As saladas portuguesas no ‘buffet’ da crise mundial

A gastronomia portuguesa é histórica, saborosa, prestigiada e prolífera. Somos um povo multisecular, nascido e disseminado por terras e ‘mares nunca dantes navegados’. Somos, naturalmente, o povo da miscigenação universal – Património Material, Dinâmico e Multiplicador da Humanidade. 

Sim falo, por ora, dessa miscigenação, a mais comum, gozada a dois e procriadora. No entanto, acrescento ter sido banhada por fluídos leitos em roteiros culturais e hábitos de vida. Com destaque para a  criatividade culinária, onde se inscreve o caril de caranguejo à goesa, a cabo-verdiana cachupa, a muamba e misongué de Angola ou ainda o bolo de caju e batata e o caril de frango moçambicanos. A tudo isto e muito mais, juntam-se outras iguarias do solo pátrio: da caldeirada ao cozida à portuguesa, da sardinha assada às tripas à modo do Porto, do cabrito à padeiro às ferreiras algarvias na grelha, há um mundo interminável de sabores, de belos sabores.

Todavia, em época de doentes crónicos e de “tesos” à força, os nossos hábitos alimentares têm estado em permanente e gradual depressão. Subordinados ao ‘buffet’ da crise financeira mundial, o cardápio nacional reduz-se agora a meras saladas, como estas:

Com estas e outras indigestas hortaliças, estamos na expectativa de saber se terminamos em estado de prurido anal, coceira no ânus e obstipação crónica; ou de diarreia, ao menos resolúvel com terapêutica  eficaz, a fim de evitar a liquefação pútrida e letal de muitos portugueses. É que nem o hipoclorito de sódio ou outro anti-corrosivo têm capacidade de eliminar fungos, bactérias e outros germens acomodados em tais saladas.

Amanhã, “Das Partes do Sião”

Neste resvalar identitário da nossa nação, poucos portugueses saberão que existe uma “outra Inglaterra”, na Ásia. De facto, Portugal foi o primeiro país europeu a estabelecer um Tratado de Aliança com uma potência asiática há precisamente 500 anos. Nisto também fomos pioneiros e a nossa influência fez-se sentir de forma decisiva nos quatrocentos anos que se seguiram à primeira embaixada enviada ao Sião.

Comemoram-se os 500 anos do estabelecimento de relações diplomáticas e a Biblioteca Nacional de Lisboa, inaugura uma grande exposição evocativa. O Aventar não deixará de estar participar no acontecimento, testemunhando o nosso interesse por tudo aquilo que diz respeito a uma história tão única quanto rica. O Sião está presente n’Os Lusíadas, na Peregrinação, nas Décadas de Barros e nas Lendas de Gaspar Correia. Cobra parte relevante na preciosa documentação dos séculos que seguiram à missão enviada pelo grande Albuquerque e este património da nossa diplomacia, culmina nas visitas de S.M. o Rei Chulalongkorn (Rama V, em 1897) e de S.M. o Rei Bhumibol Aduliadej (Rama IX, em 1961) ao nosso país. Para os tailandeses, não somos “uns quaisquer”.

Esta exposição honra Portugal, exalta aquilo que ainda é uma Pátria. Desde já estão todos convidados para as cerimónias da inauguração, onde a já proverbial falta de um Presidente, será compensada pela comparência do sucessor daqueles que ajudaram a construir aquilo que ainda somos: S.A.R. o Duque de Bragança. Amanhã, pelas 18.00H de 7 de Dezembro, também se cumprirá Portugal.

O governo como agitador social

Todos os que não puderam fugir às várias contribuições, como é o caso dos funcionários públicos, estão, agora, a ser castigados, o que é justo, porque dos mansos será o reino dos céus.

Assim, depois de anos a contribuir para a construção de hospitais, escolas e estradas, depois de, por várias vezes, terem sido aumentados abaixo do valor da inflação, depois dos cortes salariais, depois de um corte no subsídio de Natal deste ano, depois de ficar dois anos (na menos pior das hipóteses) sem dois subsídios (ou seja, com mais um corte salarial), os mansos sabem hoje que todos os seus contributos foram desbaratados por corruptos e incompetentes e assistem ao triste espectáculo de um Primeiro-ministro que se limita a receber ordens de uma dupla chauvinista sem sequer tentar negociar a defesa das condições de vida dos portugueses.

Como se isso não bastasse, não há preço que não aumente, incluindo, por exemplo, o das taxas moderadoras, o que constitui, na realidade, uma sobrecarga contributiva para todos os mansos que andaram anos a descontar para um sistema de saúde que, por isso mesmo, nunca seria gratuito.

