Os professores também mentem

Marcelo desiludiu e mostrou a face que os mais inteligentes lhe conhecem. De caretas. Homem da televisão, homem da rádio, homem da imprensa escrita, esqueceu-se que na era da internet, todos podem facilmente com um clique fazê-lo lembrar das incongruências ditas no passado em relação à opinião manifestada no presente. A cair a pique na consideração daqueles que “tanto gostam de o ouvir”…

O Américo Tomás do século XXI

Luís Manuel Cunha

Costuma dizer-se que a história tem tendência a repetir-se. Primeiro como tragédia, depois como farsa. Estávamos em 1969. Em 22 de Junho de 1969. A Académica preparava-se para disputar a final da Taça de Portugal com o Benfica no Estádio Nacional, no Vale do Jamor. Estava-se em plena crise académica despoletada após a prisão de Alberto Martins, então presidente da Associação Académica e na subsequente greve aos exames. A equipa de futebol, constituída maioritariamente por estudantes universitários, respeitava escrupulosamente o luto académico decretado em Assembleia Magna da Academia. Preparavam-se grandes manifestações dentro dos estádios, de apoio aos jogadores, de informação à população e de divulgação das razões da luta estudantil. O Vale do Jamor e particularmente o Estádio Nacional iriam transformar-se no maior comício alguma vez feito contra o regime salazarista. Que fez então Américo Tomás, a quem competiria entregar ao vencedor a taça conquistada? Simplesmente não apareceu. Cobardemente. [Read more…]

A Pior Pobreza é a de Espírito

Não tem cura e, a partir de certa altura, é indisfarçavel.

Eles são como o Cavaco Silva

Adoram andar de comboio! e não sabem se o rendimento chega para pagar as despesas.

Ele Anda a Pedir

Se Aquele-que-é-mais-honesto-duas-vezes que qualquer vulgar patego lhe pedisse para lhe dar, você dava-lhe?

A quebra eleitoral do Bloco de Esquerda: factos

Roubei e adaptei este gráfico ao Pedro Magalhães: dá-nos a tendência das sondagens (neste caso relativas a BE, PCP e CDS) desde Janeiro de 2010. A seta coloquei-a no último pico favorável ao BE; a partir de finais do ano passado foi sempre a descer.

As sondagens valem o que valem (mas no caso do BE até valeram mais do que isso).

A quebra do Bloco de Esquerda e o início da pré-campanha de Manuel Alegre, feita de braço dado com o PS de José Sócrates, é pelo menos uma coincidência, que me parece significativa.

Más companhias…

Actualizando: o Pedro Magalhães teve a amabilidade e curiosidade de ampliar o gráfico de forma correcta, e substituí a mera ampliação gráfica pela sua. “A linha vertical é Novembro de 2010, início aproximado do declínio de Manuel Alegre nas sondagens para as presidenciais.” – fim de citação.

O Discurso do Presidente, com Anos de Atraso

DÉCADA PERDIDA
O senhor Presidente de Portugal tomou ontem posse.
Por essa razão fez um discurso, e a maioria dos comentadores entendeu que foi arrasador para o governo que nos governa, tendo acabado com a cooperação institucional.
Ora se foi assim, e ouvido o discurso, foi assim mesmo, pergunto-me o que terá mudado para que tal tenha acontecido. Ainda não há muitas semanas, a cooperação existia e ninguém queria arrasar qualquer outro ninguém, e os pressupostos agora apresentados já são de todos conhecidos há muitos meses, tendo vindo muitos dos alertas do Banco de Portugal e muitos outros de todos nós, as variadíssimas gerações de rascas e à rasca.
O que mudou foi o mandato do Presidente. Estamos no segundo e último, e durante o primeiro não convinha fazer muitas ondas para assegurar o segundo. Tem sido assim desde há muitos anos. Todos os Presidentes pós revolução assim procederam. Um primeiro mandato frouxo e amorfo e um segundo interventivo.
Falou o de novo Presidente numa década perdida. Não me posso esquecer que dessa década, metade do tempo tivemo-lo como Chefe. É co-responsável com este (des)governo por omissão, e agora, segundo mandato assegurado, quer remediar o erro propositadamente cometido.
Mas não me parece que tenha coragem para, assumindo o que disse deste governo, o despedir. Vai esperar que sejam os deputados da Nação a tomar essa medida.
E por este andar a década vai ter mais anos do que deveria ou poderia ter.
Para que serve então o primeiro mandato presidencial? Para que serve então ter um Presidente em Portugal? Para que nos serve esta República?

