A CASA DE DINAMITE: BREVE ANÁLISE DO CENÁRIO PROPOSTO

Em “Casa de Dinamite” é representada a resposta de um ataque aos EUA por um míssil disparado algures no Pacífico Norte, sem ter sido possível identificar o local, o autor do disparo ou se teria sido um mero acidente. Nos anos 60 e 70 ocorreram falsos alarmes de ataques de larga escala. Num caso a origem foi numa resposta errada de um sistema de radares ao nascer da Lua sobre a Noruega. Noutro, foi um exercício não comunicado às autoridades responsáveis pelos alertas.
Questões que merecem uma análise mais cuidada:
1- O ponto mais irrealista do filme é a pressão de decisão imediata ao ataque colocada sobre o Presidente dos EUA. Num cenário real, a resposta só deverá ocorrer quando houver clareza suficiente sobre quem ataca e por que motivo ataca. E a resposta pode ser dada muito depois de a deflagração de um ataque causado por um único míssil. O risco de erro pode ter as consequências mais graves que se possa imaginar: a destruição do mundo;
2- A comunicação entre os EUA e a Rússia é representada de uma forma pouco eficaz e confusa. Apesar das relações entre as duas potências terem esfriado muito entre Putin e Biden, a ligação direta entre os dois presidentes continua operacional e a ser testada. Entre EUA e China já existe um sistema quase ao mesmo nível. Com a Coreia do Norte não há protocolo estabelecido;

[Read more…]

O Nobel da Química Palestino-Jordano

Juntamente com Susumu Kitagawa (Univ. de Kyoto) e com Richard Robson (Reino Unido, Univ. de Melbourne), o palestino-jordano Omar Yaghi (Univ. da Califórnia) foi laureado com o Prémio Nobel da Química de 2025 pelo desenvolvimento de uma promissora arquitetura molecular. Tratam-se compostos que combinam estruturas metálicas e orgânicas que providenciam cavidades que podem ser atravessadas por moléculas de dimensões determinadas. As aplicações potenciais são muito interessantes, desde capturar água do ar do deserto até à filtragem de poluentes na água, passando pela captura de carbono e armazenamento de hidrogénio.
Omar é filho de pais palestinianos que se refugiaram na Jordânia em 1948, a mãe analfabeta e o pai com estudos ao nível do ensino básico. Na época, viviam numa pequena casa sem eletricidade e sem água corrente. Foi viver para os EUA aos 15 anos onde estudou e se tornou um cientista agora afiliado a Berkeley, Universidade da Califórnia.
Ao longo da minha carreira trabalhei e privei com investigadores do Maxerreque, do Líbano, da Síria, de Israel, da Jordânia e da Palestina, uns xiitas, muitos ateus, outros judeus, cristãos ou drusos. Este Nobel poderia ser uma das muitas histórias de vida que ouvi na primeira pessoa, de quem deu a volta por cima através da sua dedicação à ciência e/ou à engenharia.

[Read more…]

O Preço dos Ovos vai baixar

Ontem, só entre a porta do meu laboratório e a casa de banho apanhei 30 m2 de burcas (ai não, eram 70m2). Já não se pode, é burcas a sair pelas fichas da eletricidade, uma praga. Esta medida do Chega é muito boa porque vai baixar o preço dos ovos, da habitação e diminuir as filas de espera nos hospitais, vai ser espetacular.
Mas acho que o Chega não foi suficientemente corajoso. Eu proibiria a construção de iglus nos areais das nossas praias, mandaria prender todos os esquimós e expulsá-los para a terra deles. Aí é que daríamos um salto no índice de desenvolvimento que até os cangurus (a proibir também) ficariam com os olhos em bico.

Comparações erradas entre armas no Iraque e no Irão

Na cacofonia do debate sobre o desenvolvimento de armas nucleares no Irão, foi lançado o argumento que equivale a inspeção de armas de destruição em massa ao Iraque em 2003 à inspeção de desenvolvimento de urânio enriquecido ao Irão em curso. Não se equivalem.
Quem leu o livro “Desarmando o Iraque” (título francês mais explícito: “Irak, les armes introuvables“) de Hans Blix, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e diretor das inspeções no Iraque em 2003, não tem dúvidas nenhumas que o resultado das inspeções foi negativo e que a Administração W. Bush mentiu para provocar uma guerra. Para reforçar esta conclusão, Hans Blix dá o exemplo das inspeções realizadas pela AIEA em 1998 em que foram encontradas provas de uma tentativa para desenvolver armas nucleares no Iraque. Um programa então encerrado com a supervisão da Agência.
No caso do Irão, sabemos desde 2008 que o Irão está a tentar enriquecer urânio para lá dos 5% (o máximo para aplicações civis). Aliás, nos termos do Plano de Ação Conjunto Global assinado em 2015, o próprio governo iraniano admite a generalidade das conclusões sobre o desenvolvimento do seu programa nuclear. A novidade agora é que os inspetores da AIEA encontraram provas do desenvolvimento de urânio enriquecido acima dos 60%. As conclusões do último relatório (12 de Junho de 2025) são claras:

