O papel

Onde está a diferença entre um curso de 5 anos e um curso de 5 anos? No papel, acessível por uns milhares de euros. Grão a grão se enche o papo do financiamento do ensino superior.

Ir ao encontro dos interesses dos alunos: agora também na Universidade

A entrevista já tem uns dias, mas ainda vale a pena comentá-la. Diante dos dados constantes de um estudo sobre o abandono escolar no Ensino Superior, o ministro Manuel Heitor conseguiu, em quase todas as respostas repetir a mesma ideia. Leiam-se as seguintes citações:

  1. a)“[As instituições de ensino superior] têm de assegurar as naturezas e características individuais de cada estudante.”
  2. b)“Cabe às instituições a responsabilidade de adequarem os seus programas para reduzirem o abandono.”
  3. c)“(…)é da responsabilidade das instituições reduzir as taxas de abandono, adequando cada vez mais os cursos àquilo que são as exigências da sociedade, da economia e das pessoas.”
  4. d)“(…) o problema do abandono só se resolve com proximidade, dentro da sala de aula, é entre a relação estudante-professor, é o estudante.”
  5. e)“ A questão crítica do abandono é a proximidade estudante-professor e faz-se dentro das salas de aula.”
  6. g)A solução para o abandono está em “flexibilizar os percursos e a garantir que um estudante tenha facilidade em ir adaptando e alterando o seu currículo e o seu perfil às necessidades que vão aparecendo e aos gostos que vão evoluindo, porque temos um contexto social, cultural e económico em contínua mutação.”

Deixemos as alíneas a marinar e já voltamos. [Read more…]

Bolsas de estudo do Ensino Superior: uma questão sem fim

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Em 2005 quando entrei no ensino superior, a DG\AAC então presidida por Fernando Gonçalves lutava com afinco pelo aumento do numero de bolseiros na UC. Eu, na altura um jovem caloiro bolseiro, tomei a luta como minha e avancei com a Direcção Geral para Lisboa, chegando inclusive nessa manif a levar uma lapada de uma amiga afecta ao Bloco quando a manifestação se dividiu em duas com agendas distintas.

Anos mais tarde quando o Governo Sócrates decidiu fazer modificações ao Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo em 2010 com o famigerado Decreto-Lei 70\2010, na condição de não-bolseiro, alinhei mais uma vez na luta e pressionei muito a DG de Miguel Portugal a avançar para formas de protesto não convencionais. A nova ponderação dos elementos do agregado familiar para e feitos de cálculo do valor a atribuir excluiu o acesso a milhares e levou pela primeira vez no Ensino Superior a uma debandada em massa de estudantes por indeferimento das suas bolsas e consequentemente por falta de recursos financeiros. Esse DL previa na altura a passagem de todos os membros do agregado familiar para uma capitação inferior a 1, algo completamente ridículo que obviamente se reflectia nas fórmulas de cálculo. O agregado que auferia a título de exemplo 13000 euros por ano a dividir por 4 elementos, via na nova fórmula uma divisão do valor por 2.7 pessoas. O candidato valia 1 pessoa, pai e mãe 0.5 e o irmão 0.7. O rendimento per capita subia, portanto. [Read more…]

Inaceitável e imperdoável

Ao longo dos 7 anos em que estudei na Universidade de Coimbra, duas das múltiplas virtudes que a Universidade me fez adquirir para a minha vida foi o respeito por todos os credos e a dotação de uma forma de pensar personalizada, aberta e urbana. Não tenho nada nem nunca tive nada contra as pessoas que elencaram (e ainda elencam;sei que algumas das pessoas que praticaram estes crimes ainda fazem parte da minha geração universitária) as Repúblicas e o Conselho de Repúblicas. Antes pelo contrário. Dormi em várias repúblicas da cidade ao longo de 7 anos, fui comensal de uma, tenho amigos em várias assim como participei em diversas febradas, almoços, jantares e centenários de várias. Fui até mais longe em determinadas situações, entrando directamente nas causas das Repúblicas sem nunca ter sido repúblico quando abracei a causa particular que foi aberta pela nova Lei do Arrendamento Urbano e quando tentei ajudar o pessoal do Solar dos Estudantes Açorianos a ver o seu problema de esgotos e canalizações resolvido junto da Câmara Municipal de Coimbra. [Read more…]

Tirar um curso

Portugal ainda é, em grande parte, Coimbra e o resto é paisagem. Bastava alguém envergar uma capa e uma batina para passar a ser doutor. Uma pessoa podia andar matriculada anos a não estudar e isso seria suficiente para se ser doutor. Ainda assim, nesses tempos, a expressão “tirar um curso” significava ‘concluir uma licenciatura’.