Eleições presidenciais: as situações deveram-se a ocorrências

 

Bronca eleitoral deveu-se a várias “fragilidades”

De acordo com as conclusões divulgadas, os problemas verificados nas eleições de 23 de Janeiro, e citando o relatório, tiveram origem numa “convergência de razões de natureza operacional e de natureza técnica“. Para além disso, ficamos a saber que “uma outra gestão da mesma infra-estrutura tecnológica poderia ter sido suficiente para evitar os comportamentos anómalos ocorridos no dia 23 de Janeiro“. Daí pode concluir-se que essa mesma infra-estrutura se mostrou “inadequada à resposta de grande concentração de solicitações”, o que não significa que “exista obrigatoriamente uma necessidade específica de reforço da componente computacional”.

Dito de outro modo, e tendo em conta a informação disponível sobre as conclusões do relatório acerca dos problemas ocorridos durante as eleições presidenciais, é possível deduzir que esses mesmos problemas foram consequência das respectivas causas, ou seja, que algumas situações se deveram a certas ocorrências, ou melhor, que, no fundo, as coisas correram mal pela simples razão de que não correram bem. Um estudo mais aprofundado sobre o tema poderia, mas só se fosse realizado, conduzir a um aprofundamento do assunto, do mesmo modo que uma análise mais incisiva dos eventos poderia levar a que se pudesse perceber cabalmente o que era perceptível.

Política à nossa moda – Do Emplastro de Boliqueime ao Araújo de Barcelos

Muita coisa se tem dito e escrito sobre Cavaco Silva. Que para ser Salazar só lhe faltavam as botas, creio que terá sido um chiste atribuído à elegância linguística de Mário Soares. Que os seus governos, com Oliveira e Costa e Dias Loureiro, não passavam de uma espécie de gruta de Ali Babá e os 40 ladrões, não será mais que uma alegoria com pouco sentido. Que Cavaco pouco percebe de finanças e tirou o curso de Economia “numa embalagem de farinha Amparo” é apenas um paradoxo do Inimigo Público. E quando, parafraseando Kennedy, Cavaco poderia dizer “não perguntem como seria eu sem o país, perguntem como seria o país sem eu”, pensar-se-ia que, sem o conservadorismo paroquial da personagem, Boliqueime poderia muito bem ter, por exemplo, o maior bordel da Europa e deixar de ser conhecida como a terra do Aníbal, o filho do Teodoro da bomba. [Read more…]

Tolhidos

Por SANTANA CASTILHO

A campanha eleitoral para a presidência da República foi pouco esclarecedora e lamentavelmente decepcionante. Não foi nobre o processo pelo qual os mascarados do costume trouxeram a escrutínio passagens menos edificantes dos negócios de Cavaco Silva. Mas foi deprimente a forma como o candidato, presidente presente e presidente futuro, lhes respondeu. Sem decoro, o ministro do malhanço, que não deixou de ser da Defesa, atiçado pelo animal feroz, que continua primeiro-ministro, zurziu sem elegância o candidato que ainda era presidente da República e chefe máximo das forças armadas.
O eleito respondeu-lhe, enviesado e rancoroso, num discurso que devia ser de vitória e acabou em perda, particularmente quando apelou para que os jornalistas denunciassem as fontes das notícias que o incomodaram.
O mesmo Cavaco que se desagradou com o comportamento lamentável do Diário de Notícias, aquando das escutas de Belém, exortou agora ao mesmíssimo remexer na lama que então manchou a honra e a ética do jornalismo sério. Tão clara e indiscutível como a vitória que as eleições lhe conferiram foi a sua queda do pedestal onde os indefectíveis o colocaram. [Read more…]

A soberania e os seus descontentamentos

Voo às cegas.

a soberania é democrática quando o governo é do povo, pelo povo e para o povo. ...