Para que o quadro fique completo, os mesmos mansos têm sido considerados uns privilegiados que têm vivido acima das suas possibilidades, responsabilizados pela dívida, confundidos com as gorduras que, afinal, ninguém corta, e têm sido aconselhados a ficarem calados, a não fazerem ondas, em nome de um desígnio que poderá ser financeiro, mas não é nacional.

É bom que se perceba, então, donde parte a agitação social. Falta saber aonde chegará.

Krokodil

As imagens são aterradoras e à primeira vista, parecem corresponder à dentada de um sáurio. Mas não, este “Krokodil” é de outro género e os seus despojos decerto não servirão para qualquer mala, carteira ou sapato de sofisticada marca.
Não passa de mais um exemplo deste admirável novo mundo, cheio de promessas e benesses para quem distribui certos produtos, garantindo a desgraça dos patéticos utentes.

*O site do link contém imagens chocantes e elucidativas.

Segurança Primeiro

Gosto de Portugal, gosto cada vez mais de portugueses: fazem em frente à esquadra da polícia tudo o que fariam noutro sítio qualquer. Ah, povo…!

Petição dirigida a Pedro Audi* Soares

Os Lares de Infância e Juventude têm vindo a ser dotados de equipas multidisciplinares desde 2007, estes tornaram-se um espaço de transição para estas crianças/jovens, onde foi trabalhado o projeto de vida de cada uma delas, de acordo com as especificidades que cada qual apresentava, com vista a uma possível reintegração familiar e/ou a sua autonomização de vida.

Portugal era em 2007 um dos países da União Europeia com uma taxa de Institucionalização de crianças e jovens muito superior à média europeia, com serviço pouco humanizado, centrado apenas na prestação dos cuidados considerados básicos até então: alimentação, vestuário e higiene. Tornava-se urgente uma mudança no paradigma Institucional!

Para dar resposta às orientações europeias previa-se que o Plano DOM levasse à desinstitucionalização de 25% de crianças e jovens até 2009 (aproximadamente). Esse objectivo foi atingido! A poupança e a viabilidade económica desta mudança paradigmática é um facto e deveria ser estimulada futuramente. O Plano DOM permitiu que se pudesse criar uma meta orçamental, a médio e longo prazo, muito mais vantajosa e económica. No entanto, pensamos que mais importante do que os números é a humanização da resposta, consideramos que esta é a principal resposta para os decisores políticos.  [Read more…]

Cromo do Dia: A dança das cadeiras

Gestores hospitalares (boys) nomeados pelo PS estão a ser substituídos por boys do PSD e CDS.

O memorando de entendimento assinado com a troika refere expressamente que os presidentes e membros das administrações hospitalares “deverão ser, por lei, pessoas de reconhecido mérito na saúde, gestão e administração hospitalar” – uma medida a aplicar já no quarto trimestre deste ano. A assessoria do Ministério da Saúde defende, porém, que a obrigatoriedade de concursos para novos dirigentes apenas se aplica “nos casos dos institutos públicos e das direcções-gerais”, ou seja, na administração directa do Estado. E alega que os hospitais EPE (entidades públicas empresariais) “não têm o mesmo estatuto” e a escolha fica nas mãos dos accionistas – que são os ministérios da Saúde e das Finanças.

Não prometeram ir mais além do que as medidas da troika? Estão a ir. Muda a música mas o baile é o mesmo.

jobs for the boys

A Alemanha e a sacanice soberana

Beneficiando da migração em massa do capital dos investidores para paragens mais seguras, os países mais ricos da zona euro têm poupado somas milionárias com a crise do euro. É o caso da Alemanha e da Holanda que têm usufruído de condições de financiamento muito mais favoráveis, face aos valores que os investidores exigiam em 2008 e 2009 para emprestarem dinheiro aos dois países.

De acordo com cálculos do Diário Económico, as 136 emissões de dívida da Alemanha realizadas entre 2010 e 2011 já permitiram ao Tesouro alemão poupar 1.587 milhões de euros nos últimos dois anos e assumir uma poupança de 11.451 milhões de euros até 2041, em resultado de uma correcção de quase 40% do custo médio de financiamento da Alemanha nos mercados desde 2009. Isto significa que a crise da dívida soberana já permitiu a Berlim acumular uma poupança média de 13.038 milhões de euros, o equivalente a 159 euros por cada alemão ou 0,52% do PIB do país.

