Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain

Foi através das suas séries televisivas que conheci Anthony Bourdain. Uma personagem fascinante que nos levava a viajar pelo mundo através de experiências gastronómicas. Aliás, os diferentes episódios eram sobre tudo menos gastronomia. Ou melhor, a gastronomia era uma desculpa. Não tinha medo de exprimir a sua opinião. Fosse na Palestina, em Israel ou até em Lisboa. Nunca vou esquecer a sua visita ao Porto e a grata surpresa da sua ida à Areosa para experimentar as famosas Tripas à Moda do Porto do restaurante “Cozinha do Martinho“.

Ontem, finalmente, consegui ver o filme sobre a sua vida: “Roadrunner, A Film About Anthony Bourdain” (2021, CNN). Um murro no estômago como aquele de 8 de Junho de 2018 quando se soube da sua partida. Um filme como Anthony: inquieto, frontal e cru. A não perder.

 

Balada de Despedida do 5º Ano Jurídico 88/89 – Toada Coimbrã

Ah!, saudade. Até uma ou outra nota semitonada tem outro encanto.

Canção do Outono Japonês

Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins | Yasuo Kuwahara (1946-2003)

A horta do Garcia e o Garcia de Orta

ORTA
Si fazem, mas não em o mesmo dia, senão em outro dia despois, o qual banho he de preceito aos Bramenes e Baneanes, e a todo o Gentio, que nenhum dia comão sem lavar o corpo primeiro, e os Mouros lavamse, estando sãos, ao menos cada três dias.
Garcia de Orta, Colóquios dos simples e drogas da Índia. Ed. dirigida e anotada pelo Conde de Ficalho. – Lisboa : Impr. Nacional, 1891-1892.

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Ontem, foi divulgado o traçado do Metrobus, “a nova mobilidade urbana verde” do Porto. Pelos vistos, começam hoje as obras na Linha Boavista – Império, etc., etc. Podeis ler tudo quer na página dedicada ao assunto, quer, mais concretamente, neste documento em pdf, onde se encontra um mapa com umas cores parecidas com as do Diário da República, quando passa pelas minhas mãos.

Por seu turno, Garcia de Orta, além de ser o nome de uma escola secundária do Porto e de um hospital em Almada e de aparecer aqui na moeda de 200 escudos,

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Agregar para reinar – o caso de Eddie Redmayne

Na imagem, Eddie Redmayne como Lili Elbe em “A Rapariga Dinamarquesa”, filme de 2015.

Em 2015, Eddie Redmayne interpretou Lili Elbe em “A Rapariga Dinamarquesa”.

Conhecido pelos seus papéis em “Os Miseráveis”, “A Teoria de Tudo”, “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” ou “Os 7 de Chicago”, em “A Rapariga Dinamarquesa” interpreta uma mulher trans, uma das primeiras a submeter-se a uma cirurgia de redefinição de género.

Pelo papel, Eddie Redmayne foi nomeado para o prémio de melhor actor pela Academy Awards, nomeado para o prémio de melhor actor pela British Academy Film Awards, nomeado para melhor actor nos Golden Globes.

A sua participação enquanto Lili Elbe mereceu, da parte da comunidade LGBTQI+, as mesmas críticas que agora recebeu André Patrício por interpretar uma personagem de uma mulher trans na peça de Pedro Almodóvar “Tudo Sobre a Minha Mãe”. Apesar do excelente desempenho enquanto mulher trans, o actor sofreu duras críticas e veio a público pedir desculpa por ter aceitado o papel, afirmando que se fosse hoje, talvez não tivesse aceitado interpretar Lili Elbe, uma mulher trans, sendo o actor inglês um homem cis.

Continuo a discordar desta ideia de que só actores e actrizes trans possam desempenhar papéis que personifiquem pessoas trans. No entanto, Eddie e algumas activistas trans, mostraram que se pode ter outra abordagem sobre o assunto, já de cabeça fria, e que ajude (nos ajude, enquanto sociedade) a entender os vários ângulos desta problemática. E como?

