Vamos lá ver se eu percebo…

Se o primeiro-ministro tomar a iniciativa de dizer numa entrevista na RTP que determinado assunto não foi abordado no Conselho de Estado, não está a ser delator. Mas se Bagão Félix disser que o PM mente quando afirma que um assunto “não foi [falado no Conselho de Estado]”, então Félix já é um delator.

É isto, que está em causa, não é?

o grupo doméstico ou a construção conjuntural da reprodução social em eleições

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Conferência apresentada ao Quarto Congresso de Antropologia de Espanha. Alicante. Abril. 1987.

Antes do problema do problema científico, temos o problema político e a crise económica. Não é novidade. Faz parte da gestão que um povo faz dos seus bens e das pessoas indigitadas para os representar. É uma grave perigo estes desencontros entre políticos que podem sumis aos membros da família dentro de um patamar sem fundo. Como vamos defender os Grupos Domésticos? Quem será o grupo vencedor? Um Governo de Gestão? Para saber quem nos salva, é preciso saber como se gere um Grupo de Família ou Grupo Doméstico. Vamos a isso para saber quem será o grupo salvador da nossa Pátria ou os grupos que lutam pelo povo e não pelos seus partidos e poder. Os eleitores são heterogéneos, os grupos políticos também. Vamos analisar o assunto à luz da Etnografia e na base de uma conferência que proferi anos atrás, mas que ainda é valida. A conferência passou a livro, mas entrego a parte mais simples essa que li perante um auditório de centenas de pessoas. Passou a ser um pequeno livro en Castelhano, que vendeu cinco mil exemplares, para a Associação de Antropologia de Espanha.

Pense na heterogeneidade, que, apesar de não serem etnias, são classes sociais elitistas e proletárias. Faça uma transferência e pense que os senhores candidatos são da elite e os votantes, do povo.

Parede, 4-4-11

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Uma pergunta simples para o primeiro-ministro que se demitiu

Se o governo estava ciente dos problemas que o chumbo do PEC IV traria ao país, como tantas vezes José Sócrates afirmou na semana que antecedeu a respectiva queda, porque razão o primeiro-ministro não colocou os interesses do país à frente do seu orgulho, não se demitiu e não procurou alternativas ao PEC IV?

Afinal de contas, apesar de se ter demitido, o governo está na mesma a aplicar parte das medidas do PEC IV, esse mesmo que tinha sido chumbado, e que terão «um impacto estimado nas contas públicas de 0,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB)» de 2011. Sim, deste ano.

Está tudo a correr tão lindamente, como tanto se propagandeou em Fevereiro, e afinal são precisos mais 0,8% do PIB já este ano?

Não se percebe. Excepto, claro, se a demissão foi apenas um pretexto para fugir aos problemas que estavam mesmo a chegar (défice de 2010 1.3 pontos superior ao anunciado; dois empréstimos gigantescos para Abril e Junho; falta de dinheiro em diversas empresas públicas). O que se percebe, isso sim, é que com todo este teatro, a coisa piorará.

Cavaco Silva transforma grupo terrorista em segredo de estado?

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Julga-se o último processo do caso GAL, uma organização terrorista que cometeu diversos assassinatos em nome da luta contra a ETA, na década de 80. Um mercenário português, Rogério Fernando Carvalho da Silva, presta o seu depoimento e afirma ter recebido instruções de Cavaco Silva para tratar do assunto como segredo de estado.

Pelo que se conhece deste caso, não deve ter sido só Cavaco Silva, e parece óbvia a forma como se tenta disfarçar o envolvimento das autoridades portuguesas nos GAL. Também, num país onde terroristas do ELP/MDLP presidem a municípios, nada a estranhar.