Texto reiterado para arrebitar a memória pelos tempos que correm

O subtítulo tem dois significados. O primeiro, é simples: escrevo este texto no dia 24 de Setembro e a denominada eleição legislativa, é no Domingo a seguir, 27. Mas, o meu texto deve estar entregue ao jornal esta Quinta 25. Não sou bruxo, tenho palpites. Esse palpite diz-me que deve ganhar quem melhor se entenda com a crise financeira que se vive na Europa, essa praga de Portugal. Como no Chile. Em breve começa a corrida para a Presidência da República. Quando havia ditadura, todos os partidos democratas juntaram forças para derrubarem um ditador que faleceu réu de crimes de sangue, mas faleceu réu. Nas mãos da justiça. Com a democracia restabelecida, os partidos deram aos seus candidatos poderes muito pessoais e a Concertação Social começa a desaparecer, após ter elegido quatro excelentes Presidentes da República. Será que esta

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Portugal, esse país latino-americano

cartão do cidadão

Muito gritaram os socialistas – e bem – quando Manuel Ferreira Leite falou em suspender a democracia por seis meses. Mas onde estão agora essas vozes quando esta foi de facto suspensa por um dia para alguns milhares de portugueses?

Depois dos casos de justiça que se arrastam para darem depois em nada, dos grandes empresários que nada arriscam fora do papá estatal, dos ajustes directos milionários e do omnipresente Estado presente na sociedade e na economia, só nos faltam eleições suspeitas para o chavismo cá chegar.

Adenda

Ora aí está uma das vozes que clamou por causa da “suspensão da democracia” e agora vem com um discurso cauteloso. Transformar “problemas técnicos, num problema político”? Desde quando milhares de pessoas não terem podido votar não é um problema político?!

Portugal, esse país latino-americano

Portugal, esse país latino-americano Post movido para este local: http://aventar.eu/wp-content/uploads/2011/01/image213.png2011/01/27/portugal-esse-pas-latino-americano

Verdades privadas, mentiras públicas

A cidadão Barbara Wong tem o legítimo direito de ter um filho num colégio privado sustentado pelo estado, e de estar contra as medidas do governo que a colocam perante a questão de o colocar numa escola pública. Afirmá-lo e defender os colégios privados no seu blogue também não me parece incorrecto, antes pelo contrário.

Já a jornalista Barbara Wong quando escreve no Público de hoje isto

A tutela não vai ceder às pressões  – hoje duas dezenas de escolas serão fechadas pelos pais na região de Coimbra –, e mantém que os colégios que não assinarem as adendas aos contratos não serão financiados.
Até ontem, 57 já tinham firmado. Faltam 36. Todos são financiados para oferecer educação gratuita aos alunos de determinada região, onde não existe oferta pública.

(o sublinhado é meu) sabe que está a mentir. O mapa  da rede escolar pública e privada que publiquei ontem demonstra como isso não é verdade em Coimbra cidade, e na esmagadora maioria dos colégios de Coimbra distrito, acrescento. Estas escolas concorrem com a rede pública a quem roubam descaradamente alunos, numa das piores “parcerias público-privadas” que temos. Na maior parte dos casos nunca fizeram falta: muito simplesmente responsáveis locais pela educação, onde sobressai a viúva de Mota Pinto foram privatizando o ensino, dando chorudos lucros a empresários tipicamente portugueses: à sombra do estado é que estão bem.