Eddie Redmayne decidiu ir fazer um workshop com actrizes trans e entender melhor os seus argumentos. Percebeu o que já sabia: as pessoas da comunidade LGBTQI+, sobretudo as pessoas trans, não têm as mesmas oportunidades no acesso e são muitas vezes excluídas em detrimento de actores e actrizes cis que vêem interpretar essas personagens. O actor inglês afirmou, desta forma, que enquanto não houver igualdade no acesso e no número de oportunidades, não voltará a interpretar uma personagem trans.

A discussão deve fazer-se nestes termos. Em “A Rapariga Dinamarquesa”, ninguém invadiu os locais de gravação, ninguém tentou ostracizar directamente o próprio Eddie, mas as críticas foram reais e a negrito, pelo que o actor decidiu voltar à escola.

Reflectir. Progredir. Não excluir. Ouvir. Falar. Aprender.

E por falar em palcos

católicos em Lisboa

A representação e a representatividade

Keyla Brasil, artista trans, invadiu o palco de uma peça no Teatro S. Luiz, protestando contra aquilo que denomina de ”transfake” (uma expressão, julgo, importada dos Estados Unidos da América), por um actor, que se identifica com o género masculino, estar a interpretar, na peça, o papel de uma mulher trans.

O argumento das activistas centra-se na questão da representatividade e do “lugar de fala”, exigindo, e bem, que mais artistas trans sejam contratadas para o teatro, artes performativas e para outros trabalhos onde, sabemos, há ainda discriminação e desigualdade no acesso; argumentam, também, e é aqui que a minha discórdia se apresenta, que só actores ou actrizes trans possam representar os papéis ficcionais de personagens trans. Nada mais errado, a meu ver, pois a representação não é um sinónimo de representatividade. Vejamos as definições dos dois conceitos, aplicados à questão em discussão:

1 – Representação: (teatro) “exibição em cena”, “espectáculo teatral”, (cinema, teatro, televisão) “desempenho de actores; interpretação; actuação”;
2 – Representatividade: “qualidade do que é representativo”; Representativo: “que representa”; “que envolve representação”; “constituído por representantes”.

Analisando as duas expressões, podemos concluir que as mesmas se inter-ligam. A representação pode ser representativa de alguma realidade, pode é ser, apenas, representação e, como tal, o teatro reveste-se apenas da premissa da interpretação de textos e personagens, não sendo raras as vezes que uma estória, sendo ficcional, retrata partes da realidade em que nos inserimos. A falta de representatividade no que à presença de pessoas trans na vida social e no mundo laboral, as suas dificuldades no acesso a direitos que são comuns, ou deviam ser, a todos os Seres Humanos, é real e não a podemos escamotear. [Read more…]

Ah grande PSD! Ides longe, ides!

Sabem quem é, no tal Conselho Estratégico Nacional do PSD (uma invenção do Rui Rio e que o Montenegro foi atrás) o responsável pela área da Cultura ? Por aqui vi tudo. Além do CV que está aqui, é comentador de bola num programa da CMTV.

Há um provérbio turco que reza assim  “Se meteres um palhaço num palácio ele não se transforma num príncipe, mas o palácio transforma-se num circo”.

Parabéns Dr. Luís Montenegro!

A culpa é do Passos!

 

 

O que se pergunta é o seguinte: a Sra. ex-Secretária de Estado da Agricultura regressa ao cargo (equiparado a Director-Geral) de Directora Regional de Agricultura e Pescas do Norte?

É que nem devia ter estado nesse cargo antes de ir para o governo.

E agora deve ser afastada. O que diz a Sra. Ministra? Quem a nomeou para Directora Regional?

Já se percebeu também que a CRESAP não serve para nada.

Estão em causa todas as escolhas (dessa CRESAP e dos membros do governo) para os cargos de Alta Direcção da Administração Pública.

 

 

 

 

 

 

 

Surrender – O striptease de Bono

Não, não vos vou falar sobre o Galamba ser ministro. Seria falar sobre um Portugal que jaz morto e arrefece e eu já não dou para esse peditório. Hoje vou escrever sobre um livro que me agarrou nos últimos dias de 2022 e no primeiro dia do novo ano. Literalmente.