A licenciatura é, ainda hoje, meio caminho para um orgasmo. Há pessoas que perdem força nas pernas e reviram os olhos, sempre que ouvem o nome antecedido de um “doutor”. Não me espantaria que existisse uma tara sexual qualquer que consistisse em alcançar o clímax por ouvir menções a títulos académicos. Aposto, até, que, nos prostíbulos, haverá quem o exija, do mesmo modo que há quem goste de ser insultado ou agredido fisicamente (conta-se mesmo que, no auge, mais de um cliente terá gritado eferreá em vez de chamar por algum ser superior).

E é natural que uma pessoa, de tanto pagar para ouvir, até possa convencer-se de que entrou numa casa para obter favores, sexuais ou outros, e tenha saído de lá licenciado. Ora, se há casas que são conhecidas pelo pagamento de favores, sexuais e outros, são as sedes e as delegações dos partidos políticos. [Read more…]

Parece que a Alemanha precisa de mais emigrantes

Governo quer mais vagas para cursos superiores de engenharia, ciência e informática

E se eu dissesse que a Alemanha tem demasiados alemães?

Sim, é isso. A Alemanha tem demasiados alemães.

Cratilinárias

CatilináriasRecentemente, Passos Coelho, licenciado em Economia, descobriu que as pessoas, por ganharem menos, gastam menos. Já Vilaça, personagem de Os Maias, comentava a formatura de Carlos, dizendo a si mesmo: “Grande coisa, ter um curso!” Grande coisa Passos Coelho ser economista, que, mais tarde ou mais cedo, chega quase a perceber o que se passa com os cidadãos. [Read more…]

Todo o homem é maior do que o seu erro

josé duarte

Na mão tem um livro aberto. Procuro, com curiosisdade, ler o título: Todo o homem é maior do que o seu erro. «De quem será o livro que tem nas mãos?» – pensei.

José Duarte é um advogado de Paredes preso há oito anos por falsificação de documentos e usurpação de funções. O livro que referi é a sua tese de mestrado publicada e já praticamente esgotado!

Quer agora uma autorização da Direção-Geral dos Serviços Prisionais para frequentar as aulas de doutoramento, obrigatórias. Quer ser o primeiro recluso a concluir a tese de doutoramento!

Como disse um dia a mãe do Nobel da Literatura 2012, “Filho, o homem que me bateu [um guarda que havia agredido a senhora há muitos anos] e este homem não são o mesmo”.

Estuda o mínimo, goza o máximo

Faz o Curso na Maior é o livro de  Nuno Ferreira e Bruno Caldeira que será apresentado no próximo dia 13 em Lisboa.

Segundo o Público, é um livro que explica como se pode “estudar menos, mas melhor”. Avança uma cartilha, o PODER (Preparação — “Não sejas apanhado desprevenido”; Organização — “Maximiza os teus recursos”; Determinação — “Sincroniza-te com o objectivo”; Enfoque — “Diz não para dizeres sim”; e Realização — “Faz acontecer”), dá conselhos, desfaz mitos.

Lemos ainda como nota introdutória do artigo: ” Não é preciso andar sempre agarrado aos livros para se ter boas notas no ensino superior. Ter vida social é tão importante para o futuro como tirar o curso. Muitos professores são chatos. Quase todos os alunos copiam. Dois antigos alunos universitários (um deles agora professor) escreveram um livro provocatório e didáctico que promete dar que falar. “Não importa o ‘quanto’ estudas, mas sim ‘como’ estudas”.

O conteúdo pode ser muito bom, mas o título deixa muito a desejar »na maior» soa-me mesmo mal.

Há quem tenha (Relvas, Sócrates, e outros afins) ou quem faça o curso na «maior», mas não é o estudante comum…

De qualquer das formas, fica aqui a sugestão de leitura. Terá, com certeza, alguma utilidade e ensinamentos. 

«Estuda o mínimo, goza o máximo» não é o melhor conselho a dar-se, nem aos alunos nem aos filhos, embora seja precisamente o que querem ouvir. A defesa da lei do menor esforço está brevemente numa livraria perto de si.

Uma aposta, que será um best-seller?

