RESISTÊNCIA

Vemos muita gente a fugir da Ucrânia. É natural e os números tenderão a aumentar com o agravamento do conflito.

Vê-se também gente dirigindo-se para a Ucrânia, voluntariando-se para acções de defesa. Boa parte são emigrantes ucranianos residindo noutros países que se sentem motivados a defender a sua terra e os seus familiares. Outros, porém, são estrangeiros que se propõem lutar contra uma injustiça que acham gritante.

Haverá, entre todos eles, militaristas nostálgicos e românticos da guerra que gostam do cheiro da pólvora, de camuflados e de cenários de destruição. Serão, suponho, uma minoria.

Muitas destas pessoas são apenas gente corajosa, com o coração no lugar certo e grande generosidade. Não se lhes pode, em bom rigor, chamar belicistas nem pacifistas, mas vão para a guerra almejando a paz. Uma paz que não seja podre.

DEPENDÊNCIAS

 

Há uns anos, aquando de uma greve de camionistas, muitas pessoas ganharam consciência de alguns dos perigos deste mundo em rede que temos vindo a construir. Ao fim de alguns dias de greve, as prateleiras dos supermercados começaram a esvaziar-se pelo país fora, produtos essenciais esgotaram, a gasolina faltou nos postos de abastecimento, os transportes individuais foram abalados, etc., etc.

Nessa época já o mundo funcionava em rede, já os consumos pouco tinham de produção local ou de proximidade, já nos pratos nacionais repousava na mesma refeição um bife irlandês, batatas francesas, cebolas espanholas, tomates italianos, pimentos sul-americanos e, enfim, uma alface portuguesa, mas estávamos todavia num mundo predominantemente analógico em que ainda viviam mais pessoas nos campos do que nas cidades e o digital não reinava como hoje.

A situação evoluiu e a dependência em rede aumentou.

A escalada previsível de ataques cibernéticos, de que é exemplo o agora sofrido pela Vodafone, devia preocupar-nos e alertar-nos.

Não se trata de saudosismos bucólicos ou de propôr regressos a passados idílicos e românticos. Um ataque a uma única empresa acarreta reacções em cadeia que implicam a paragem forçada de outras empresas, a falta de resposta de transportes, ambulâncias paradas, serviços hospitalares que não funcionam e por aí fora, até, num absurdo não tão absurdo, à paralisação total.

Bem sei que há quem esteja encarregado de fiscalizar, precaver, evitar, reagir e corrigir, mas trata-se de um jogo entre o gato e o rato em que os hackers fazem de ratazanas.

O problema é que, além de fugirem sempre à frente do gato, volta e meia é o próprio gato que lhes serve de refeição.

MOAMBA

  • Tens-te transformado numa coisa muito ruim! – disparou o homem enquanto comia uma garfada de bacalhau.
  • É o que tu dizes. Outras pessoas dizem o contrário. – respondeu a mulher mordiscando um palito de batata frita.

  • Quem? – quis ele saber.

O diálogo prosseguiu neste tom que a excessiva proximidade das mesas me impedia de não ouvir, apesar do ruído de fundo do restaurante cheio.

Refugiei-me na moamba e nas memórias de sabores que, no meu caso, recuam até à infância e a outras geografias.

Enquanto o homem se lamentava em voz alta e a mulher, em silêncio, se arrependia pela milionésima vez de se ter casado com aquela besta, eu sentia alguma nostalgia porque, se quase tudo é reproduzível, isso não acontece com o travo do óleo de dendém caseiro dessa infância longínqua, aquele que marca pela eternidade fora o verdadeiro gosto de uma boa moamba de galinha.

João

Mais mês, menos mês, faz dez anos que o João me convidou para o Aventar.