KGB e Trump influenciam políticas de defesa 38 anos depois

A 4 de Julho de 1987, Trump viajou para a União Soviética numa viagem a convite da Embaixada Russa com o objetivo de negociar a construção de um hotel em Moscovo. Trump estava à beira da falência e disposto a vender as suas convicções por qualquer negócio. A viagem foi totalmente coordenada pelo KGB, provavelmente sem que Trump se tenha apercebido. De volta aos EUA, a 2 de Setembro de 87, Trump publica uma página com um artigo de opinião a 100 mil dólares no The New York Times, no The Boston Globe e no The Washington Post. O artigo acusava os aliados da NATO, o Japão e a Arábia Saudita de se aproveitarem da generosidade e da proteção dos EUA e de não se empenharem na sua própria defesa. Yuri Shvets, ex-espião do KGB, é uma das testemunhas de como o artigo foi recebido com gáudio em Moscovo. O objetivo do KGB era aumentar as tensões entre os aliados dos EUA, provocar divisões se possível e influenciar os EUA a diminuir gastos em defesa. A viagem a Moscovo começava a dar os seus frutos, mas os acontecimentos de 1989 interromperam a estratégia do KGB. Mais tarde, Putin retomou as atividades do KGB, com o novo FSB, junto de Trump e do meio conservador americano.
38 anos depois temos a NATO a discutir questões orçamentais por influência de Donald Trump, em moldes requentados do artigo de 87 soprado pelo KGB, meses depois de Trump ter ameaçado a Gronelândia, a Dinamarca e a União Europeia…

[Read more…]

A política errática de Trump no acordo nuclear com o Irão

Em 2018, contra os compromissos assinados por Obama, Trump retirava os EUA do Plano de Ação Conjunto Global. Uma decisão que na prática matou o acordo. Era um acordo diplomático exemplar e eficiente que já estava a dar os seus frutos e que tinha a virtude de incluir a China, a França, a Alemanha, a UE, o Irão, o Reino Unido, a Rússia e os EUA.

Alinhado com o tratado de não-proliferação nuclear, o acordo previa a redução das reservas de urânio enriquecido em 98% e a redução das unidades de centrifugação de urânio. O processo estava a ser supervisionado pela Agência Internacional de Energia Atómica e estava a correr melhor do que pior.

Na altura ficou claro que a decisão de Trump se enquadrou num conjunto de provocações de apoio ao regime de Netanyahu, tendo o próprio primeiro-ministro israelita declarado que apoiava totalmente a decisão de Trump. Também na altura quase todos os peritos do nuclear, da diplomacia e da política internacional alertaram que esta decisão poderia ter consequências catastróficas no futuro. É onde estamos.
O Irão está a enriquecer urânio às escondidas e Israel aplica a receita bruta para eliminar as instalações nucleares.

Andrew Roth no Guardian de hoje: “Iran would not be this close to possessing a nuclear weapon if Trump and prime minister Netanyahu had not forced America out of the nuclear agreement with Iran that had brought Europe, Russia and China together behind the United States to successfully contain Iran’s nuclear ambitions.

A Ligação Trump-Putin explicada pela France 5

Não, não são vídeos de senhoras russas a fazer chichi numa orgia com Donald Trump que estão na origem da vassalagem que Trump tem prestado a Putin, até à aparente revolta recente quando Trump declarou que Putin está louco. Esses vídeos muito provavelmente existem, mas tal como é referido nesta reportagem da France 5 por um ex-agente do KGB/FSB, a popularidade de Trump é imune a chantagens baseadas em vídeos sexuais.
São sim, dois acontecimentos convergentes ocorridos nos anos 80 que vão selar a ligação/dependência de Trump à Rússia, em particular ao KGB e depois ao FSB:
1- A decisão do KGB de infiltrar a direita americana;
2- O estado dramático dos negócios de Trump.

 

Depois de décadas a infiltrar a esquerda americana sem resultados úteis para combater o Reaganismo, o KGB decide infiltrar a direita americana para disputar o poder político e económico. O KGB pretendia comprar e controlar empresas, adquirir edifícios para operacionalizar atividades no terreno e sobretudo infiltrar organizações políticas e para-políticas para ganhar poder. O maior sucesso do KGB foi a infiltração da Heritage Foundation. Uma organização de think tanks neoconservadores super-ricos, da direita radical, que permitiram a ponte entre a Trump e os aparentes homens de negócios soviéticos que pretendiam estabelecer relações comerciais entre a URSS e os EUA. Desesperado para salvar os seus negócios, Trump deslocou-se à URSS e [Read more…]

Desinformação no Expresso sobre energia nuclear

Este artigo de Henrique Raposo publicado no Expresso não segue minimamente a literatura científica consolidada sobre a energia nuclear, cita dados maioritariamente não revistos pelos pares e artigos sem significância estatística e sem abrangência. Sobretudo segue uma cadeia de desinformação iniciada pelos lobistas nucleares que engana até alguns dos mais atentos. Tenho trabalhado nestes assuntos com os meus alunos e é verdade que não é fácil fazer uma triagem correta da informação disponível.

Vejamos 4 exemplos da sua coluna de opinião que são muito ilustrativos:

1- “morreram 28 pessoas nos dois grandes acidentes nucleares até agora”. É completamente falso. Em artigo disponível no site da Agência Internacional de Energia Atómica, estima-se entre 50 mil a 90 mil mortes em Chernobyl. Números consistentes com o trabalho de 80 anos de investigação da cooperação Americano-nipónica Radiation Effects Research Foundation (RERF) desde a bomba atómica de Hiroshima, com o trabalho de décadas do Los Alamos National Laboratory ou com os cálculos de G. Charpak, Nobel da Física, por exemplo. Henrique Raposo é mais um da cadeia de desinformação dos que cita erradamente um relatório da UNSCEAR, pois cita apenas o número de trabalhadores que morreram de exposição direta e aguda na central no dia do acidente, que foram 28 e não as pessoas que morreram da contaminação de Cs137 que abrange uma área de amplitude continental. Aliás, no próprio relatório a UNSCEAR diz que não pretende fazer essa estimativa do número total de mortos na secção 3 da pag. 64. Mais, a mesma UNSCEAR ratificou, aquando do Fórum de Chernobyl em 2003, um número de mortes superior a 4000. [Read more…]

Provavelmente a última central nuclear da Europa

Este sábado, em Flamanville no norte de França, foi ligado à rede o novo reator EPR. O EPR era um projeto franco-alemão, acrónimo de European Pressurized water Reactor. Quando a Alemanha abandonou o projeto EPR passou a designar-se Evolutionary Power Reactor. Os EPR oferecem uma potência cerca de 50% superior do que a generalidade dos reatores e sobretudo são muito mais seguros, constituídos por cúpulas capazes de resistir a um embate de uma avião de linha e com galerias de transporte de plasma em caso de fusão do reator.