Leitura recomendada depois de tomar uma pastilha contra o enjoo. Isto dá vómitos

PSD – História da Repressão (1989 – 2011)


Já estamos habituados. Em Portugal, a Direita Radical resolve os problemas sempre da mesma maneira quando está no poder: à bastonada. Foi assim durante o longo e estéril cavaquismo e continua, 20 anos depois, a ser assim. O actual primeiro-ministro não percebeu a lição.
Pedro Passos Coelho, já o disse aqui, está de cabeça perdida. A rua assusta-o de tal forma que a contestação ainda nem sequer começou a sério e, em apenas 5 meses, já adoptou a cartilha de Cavaco.
O que é grave: se num mini-ensaio do que vem aí a Polícia já começou a distribuir pancada a torto e a direito, imagine-se o que será quando todos começarem a sair para a rua. Quando isto estiver transformado numa nova Grécia.
O que fará então Pedro Passos Coelho?

Publicado originalmente no 5 Dias

Canções antigas

adão cruz

Na recordação das canções antigas veste-se meu coração das verdes folhas do desejo e entoa na fragrância dos campos a melodia dos olhos pendurados na profundidade do céu.

Na sombra da figueira diz-me adeus o sol em acenos de azul e violeta por entre os ramos e os sons de uma flauta de lábios doces que por ali poisou entre sonhos infinitos do lusco-fusco.

As primeiras chuvas do verão humedecem como lágrimas as palavras ditas e não ditas no silêncio dos caminhos perfumados de terra e folhas molhadas.

E nada se reconhece na lembrança muda das tardes que para sempre morreram mas os passos ecoam em silêncio por entre os pés das oliveiras onde outrora floriram mil risos de criança.

Que fez de mim este crepúsculo azul como flecha espetada no vento ferindo de morte toda a vida de meu sonho-menino?

Onde está a pedra que se fez montanha o regato que se fez rio a tripla chama infinita da vida luz e verdade que se apagou na alma nua quando sagradas selvas e misteriosas crenças de punhal à cinta quiseram que fosse santa?

Meu coração peregrino de seu perdido tesouro entre o sol e as desgarradas nuvens de infinitos céus ainda hoje se arrasta entre a razão e o abismo em pálido reflexo de ouro para ser criança na hora de partir.

Se há falta de políticos, a Standard & Poor’s faz política

A discussão sobre o papel das agências de notação na economia e dos interesses que representam já vai longa. A discussão sobre a influência política destas agências na “política, política” ainda mal começou.

A Standard & Poor’s ameaçou cortar os ratings de 15 países do euro, incluindo a Alemanha e a França. Curiosa é a forma como o aviso foi feito, em forma de comunicado político e com intenções deliberadamente políticas (e económicas, claro), de forma a condicionar a cimeira de líderes europeus:

O alerta – explicado em comunicados separados para cada um dos países – é justificado pela intensificação de situações de stress nas últimas semanas “na zona euro como um todo” e foi deliberadamente lançado antes da cimeira de líderes da zona euro e da União Europeia (UE) de quinta e sexta-feira, assume a agência.

Segundo uma nota com perguntas e respostas sobre esta decisão, a agência diz que a cimeira é “uma oportunidade para os responsáveis europeus quebrarem o padrão” que têm mantido: acordos sobre “medidas defensivas e tomadas aos poucos até agora”.

Também curioso é o facto de instituições e pessoas que preconizam soluções e caminhos diametralmente opostos ( ver declarações de Mário Soares ) convirjam em dois pontos: estes líderes não servem e as suas políticas também não.

Gestão hospitais: a dança dos ‘boys’

A história do Ministério da Saúde é das mais marcadas pelo emprego partidário. Escrita, de resto, com letra bem vincada pelos dois partidos do centrão, PS e PSD, com a participação do apêndice, CDS.

Na continuidade da tradição, a dupla PSD+CDS está a nomear ‘boys’ para os hospitais, afastando os ‘boys’ do círculo rosa. Trata-se de, uma vez mais, repetir a vergonha do favorecimento dos amigos em detrimento dos competentes. Neste caso, segundo o Público, desrespeitando o ‘memorando da troika’ que estabelece a realização de concursos. A luta desenfreada a nível das distritais partidárias é intensa.

Nesta, como em outras guerras, vale tudo. Há anos, numa secção da Margem Sul ‘laranja’, valeu ameaças de tiro entre militantes. Agora, o processo também não está a ser pacífico, havendo manifestações condenatórias.  O deputado do CDS, Helder Amaral, foi peremptório ao garantir:

[não estar] “disponível para pedir sacrifícios aos portugueses e depois patrocinar o amiguismo da pior espécie que julgava ser uma prática do passado”.

em reacção à nomeação de militantes laranja par o Hospital de Viseu.