Um livro que diz mais a quem foi adolescente nos anos oitenta e até noventa do século passado do que aos mais jovens leitores (e autores) do Aventar. Um livro que nos conta a vida e a obra de um irlandês adolescente em 1978 até aos dias de hoje. Eu não sou gajo de ter saudades do passado. Nisso sou como o outro, tenho saudades é do futuro. Mas não esqueço, pelo menos tento, não esquecer o passado e a verdade é que nos anos oitenta a personagem deste livro e os seus amigos mais chegados foram personagens na vida de muitos de nós. Na minha foram. [Read more…]

Avatares de arte

Entre as várias conotações de avatar, uma deles aplica-se na perfeição à música, literatura e cinema que se tem produzido nos últimos anos.

Tal como no significado informático, onde o avatar representa alguém num contexto diferente, como um jogo ou um ambiente virtual, sem no entanto ser essa pessoa, também nos avatares da arte, a actual produção artística representa a arte, sem no entanto a ser – falta-lhe a arte.

Vem isto a propósito do filme “Avatar, o caminho da água”.

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That’s life, pois, é a vida!

The training task is identical to the original studies and is a 2AFC identification task. In each trial, participants heard a word that is part of a minimal pair that contrasts /r/ and /l/.
— Brekelmans et al. (2022)

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Foto: Lusa/José Sena https://bit.ly/3PijG0b

O “é a vida!” pertence a António Guterres, actual SG da ONU. E o “fujamos!” pertence originalmente ao Ega, mas aplica-se perfeitamente a Faro Ramos, o diplomata que fugiu para o Brasil, sem a pompa de D. João VI. A língua portuguesa, essa, continua a servir de pretexto para discursos de circunstância, sempre que há chouriços para encher. Assim, efectivamente, não chegamos às meias-finais do Mundial. Parabéns a Marrocos, França, Croácia e Argentina. O meu favorito? A sério? O árbitro.

O “that’s life”, por seu turno, pertence a Kay & Gordon, sendo mundialmente conhecido pelas maravilhosas versões do magnífico Sinatra. No entanto, só lá cheguei (sou novo) pouco depois do 1-3 do México 86 (visto ainda na casa da Rua de Santa Catarina), pela versão do fresquíssimo Eat’em And Smile (com o Steve Vai!!!) do extraordinário Lee Roth. Que mundo fabuloso.

De facto, that’s life.

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Impromptu (sem itálico, porque é mesmo um impromptu), devido a Bessa-Luís e Lourenço, mas a culpa é de Saramago

Porque hoje é sábado, estava a dar uma última vista de olhos ao texto da conferência de amanhã, domingo, sobre o gigante Saramago, e a recordar Eduardo Lourenço e Agustina (*Agostina, na RTP, como podeis ver na imagem que vos apresento, e sem o – entre o Bessa e o Luís, cortesia da RTP).

Lourenço e Bessa-Luís estavam constantemente a perguntar, durante as respostas, “não é?”. E em cada frase (ou oração): “não é?”. Mais uma frase, e tal, “não é?”. É um problema português, mas dos antigos. Tão antigo como Bessa-Luís, Lourenço e as minhas avós. Problema que teria sido resolvido com jornalistas sofisticados. À pergunta “não é?”, a reacção “não, não é” ter-nos ia poupado imensas horas de indefinição e angústia. Perante o olhar de espanto dos interlocutores, a repetição: “não, não é” teria resolvido o assunto. Assunto, graças aos deuses, resolvido, teríamos menos um pseudodilema linguístico a ocupar o nosso labor. Mas ainda não chegámos lá. Nem sei se lá chegaremos. A ver vamos. Veremos.

Fonte da foto: https://www.youtube.com/watch?v=X15Eia63Qpc&t=414s

Por este rio acima: 40 anos

“Por este rio acima”, sexto álbum de Fausto, comemora 40 anos de existência.

Editado a 19 de Novembro de 1982, é o sexto álbum de Fausto, sendo o primeiro álbum de uma trilogia chamada “Lusitana Diáspora”, que inclui ainda “Crónicas da Terra Ardente” (1994) e “Em Busca das Montanhas Azuis” (2011).

Inspirado nas viagens de Fernão Mendes Pinto relatadas em “Peregrinação” (1614), contraria a obra no sentido em que Fausto nunca saiu de Lisboa para compor o disco e sendo a viagem do cantautor uma viagem interior, em que o seu “eu” desflora o país que o rodeia e as tormentas do seu povo.