No entanto, este é um projeto que começou com um orçamento de 3,3 mil milhões de euros e terminou em 13,2 mil milhões. É o sexto edifício mais caro do mundo. Representando custos de 8250€/KW para a capacidade instalada. O fotovoltaico anda nos 600€/kW. A construção eternizou-se ao longo de 17 longos anos. A história dos outros EPR construídos pela EDF, na Finlândia e ainda em construção Hinkley Point no Reino Unido, não é muito diferente, verificaram-se também derrapagens colossais de custos e atrasos inaceitáveis.

Mais do que um estrondoso falhanço para a indústria nuclear, esta pode ser a última central a ser construída na Europa. A construção da central de Hinkley Point está praticamente parada e é a única em construção na Europa. Este ano Hinkley Point perdeu alguns dos seus principais investidores e não há nenhuma hipótese viável no horizonte para os substituir. A EDF, responsável por Hinkley Point, foi salva pelo estado francês que absorveu uma dívida de 60 mil milhões de euros. A EDF não tem capacidade de investimento. A americana Westinghouse foi à falência e foi comprada por um grupo canadiano sem experiência em centrais nucleares. Neste momento há zero centrais a serem construídas nos EUA… A japonesa TEPCO foi à falência e passou para os contribuintes japoneses mais de 200 mil milhões de dólares e Fukushima está muito longe de estar limpa. A coreana KEPCO ainda não faliu, mas tem uma dívida de 150 mil milhões de dólares. A russa Rosatom é atualmente a única empresa com capacidade para construir fora de portas, graças às contas à Putin, que não presta contas aos contribuintes russos.

“Obviamente demita-se”

É de uma ironia tremenda que Boaventura Sousa Santos se tenha demitido do CES queixando-se de “pressão mediática” em torno do caso de acusações de assédio sexual e moral e de extractivismo intelectual em que é visado. É de uma ironia digna de uma tragédia grega, quando tem demonstrado fazer muito bom uso da arma da pressão mediática no processo em defesa da sua honra contra 4 mulheres, tentando que sejam condenadas à pressa, pedindo inclusivamente ao tribunal para as silenciar, para que este processo esteja concluído antes de se iniciar o processo em que será eventualmente acusado de assédio moral e sexual.

Mas não há ironia maior nesta defesa esfarrapada e Calimerista quando ainda nos recordamos muito bem do artigo de 31 de janeiro de 2022 em que Boaventura usou de toda a pressão mediática de que podia usar para, na condição de “guru da esquerda”, dar ordens ao Bloco de Esquerda e à Catarina Martins para que esta se demita após os resultados eleitorais das legislativas. Pior, fê-lo de uma forma deselegante adaptando uma expressão do General Humberto Delgado sobre Salazar, colocando-se ele na posição do General e Catarina Martins na posição de Salazar. Não admira, em geral os gurus são incapazes de ter empatia sobre aqueles que consideram ser os seus seguidores incondicionais. Colocar a Catarina numa tribuna de grande peso mediático na posição de Salazar, não lhe ocorreu que pudesse ser ofensivo e humilhante. É da natureza dos gurus.

Detesto citar provérbios populares. “Quem com ferros mata, com ferros morre”.

3 Indignações sobre o caso Boaventura

(notícia de hoje no Dário de Notícias)

Ponto prévio. Este problema não é exclusivo do CES, nem da UC, nem da academia portuguesa. É um problema enraizado em sociedades cujas gerações conheceram o peso do patriarcado no quotidiano. A estrutura hiper hierarquizada do meio académico apenas fornece oportunidades em ouro a uma larga variedade de predadores. A grande diferença é que já existem instituições que criaram mecanismos credíveis e eficientes para lidar com estes problemas.

1- A UC deveria comunicar sobre este tema com muito mais clareza e sobretudo anunciar à comunidade UC o que já mudou, o que vai mudar, se ainda vai ouvir a comunidade (que tal um inquérito individual?), etc. Se não fica a sensação que a rede de conflito de interesses sobre este caso, rede esta que é mais extensa do que parece à primeira vista, está a conseguir travar e apagar com subtileza este caso da atualidade. É muito importante que a comunidade UC tenha confiança na instituição e que esta dê garantias que no futuro não se vão repetir os erros deste caso. Por exemplo a NASA providencia um serviço eficaz e independente que dá garantias de proteção de anonimato para apoio às vítimas de assédio. É um exemplo, existem outros;

2- O silêncio pesado sobre este assunto de quem à esquerda sempre se bateu pela justíssima causa do assédio moral e sexual. Não precisamos de discursos contendo acusações veladas ou explícitas, nem de nomes, muito menos de lavagem de roupa suja em público, precisamos de assertividade sobre este assunto, uma ou duas frases inteligentes que demonstrem uma posição clara e inequívoca;

3- Gurus de esquerda? Tenham juízo. Uma terra sem amos e sem gurus.

“não discutimos a família e a sua moral”

Para ouvir com bolas de naftalina nos ouvidos.

Zaporijjia e a segurança das Centrais Nucleares

No plano inicial do 11 de Setembro constavam 10 alvos, um desses alvos era a central nuclear de Inidian Point que fica a 60 km de Nova Iorque. Segundo a informação recolhida, a central nuclear foi retirada da lista de alvos porque foi considerado que as consequências poderiam ser muito mais nefastas do que o pretendido.

