Poema em Linha Recurva

só crashNunca conheci, na imprensa,  nas rádios, nas TV,
quem tivesse ousado declarar merdífero e impróprio
para consumo-comentário o comentador Sócrates.
Todos os meus co-bloggers têm sido esquecediços de tudo quanto lhe respeita.
E eu, tantas vezes obcecado por ele,
tão lindo a dizer coisas com embrulho mariquesco-gay na RTP,
eu, tantas vezes insistente em que ele cheira mal e não tem vergonha nem se enxerga,
a não ser o penteado artificialmente grisalho ao espelho, lindo,
eu, tantas vezes fetichista com ele nu-nádegas por seviciar com ramos de rosas rubras,
eu tantas vezes tresandescamente repetitivo contra ele,
indesculpavelmente o mesmo acerca dele,
eu, que tantas vezes não tenho tido paciência
para escrever sobre outra merda qualquer senão sobre ele,
eu, que tantas vezes tenho sido obtuso, direitolas, elitista, nortista,
que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das sinceridades orgânicas e viscerais,
que tenho sido prolixo, exaustivo, monótono e pesporrente,
que por isso mesmo tenho sofrido enxovalhos, escarros, mil dislikes e engolido,
que quando não tenho engolido, tenho sido mais ridículo ainda com palavrões e palavronas;
eu, que tenho sido cómico às turistas de hostel e às melgas iliteratas,
eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos colegas de ócio e vítimas da dívida,
eu, que tenho feito vergonhas vocabulares sem me arrepender,
poupado dinheiro como um salazarento sem me indulgenciar sequer com uma cerveja,
eu, que, quando a hora dos socos surgiu, me tenho inchado de peito
para dentro da possibilidade de calçar socos e abandonar sandálias;
eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
dos grandes desprezos e grandes condescendências cínicas e invejosas,
eu verifico que não tenho par nisto tudo neste merdi-mundo da bloga.

Toda a gente que eu penso que conheço e que posta como eu
nunca teve uma sanha ridícula anti-Sócrates, nunca postou enxovalhos a Sócrates,
nunca lhe radiografou o recurvo carácter
nem o imaginou paliativamente num cárcere húmido, com cheiro a mijo,
nunca foi senão rei – todos eles reis – na grande bloga abstinente
e incapaz de hostilizar o Poli-Indecente Político por antonomásia
e por execrável excelência…

Quem me dera ouvir de alguém blogger a voz humana no youtube
que confessasse não uma tendência anti-Sócrates,
mas uma equidistância anti-Sócrates e semi-pró-Passos;
que emitisse, não um post arrasador sobre um Crato,
mas um post atoleimado e sanguinolento anti-Sócrates!
Não, são todos a Suprema Condescendência e o Absoluto Olvido,
se os leio e postam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi teimoso
militante anti-maçónicos,
anti-jacobinos, anti-ateus, anti-mafiosos socialistas no grande antro do Rato?
Ó reis, meus irmãos, arre, estou farto de puritanos e beatos laicos!
Onde é que há gente na bloga? Então sou só eu que é obcecado e insistente
vigiando um caramelo que abraçou Portugal com as pernas
e ainda aspira a repetir a inglória proeza
constringindo-o-serpente como Presidente da República?

Poderão os leitores não os terem lido,
podem ter sido encornados pela sintaxe – mas bloggers anti-Sócrates nunca!

E eu, que tenho sido obcecado pela matéria socratesiana sem ter sido distraído,
como posso eu postar como os meus iguais sem recalcitrar nesta relíquia culposa
que ousa comentar lá, onde é imperdoavelmente culpado?
Eu, que tenho sido anti-Sócrates, literalmente anti-Sócrates,
anti-Sócrates no sentido milimétrico e atrevido da anti-socratice.

A abertura do ano lectivo correu bem

Na RTP, claro. A abertura do ano lectivo, no Telejornal de hoje. Exactamente: do ano lectivo.

RTP ano lectivo 1692013

As Grandes Virgens

Tirando Amorim, as demais virgens autárquicas, Grandes Virgens!, a Virgem Vítor Rodrigues e a Virgem Guilherme Aguiar, não vão a Fátima para encontros “casuais” com peregrinos eleitores, não dão electrodomésticos ou esferográficas nem se prestam às imposturices da praxe para apanhar o voto.  Tau-tau? Só há tau-tau para o Amorim. Até o Guilherme Aguiar virginaliza pureza, beijos e abraços a bebés, crianças, mulheres e velhinhas, e não se contamina. Tudo bate, senhores, no Amorim. Bata você também.