 

Acesso ao Ensino Superior e Ensino Recorrente

Maria Eduarda Neves

O ingresso ao Ensino Superior deve ser conquistado por mérito. Não podemos permitir que haja duas formas de avaliação no concurso para as MESMAS vagas. Mais um ano veremos alunos que, já tendo concluído o secundário, aproveitam-se do Ensino Recorrente – criado para aqueles que não conseguiram terminar o Ensino Secundário Regular – para aumentar exponencialmente as suas classificações internas, que não são afectadas pelos Exames Nacionais.

Esta situação afecta todo o Ensino Superior português porque os alunos não colocados em suas primeiras opções, como Medicina, vão para outros cursos, aumentando as suas médias mínimas de ingresso, passando por Medicina Dentária, Ciências Farmacêuticas, Fisioterapia, Enfermagem e assim sucessivamente. Reacção que também acontece em todas as áreas do Ensino Superior, tendo em consideração cursos como Engenharia Aeroespacial e Arquitectura.

É uma recção em cadeia.

O Ministério da Educação tentou impedir que isso acontecesse, mas cerca de 300 estudantes ganharam um processo no Tribunal e, assim, foram autorizados a utilizar médias internas próximas ou iguais a 200 nas suas candidaturas. [Read more…]

Sobre Miguel Relvas: Conhecimento vs. Conhecimentos

Miguel Costa, licenciado em 5 anos

Acima da ideologia de cada um está a essência de cada qual.

Passo a explicar. Não é por alguém ou alguma coisa se identificar com qualquer crença nossa que estamos isentos de a podermos escrutinar. Muito pelo contrário. Acresce-nos a responsabilidade de o fazer.

Posto isto, tenho umas palavras a dizer.

Se há uns tempos muita tinta correu sobre uma hipotética licenciatura domingueira tirada por um alegado engenheiro que por sinal nos veio a (des)governar, hoje podemos falar sem menos pejo de outra alegada licenciatura tirada em modo de “Novas Oportunidades” por outro (des)governante nosso.

A diferença é que as “Novas Oportunidades”, tão faladas pelo antigo governante, dariam a qualificação necessária para uma habilitação mínima, necessária para desempenhar (em alguns casos de forma legal) tarefas que essas mesmas pessoas já desempenhavam. Agora esta questão foi refinada. Levada à sublime perfeição de conseguir, com a experiência de vida e repetição da acção, qualificar com uma licenciatura um qualquer português que com o conhecimento empírico também tenha os conhecimentos certos. Daqueles conhecimentos que consigam, habilmente, contornar a lei. [Read more…]

A cultura é uma necessidade

No momento em que cresce o número de alunos do ensino superior a abandonar (devido à crise económica) o curso que sonharam e para o qual tanto trabalharam; no dia em que se torna pública a posição da Igreja sobre este assunto (receia que o ensino superior seja só para as elites); a comemoração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios traz à baila a importância da cultura. [Read more…]

Os canudos e o Sr. António

É notícia que este ano, para o ensino superior público, há “mais 647 vagas, num total de 54 068“.

Em princípio isto seria bom. Mas na verdade não é. Pelo menos enquanto dominar a lógica das famílias investirem ao longo de anos numa carreira académica para que a  descendência atinja o almejado canudo, e depois de se ter um doutor, ou engenheiro, na família, é procurar emprego. Com sorte, irá trabalhar numa empresa criada e gerida por alguém que só tem alguns estudos de liceu.

Um dos grandes males deste país é que se estuda para doutor ou engenheiro, ou algo do género, para se ir trabalhar para a empresa do Sr. António  – porque neste país o normal é tratar as pessoas pelo primeiro nome, nem que elas tenham idade para serem nossos avós.

O Sr. António não foi para doutor, lançou-se à vida e será ele quem, como patrão, irá fixar o salário do Sr. doutor ou do Sr. engenheiro. E é um sacana, porque explora e quer ficar rico. Como se fosse censurável quem assume responsabilidades empresariais – pagar salários, fornecedores, tributos, encargos, rendas, dar avais pessoais aos bancos, etc – almejar ter muito mais do que um salário. Para isso, para viver de um salário, tinha estudado para ter um canudo de doutor ou engenheiro e arranjado emprego na empresa doutro Sr. António.

Quantos Alunos Cabem N'um Submarino Amarelo?

“O número de estudantes a beneficiar de bolsa de estudo para frequentar o ensino superior pode diminuir cerca de 25 por cento este ano.” Depois dos professores, os alunos.