Até 2001, as estruturas das centrais foram projetadas para resistir ao embate de um pequeno avião de turismo, da categoria de um pequeno Cessna. Na altura julgou-se que o pior cenário poderia ter origem num erro de um piloto de um avião desta categoria que voa a mais baixas altitudes e que eventualmente se aproximasse demasiado de uma central. 85% das centrais nucleares existentes foram projetadas para este cenário. Depois do 11 de setembro de 2001, esse paradigma mudou. Um avião de linha poderia servir de projétil contra uma central. Realizaram-se simulações para tentar avaliar a capacidade das centrais existentes para resistir a um embate de um avião de linha, mas na esmagadora maioria dos casos os resultados não foram divulgados e muitos mostraram que em determinadas condições os danos causados nas centrais nucleares poderiam causar um acidente muito grave. Poucas foram as centrais que reforçaram as estruturas. Por exemplo, os reatores de Zaporijjia estão parcialmente protegidos por uma estrutura envolvente ao edifício de cada reator quase da altura da cúpula. Esta estrutura pode ser muito eficiente para um embate de um avião de linha ou um projetil de artilharia, mas pode ser facilmente contornada por um míssil com boa precisão.

No entanto, para que um acidente grave possa ocorrer não é necessário atingir o edifício do reator. [Read more…]

O Secretário de Estado da Educação que nega Alterações Climáticas

Temos um Secretário de Estado da Educação com um discurso negacionista sobre as alterações climáticas. Na era da desinformação não poderia haver melhor escolha.

Numa altura em que já tinham sido publicados 5 relatórios do IPCC que compilavam dezenas de milhares de artigos que davam uma consistência muito sólida à origem do aquecimento global nas atividades humanas, o atual secretário de estado escolheu um artigo que questionava parcialmente os resultados do IPCC (um exercício normal em ciência, também se avança com os erros) para discorrer o seguinte:

  • o aquecimento global estagnou no início deste século e, tudo indica, assim permanecerá até cerca de 2030
  • o oceano Atlântico a (provável) principal explicação para o fenómeno (…) a acção humana não é o factor dominante nessa relação
  • Mas mais do que fácil, foi útil acreditar. Politicamente útil. Porque o que verdadeiramente interessa é o carácter político da alegada relação causal entre a acção humana e o clima. Essa não foi um acidente, foi deliberada. E não foi imposta pela ciência, foi mesmo uma opção ideológica. Para alimentar os activismos e moralizar debates. Para fixar o modo de vida ocidental como raiz da ameaça à sustentabilidade do planeta. Para impor como solução a ruptura com esse modo de vida. Para, no fundo, fazer do aquecimento global o alibi para legitimar a luta contra o capitalismo e a defesa do socialismo. Durante décadas, funcionou. Manifestos, protestos, agendas fracturantes. Houve de tudo. Agora, está na hora de virarmos a página.
  • Olhando para trás, é de certo modo chocante verificarmos que tanta gente tenha escolhido acreditar numa relação de causalidade tão fragilmente demonstrada em termos científicos. Sim, porque a questão-chave nunca foi reconhecer que há aquecimento global ou que a acção humana pode contribuir para o efeito estufa (isso está efectivamente demonstrado), mas sim o estabelecer de uma relação causa-efeito entre a acção humana e esses fenómenos climatéricos. Esse salto lógico, que nunca foi devidamente sustentado, foi rápida e acriticamente aceite.
  • O que está em causa é uma dupla lição. A de que o homem não controla tudo. E a desta importante derrota política. A de uma corrente ideológica que usou a ciência para esconder o seu radicalismo contra o capitalismo. Pela ciência se ergueu. Pela ciência caiu.

[Read more…]

Em 2019, o exército de perfis falsos do CHEGA foi financiado ilegalmente?

Em 2019, aquando da candidatura de André Ventura às presidenciais, do nada surgiram centenas de páginas facebook oficiais e não oficiais do CHEGA. Enquanto as páginas oficiais revelavam uma baixíssima atividade, comparável aos restantes partidos pequenos/novos, já os sites oficiosos do CHEGA pareciam inundados de apoiantes e imensamente profícuos em comentários. Como foi denunciado na altura em reportagem jornalística, o CHEGA teria criado cerca de 20 mil perfis falsos. E era nestas páginas oficiosas do CHEGA que eles faziam o seu trabalho, e aqui sublinho a palavra trabalho, porque era evidente que havia perfis que dedicaram meses de trabalho a tempo inteiro à criação de páginas, de conteúdos, de perfis falsos e à escrita de comentários das 8h às 24h. Um desses perfis, era esta Sophia Vilaverde ou “Vani para os amigos”. Era evidente que a Vani estava a fazer um trabalho remunerado, como é que se pode explicar que geria a página “CHEGA Portugal – Força Nacional” (encerrada entretanto pelo facebook) que produzia conteúdos da manhã à noite e tinha centenas de comentários em cada post. Quanto mais racista fosse o post mais comentários atraía. A Vani passava o dia a responder aos comentários dessa página bem como de outras páginas oficiosas do CHEGA.

Como foi paga a Vani? Quem pagou a Vani?

Esta é a grande questão. Mais do que analisar aqui os milhares de comentários de incitamento ao ódio racial, ao genocídio ou ainda aqueles em que se faziam ameaças explicitas à integridade física de minorias, de mulheres e de portugueses racializados. Quem e como pagou à Vani e às restantes dezenas de gestores de páginas oficiosas do CHEGA que se escondiam por trás de perfis falsos , quem pagou aos criadores de conteúdos e aos gestores dos tais 20 mil perfis falsos, que surgiram do nada de um dia para o outro, num partido pequeno e acabado de criar? [Read more…]

Quem financiou os outdoors do Chega em 2019?

