazer asneiras.

Hoje, vou limitar-me a apontar um dedo preguiçoso a jornais e a jornalistas.

O DN faz a chamada para uma entrevista ao Ministro das Finanças usando uma citação: “Quem tem 2000 euros de rendimento tem uma posição privilegiada.”

Não sendo eu um queixinhas, a verdade é que não me sinto propriamente um privilegiado, pelo menos no que toca a rendimentos, que privilégios há muitos.

Quando estava a preparar-me para soltar um impropério, pensei: “Deixa lá ler a parte da entrevista acerca disto dos rendimentos.” E lá me deixei ir ler.

Deixo-vos a citação completa da resposta, porque  uma pessoa lê as gordas e depois está no quentinho e não lhe apetece ir mais além. Aqui fica. Do título ao texto vai um passo gigante: é assim que se arranjam entorses e é assim que se vendem jornais. [Read more…]

DiEM

O lançamento do movimento Democracia na Europa está a acontecer agora em Berlim.

 

O mundo segundo Trump

Um atlas para estúpidos.

O fato em conta

Hoje, no sítio do costume.

Crónicas do Rochedo V – Pinto da Costa, O Político.

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Uma das características dos políticos é a sua durabilidade. São assim como o coelho das pilhas duracell, “e duram, e duram, duram, duram…”. Não fosse a lei de limitação de mandatos nas autarquias locais (porquê só nas autarquias locais???) e Portugal seria o verdadeiro paraíso jurássico da Europa.

Estarei a exagerar? Não me parece. Ora reparem: António Costa, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Jerónimo Sousa. Isto apenas para referir as primeiras linhas. Caso contrário, teria de recordar Soares, Cavaco, Jorge Coelho, Jaime Gama, Marques Mendes, Durão Barroso, Santana Lopes, Telmo Correia, Francisco Louçã, etc., etc., etc. Desde os anos 80/90 que estão na primeira linha. Será que é só na política? Bem, nos sindicatos é a mesma coisa. Nas ordens profissionais onde não existe regra de limitação de mandatos idem. E nas grandes empresas? Aspas, aspas.

Isto é tudo muito bonito, são todos muito democratas e tal e coisa mas largar o lugar é que nem pensar. Se é assim em tudo porque raio teria de ser diferente no futebol? Pois.

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Um bom dia para tirar a máscara…

… e colocar outra.

Ainda vai a tempo de experimentar.

Os conselhos de Costa e outros truques da imprensa nacional

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O assunto do momento parece rodar em torno dos conselhos de António Costa, que rapidamente pariram uma página de Facebook que dá pelo nome de “Conselhos do Costa” e que conta já com mais de 24 mil seguidores. Não deixa de ser curioso que, havendo tantas páginas no Facebook dedicadas ao comentário e à sátira política como Uma Página Numa Rede SocialBocage 2.0 ou Os truques da imprensa nacional (onde me inspirei para escrever este texto), todas com mais de 20 mil seguidores, a comunicação social tenha escolhido precisamente a página de chacota ao actual primeiro-ministro. Nada contra este tipo de humor, muito pelo contrário. Apenas uma nota de desilusão por nunca ninguém se ter lembrado de criar uma página chamada “Conselhos do Passos”, onde dicas como ser poupadinho, não ser piegas ou emigrar em massa pudessem ser igualmente exploradas com o alto patrocínio da nossa comunicação social. [Read more…]

Europa

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Miguel Szymanski

Como europeu dos quatro costados (avô português + avó meia catalã meia alemã; avô austríaco de ascendência polaca + avó da comunidade alemã checa) esta Europa começa, outra vez, a meter-me medo. Claro que a Europa dos meus quatro costados já passou por pior. A minha avó paterna dizia-me que tinha mudado três vezes de país à força das armas sem sair da cidade onde nasceu (Pilsen/ actual República Checa). O meu avô paterno, médico, passou anos a trabalhar com serras de ossos num hospital militar em Viena. A minha outra avó tomava conta das crianças no jardim de casa com uma arma automática em cima da mesa, para se defender em caso de ataque, enquanto o meu avô comandava uma companhia de soldados famélicos.
A Europa já esteve pior. Depois formou-se como cartel industrial para carvão e aço e é sobre esse cartel que assentam as actuais instituições da UE. [Read more…]

Cratera de Darvasa

Resíduos de botas nas línguas dos jotas

the-island-of-dr-moreau-pic-2O jota do centrão é uma mutação produzida em laboratório. Por fora, parece uma pessoa; por dentro, é um híbrido obediente, entre o porco e o lobo, que vota caninamente no que lhe mandam em vez de dar a pata e que diz o que lhe ditam, atacando uma jugular retórica à ordem do dono.

Os laboratórios em que produzem os jotas têm escrito na fachada “Sede do Partido Coiso”. Lá dentro, os chefes estendem a bota e o jota, como em qualquer praxe universitária, lambe até ficar dependente. De tanto lamber, dá-se a mutação.

No fundo, lamber a bota é um sucedâneo da célebre “água do cu lavado” com que, diz a tradição, as mulheres seduziam os futuros maridos. Como é que isto se compagina com a teoria de que os homens se prendem pelo estômago não sei, mas o mundo está cheio de mistérios. [Read more…]

Gestão de carreiras

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Flanava por aí a pensar remotamente se aos portugueses também faltaria uma palavra para entreprender e eis senão quando este cartaz:

“Código Penal

Artigo 160.º
Tráfico de pessoas!

1 – Quem oferecer, entregar, recrutar, aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoa para fins de exploração, incluindo (…) a exploração do trabalho (…):

c) Com abuso de autoridade resultante de uma relação de dependência hierárquica, económica, de trabalho ou familiar;

é punido com pena de prisão de três a dez anos!”

O anúncio aparecia assim, com pontos de exclamação e tudo, a transpirar desafio, incredulidade, loucura…

Ainda pestanejei, por momentos, “porque não?”, mas logo o tédio, “não vá a coisa desmerecer até os portes de devolução”, me arrastou no seu enjoo paliativo…

Alberto João Jardim enfrenta a justiça pela primeira vez

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Foi preciso esperar 22 anos para que António Loja pudesse ver chegar ao tribunal o processo por injúrias de que acusa o rei-sol do Funchal. Terminada a era da imunidade, Alberto João Jardim vai mesmo sentar-se no banco dos réus e responder pela chacota pública a que remeteu o ofendido, através do Jornal da Madeira, onde publicou artigos em que usava vocabulário que ilustra bem a pessoa que é, e que incluía termos como “ordinarote” ou expressões como “o homenzinho, ao ler isto, caem-lhe mais três dentes, dois de raiva e um de senilidade“.

Estando o teor deste processo longe das mais elevadas tropelias do jardinismo, entre casos gritantes de despesismo e férias de luxo patrocinadas pelos contribuintes, a verdade é que é absolutamente refrescante ver Alberto João Jardim em tribunal. Cheguei sinceramente a pensar que tal nunca seria possível. Ficará por aqui? Ou será este o primeiro episódio de uma fabulosa série em que o regime do compadrio madeirense começará a responder perante a justiça? Uma sugestão: que tal começarem pelo Banif?

Foto@O Jogo

Porque nunca me conseguirão calar

“Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.”

Sophia de Mello Breyner Andresen