É indigno, e digo-o na qualidade de leitor do Público. Na qualidade de professor já nem digo nada, mas artigos como este aqui criticado vão-se entendendo melhor.

O elefante na sala

As pessoas estão fartas dos políticos e das suas cantigas de embalar. Da esquerda à direita vemos todos os dias aparecerem novos casos que provam, sem sombra de dúvida, que a nossa classe política vive cada vez mais apenas para ela mesma. Desligada das necessidades e sentimentos daqueles que supostamente são a sua razão de ser, os eleitores e demais cidadãos pelos quais são responsáveis. Os políticos preferem chafurdar no pântano da pequena política, preferem o golpe mesquinho que lhes dá uma um pequenino ganho material, preferem representar “O Padrinho“.

Estas últimas eleições presidenciais são exemplo disso:


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Presidenciais – epílogo

-Terminadas as presidenciais, é hora de fazer um balanço sobre vencedores e vencidos, sim, apesar da manifesta falta de interesse dos portugueses no plebiscito, a abstenção terá sido a grande vencedora no passado Domingo, apesar de tudo havia mais em jogo para lá de decidir o nome do inquilino do palácio cor de rosa situado próximo da Antiga Fábrica dos Pastéis de Belém, durante os próximos 5 anos. [Read more…]

Mudança: candidatos a presidência por apenas um mandato

Vamos no quarto presidente da república desde o 25 de Abril e o padrão começa a ficar claro. Um primeiro mandato contido, com o último ano a servir de campanha eleitoral, e um segundo mandato mais interventivo, sem o peso de tentar a re-eleição.

Querendo-se um presidente da república descomprometido, torna-se obrigatório que apenas lhe seja permitido um mandato. De outra forma continuaremos a assistir a este padrão comportamental, com o mal que tal tem feito a nós cidadãos. Por exemplo, teria esta miserável lei eleitoral sido promulgada se Cavaco não estive com o olho na reeleição?

Defendo por isso que cada pessoa apenas se possa candidatar a um mandato consecutivo, ao contrário dos dois que agora pode tentar. Nem que o mandato tenha que ser aumentado para 6 anos. Falta de voluntários para o cargo não será problema, como ainda no passado domingo se viu. Ganha a transparência e ganhamos nós.

E o Pagode Paga e Não Bufa

SUBVENÇÃO DO ESTADOS PARA OS CANDIDATOS CHEGA AOS QUATRO MILHÕES

Agora que as eleições findaram, vamos a contas. Enquanto uns esfregam as mãos de contentes pois vão receber mais do que esperavam, Cavaco e Nobre, outros, Alegre e Lopes, irão receber pouco para o que estavam à espera, e ainda outros, Coelho e Moura, não receberão a ponta de um chavo.
No total, o Estado, nós, vamos pagar aos candidatos, ganhador e perdedores acima dos 5%, quatro milhões de euros, para os ajudar, coitadinhos, a pagar as despesas que tiveram com a campanha eleitoral.
A somar a estes números, temos que acrescentar o que se gastou em boletins de voto, em propaganda, em horas pagas aos senhores e senhoras que estiveram longas horas nas secções de voto e aos que depois os contaram, em tempo de antena, em horas de trabalho perdidas nos empregos, etc., etc., etc.. [Read more…]

Ainda as Presidenciais: Coelho, Nobre e o resto

Coelho e Nobre incandesceram a noite das presidenciais. Homens da comunicação social, politólogos, comentadores e gente anónima assim ajuizou. Concordo também, recusando,embora, deter-me na mera constatação dos factos. Há capítulos da história eleitoral para investigar e tentar interpretar as causas do sucesso de ambos. Sim, as causas existem e são diferentes para cada um deles.