Ao João não se podia recusar um convite sem ele se tornar chato. Um chato especial, é certo, mas chato.
O João podia ser um chato maravilhoso, cheio de doçura e candura, insinuante e convincente, e podia ser ríspido e cortante como um x-acto. Era capaz de ser chato quando falava e tataramudeava, e era capaz de ser chato quando se calava e nos olhava com olhinhos trocistas e aquele sorrizinho fuinha.
O João era capaz de ser chato até quando nos encantava. Se alguém não acredita que se pode ser chato e encantador, não conheceu o João. Mas também podia ser um adversário terrível, persistente até ao tutano, determinado como só um grande chato o pode ser.
O João, para dizer a verdade, até na morte foi chato. Não apenas porque morreu, porque essa é a suprema chatice, mas também pela forma como não morreu. Os outros muito nossos que morreram, o Tó, o Rui, o Paulo e mais alguns, ficaram postos em sossego e, depois de devidamente chorados, só aparecem raramente, de longe em longe, numa imagem fugaz, numa frase que recordamos, numa história que contamos, e regressam de novo ao seu repouso lá para os lados obscuros da eternidade. É como se tivessem morrido antes de nós para nos ensinar como se morre, como se permanece imóvel e ausente na penumbra, como, afinal de contas, se comporta um morto depois depois de ter morrido.
O chato do João, não. Está sempre a aparecer quando vamos na rua, quando bebemos um copo, quando discutimos uns com os outros. É inconveniente, interrompe-nos a leitura de um livro sem pedir licença, distrai-nos quando vemos um filme, espreita por cima do ombro se escrevemos um texto, fala-nos ao ouvido quando estamos em silêncio, põe-se a dizer larachas, a fazer advertências, a responder sem ser perguntado. E continua a mandar-nos à merda sem respeito nenhum. “Porra, pá, nunca mais aprendes”, “eu tinha-te avisado”, “és sempre a mesma merda mas já estou habituado”, “se eu não te conhecesse, até era capaz de te dar razão”, “se queres ir aí, vai, mas é só porque não percebes nada do assunto”, “Já te disse mil vezes onde é que se come o melhor cabrito aqui perto, isto se conseguisses imaginar o que é um cabrito a sério”.
O João é tão chato, aliás, que me obriga, para além de o ouvir, a falar com ele quase todos os dias, a fazer-lhe perguntas, a dar respostas por ele, a interrogar-me sobre o que ele acharia disto ou daquilo, a desatinar com ele e apanhar-me a dizer em voz alta “tá as a ver, meu cabrão, aconteceu exactamente como eu te tinha dito”, “olha, João, vai à merda mais o teu cabrito. Descobri um muito melhor que o teu, mas tu é que percebes de cabrito”, ou, quando ele, só para chatear, me vem falar do FCP, “epá, João, às vezes consegues ser quase tão fanático como o Pinto da Costa”. E leva-me regularmente a desabafos “Percebes, João? Esta treta não é fácil”, “Já viste isto?…”, “Repete lá aquela cena…”

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Trump pairando sobre os céus de Londres

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Ao contrário do que muita gente por aqui acha, Trump não é propriamente destituído de inteligência prática e sabe exactamente onde quer chegar.

Trump quer redesenhar a política mundial, nem mais nem menos, e pô-la ao serviço da “America great again” e das grandes corporações privadas, fazendo tábua rasa de organizações humanitárias e/ou garantísticas, género ONU ou UNESCO, e blocos transnacionais como a CE, as quais, na sua concepção, só atrapalham.

A recente cimeira da NATO mostra que Trump pode facilmente ameaçar torpedear uma organização que, além das questões estratégicas, não sirva os interesses da indústria americana e o seu ascendente geoestratégico, neste caso a do armamento.

O mesmo se passa hoje, na visita a Inglaterra. [Read more…]

25 de Abril: de 1974 a 2018

Não tenho dúvidas. 25 de Abril de 1974 foi o dia mais importante das últimas décadas na História de Portugal.

Não mudou apenas o regime nessa data.