A efemeridade dominante

POR SANTANA CASTILHO*

No passado dia 12, as vagas manifestadas para entrar num curso público de ensino superior foram o tema das notícias e dos debates nos órgãos de comunicação social.
Meia dúzia de notícias e opiniões esgotaram o assunto. É assim a efemeridade dominante, que aborda as coisas pela rama. É assim desde que o bem-estar na Europa começou a ser alicerçado sobre o saber científico e os países cujos modelos invejamos ensaiaram os primeiros passos na senda do desenvolvimento a que virámos costas porque pedia esforço e organização. Fracassado o comércio fácil com a Índia e o Brasil, fracassadas as colónias e fracassada agora a mendicidade comunitária, tudo expedientes para enriquecermos sem trabalho, é mais que tempo
de nos voltarmos para nós próprios e de nos ocuparmos com a recuperação do tempo perdido.
Por altura do recente debate sobre o estado da Nação, o estado da educação foi omisso. Falámos compreensivelmente da crise, sob o espectro das múltiplas rupturas que o astronómico número da divida (dizem que se aproxima dos 500 mil milhões de euros, somada a pública à privada) justifica. Mas não dedicámos um minuto, e era bom que o tivéssemos feito, à história recente das políticas educativas, caracterizadas pela
incapacidade de delinear um percurso sólido e autónomo (e sublinho o autónomo), socialmente aceite para não ser posto em causa a cada curva do destino. Outrossim, temos vivido em sucessivas ondas de diferentes fogachos iluministas que, antes de serem substituídos, são mantidos, é bom que o reconheçamos, porque muitos portugueses, políticos, professores, pais e alunos deles procuram colher benefícios
imediatos, com desprezo por perspectivas de futuro, mais ainda de futuro colectivo. [Read more…]

Presente e futuro da advocacia: uma questão de República (5)

Continuando o que já escrevi aqui.

O Direito aprende-se na Faculdade, não é na Ordem dos Advogados (OA). Nesta deve-se aprender teoria e prática forense, a par de deontologia e ética profissionais.

Não podem, pois, os candidatos à Advocacia, continuarem a ter um modelo de estágio afastado da realidade forense, que só os prejudica, bem como prejudica quantos, no presente e no futuro próximo, se irão socorrer dos seus préstimos.

Nem é aceitável que a formação profissional do estagiário seja paga. Ela deverá ser gratuita, na melhor tradição da OA.

Hoje, os estagiários não podem exercer em sede de Apoio Judiciário, pois que é entendido pela actual Direcção da OA que o Apoio Judiciário não deve transformar-se em instrumento de financiamento dos estagiários. Nem estes, uma vez que não estão definitivamente dados como aptos para o exercício da profissão – que só acontece com o exame final de agregação com que se conclui o estágio -, deverão exercer o Patrocínio forense, pois que lhes falta a devida preparação para representar e intervir em juízo em nome de terceiros.

Concordo com o entendimento. Mas falta fazer com que à falta de meios financeiros, se assegure a subsistência dos estagiários durante o tirocínio. Até mesmo para que o elemento económico não seja um crivo de selecção, por tão injusto que é. E para tal, não é necessário que a OA assuma o encargo de remunerar o estágio. É necessário, sim, que se chame o Estado às suas responsabilidades – as mesmas que, como já disse aqui e aqui -, [Read more…]

Os estudantes tambem querem…

Proprinas nem vê-las, bolsas cheias e para todos. Cantinas, serviços sociais, tudo à borla que alguem terá que pagar.

 

Estes alunos do ensino superior que vão tirar cursos que depois lhes asseguram um rendimento muito superior a muitos dos contribuintes que lhes pagam as proprinas, reagem  ao fartar vilanagem em que se tornou o país. Tudo mama, porque não hei-de mamar tambem?

 

Todos deviam pagar, conforme as suas possibilidades, presentes e futuras, sendo que ninguem pode deixar de estudar por razões económicas. Um empréstimo bancário, avaliado pelo Estado e pago durante a vida profissional é uma medida justa.

 

Pessoalmente, não teria tido nenhuma dificuldade em pagar as proprinas ao meu filho, que cursou Arquitectura na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa e como eu a maioria dos pais não têm dificuldade em pagar as proprinas. Sabemos bem que, por enquanto, a maioria dos pais dos alunos universitários continuam a ser economicamente privilegiados.

 

Reafirmo, com exclusão dos que não podem, todos deviam pagar. É inaceitável que num país onde as diferenças salariais entre os que têm cursos superiores e os que não têm, é abissal, se apoie financeiramente quem não precisa e quem em alguma fase da sua vida vai ganhar muito acima do contribuinte médio.

 

Que ninguem deixe de estudar por razões económicas! Que ninguem deixe de pagar se o puder fazer!