Os votos em Coelho, perfazendo 4,50%, foram produzidos por razões demográficas e políticas distintas, se considerarmos a distribuição geográfica dos eleitores. O discurso cru e terra-a-terra, no Continente, rendeu-lhe os votos de descontentamento e do protesto em relação à classe política convencional; na Madeira, onde colheu 39% de votos, abaixo apenas 5% de Cavaco Silva, poderá significar que, naquele arquipélago, o estilo boçal e dominador do Alberto João, apenas, será susceptível de ser combatido com eficácia, se as armas utilizadas estiverem no mesmo comprimento de onda.

Passamos a Fernando Nobre. Tido por  homem bom, mas sofrendo de entropia comunicacional, chegou ao resultado de 14,1%,  o qual até parece ter surpreendido o próprio. Se Nobre comunicava de forma deficiente  e, em reportagens das TV’s, revelava fraca atracção popular, excepto no Bolhão, como se justifica, então, a percentagem de votos alcançada? Uma das explicações, a meu ver, foi ter contado com o suporte da máquina soarista; da qual o rosto mais emblemático foi a mandatária Margarida Pinto Correia – havia sido há anos mandatária para a juventude de Mário Soares.

Voto obrigatório: o capitoso sorriso do Sr. Marcelo


Bem avisámos que esta eleição era passível de ser um teste à legitimidade da instituição. Não nos enganámos.

Após a vergonhosa derrota de ontem, os esquemáticos preparam já um pífio Tordesilhas, iniciando as sugestões para a introdução do voto obrigatório. O Sr. Marcelo Rebelo de Sousa, assim de forma mais ou menos desinteressada sugere o dislate e já se espera uma concordância por parte do PSD. No PS levantar-se-ão algumas vozes dissonantes como a praxe estrabelece, mas finalmente e para o bem da democracia, surgirá um projecto consensual que ditará a respectiva aprovação parlamentar.

Antes de ser um dever, o voto é um direito. A absurda obrigatoriedade, implica o reconhecimento da falta de credibilidade que atinge a generalidade dos agentes políticos, hoje mais que nunca, imensamente carentes de legitimidade. O dever decorre da lisura dos processos eleitorais que saem da Lei, onde o sistema electivo pode ou não adequar-se às necessidades da população. De facto parece ser aceite, a enorme discrepância existente entre o eleitor e o eleito, permitindo os caricatos episódios que têm pontilhado de má fama um Parlamento que deveria ser o supremo órgão de soberania. Estorietas de viagens, truques de residência para a obtenção de “ajudas de custo”, subsídios imerecidos, abusivas ajudas de custo e o boyismo militante que sufoca a respeitabilidade dos parlamentares, como ou sem razão são motivo de contrariada chacota por parte do homem da rua, cada vez mais descontente com o rumo da coisa pública. A seu ver, o Parlamento resume-se a um bando de vulgares tagarelas de tasca de bairro e a uns tantos cartões de crédito, bilhetes de avião, comezainas, carros de luxo e hotéis pagos pelo erário público.

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Vamos descobrir do que é capaz Cavaco Silva

Estavam à espera que viesse aqui comentar as presidenciais? Claro que não. Nem estavam à espera, nem eu as vou comentar. O que tinha a dizer, já disse no chat do Aventar na noite eleitoral.

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Vim aqui hoje apenas dizer que a melhor frase de todas as análises das presidenciais foi escrita pelo Pedro Rolo Duarte. É esta:

A reeleição de Cavaco vai trazer-nos a revelação: vamos finalmente saber quem é este homem. E do que é capaz.

O espantoso, no mau sentido, discurso de vitória de Cavaco, cheio de azedume, com laivos de rancor, deve ter servido para levantar o pano. E não vale a pena ir mais longe.