Para o melhor e para o pior, o país redesenhou-se, abandonou ideias imperiais, virou-se para a Europa, garantiu direitos para os cidadãos, socializou funções do Estado, combateu o analfabetismo e a pobreza extrema, aboliu bairros-de-lata, abriu fronteiras a outros povos, mas também escancarou portas a novas clientelas oportunistas e deixou que se instalassem pseudo-elites resultantes dos equilíbrios então gerados e das dinâmicas de mudança.

São estas que agora discursam no parlamento e nas celebrações. Corrompidas e demagogas, fizeram das encenações oficiais o Dia das Belas Intenções e juram nesta data aquilo que proscrevem durante o ano.

Neste 25 de Abril que já não é do povo ouve-se falar em povo. Também em justiça social, em diminuição das desigualdades, em combate à corrupção e à acumulação de riqueza não tributada, etc.

Contudo, se antes o problema era o 24 de Abril, agora o que é preciso mudar é o 26 de Abril e os dias que se lhe seguem.

Se não é preto, só pode ser branco

A Síria está cheia de filhos-da-puta. Grandes filhos-da-puta, médios filhos-da-puta e pequenos filhos-da-puta. E está cheia de vítimas. Algumas vítimas são filhas-da-puta, outras não. Está, também, cheia de inocentes.

Os inocentes têm sido bombardeados, gaseados, espoliados, condenados, assassinados e abandonados pelos filhos-da-puta de todos os tipos. Os que escaparam estão refugiados e são ostracizados.

Perante isto, o que se vê por aí são as velhas reacções simplistas e maniqueístas.

Não importa saber qual foi o filho-da-puta que fez ou apoiou o quê. Importa é saber se se está com os americanos ou com os russos. O resto, sírios ou os curdos, o que lhes acontece ou não, conta pouco para a questão.

Bom, mesmo bom, é fazer funcionar o dualismo rasteirinho: ou estás do lado dos americanos e chamam-te imperialista, fascista, neo-liberal, etc., ou dos russos e chamam-te comunista, estalinista, esquerdalho e afins. Fora isso que se lixem uns aos outros que, mais dia menos dia, começa a estar bom para ir à praia.

Valha-lhes São Schäuble

Com estas palavras de Pierre Moscovici, a Comissão Europeia deitou para o lixo um ano de discurso do medo.

PSD, CDS e outros terroristas da palavra ficaram desarmados e balbuciam incoerências, mas apenas porque a sua profissão é não estar calados.

Jornalistas, à míngua de apocalipses para títulos, gaguejam e nem São Schauble, padroeiro dos sem alternativa, lhes vale.

Enfim, uma chatice! Pior: uma geringonça! Pior ainda: o diabo!

João Soares demite-se de ministro

“O estranho caso da bofetada apenas prometida, mas que ricocheteou e atingiu o esbofeteador”, romance de cordel, edições João Soares.

Activistas angolanos condenados. Luaty Beirão, cinco anos e seis meses de prisão

Vamos ler um livro em conjunto e discutir formas democráticas de apear ditadores?

Talvez seja melhor não, podemos ser condenados por associação de malfeitores (nós, pugnando por um pouco de decência, não eles – a clique das malfeitorias organizadas e programadas) e por actos preparatórios de rebelião.
Quem quiser compactuar com isto, pode, porque as acções ficam com quem as pratica, mas quem estiver do lado da justiça, da dignidade humana e do direito de participação, deve começar já a denunciar e reagir. [Read more…]

Respostas para a crise no Brasil?

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Escrevi, há dias, um post sobre a crise no Brasil que, mais do que respostas, fornecia perguntas. A minha ignorância, a distância, o desconhecimento de muitos dos protagonistas e dos seus interesses e ligações, a não verificação da verdade ou da mentira nos “factos” mediáticos, a velocidade dos acontecimentos e a minha própria estupefacção, tudo isso me aconselhava a ter mais dúvidas do que certezas.

Nestes dias vertiginosos fui procurando entender melhor a situação. Avancei pouco e, separado o joio, quase não me sobra  trigo.