via Esquerda Republicana

Cabra cega

Quando alguém vai ao banco pedir dinheiro emprestado, tem de ser elucidado acerca das condições, taxas, spreads, prazos, das obrigações, das garantias e suas extensões, etc. antes de decidir.
Quando um país é empurrado para se ir financiar num fundo internacional ou de uma Europa dita solidária e unida, que até lhe chamam União Europeia, ninguém diz quais são as condições.
Fala-se que Portugal vai ter de recorrer à ajuda externa. Criou-se, até, um sentimento de inevitabilidade. Mas ninguém diz o que vamos ter de fazer. Há palpites, há teorias, possibilidades, perspectivas e mais um conjunto de coisas que ficam bem ser ditas mas que espremidas não dão nada.
Nenhuma instituição diz o que vamos ter de fazer para pagar, qual vai ser o resgate.
Esta profunda contradição entre um cidadão ou uma empresa e um Estado é exemplificativo daquilo em que os países se tornaram face aos tais histéricos mercados que passam a vida a precisar de tranquilizantes que nos saem do corpo: uns meros capachos. [Read more…]

Meu caro amigo, a coisa aqui está preta

Não vale a pena esconder. Estes são tempos difíceis e de trevas, na economia e na sociedade. Portugal passa, provavelmente, pelo mais complicado período da história do pós-25 de Abril. Por falar nisso, façamos um pequeno regresso ao passado. Vamos até 1976.

O artista brasileiro Augusto Boal (1931 – 2009) mora em Lisboa, exilado, em fuga de uma ditadura repressora. Por Lisboa há-de ficar dois anos, antes de rumar a Paris, num percurso que começou em 1971, depois da prisão e tortura, forçando-o a fugir para a Argentina, e que só terminará em 1986.

Na capital portuguesa recebe um dia uma carta em forma de disco. No vinil negro, Chico Buarque tinha ‘escrito’ o momento que o Brasil estava a viver. Dias em que em é preciso “pirueta pra cavar o ganha-pão”, num povo que “vai cavando só de birra, só de sarro”.

Regressemos a 2011. Por estes dias, o  inverso. Um qualquer Chico português pode enviar uma carta, um email, um disco, um ficheiro MP3 a um qualquer Augusto no Brasil.

Com muito ligeiras alterações (tanto mais que a Marieta já não é a mulher do Chico), a letra adequa-se na perfeição a estes nossos dias de portugueses às escuras.

Não existe energia nuclear segura

Retomo  o tema do desastre de Fukushima e a discussão da segurança da energia nuclear.

Sempre estive convencido de que era uma questão de tempo até se tornar evidente que não existe energia nuclear segura. Aliás, continuo convencido de que há, ainda, muitos desastres (e infelizmente mais graves) que vão forçosamente ocorrer, seja com as centrais em si, com reactores, com lixo radioactivo ou por causas “não programadas”.

Tenho visto disseminada a opinião, a propósito deste caso, de que ocorreu uma conjugação de factores que “não era suposto” ter acontecido. Pois penso exactamente ao contrário: tudo o que aconteceu “era suposto” ter ocorrido e, pior, ainda não aconteceu tudo o que é suposto vir a ocorrer.

Vejamos: alguém pensa [Read more…]

Chamem a polícia, que eu não pago

Começou então o ataque às dívidas soberanas. Aproveitando os absurdos institucionais europeus e a certeza de que na Europa cada um trataria apenas de si, as economias mais frágeis do euro foram a vítima preferencial. O que não foi sacado através das ajudas públicas foi-se buscar através de juros usurários. Basicamente, as economias mais frágeis passaram a trabalhar para pagar uma mesada à banca, pedindo emprestado para pagar os juros. E quanto mais pedem mais os juros aumentam, numa espiral que só acabará quando todo o sangue for sugado.

Excelente texto do Daniel Oliveira. A Associação do Amigos dos Banqueiros Desvalidos e seus Mercados vai comentando, já sem um único argumento, desde que a Irlanda começou timidamente a dizer não. Da mesma forma que muitos deles meses atrás apenas pediam cortes na despesa, e hoje já descobrem que sem crescimento económico não há solução, mais uns tempos e veremos a direita a descobrir em si um João IV que lhe restaure o lusitanismo. Tal como em 1638/40, basta aos donos de Portugal sentirem-se acossados pelas ruas, e espero que pelos votos, e o milagre da transmutação dos que agora querem vender a pátria em ferozes patriotas voltará a ocorrer.

Neste caso a História não se repete só duas vezes, está sempre a repetir-se.