Todos se recordam das dezenas de outdoors que foram colocados por todo o país em que o CHEGA se manifestava contra o serviço público de saúde, de educação, de transporte, etc. Assim que começou a pandemia e era o serviço público a cuidar da população com COVID, André Ventura ficou entalado e negou o conteúdo destes cartazes, explicando que afinal estes outdoors queriam dizer que ele não tinha preconceitos ideológicos contra a saúde privada. Mas o que é certo que foram gastos mais de 75 mil euros em outdoors (assumindo 50 outdoors a 1500€ cada) que afinal não queriam dizer o que diziam. 75 mil euros para um novo partido é uma imensidão de massa, sobretudo quando é para dizer o que não queriam dizer. Mas a profusão de sucessivos novos outdoors com variadíssimas outras mensagens foi uma constante do CHEGA durante 2019. Quanto gastou o CHEGA no total em outdoors em 2019? Certamente bem acima de 200 mil euros. De onde veio tanto dinheiro para um novo partido? Veio do contumaz César de Paço? Veio de milionários nacionais? Ou veio de fora de Le Pen ou de Putin através de algum esquema indireto?

É fundamental que as autoridades, em particular a judiciaria, investiguem a fundo as transferências escondidas do CHEGA de 2019. Em França não houve medo e já houve condenações no caso de financiamento ilegal da campanha de Sarkozy. Aqui queremos investigação e queremos ver resultados.

Desígnio Nacional: Casas de Banho e Fascismo

Qual o desígnio de um país com quase 900 anos de história, quais as grandes opções para entrarmos na modernidade? Agarrem-se bem. É acabar com casas de banho mistas nas escolas, casas de banho mistas essas que não existem. Depois de acabarmos com as casas de banho que não existem voltaremos ao fascismo. Como se sabe, o fascismo foi um sucesso em Portugal, em 74 eram mais de 20% de analfabetos, 2/3 dos portugueses nunca tinham entrado num hospital, tínhamos a taxa de mortalidade infantil mais alta da Europa, um atraso tecnológico e científico colossal e sobretudo uma fuga de população (era mais do que emigração) record na Europa dos anos 70.
Continuem a normalizá-los.

Reatores nucleares na zona do Tsunami

Reatores em operação são apenas os indicados a vermelho no oeste do Japão, na zona do tsunami de hoje:
– 2 em Oi;
– 3 em Takahama;
– 2 em Genkai.
Em Oi e Takahama os muros anti-tsunami foram aumentados de 5m para 8m depois do acidente de Fukushima. Genkai tem um desnível para o mar de 11m.

A energia nuclear é segura? (parte I)

Chernobyl são mais de 10 000 km2 contaminados durante centenas de anos, 100 mil pessoas evacuadas, custos para lá dos 250 mil milhões de dólares, um sarcófago temporário (50 anos) para proteger o reator danificado que custou 2 mil milhões de euros (pago pela UE).

Fukushima foram 155 mil evacuados (atualmente 37 mil com estatuto de refugiados), 600 km2 contaminados durante décadas, 1,2 milhões de toneladas de água contaminada que serão largadas durante décadas para o oceano e onde os custos atuais de limpeza já ultrapassam os 200 mil milhões de dólares (2/3 do orçamento português).

Acidentes como o de Three Mile Island (EUA, 1979) necessitaram 2 décadas e mais 1,2 mil milhões de dólares para encerrar em concreto o combustível do reator 2 (em instalação provisória no Idaho). O acidente de Kyshtym (URSS, 1957) resultou em 10 mil pessoas deslocadas, 200 milhões de rublos (de 1957) de prejuízos imediatos e 4 décadas de limpeza. O acidente de Windscale (RU, 1957) já custou mais de 2 mil milhões de libras e o processo de limpeza está longe de estar concluído.

Efeitos da radiação de acidentes nucleares na população

Depois do bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki foi criado o centro de investigação conjunto nipo-americano Radiation Effects Research Foundation (RERF) que estudou durante décadas os efeitos na saúde humana das populações irradiadas na sequência da explosão das 2 bombas nucleares. O RERF produziu um trabalho extenso e robusto sobre os efeitos da radiação na população. Outros desastres ajudaram a validar e consolidar os resultados do RERF: o acidente da explosão de Castle Bravo no Pacífico (população irradiada em ilhas a diferentes distâncias onde as doses foram bem medidas) e ensaios nucleares militares a cargo de Los Álamos (soldados a distâncias precisas e doses bem medidas). Uma das consequências destes trabalhos foi o tratado internacional de interdição de ensaios nucleares na atmosfera assinado em 1963. Os cálculos mostraram que a precipitação radioativa resultante destes ensaios produziriam cerca de 170 mil cancros mortais na população mundial durante um período de 50 anos.

Em 2005 foi organizado o Forum de Chernobyl [Read more…]

O Setor da Energia Nuclear está ligado à máquina

As três maiores empresas privadas do setor nuclear foram à falência: Westinghouse (EUA), Tepco (Japão) e Areva/EDF. No caso da EDF que acumula uma dívida de 65 mil milhões de euros (10 mil milhões só para a Areva) houve uma intervenção do estado francês para salvar o setor, transformando a Areva em Orano.

Desde o final dos anos 80, à medida que os custos iam subindo (e ainda íamos apenas nos custos de tratamento a curto prazo de resíduos e de encerramento de minas) que ficou claro para a indústria que a energia nuclear não seria rentável. Entre os anos 80 e 90, foi cancelada a construção de cerca de 200 centrais nucleares nos EUA. Nos EUA, as centrais são privadas. Atualmente, mais de metade das centrais americanas estão a perder dinheiro, multiplicando-se os pedidos de insolvência. O Japão tem uma fatura para pagar de Fukushima que já se situa acima dos 200 mil milhões de euros (~2 vezes o orçamento de Portugal). Cerca de 85% das centrais em operação existentes no mundo foram construídas até aos 90, o relançamento do nuclear é uma vacuidade. O preço médio da eletricidade de origem nuclear não tem parado de subir, sendo atualmente mais cara do que as restantes tecnologias.