Editado pela Triângulo da Sassetti, produzido por Eduardo Paes Mamede, escrito, composto e interpretado por Fausto, com a companhia de Júlio Pereira, Pedro Caldeira Cabral e Rui Júnior, o disco “Por este rio acima” será, para sempre, um marco na cultura popular portuguesa.

Fausto Bordalo Dias nasceu em 1948 no interior do navio “Pátria”, algures entre Angola e Portugal.
Fotografia: Manuel Castro

Pequeno apontamento para aulas de literatura contemporânea em língua portuguesa

Cada um dos rios que lhe corriam nas veias trazia seus encantos e lamentos de outras terras, outras gentes e povos. Por isso ele se possuía de tudo e reflectia o modo de ser e de estar de todas aquelas gentes com seus sonhos e poesias em tons de lira.
Boaventura Cardoso

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O escritor angolano Boaventura Cardoso recebeu o Prémio de Literatura dstangola/Camões, promovido pelo dstgroup, em parceria com o Instituto Camões, pela obra “Margens e Travessias”, de 2021.

 

Todavia, segundo o Correio da Manhã de ontem, Boaventura de Sousa Santos terá recebido exactamente o mesmo prémio.

Esperemos que o assunto se resolva pacificamente.

Nótula: A pareceria não é a actriz principal desta indicação, mas fica o registo, para arquivo.

Agradecimento: A Jorge Nuno Silva.

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Decadência

Ao ter conhecimento do “apego a um qualquer animal de estimação, típico das sociedades decadentes“, do bispo Linda, lembrei-me disto, lido há cerca de 33 anos:

— Não posso dispensar-me aqui duma psicologia da «fé» e dos «crentes» em benefício dos próprios «crentes».  Se, ainda hoje, alguns deles (crentes) ignoram até que ponto é indecente ser «crente»—ou então quanto isso é sinónimo de decadência, de vontade de vida quebrada—, já amanhã o saberão.
—Nietzsche

No original, lido cerca de treze anos depois:

— Ich erlasse mir an dieser Stelle eine Psychologie des „Glaubens“, der „Gläubigen“ nicht, zum Nutzen, wie billig, gerade der „Gläubigen“. Wenn es heute noch an solchen nicht fehlt, die es nicht wissen, inwiefern es unanständig ist, „gläubig“ zu sein — oder ein Abzeichen von décadence, von gebrochnem Willen zum Leben —, morgen schon werden sie es wissen.
—Nietzsche

Nótula: Felizmente, estou durante uns dias na casa da aldeia, onde guardo estas preciosidades (a segunda edição, de 1988). Já agora, o amigo que me apresentou ao Frederico Guilherme e o próprio Frederico Guilherme fazem anos amanhã, 15 de Outubro. Ainda bem que há coincidências.

Tanto lês, que treslês.*

 

 

O actual Sr. Presidente da República de Portugal, Sr. Professor Doutor Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa (sim, o respeitinho é muito bonito, e eu não quero ser sujeito a qualquer processo……), estava no Brasil quando foi anunciada a morte da Rainha de Inglaterra. Pergunta-se se foi à nossa Embaixada fazer a comunicação oficial do Estado Português sobre a morte da Chefe de Estado Isabel II, ou se a fez na rua.

E é isto. 

*Ditado popular português

Desapareceu uma biblioteca.

 

 

 

“É sempre possível fazer melhor. Mas já sentirei que a minha missão foi cumprida que se aqueles que lerem este livro – e sobretudo aqueles que me confiaram as receitas e os segredos da cozinha tradicional portuguesa -reconhecerem nele a imagem gastronómica da velha Nação que somos. Foi esse o meu objectivo. Oxalá, no final, todos sintam que esta é a verdadeira cozinha portuguesa.”

Maria de Lourdes Modesto, in Cozinha Tradicional Portuguesa, Editorial Verbo, Lisboa/S. Paulo , 1982

 

Missão mais que cumprida.

Parasitas

Calotes novos.

 

Don’t judge this book by its cover

Fonte da imagem: Anna M. Klobucka.

Jéssica morreu e os abutres atacaram

O triste espectáculo com que as televisões nos brindaram durante a última semana acerca da morte da menina Jéssica, é sintomático do estado a que chegou a comunicação social em Portugal.