Cavacógrafo substitui detector de mentiras

«A vitória de hoje é também a vitória da verdade sobre a calúnia. A honra venceu a infâmia e a qualidade da democracia ganhou com esta vitória da dignidade»

Cavaco Silva

 

 Cavaco Silva, considerado em alguns círculos o Edison português, já registou a patente de um sistema que irá substituir o polígrafo, vulgo detector de mentiras. Doravante, bastará que 25% dos eleitores portugueses votem em qualquer pessoa seja para que cargo for e ficará, assim, estabelecido que a pessoa em causa não mentiu. Trata-se de uma inovação tecnológica que, apesar do preço elevado e da complexidade que lhe é inerente, é considerada infalível pelo também chamado Professor Pardal de Boliqueime. Entretanto, o ilustre cientista irá aproveitar o segundo mandato presidencial para desenvolver uma nova técnica de inseminação artificial que poderá permitir aos portugueses nascer duas vezes.

As presidenciais: todos os vencedores.

Pieter Bruegel, o Velho, Parábola dos Cegos (ou "Portugal")

Moral da história: na República Portuguesa “todos” ganham; ganha Cavaco Silva (mesmo com a pior votação de sempre, votação essa que não interessa minimamente para o que vai fazer nos próximos anos); Alegre ganha (talvez) juízo, e uma reforma dourada que utilizará para escrever éclogas contra o fascismo; Fernando Nobre ganha tenho para pensar na sua falta de carisma e sensatez; o Partido Comunista nunca perdeu e ganha mais confiança para as próximas eleições; José Manuel Coelho ganhou, efectivamente, na Madeira podendo vir a substituir na cadeira de poder do ilhéu o coronel Jardim. Ganharam meia dúzia de velhinhas info-excluídas a lição de atempadamente pedirem aos filhos e aos netos que preparem a ida à urnas, que já não estamos em 1933 e já é a quarta vez que se realizam eleições existindo o Cartão do Cidadão. Ganham os que perderam tempo a ir escrever tolices nos boletins, ou a deixá-los em branco para o Cavaco ganhar na mesma, como se sabia, desde que ele anunciou a candidatura. E, apesar de o senhor Professor Doutor de Boliqueime, o senhor mais honesto de Portugal, filho de um gasolineiro e único sustento de uma família com 4 reformas (a menor delas abaixo dos 800 euros) ter obtido a pior votação de uma eleição presidencial, ganhou mais 5 anos de silencio intercalado com momentos espasmódicos de regabofe. Ganharam os  monárquicos a ilusão de uma abstenção fenomenal que julgam traduzida num súbito desejo de uma Restauração e, pelo mesmo motivo, ganharam aqueles velhos anarcas de boina preta que acham que o “povo” está a preparar uma revolução em silêncio. Ganhou a maçonaria que apoiou Alegre, mas também Nobre sob o jugo despótico de Soares e ganhou Soares que por pouco não tinha uma apoplexia, depois de rir desalmadamente com a votação dada a Alegre (mas, afinal, alguém do Partido Socialista votou nele?). Ganhou José Sócrates que desterrou Alegre da política, continua com um emplastro na chefia de Estado e prossegue à vontade com mais 5 anos de desgoverno. Ganhou a Igreja que, depois da aclamação na varanda, ungiu o reeleito presidente, pedindo-lhe que continue a opinar sobre as causas fracturantes como representante de 25 % do eleitorado católico. Em suma, ganhou a república portuguesa e os seus homens que sempre disseram que o estado é para os republicanos (mesmo que fingidos). Talvez não tenha ganho uma minoria de 9 a 10 milhões de portugueses, mas isso não interessa. Há 100 anos que esta minoria é irrelevante.