Entre os 10 edifícios mais caros do mundo estão 6 centrais nucleares. A seguir à Grande Mesquita de Meca, a Central Nuclear de Hinkley Point no Reino Unido (uma EPR) é o segundo edifício mais caro do mundo e ainda não entrou em operação (2027?).

[Read more…]

RTP poderia melhor informar sobre riscos de Zaporijjia

Ontem, na rubrica “360”, a RTP 3  convidou o Prof. Pedro Sampaio Nunes (PSN) para comentar os potenciais riscos em caso de acidente em Zaporijjia. Os comentários deixam muito a desejar. Vejamos porquê:

1- Ao contrário do que foi dito por PSN, os riscos de acidente em Zaporijjia podem ser bem mais graves do que Fukushima e estão bem identificados, quantificados e publicados em revistas científicas da especialidade. Apesar de 5 reatores estarem parados e um no processo final de paragem, são as piscinas (não protegidas) onde está a arrefecer durante uma década o combustível usado nos reatores que constituem o maior perigo. Por exemplo, o trabalho científico da imagem abaixo mostra a extensão dos potenciais níveis de contaminação em caso de acidente em Zaporijjia tendo em conta a contribuição da fusão dos reatores (topo), de um incêndio na piscina de arrefecimento (meio) e reatores+piscina (baixo). Como se pode ver na imagem, o incêndio numa piscina de arrefecimento (que perde água ou é destruída) e libertação de uma nuvem de fumo contaminada com grandes concentrações de Cs137 é um cenário mais perigoso do que o cenário simples de fusão do reator e é dominante no caso de acontecer fusão de reator + incêndio numa piscina.

E o que é curioso é que em Fukushima esteve muito perto de acontecer uma catástrofe deste tipo [Read more…]

Declarações Grotescas

Pedro Soares acusou a direção do Bloco de ir à Ucrânia a convite de uma pessoa de “extrema-direita, com práticas neonazis”, numa delegação parlamentar que integrou representantes do PS, do PSD, do Bloco e da IL.
O massacre de Babi Yar foram cerca de 35 mil judeus assassinados a tiro durante uma semana. Em Babi Yar, o regime nazi teve o seu primeiro ensaio de grande envergadura de extermínio de judeus e de ciganos. Na gigantesca vala que foi escavada em Kiev, seres humanos de todas idades eram colocados em fila, recebiam uma salva de balas e eram de seguida cobertos de terra. Pouco depois chegava o grupo seguinte, que tinha ouvido perfeitamente o que se tinha passado anteriormente. Colocavam-se em fila, era disparada uma nova salva, eram cobertos de terra e assim sucessivamente. Durante uma semana a população das redondezas viveu ao ritmo das salvas e dos grupos de judeus que eram transportados até ao local.

[Read more…]

Os esquemas de contratações de Santana Lopes na Figueira da Foz

Denunciámos os esquemas de contratações através de avenças de Santana Lopes na Figueira a 4 de dezembro de 2022. Alguma imprensa local publicou o nosso comunicado, como a Figueira TV ou o Diário As Beiras, mas outros houve que pura e simplesmente nos ignoraram. Informalmente, foi-nos comunicado que os editores tinham receio de perder receitas da publicidade institucional da câmara ou de empresas que dela dependem. Também enviámos a denúncia para a Lusa. Na altura, nas redes sociais locais as reações foram mínimas, aqueles que nos atacam furiosamente por tudo e por nada quando criticamos o executivo, desta vez, estavam estranhamente calados, percebemos que houve ordens para não reagir. A estratégia era abafar o assunto. O que é certo é que o assunto esteve perto de ser abafado não fosse a nossa insistência na Assembleia Municipal.

 

O nosso comunicado de dezembro denunciava a distribuição de avenças a alguns dos seus apoiantes, amigos e companheiros de estrada, sem qualquer justificação plausível. Para a Câmara da Figueira vieram pessoas, de Lisboa a Montemor-o-Velho, que trabalharam anteriormente com Santana Lopes no partido Aliança e no PSD para realizar trabalho para o qual já existe pessoal especializado e com qualidade na própria câmara. Uma das avençadas, Ana Isabel Martins, veio assessorar a vereador da Ação Social, auferindo uma remuneração superior à da própria vereadora. [Read more…]

Geração de Mulheres Europeias Agressivas

Igor Korotchenko, jornalista do regime de Putin, transmite a mensagem do mestre contra essa nova “geração de mulheres europeias agressivas” que vieram “da cozinha” para a política. Segundo Korotchenko, essas mulheres que até lideram países como a Finlândia ou a Estónia, que lideram ministérios da defesa como na Alemanha, que defendem princípios socialistas ou ecologistas e que até protestaram contra as bases americanas na Europa, são agressivas e rudes contra o regime de Putin e provocadoras da “nova guerra”, obviamente…
Palavras deste calibre também poderiam ter sido proferidas por alguém da bancada do Chega, por um Pedro Frazão por exemplo. Mas não é preciso ir tão longe, no início desta guerra ouvimos excelentíssimos cavalheiros da área do PSD (e até do PS), como José Miguel Júdice, a prognosticar o fim desta Europa das ministras da defesa de saltos altos e de maquilhagem que, obviamente, não seriam capazes de fazer frente a Putin.