Duas ou três certezas,  tenho: o país está divido, a Política e a Justiça não estão devidamente separadas (e ambas albergam muita gente pouco recomendável), o regime (não me refiro ao governo) precisa de refundar-se, a corrupção é transversal e endémica – chegando-se ao ponto de indiciados e pronunciados por corrupção se atreverem, sem um pingo de vergonha ou de oposição no interior dos seus próprios partidos, a acusar, apreciar, votar e pertencer a comissões de investigação de corrupção (aqui chegados, estamos no grau zero da credibilidade)-, a democracia corre riscos evidentes de sequestro. [Read more…]

Para entender melhor a crise no Brasil

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Uma leitora brasileira enviou-nos uma lista de sites e blogues de jornalistas que dão uma visão dos acontecimentos no Brasil a partir de quem os vive de perto.

Se a situação é complexa e divide os brasileiros, ainda o é mais para quem, a partir de Portugal e da nossa imprensa, tenta compreendê-la. Estamos perante uma tentativa de “golpe de estado judicial”, como já li? Existe uma campanha orquestrada para derrubar Lula? Essa campanha conta com o apoio dos militares e da Globo? É possível, como também li, que se corram riscos sérios e generalizados de derramamento de sangue nas ruas? Ou tudo não passa, afinal, de uma manobra desesperada do PT para boicotar uma investigação judicial? Dilma e Lula deram um tiro no pé com a recente nomeação do ex-presidente como ministro? Quais as consequências desta crise para a democracia brasileira? [Read more…]

As gravuras ainda não sabem nadar?

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No início, de modo simplista, havia isto: a barragem ou as gravuras.
Optou-se, bem, pelas gravuras.
Como sempre, parte da substância foi reduzida a discussões de economês básico: qual a solução que geraria mais dinheiro? A barragem, disseram muitos em coro, começando por boa parte da população local.
Paradoxalmente, a defesa das gravuras do Coa foi, talvez, uma das últimas causas capazes de gerar movimentos engajados e participativos em Portugal, integrando vozes e manifestações activas norte a sul, levando a discussões que envolviam modelos de desenvolvimento e salvaguarda de património cultural.
Ora, um paradoxo gera outros, e grande parte dos defensores nunca visitou o local e os percursos postos ao serviço do público, contribuindo, também assim, para a aparente estagnação actual.
E é pena. Pena, porque, de novo, é a gestão do património comum que está em causa, e pena porque se trata de um programa inesquecível para quem nele participa.
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O único artista do mundo que…


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Os artistas antigos criavam as suas próprias tintas e tentavam esconder as fórmulas uns dos outros. Era um comportamento considerado normal, pouco merecedor de censura.
Agora, pela primeira vez, um artista (Anish Kapoor) tem o direito exclusivo de utilizar uma cor produzida industrialmente.
Ainda que mal comparado, é como a apropriação por registo de materiais da natureza, a privatização do ar ou da água, ou como se determinado escritor fosse o único autorizado a usar certas palavras.
Eu sei que não é bem a mesma coisa, mas…

No dia da morte de Umberto Eco…

…deixo-vos o parágrafo final de “Baudolino”, resposta de Pafnúcio a Niceta, o escritor, quando este se queixa de não poder escrever a história do aventureiro mentiroso.

 

“-Não te julgues o único autor de histórias neste mundo. Mais tarde ou mais cedo há-de haver alguém, mais mentiroso que Baudolino, que a contará.”

 

Abandono

Banco abandonado. Vila do Bispo, zona industrial.

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Durão Barroso, o pacifista

O mordomo da guerra no Iraque fala do risco de explosão generalizada de conflitos. E, nas entrelinhas, apela a uma nova Ordem Mundial.

Uma vez mordomo, mordomo toda a vida.