Acordo Ortográfico de 1990: “implementação caótica e arbitrária”

O PEN Internacional está, novamente, de parabéns:

O PEN Internacional apela assim às autoridades portuguesas no sentido de:
– Tomarem medidas imediatas para permitir a reposição do Português Europeu nos documentos e trâmites oficiais e nas escolas. Esta herança cultural comum deveria ser respeitada de acordo com a Constituição Portuguesa, com inteira liberdade face a qualquer interferência política;
– Terem em conta, ao longo deste processo, as opiniões de especialistas da língua, bem como as opções de escrita de escritores e tradutores portugueses, e garantirem que os editores renunciam a impor condições que são abusivas e restritivas face à criação literária.
[A Resolução foi aprovada por unanimidade na Assembleia de Delegados, em 12.9.2013]

Não se conseguem umas senhas de almoço

ao senhor Candidato? Com o apoio da Igreja, por exemplo. E descontos para passageiro frequente na A1, entre o Porto e Fátima.

Paulo Baldaia

Passa o cheque, que eu ensino.

Clónicas do Clato (3)

nuno crato
“Calo camalada Mao: dilijo-me à sua estimada e venelada memólia pala lhe galantil que, se falhámos a glandiosa Levolução Cultulal, eu, Nuno Clato, vingalei essa aflonta fazendo a Levolução Escolal em Poltugal. Pala já, polei os nossos alunos a falal tão bem inglês como o nosso plimeilo ministlo, poltuguês tão bem como o camalada Miguel Lelvas ou o Albelto João Jaldim e chinês tão bem como eu. Que viva a minha levolução. Que viva o Glande Salto em Flente.”

Falar claro

as_maos_alemanha_campanha_2013

Os moralistas não gostaram do dedo de Peer Steinbrück, apanhado em falso para uma sessão fotográfica do Süddeutsche Zeitung (SZ), enquanto respondia a uma pergunta estúpida e sem relevância política alguma. A gaffe pode custar-lhe a vitória nas eleições alemãs do próximo fim-de-semana, mesmo se, e segundo as sondagens (esse remédio santo do marketing cujas antevisões costumam fazer subir a abstenção), ganhá-las esteja longe de ser uma possibilidade. A rubrica do SZ chama-se qualquer coisa como “Não digas nada agora”, e consiste em pôr uma celebridade do momento a responder gestualmente a perguntas provocadoras. [Read more…]

Major injustiçado

Os Presidentes dinossauros podem passar de Gaia para o Porto, levando o Porco e o Quim Barreiros atrás. Os das Juntas até podem continuar, desde que o território e tal… Só o senhor Major! Que injustiça! Nem com um notita na feira?

Acabem com eles!

“Os cortes nas pensões não vão ficar pelos 10%, aprovados na última semana pelo governo.”

Vá lá, deixem-se de coisas…

Está visto que cortar aos poucos não chega: uma contribuição aqui, uns 10% acolá… Não resulta!

Epá, não resulta! Esqueçam!

Toca a arregaçar as mangas e cortem de vez e no que é essencial: nos pensionistas.

Acabem com esses sorvedouros de dinheiro, que não trabalham e só reclamam.

Acabem com os pensionistas!

Estão avisados

Os governantes portugueses e seus bobones: os estivadores europeus vão contra-atacar.

Crónicas do Crato (2)

nuno carto 2
Interpelado sobre o desemprego de professores e outros problemas ligados à sua (não) colocação e convidado a explicar a relação desta situação com a existência de numerosas turmas com 30 ou mais alunos, Nuno Crato, na sua canhestra retórica (pensei no facto de os meus amigos matemáticos terem, geralmente, um discurso fluente e articulado mas, depois, lembrei-me de que Nuno Crato é, de formação de base, economista…) explicou: era tudo por causa da queda demográfica, que fazia rarear os jovens em idade escolar. Tudo. Implicitamente, parecia que o confuso discurso do ministro veiculava a bíblica exortação “crescei e multiplicai-vos”. Cuidado, porém, meus amigos ainda férteis! Antes de vos atirardes às exaltantes actividades conducentes à reprodução da espécie, derrubai este governo e vacinai o povo contra o regresso desta peste. Senão, quando os pimpolhos resultantes do vosso patriótico entusiasmo chegarem à idade escolar, não haverá mais professores. Haverá turmas de 50 ou mais alunos.