Este é um excelente exemplo para quem ainda não percebeu que as fronteiras desta guerra não são as fronteiras da Ucrânia, da NATO ou do Donbas, e que as verdadeiras fronteiras são absolutamente ideológicas, desenham-se entre quem está no campo de Putin, Trump, Orban, Ventura, Le Pen e Bolsonaro e entre quem defende o humanismo, a igualdade, o estado de direito, uma sociedade baseada no conhecimento ou a erradicação da pena de morte. Muito recentemente o cenário Trump-Putin-Le Pen não esteve assim tão longe do horizonte e ainda não está tão afastado quanto isso. Este cenário a acontecer no atual contexto, não tenham dúvidas, seria o fim da picada.

O Chega é o farol do ódio e do racismo nas redes sociais

Esta página CHEGA Portugal Força Nacional foi cancelada em 2021 pelo Facebook. Era uma página onde desabridamente se incitava quotidianamente ao ódio e à violência racial, à misoginia, à homofobia e onde, mais pontualmente, se incitava ao genocídio de minorias étnicas. Tenho as capturas de ecrã e divulgarei aqui progressivamente a identidade dos prevaricadores (o que está abaixo é apenas um amuse-bouche do ódio que esta página destilou). Esta página em particular era gerida por um perfil falso, Sophia Vilaverde, que se declarava como militante do Chega e que comunicava com os integrantes do grupo como se fossem todos apoiantes do Chega. A maior parte dos comentários da página indiciam uma utilização muito intensiva de botes, mas os comentários mais ofensivos e que violam a lei são proferidos por perfis bem reais. Há obviamente polícias e militares, mas não quero contribuir para estigmatizar estes grupos, porque o que constatei é transversal e estende-se a todo o tipo de pessoas. Se há alguma coisa que une toda esta violência é a simpatia pelo Chega e por André Ventura. Apesar desta página ter sido cancelada, o Chega continua a ter páginas informais como esta e que estão ativas (lá iremos).

Por isso, mais importante que julgar os 591 militares e polícias, seria bem mais relevante investigar toda esta rede de botes e de páginas informais que o Chega criou para espalhar ódio nas redes sociais, como foram financiadas, e levar o Chega à pedra. Temos uma constituição muito clara sobre o que é a dignidade humana, logo se há uma associação qualquer que não respeita a nossa lei fundamental, estamos perante uma associação que não está dentro da legalidade.

Investigar o Chega por ódio e racismo organizado nas redes sociais

Finalmente houve coragem para abordar esta torrente de ódio que inunda quilómetros e quilómetros de páginas das redes sociais, onde se ameaça e onde se incita ao ódio e à violência contra minorias étnicas, mulheres emancipadas, jovens e homossexuais. Os meus parabéns ao consórcio de jornalistas do Público, do Expresso e da SIC Notícias.

Neste caso são sobretudo grupos privados de facebook de polícias e de militares, mas se consultarmos páginas informais criadas pelo Chega o cenário é idêntico, mas desta feita as páginas são públicas, onde os mesmos polícias e militares se exprimem da mesma forma. Isto é inconstitucional, é crime e é punível por lei. A ligação destas páginas públicas ao Chega não é escondida, quase todas são animadas por militantes do partido e por grupos organizados dentro das concelhias. Agora não há como fugir, deverá ser investigada a fundo a responsabilidade dos militantes do Chega que gerem as ditas páginas. Bastam uns cliques e confirmamos o teor da reportagem feita pelo consórcio de jornalistas, encontramos com muita facilidade paraquedistas, comandos, ex-combatentes, militares de várias patentes, seguranças privados e funcionários públicos destilando um ódio incomensurável e ameaças várias contra mulheres, negros, ciganos, violando largamente a lei. A ex-ministra Van Dunem e a ex-deputada Joacine, que acumulam ódios vários, são os principais alvos desta horda, batem-se records de indecência. A Inspeção-Geral da Administração Interna já confirmou que vai atuar em relação aos casos dos polícias, mas isto não pode ficar por aqui. O Chega tem que ser investigado e levado à pedra, com todas as consequências que daí deverão advir. Clicar aqui para reportagem da SIC Notícias.

16 anos do assassinato de Politkovskaya e aniversário de Putin

Há 16 anos, no dia de aniversário de Vladimir Putin, Anna Politkovskaya era assassinada na escadaria do prédio onde vivia. A prenda de aniversário para Putin vinha da parte de Ramzan Kadyrov, na altura primeiro-ministro da Chechénia e hoje presidente desta república da Federação Russa. Kadirov, filho do grande mufti Akhmad Kadyrov, é um islamista, um delinquente como Putin, com um vasto passado de violência, assassinatos, tráficos lucrativos, etc. O acordo com Putin era simples. Kadirov fazia o que bem entendia na Chechénia, repressão, corrupção, tráfico, etc., mas tinha a obrigação de garantir o fim das pretensões separatistas. Putin, em troca, transferia fatias generosas do orçamento de estado para a Chechénia e para a conta de Kadirov. Anna Politkovskaya era uma voz inconveniente para este negócio, denunciou este acordo tácito entre os dois, bem como os esquemas criminosos em que estava envolvido Kadirov, denunciou ainda a repressão, a perseguição a homossexuais ou as restrições à liberdade das mulheres chechenas.

Mas o papel mais importante de Politkovskaya foi a denuncia bem documentada e detalhada da natureza do regime de Putin e em especial das forças armadas russas. O que o mundo tem estado a descobrir desde fevereiro já tinha sido escrito e documentado por Politkvskaya no início da década de 2000. Caracterizou a podridão instalada no regime de Putin ancorada numas forças armadas profundamente corruptas, onde a mentira é moeda corrente e a desumanidade tem como principais inimigas as associações de mães de soldados russos, as únicas que Putin não teve coragem de triturar até hoje. É graças a estas mães que Anna Politkovskaya tem acesso a processos judiciais contra variadas patentes das forças armadas, processos que raramente têm um desfecho. Esses preciosos textos plasmam uma hierarquia militar alienada da humanidade, violenta, acima da lei, onde o valor da vida dos soldados é praticamente zero e onde se mente, mente, mente, mente e mente sem freio. Descrevem-se com detalhe praxes militares de violência extrema, onde se morre, ou ainda a falta de material no campo de batalha da Chechénia, a falta de um teto ou de uma simples tenda para dormir, a falta de alimentos e de água, soldados que são obrigados a pilhar supermercados para ter o que comer. Estes textos ajudam a perceber bem a desorganização e o terceiro mundismo das forças armadas russas que constatamos nas reportagens que nos chegam da invasão da Ucrânia. O exército russo pouco evoluiu desde a II Guerra Mundial. Se na altura era compreensível que o sucesso das forças armadas da URSS dependesse muito da massa humana, ancorado em perdas de imensas vidas humanas, já no século XXI isso não é aceitável.