A árvore

São Tomé e Príncipe

(Ver em Instagram)

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Espanta-me que se espantem

Parece que há gente admirada com a vitória de Marcelo à primeira volta. Desculpem, mas, ou é distracção vossa, ou má leitura política do país que existe.
É que Marcelo já partiu com essa vantagem e esta campanha destinava-se a tentar contrariar esse facto.
Em vez disso, tivemos candidatos fraquinhos, fraquinhos e muitos tiros nos pés.
Boa, mesmo, em campanha, apenas Marisa Matias.
Quanto aos outros, nem as homilias edgarianas, nem os solilóquios morais, nem o choradinho ferreirinha mereciam mais.
Merecido, merecido, foi Maria ver Belém por um canudo e não ser capaz, sequer, de entender o enxovalho. Morreu, sim, mas por suicídio político, não por assassinato, como acusa.
Tino ganhou o povão, mas não se sabe se o povão ganhou tino.
Nóvoa, o Novo, enevoou. Redondinho, redondinho, molinho, molinho, sem chama, sem chispa, sem sonho a que sonho se chame, tentou pairar acima das nuvens como um querubim que tem medo de se sujar. Foi pena, mas perdeu as penas apostando em tacticismos.

Considerados os considerandos, admiram-se de quê, afinal?

Parabéns, Marisa Matias. E parabéns, Marcelo, que, perante o deserto, soube esperar sentado.

João José Ferreira da Silva Santos Cardoso

João José Cardoso e Rui Seguro

João José Cardoso e Rui Seguro

Ponto prévio: nunca me zanguei tantas vezes com um amigo e, consequentemente, nunca nunca reatei tantas vezes uma amizade. 

Em 1977, eu, puto, decidi criar uma revista (era um modesto fanzine) de poesia e afins. Tinha quase tudo: o nome (liberatura) e a ideia (escrita apenas com minúsculas e textos curtos). Quanto ao resto, o mais importante, os autores, conhecia apenas um colega, o vítor, que escrevia umas coisas de que eu gostava. Convidei-o e passámos a ser dois. Alguém, já não sei quem, falou-me num tal Mário que escrevia uns textos. Lá fomos conhecer o dito Mário e, com ele, lançámos o número zero do liberatura. Impresso em stencil, como se fazia na época, até porque não tínhamos dinheiro para melhor.

Mas éramos poucos e o Mário (Fernandes da Costa) lembrou-se de um gajo que vivia na Ferreira Borges e que era capaz de querer participar. O gajo, sem ser preciso muito para o convencer, aceitou. Era o João José.

A partir daí, passámos a fazer praticamente tudo juntos, longas tardes de copos e tertúlia (suponho que não gostávamos da palavra na altura), dormíamos nas casas uns dos outros (principalmente na do João, que era mais central), os nossos pais aturavam-nos e alimentavam-nos a todos com doses industriais de paciência. Aumentámos o grupo, veio o Pardal, o Fernando e por aí fora, Viajámos, andávamos à boleia, acampámos, bebíamos finos e vinho ranhoso nas tascas da baixinha, íamos a filmes, aos raríssimos concertos que havia, e escrevíamos.

O João, na altura, além de literatura, interessava-se por espeleologia (que eu nem sonhava o que seria), fotografia e cinema. A espeleologia dava muito trabalho físico e ficou arrumada algures. O cinema, nos anos setenta, era-nos vedado, mas tenho ideia que ele ainda frequentou uns workshops (dizia-se curso). A fotografia, apesar de cara e difícil (os rolos, a revelação, a impressão), ficou-lhe para sempre e, anos mais tarde, vim a pedir-lhe que me ensinasse essas coisas de aberturas, tempos de exposição, diafragmas, contraluz, movimento, distância focal e etc.

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João José Cardoso na Rádio Universidade de Coimbra

António Ramos Rosa 1924/2013

Morreu um poeta. Chamado Rosa, Ramos Rosa. António.

 

Viste o cavalo varado a uma varanda?

 

Viste o cavalo varado a uma varanda?

Era verde, azul e negro e sobretudo negro.

Sem assombro, vivo da cor, arco-íris quase.

E o aroma do estábulo penetrando a noite.