Presidenciais: Cavaco passa à segunda volta

Três glosas sobre a expressão “segunda volta”

Glosa primeira: Cavaco ao ataque

Em termos futebolísticos, a segunda volta é a segunda parte do campeonato, a parte em que tudo é, ainda, matematicamente possível, mesmo quando já se sabe, no fundo, qual será o clube vencedor, porque o possível é, tantas vezes, improvável. Cavaco passou, então, à segunda parte do campeonato e já prometeu mudanças tácticas e estratégicas: se, na primeira volta, jogou à defesa, com dois trincos e três centrais numa magistratura de influência, a partir de agora, vai prescindir de um central e de um trinco e passará a jogar com três pontas de lança, num exercício de maior intervenção. Cavaco acredita, portanto, que é possível recuperar a desvantagem que tem no fim da primeira volta e não duvido de que o seu habitual calculismo lhe traga frutos: mantendo-se aliado aos mais poderosos, garantirá a vitória no campeonato, ao mesmo tempo que continuará a contribuir para a já esperada despromoção dos mais pequenos. [Read more…]

A grande vitória…


53,37% dos portugueses, decidiram-se pela greve ao frete que o esquema vigente insistiu em apresentar como grande oportunidade para a resolução dos problemas do país.

Portugal conta com um Chefe do Estado eleito por perto de um quarto do eleitorado e as reacções ao glorioso evento, foram visíveis no passatempo prodigalizado pelas tv. Uma sala ou um hall a abarrotar com umas vinte pessoas, resumiu o auspicioso acontecimento e o discurso de “vitória”. Os grandes planos foram constantes, evitando-se o vexame de qualquer tipo de comparação com outros programas, entre os quais o Preço Certo manifesta maior poder de fidelização.

Desde o primeiro minuto do anúncio do “vencedor”, teve início uma generalizada manobra de diversão, apontando os porquês da fraca participação no acto. Um dia seco, frio mas solarengo, não era susceptível de servir de argumento e assim, a CNE está com as culpas todas e o cartão único do cidadão, serviu perfeitamente. A televisão oficial teve o desplante de dizer que se verificavam gigantescas de filas, com gente ansiosa por exercer o seu direito. Imagens comprovativas do despautério, nem vê-las! Outros, falam abertamente de trafulhices, fraude, cacicagem, golpada – a conhecida chapelada – e outros truques que há muito desapareceram do nosso dia a dia.

Tudo continuará como dantes e não se prevê qualquer grande actividade do “vencedor”, a não ser o prosseguir da sua cooperação estratégica para não se sabe bem o quê. Fala da “grande diferença” da sua votação, mas vistas as coisas como elas realmente aconteceram, os 25% de eleitores da Cavacolândia – traduzidos em 53% de votos contados -, não são significativos para qualquer intuito de um neo-sidonismo sem pingalim e cavalo. A única semelhança com o pretérito presidente de há noventa anos, será a “sopa dos pobres”. Não funcionou o incutir do medo pelo que aí está para chegar e aqueles que desde há dois anos têm trombeteado a chegada da 4ª República, a presidencial, bem podem mudar de conta bancária. Em comemoração da centenária, o país percebeu quem é esta gente.

Já não estamos “pelos ajustes”. Lá se foi a legitimidade.

Presidenciais: a luta continua!

0630_guangyiPara os meus lados as eleições correram muito mal para Manuel Alegre e muito bem para José Manuel Coelho.

José Manuel Coelho ficou no quase quanto aos 5% que lhe dariam direito a financiamento da campanha, mas na Madeira tem uma base para as eleições regionais que coloca toda a oposição ao PSD-M a olhar com cara de parva. Falta ver quem o vai acompanhar e aí temo o pior. Pode vir a ser a minha indigestão de votante mas para já foi bom: a azia do intelectual de esquerda, o militante com horror a pobre, está-me a compensar não haver 2ª volta.

O caso Alegre, e de muito do milhão de votos ter horror a Sócrates, pode terminar numa coisa estranha, uma espécie de derrota de pirro do Bloco de Esquerda. Saindo cabisbaixo das presidenciais, naquilo que interessa – as legislativas não se sabe quando – pode vir a capitalizar a aproximação ao que sobrava de esquerda no PS, os últimos alegristas, como de resto já sucedeu em Setembro. O problema é que pode vir ou pode não vir a. Nunca se sabe. Para já sabe-se que os eleitores do BE saem do rebanho, o que faz só faz bem à saúde da esquerda.