Merkel e o Drone

Um Drone Sexual.

Crónicas do Crato (1)

nuno crato 1
Nuno Crato inaugurou um centro escolar. Recebido pelas “forças vivas da terra” (a grosseira incultura da maioria dos nossos tele-jornalistas não lhes permite conhecer a triste história de expressões como esta), o ministro foi imediatamente atacado pelas notas da banda presente que interpretava nada menos que a “Maria da Fonte”. Não resisti a lembrar e cantar mentalmente os versos da marcha:”Olha a Maria da Fonte/ Com as pistolas na mão/ Para matar os Cabrais/ Que são falsos à nação!”. Assim seja.

Na Ponta de um Corno

CR7 de dedo

Os portugueses têm em Ronaldo um modelo de profissionalismo,
excelência e resistência. Sigam-no!

Até há poucos dias, Portugal parecia recuperar da valente sova macroeconómica que os últimos dois anos comportaram. Pendurados na ponta de um corno, índices como o desemprego sorriam sem parecer martelados ou sazonais. Agosto destruiu essa ilusão. Se há passos, são ténues, mínimos, embora em frente. A surpresa foi geral, mormente para aquelas franjas extremadas que fazem do derrotismo e do mal-fodidismo traves-mestras do combate político e da simplista dicotomia Esquerda-Direita a teoria automática com que se explica o desconcerto do Mundo: para esses, nunca nada está bem e por isso todas as boas notícias têm atenuantes que as transformam em más na mesma. Há eleições? Logo, os números estão a ser maquilhados. Concedo a maré de mensagens positivas como espuma de conveniência para os partidos do Poder. Mas nada de dogmas. [Read more…]

Seguidismo e mau trabalho

O Expresso, como bem sabemos, decidiu seguir o caminho AO90. Quer dizer, nem por isso. Já sabemos que o Expresso, de facto, não adopta o AO90. Adiante.

Rui Miguel Duarte leu aquilo que o Expresso nos trouxe acerca de recentes declarações de Francisco Seixas da Costa e, entre várias considerações, expôs mais uma amostra do caos ortográfico que por ali reina há três anos, dois meses e vinte e dois dias.

Não sei se um texto em que perspectivas, actual director convivem, por exemplo, com *atual e *setembro vai bem com um certo “chique” urbano“. É possível. Com a noção de estabilidade de uma norma ortográfica é que não “vai bem” de certeza absoluta.

Critérios editoriais e eleições

pescadinha

Critério editorial é quando o Medina Carreira puxa de um gráfico onde demonstra que já o Bandarra tinha previsto que isto ia acabar assim, entra o Mário Crespo em debate acalorado com os seus convidados de esquerda enquanto benze os de direita e no meio aparece o beato César das Neves vestido de fantoche e gritando em orgasminhos consecutivos, Não há dinheiro, Não há dinheiro. Nos intervalos José Gomes Ferreira apresenta o seu programa de governo, escrito a quatro mãos com o José Rodrigues dos Santos e onde se assegura a salvação da pátria por intervenção do Arcanjo Gabriel, já anunciada ao FMI.

Critério editorial, e não jornalístico, editorial do editor que responde perante o director que responde perante o patrão, que responde diante do banqueiro, e todos em coro guincham: andámos a viver acima das nossas possibilidades, não há dinheiro para a democracia.

Aplicado às eleições consiste em dar tempo aos mesmos para que ninguém vote nos outros, que horror, os outros que metam o rabo na boca e em pescadinha fiquem desfeitos, queriam cobertura tivessem sido eleitos, não foram eleitos, não existem.

A democracia é mesmo uma chatice, razão tem o Alberto João, estado de emergência em cima deles, Salazar, Salazar, Salazar, a fortuna que se gasta em eleições, nomeiem-se os presidentes da Câmara, escolham-se os regedores no final da missa, estava tudo tão bem como estava e tinha de vir esta gente com modernices.