Do outro lado da margem ascendia outro astro

como uma lua nua ou como um sol suave

e o cavalo varado abria a noite inteira

ao aroma de Junho, aos cravos e aos dentes.

Uma língua de sabor para ficar na sombra

de todo um verão feliz e de uma sombra de água.

Viste o cavalo varado e toda a noite ouviste

o tambor do silêncio marcar a tua força

e tudo em ti jazia na noite do cavalo.

A veia artístico/cultural do PSD de Lagos

O Laboratório de Actividades Criativas, em Lagos, a cuja direcção me orgulho de pertencer, tem promovido ao longo dos últimos anos uma residência artística dedicada à Arte Urbana. Como consequência, a cidade de Lagos conta hoje com uma colecção de arte urbana de que poucas se podem gabar – especialmente cidades de dimensão comparável -onde pontuam nomes como os portugueses Paulo Arraiano, Gonçalo Mar, Daniel Heime, Pantónio, Jorge Pereira ou os artistas internacionais António Bokel, Vasmoulakis, Seiner, C215, Bezt ou ROA.

Este ano lançámos mais uma edição que inicia exactamente hoje e conta com autores como Add Fuel, Draw, Natalia Rak, Onur, Samina e Wes 21 além dos já referidos Bezt ou ROA.

Mas não é esta a notícia (podia bem sê-lo).  Há pouco mais de duas semanas, ROA, um dos mais conceituados artistas mundiais de arte urbana, executou dois murais na cidade de Lagos a nosso convite, que funcionaram como “entrada” para a edição que hoje começa. Eis um desses murais:

ROA - flamingo - Lagos, Portugal

Ora, hoje mesmo, pela manhã, o PSD de Lagos, cujo programa eleitoral, entre o bla-bla do costume, diz respeitar muito as associações locais e declara ter como preocupação muito importante a cultura e as artes, assoberbado pela febre comunicativa que nestas alturas dá aos partidos, esqueceu-se do seu programa e decidiu que os seus próprios “artistas” valiam mais, eram mais estéticos e importantes do que um pobre flamingo de pernas para o ar.

Vai daí, e como, a julgar pelo slogan, está a resolver resolver coisas, resolveu fazer isto, danificando mesmo a pintura: [Read more…]

Pina Colada, outra maravilha das Antilhas

Com o Verão a entrar na curva descendente, não podia faltar nesta breve selecção de bebidas que aqui apresentei para refrescar a estação, a receita de Pina Colada, outra maravilha feita com rum e com a marca distintiva das bebidas que, originárias das Antilhas, se espalharam pelo mundo.

Reza a lenda que por falta de um coco dentro do qual servir uma bebida chamada Coco-Loco (em que a casca de coco fazia as vezes de copo), um barman decidiu usar um abacaxi para o efeito, tendo os bebedores ficado surpreendidos e deliciados com a forma como os sabores do abacaxi se misturavam com os outros ingredientes.

Com uma mistura de ingredientes aparentemente estranha, a pina colada é um daqueles frutos do acaso que funcionam e fazem as delícias dos apreciadores. E pode perfeitamente prepará-la em casa, seguindo esta receita.

Daiquiri, outra bebida cubana

daiquiri

Já aqui publiquei a receita de mojito, juntamente com outras receitas de bebidas para refrescar o Verão.

Hoje vou preparar uma outra bebida cubana, na sua versão original, um daiquiri.

Hemingway, que amava mojitos, também gostava de daiquiris mas, por ser diabético, tomava uma variação que veio a chamar-se Hemingway Special substituindo o açúcar por marrasquino e sumo de toranja.

Nada melhor para iniciar esta segunda quinzena de Agosto.

Vai um mojito fresquinho?

Dizem que Hemingway era um admirador desta bebida cubana. Eu também gosto, especialmente nesta época do ano. Não custa nada preparar e, em poucos minutos, estamos a degustá-la.

Não se esqueça apenas de macerar bem a hortelã e o limão, esse é o segredo de um bom mojito. A receita de mais esta bebida de verão está aqui.