O meu Benfica não apaga a Luz

O meu Benfica não apaga a Luz, rega o relvado a horas próprias, não se sente menorizado quando um campeão faz aquilo que faz o Benfica ao ganhar títulos: festeja-os com a legitimidade do vencedor.

O meu Benfica demarca-se do Benfica igual aos outros, do Benfica que copia e imita o pior dos rivais. O meu Benfica não perde tudo numa centena de minutos, o jogo, a postura, a dignidade. O meu Benfica não é uma massa de seguidores acéfalos, questiona os dirigentes, exige explicações e chama os bois pelos nomes.

Consola-me que exista um Benfica dentro do benfiquinha. Porque eu, do benfiquinha, não sou.

O Sócrates insistirá em não avaliar o trabalho dos professores

 

Ponto prévio: Fui ensinado a não usar o artigo definido como manifestação de respeito pelas pessoas sobre as quais se escreve. Já que não posso ou não devo transcrever todos os nomes feios que profiro diante da repetida desonestidade do Sócrates e dos seus apaniguados amestrados, e enquanto esta gente sinistra que não me merece respeito não for expulsa da política, não deixarei de lhes antepor o artigo definido.

 

Para os comentadores modernaços, a maior manifestação da qualidade de um político é, simplesmente, atacar as corporações. É desses ataques que se faz a hagiografia do governante, esse ser tão corajoso quanto o era o rei cristão que, na historiografia fascista, afrontava, sozinho, milhares de mouros enraivecidos que se babavam com a antecipação de destruir a cidade, o país, o universo. É, portanto, com os olhos em alvo, que o comentador modernaço se ajoelha diante da coragem com que o Sócrates e a Maria de Lurdes Rodrigues atacaram, finalmente, os professores, a nova mourama cujo único objectivo é parasitar o Estado. [Read more…]

Islândia: O país da caixinha para a moeda

Agosto de 2009: duas semanas de férias na Islândia! Foi assim que conheci o país. Ou melhor, que o visitei pois, como todos sabemos, não é em duas semanas que se fica a conhecer um país, por mais pequeno que seja, e muito menos em “contexto férias”.

Ainda assim, esse período bastou para dar uma volta completa à ilha, com o vagar que as pequenas distâncias permitem e a facilidade de orientação geográfica assegurada pelo facto de ter optado por percorrer a única estrada integralmente asfaltada do país. Uma enorme vantagem para quem, como eu, não nasceu com GPS incorporado.

Os sacos estão à disposição do freguês, que coloca as moedas na caixa

Apesar de tranquilas ou, se calhar, precisamente por isso, foram duas semanas intensas, ricas em sensações fortes.

Desde deslumbramento perante paisagens belíssimas: fiordes, glaciares, quedas de água, montanhas imponentes, enormes extensões de verde, intercaladas por rebanhos de ovelhas, cavalos islandeses, casas de madeira com telhados cobertos de turfa.

O que se poderá presumir de uma nação que não tem exército…?
De uma nação cujas forças policiais não andam armadas…?

Até um enorme respeito pela terra que pisamos, conscientes da poderosa actividade vulcânica e geotérmica que se desenrola debaixo dos nossos pés – em alguns locais, a menos de 100 metros de profundidade! – e cujas manifestações se vêem, sentem e cheiram (aprendi que o enxofre cheira a ovos podres!) por todo o lado, em crateras de vulcões extintos e activos, campos de lava, fontes termais, geisers e fumarolas, que nos recordam constantemente o nosso verdadeiro lugar no planeta.
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a religião é a lógica da cultura


Für Elisen    Beethoven

A religião é a lógica da cultura*
Para a nossa filha Camila Iturra- González de Isley, no dia do seu Aniversário.

Retirada do livro Em nome de Deus. A religião na Sociedade contemporânea, livro escrito a partir do Seminário sobre Sociologia da Religião, coordenado pelo docente de UBI, Donizetti Rodrigues, Afrontamento, 2004- O texto tem sido reescrito com a data de hoje.

1. Introdução.

Falar da religião como lógica da cultura, é uma hipótese ou proposição que nem sempre é entendida com facilidade. Por vários motivos. O mais evidente, penso eu, é o processo

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