Com excepção da RTP, o canal público, todas as estações de televisão de cariz informativo tornaram a morte trágica de uma criança num espectáculo de circo que faria corar Victor Hugo Cardinali. O jornalismo caminha a passos largos para a degradação da informação, fabricando factos e aproveitando todo e qualquer fait-divers para lucrar com audiências. Foi assim, também, durante a última semana. O jornalismo tem o dever de informar e relatar os factos com o maior distanciamento possível e não, como parece ser o caso, de ir atrás de evidências de papelão, onde o que interessa fica sempre para trás: o respeito à memória de uma criança assassinada brutalmente.

Os directos que CMTV, SIC ou TVI/CNN Portugal fizeram à porta do velório da menina Jéssica devem envergonhar todos os portugueses. Os códigos deontológicos têm de valer para alguma coisa; e a lei também. Não pode valer tudo, no jornalismo como na vida, para que se tente chegar ao topo de qualquer maneira, pisando quem não tem capacidade de se defender – e, nestes casos, são sempre os mais pobres aqueles que estão em situação débil e sem capacidade de se poderem proteger.

É sabido que nada vai mudar na comunicação social. Vivemos, hoje, na época do mediatismo sem filtro, da azáfama da rede social, da ganância do lucro a qualquer preço. E, com estes pressupostos, não há espaço para se fazer jornalismo.

Jéssica morreu, já nada a traz de volta. Mas os abutres logo cobiçaram o seu corpo. Vivemos as trevas.

E assim vamos!

 

 

 

Aeroporto Francisco Sá Carneiro, 27 de Junho, 18.00h (que raio de ideia baptizar um aeroporto com o nome de um 1º. Ministro que morreu na sequência de um voo!)  Estou a aguardar um voo para Faro. Como tenho tempo, vou circular, e entre lojas de bebidas, de perfumes, de roupa, de calçado e de comes e bebes, entro numa que tem revistas, jornais, livros, brindes, e coisas afins. Depois de ver as capas dos jornais vou dar uma pestanada aos livros. Reparo em dois, um ao lado do outro. Nada contra vender livros, e onde queiram e os aceitem. Tiro a foto que acompanha este post, e pergunto-me se estes livros são a imagem do país que somos. Se calhar são. Se se anda a promover o nosso sol e as nossas praias (do melhor que há) a nossa comida (nem tenho palavras), e o nosso vinho (excelente, quer o dito Vinho do Porto, baptizado em Gaia, quer os tintos do Douro, etc), onde fica a nossa literatura ? (Eça, Pessoa, Camões, Camilo, Gil Vicente, Saramago, Lobo Antunes, Torga, Aquilino, e tantos outros). Deve ser mesmo muito fraca e envergonha-nos, portanto não pode estar nas portas de entrada e de saída do nosso País.

 

O Futebol Clube do Porto teve negativa?

Instado a comentar a época futebolística, Fábio Cardoso, jogador do Futebol Clube do Porto, declarou: “Dou nota oito à época, queríamos mais…”

Tendo em conta que o FCP foi campeão nacional e que ganhou a Taça de Portugal e sabendo que no sistema escolar português só existem duas escalas (1 a 5, para o Ensino Básico, e 0 a 20, no Secundário), poderíamos estar diante de uma avaliação negativa de um jogador tão exigente que o facto de o seu clube não ter ganho a Taça da Liga e a Liga dos Campeões é suficiente para que nem suficiente atribua ao seu clube. [Read more…]

The Mystery of Marilyn Monroe – Netflix

A Netflix acaba de lançar mais um documentário, agora sobre a morte de Marilyn Monroe e as suas ligações com a familia Kennedy. Não é “a última bolacha do pacote” mas está bem feito. Muito graças ao material de arquivo que mostra (algum dele inédito). É a América no seu melhor e no seu pior.

A Arma Secreta Para Ser Escritor

Estamos habituados, ultimamente, a procurar métodos e hacks que nos permitam fazer o que pretendemos, de uma forma mais inteligente, mais produtiva ou, no limite, mais engraçada. Que dê mais gozo.

No entanto, quando o assunto é o ofício da escrita, tenho “más” notícias. A arma secreta para sermos escritores e, sobretudo, para nos tornarmos melhores escritores, é mesmo… escrever. Escrever.