Crise política: todos mal na fotografia

Se se tratasse de um filme de animação, Cavaco Silva puxaria o tapete e todos os líderes que assinaram o memorando com a troika se estatelariam em simultâneo. Não se tratando, todos acabam derrotados, sem apelo nem agravo.

   – Paulo Portas é, irrevogavelmente, o grande derrotado quando, minutos antes da comunicação do PR, se preparava para aparecer como o grande vencedor, capaz de reorganizar o “equilíbrio” de poderes à sua medida. Mas Cavaco puxou-lhe o tapete e o Maquiavel do Caldas desfez-se em cacos: revogou o irrevogável, engoliu a ministra das finanças, ficou com o que restava de credibilidade política evaporada e terá que dar a cara por um governo que acabara de rejeitar (Gaspar e Álvaro Santos Pereira devem estar a rir-se à gargalhada).

De uma penada, reduziu o potencial do CDS, tornou-se irrelevante na solução governativa e terá que enfrentar em breve as hostilidades e críticas no congresso do seu partido.

Sem cara para dar a cara no governo (apesar do seu proverbial jeito para o contorcionismo), prevejo que “adoecerá gravemente” na rentrée pós-estival por forma a ser substituído com pouca honra e menor glória. Se, apesar de tudo, ainda se vê como uma fénix capaz de renascer das cinzas, espera-o uma longa travessia do deserto.

   – Passos Coelho sai quase tão ferido como Portas. [Read more…]

Receitas de gin

gin-tonico

A semana passada apresentei aqui umas receitas de caipirinha e de sangria para refrescar este Verão cheio de tonterias e acontecimentos quentes. A julgar pelo que se vê, nunca a season foi tão silly. 

Hoje tomei uma decisão irrevogável: vou preparar um gin tónico. Irrevogavelmente.

Ou talvez mude de ideias e beba um gin fizz. Posso até beber um gin com uvas, sabe-se lá, é preciso é que seja irrevogável. E pronto, enquanto não revogar as dúvidas, dou-vos algumas receitas de gin para provarem.

Coelho, Portas, Cavaco e o Rato

A montanha pariu um rato. Um rato muito caro, mas um rato.

Agora, com o reality-show a meio, a pergunta que me fica é: que fazer com um coelho, uma porta, um cavaco e um rato?

Agradeço respostas ou propostas.

A “escola” Vale e Azevedo

Detestei a presidência de Vale e Azevedo no Benfica. Aqui, a palavra detestar não é gratuita. Detestei mesmo, odiei, envergonhei-me várias vezes por ver o personagem representar o Benfica com o aplauso dos sócios.

Vale e Azevedo, se estiverem lembrados, inaugurou um estilo então em ascensão e que vingou na sociedade portuguesa, nomeadamente na política, como temos visto: o homem arrogante, vaidoso, que se qualifica a si mesmo como vencedor, capaz de mentir descaradamente em qualquer situação, com lata para dizer uma coisa, fazer o seu contrário e chamar burros aos que diziam que a acção e a promessa não batiam certo. Vale e Azevedo implantou o sem-vergonhismo nos media portugueses, a não admissão de culpas, o ataque rottweilliano e paranóico a quem dele discordasse, o esmagamento retórico dos adversários com base no insulto personalizado e em lógicas absolutamente distorcidas.

A ostentação sem limites, o discurso do luxo e do sucesso por atropelamento de terceiros, o chico-espertismo e pato-bravismo embrulhados em “elegância” e “finesse” eram uma das suas imagens de marca.

Os processos judiciais em que se viu envolvido, cheios de episódios rocambolescos, manobras dilatórias, cartas rogatórias e afins, permitiram-lhe ganhar tempo e depenar mais algumas vítimas que o não seriam se a justiça portuguesa fosse célere e eficaz.

O seu estilo de “dandy torrejano”, ainda lhe permitiu ficar a dever rendas luxuosas em Londres, [Read more…]