No fundo, é assim: em determinados casos, aumento das taxas moderadoras, o cumprimento da ‘memorando da troika’ é dever sagrado. Na escolha de amigos para lugares bem remunerados por dinheiros públicos, Paulo Macedo repete o método da tão ignominiosa e tradicional ‘cunha à portuguesa’, descartando-se da troika e do memorando. Há seriedade nisto?

maldade minha…

O Aventar está em todas*

Para tristeza minha, não sou militante do PSD no Porto. Se fosse, o meu voto seria, sem qualquer sombra de dúvida, para o Ricardo.

 

O Porto precisa de se renovar, de olhar para o futuro. Para o fazer é fundamental mudar de protagonistas. Nos anos noventa, quando fui dirigente estudantil universitário disse, a uma jornalista do Público, que o Ricardo Almeida era, na minha geração, uma das pessoas em quem mais apostava em termos futuros. Na altura, o Ricardo, era Presidente da AE da Faculdade de Engenharia do Porto. Passado algum tempo, foi eleito Presidente da Federação Académica do Porto (FAP) e esta viveu dois dos seus melhores anos de sempre. Mais tarde, foi eleito deputado na AR. A seguir, avançou para a Porto Lazer e a ele muito se deve um dos maiores eventos que a cidade já viu: Red Bull Air Race. Recentemente, passou a liderar a Gaianima e o seu trabalho é já visível em tão poucos meses (redução substancial do passivo). Pelo caminho obteve duas licenciaturas, ambas em Engenharia (Engenharia de Minas e Engenharia do Ambiente), foi professor, gestor de empresas privadas e activo militante do PSD no distrito do Porto. Trabalhou com Rui Rio e trabalha com Filipe Menezes. Conhece todos os autarcas, boa parte dos militantes e, mais importante, respira “Porto” como poucos. É o homem certo, no momento e lugares certos.

 

Li no blog “Pau para toda a obra” que Filipe Menezes considera que a cidade do Porto precisa de uma liderança forte. Se precisa. Está na hora de o Porto ter à frente dos seus destinos alguém que ame verdadeiramente a cidade, que a governe com total dedicação e empenho e não, nunca, como um meio para atingir um fim a ela alheio: rumar a Lisboa. Recentemente, o Ricardo não teve dúvidas e preferiu ficar. Agora escolheu um novo desafio: liderar a concelhia do Porto do partido que actualmente dirige os destinos da cidade. Terá uma tarefa complicada: ajudar a escolher o sucessor do actual Presidente da Câmara Municipal do Porto. As pontes que sempre soube construir entre as duas margens do Douro serão fundamentais no seu trabalho. Estou certo que saberá levar a bom Porto esta Nau.

 

Dizem as más-línguas que ele é o candidato apoiado por Filipe Menezes contra Rui Rio. Da mesma forma que outros afirmam o contrário. Só quem não o conhece acredita nestas fábulas. A grande virtude do Ricardo, considerada enorme defeito para muitos, é saber ouvir e pensar pela sua cabeça. É por isso que se eu fosse militante do PSD no Porto não tinha dúvidas e votava em Ricardo Almeida e no projecto “O Porto sempre em primeiro”.

 

*O Ricardo já andou pelo Aventar.

Cautela! Crianças e operários estão a ser explorados

kid2.jpg

 Estou ciente de me ter referido às formas em que crianças e adultos pobres são tratados em vários sítios do mundo, como se fossem os despojos do dia, ou a escória da vida social. Vida social a que aspiramos como o ninho da nossa vida. Vida social que estimamos seja solidária, amável e reciproca. Reciprocidade definida por Marcel Mauss

[Read more…]

Hoje dá na net: Caminho de Ferro de Benguela, a história de uma linha de comboio

É uma história de ingleses, portugueses e angolanos.

Uma história de impérios, de colonialismos, de independências, de guerras civis, de processos de paz. Um olhar sobre o passado, o presente e o futuro de uma linha de comboio em África, a linha do C.F.B. (Caminho de Ferro de Benguela), da baía do Lobito à República Democrática do Congo.

É uma história de cidades construídas e  destruídas, de gerações a olhar o “Kamakove” ou a sua ausência, de restos de viagens, de fumo e de vapor, de faúlhas, de vida e morte à beira linha.

Este documentário é composto por 11 partes. A primeira parte, tal como a última, são sequências fotográficas.