[Read more…]

Lisboetas para mim eram todos abatidos

Troquei intencionalmente a palavra “ciganos” por “lisboetas” de um comentário feito no mural de um português cigano a propósito de uma publicação sobre o Dia Nacional do Cigano. Apreciem a elegância do comentário: “Eu sou racista com ciganos e tenho orgulho em ser assim… Ciganos por mim eram todos abatidos”. Podem constatar no recorte abaixo, a conclusão da queixa que foi feita ao Ministério Público assinada pelo procurador-adjunto estagiário Pedro Sousa Ferreira.

Não perceber que isto diz respeito a toda a gente, aos ciganos, aos lisboetas, aos portuenses, aos deficientes, às mulheres, aos jovens, aos idosos, não perceber que isto é uma porta aberta para tornar a nossa sociedade mais desumana e mais carregada de ódio, pensar que isto diz apenas respeito aos ciganos é um erro colossal. Substituam a palavra ciganos pelo que quiserem e têm todas as formas de ódio possível da sociedade normalizadas pela mera “opinião”. E que tal “velhos por mim eram todos abatidos”? É uma mera opinião? O Ministério Público está atualmente a analisar a possibilidade de reabertura do processo para reanálise da decisão. Mas nós nestes espaços, no espaço público temos a responsabilidade de repudiar completamente estas agressões. Tal como foi conseguido no caso dos julgamentos abusivos de Neto de Moura sobre mulheres vítimas de maus tratos, temos que contribuir para afastar quem na justiça não cumpre os valores básicos da constituição portuguesa.

Já agora, em vez de andarmos a partilhar notícias engraçadinhas sobre a morte coelha do principal responsável pelo aumento de declarações de ódio no nosso espaço público deveríamos barrar as vias à normalização desse ódio.

A ocupação de Zaporijjia viola as Convenções de Genebra

Imagem AFP

 

A ocupação de Zaporijjia viola o artigo 56 das Convenções de Genebra, ou seja a letra da lei internacional que regula os conflitos armados.

Artigo 56.º – Protecção das obras e instalações contendo forças perigosas
1- As obras ou instalações contendo forças perigosas, tais como barragens, diques e centrais nucleares de produção de energia eléctrica, não serão objecto de ataques mesmo que constituam objectivos militares, se esses ataques puderem provocar a libertação dessas forças e, em consequência, causar severas perdas na população civil. 

(…)

4- É proibido fazer de qualquer obra, instalação ou objectivo militar mencionado no n.º 1 objecto de represálias.

(…)

6- Para facilitar a identificação dos bens protegidos pelo presente artigo, as Partes no conflito poderão marcá-los por meio de um sinal especial, consistindo num grupo de três círculos cor de laranja vivo dispostos sobre um mesmo eixo

A URSS ratificou a Convenção de Genebra e de seguida a Rússia manteve-se signatária destes acordos, entre os quais o artigo 56. Como é conhecido a 4 de março, após ter bombardeado a Central Nuclear de Zaporijjia onde um dos projéteis caiu apenas a 150 metros de um dos 6 reatores nucleares, os militares russos ocuparam a central ferindo dois empregados da segurança.

[Read more…]

Estado de operação de Zaporijjia

 

Dos 6 reatores que constituem a Central Nuclear de Zaporijjia apenas 1 está em funcionamento. Um dos sete pilares de segurança de uma central nuclear é a garantia de ter em permanência alimentação elétrica exterior para fazer funcionar a central. Desde sexta-feira, a central de Zaporijjia deixou de ser alimentada pelas 4 linhas de 750 kV da rede elétrica exterior. A linha de alimentação de emergência providenciada por uma central a carvão foi ontem cortada na sequência de um incêndio exterior. A central ainda pode assegurar o seu funcionamento através de geradores a gasóleo ou através de um processo de realimentação utilizando um dos reatores, mas esta é uma solução para pouco mais de uma semana. Neste momento o único reator em funcionamento está a fornecer energia para que todos os sistemas de segurança se mantenham operacionais, em particular as piscinas de arrefecimento onde é guardado o combustível usado (durante cerca de 8 anos).

Outros pilares da segurança estão a ser seriamente comprometidos, em particular as condições de trabalho dos engenheiros e técnicos da central que têm sido tratados de uma forma totalmente irresponsável pelas tropas russas, impondo ritmos e organização de trabalho desadequados às exigências de segurança. O erro humano está ao virar da esquina.

Num cenário de a central ficar sem energia elétrica, perdendo a capacidade de arrefecer o combustível usado, uma série de acidentes de diferentes escalas poderão acontecer que vão desde a fuga de água altamente radioativa das piscinas até a um cenário semelhante a Fukushima. Em caso de mais bombardeamentos da central, a tipologia de acidentes pode ser muito mais complexa e difícil de estimar a sua gravidade. Recordo que em Chernobyl estivemos muito perto de ter uma explosão colossal com capacidade de contaminação gravíssima à escala continental (toda a Europa) evitada in extremis por 3 técnicos que arriscaram a vida por todos nós.