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Treinar o músculo da escrita

Foto: Thought Catalog @ Unsplash

 

Quando procuramos conselhos de outros escritores, ideias que partilhem para que possamos aplicar no nosso próprio processo, é raro algum deles sugerir algo tão estrondosamente novo que nos deixe embasbacados. De facto, a maioria dos conselhos versa sobre as mesmas coisas. Uma variação aqui, uma opinião ali, mas os conselhos de quem viveu para a escrita são muito semelhantes.

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Eunice e a eternidade

Ninguem é eterno, mas existem aqueles que conquistam a eternidade depois da morte. Eunice Munoz, uma mulher extraordinária, conquistou-a em vida. E não foi o seu maior feito. Que descanse em paz.

Abaixo o mistério da poesia

Abaixo o mistério da poesia

Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
Para ver quem é,
Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas
Despertas;
Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
Órfãos de pais e mães,
Andarem acossados pelas ruas
Como matilhas de cães;
Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
Num silêncio de espanto
Rasgado pelo grito da sereia estridente;
Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
Amassando na mesma lama de extermínio
Os ossos dos homens e as traves das suas casas;
Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
Enquanto for precido lutar até ao desespero da agonia,
O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA.

António Gedeão

Dia Mundial da Poesia – Defeat de Michael Prochaska

Refugiados da 1ª Grande Guerra


Defeat

Blood starts drippin’ from the soldier’s wound
Seeps like sewage ‘neath the politician’s room

Deep in the house, white fades to red
And the freedom we’re fighting for seems to be dead
‘Cause we can’t win like he once said
No we can’t triumph over the hate in our enemy’s head
But we’re deep in mud over the bullshit we’ve been fed
While more and more soldiers awake in Heaven’s bed

The wind is blowing like a hurricane
In the frightening desolated lands
Where the wolves are insane
And hawks feast on bloody hands

Bullets flying, children dying, mothers crying
While the beasts are lying and hiding
Behind black curtains that no one’s finding
But God knows the truth, and He’s forevermore sighing

Too many hands washed in widows’ tears
Too many echoed gun shots ringing in ears
Too many hearts frozen numb from fears
Of hope too distant, like skylight chandeliers

Wounded souls soaked in blotched black fate
Disillusioned by dark demons’ fate

Persistent nightmares of woebegone escape:
Screeching fervently under Liberty’s Gate
I grasp the rope fabric with delicate care,
Neck tickling from its bristly hair
My chapped, dry lips whisper a final prayer
Before a tightening ravish pain permeates the air

A bright radiant flash scorches the cloudless horizon
And ashes drift upward, caressing my bare, dangling feet
Bleak, barren, biting malice below seems blazon
But the dead know not the sentiment of defeat.

Michael Prochaska, 2007

“Andamos a Leste”, uma crónica de Madalena Sá Fernandes

Partilho aqui um excerto de uma crónica que li hoje no Público. De Madalena Sá Fernandes.

Manifestações. Uma mensagem no WhatsApp. Um míssil. Miss you! Bombardearam um lar. Também eu, temos de combinar. Vem aí a terceira guerra mundial. Que tal hoje à tarde? Vídeos de pais a despedirem-se dos filhos. Trânsito na Segunda Circular. Os ucranianos. Vou tentar pensar noutra coisa. A Rússia invadiu a Ucrânia. Não te esqueças de comprar leite. Bombardearam uma escola. Vou pôr gasolina. Tomaram Chernobyl. Onde é que eu pus os óculos? Putin ameaça quem intervier. São 20€ de gasolina. Rússia lança ataques aéreos. Qual é a bomba? Pessoas em pânico fogem da Ucrânia. É a bomba 3. A culpa é do Putin. Desculpe, esse carrinho é meu. A culpa é dos EUA. Já não tem alho francês? A culpa é da NATO. No corredor 6 ao lado dos frescos. A culpa é do PCP. Ah, também preciso de champô. A culpa é da China. Patrícia chamada à caixa central. Como é que foi o teu dia? Pela paz. Parece que não estou aqui. Fim da guerra. Também eu, não consigo pensar noutra coisa. Onde é que pus os óculos? Andamos a Leste.