Francisco Lopes vai passar a aparecer mais vezes na televisão. Se será o sucessor de Jerónimo Sousa é tão irrelevante como, não havendo segunda volta, foi toda a  sua campanha: não fez crescer o PCP, e ainda tem o amargo de boca de ter  visto fugir para José Manuel Coelho os votos que contava pescar para os lados do BE.

Bem, e agora é dia 23, vamos lá ouvir as explicações sobre a casinha da Coelha. E talvez comece o julgamento de Oliveira Costa. Ou como se grita em agitpropês: a luta continua, cavaco para a rua.

Cinzas desta eleição

(adão cruz)

Cinzas desta eleição

 

Deu cabo deste país

Todo podre esburacado

E o povo ainda lhe diz

Sim Senhor muito obrigado.

Mais uma vez deu em nada

Nossa esperança e ilusão

Sempre a mesma cavacada

A escavacar a nação.

Foi tudo por água abaixo

S’alguma coisa inda houvesse

Só o povo fica sem tacho

Tem aquilo que merece.

Este povo é cegueta

Não vê nada para a frente

Não vai lá nem á marreta

Nem é povo nem é gente.

Não é povo nem é nada

Este rebanho dolente

Mesmo morto à paulada

Corre feliz e contente.

Nada mais tem a perder

A gente desta nação

Não vale a pena viver

Quando se perde a razão.

Presidenciais: Conclusão

O Prof. Cavaco Silva, a meio do discurso de vitória, afirmou que o seu próximo mandato será pautado por uma “magistratura actuante”. Ora, o anterior foi, palavras do próprio, uma “magistratura de influência”. Posso estar confundido mas de “influência” para “actuante” vai uma enorme diferença.

A mudança é fruto do que se passou durante a campanha eleitoral e, de igual forma, do resultado final destas eleições. Podemos olhar para os resultados de várias maneiras e conforme os gostos – Cavaco Silva, Fernando Nobre, Francisco Lopes, José Coelho e quase quase Defensor Moura cantaram vitória. Por sua vez, o valor da abstenção foi o maior de sempre (53,7%) e que dizer do valor dos votos em branco (4,26%) ou dos nulos (1,93%)?

O Presidente Cavaco Silva percebeu, muitíssimo bem, aquilo que aconteceu: venceu, é certo, mas ficou aquém do que desejava fruto de duas coisas muito simples mas bem significativas: uma campanha cuja recta final foi torpedeada por notícias nada abonatórias para a sua honra e honestidade e devidamente “cavalgadas” pelos partidários de Sócrates; um claro protesto maioritário contra o sistema e contra aqueles que, directa e indirectamente, suportaram este governo (fosse através de uma magistratura de influência, fosse pela pressão nunca vista da ala “cavaquista” para uma aprovação “sem espinhas” do actual orçamento de estado). Basta juntar a abstenção recorde, com os votos brancos (cinco vezes mais) e os nulos. E nem me atrevo a acrescentar o voto em José Coelho e parte substancial do voto em Fernando Nobre.

No seu conjunto, o povo deixou uma mensagem clara: o Presidente é reeleito mas o aviso fica feito.

Os outros destinatários não sei se perceberam. Já Cavaco Silva percebeu e daí a mudança de “magistratura”. Da mera e ambígua “influência” para a “actuante” é todo um novo caminho, todo um programa…

Breves notas de rodapé:

1. O discurso de derrota de Manuel Alegre merece um forte aplauso. Foi digno.

2. O resultado de José Coelho no Continente é surpreendente. Na Madeira é um forte aviso de duplo destinatário: para Jardim e para a actual oposição socialista na ilha.

3. A votação expressiva de Fernando Nobre merece destaque: é verdade que foi menor que a de Alegre nas anteriores mas o Presidente da AMI nunca teve a exposição pública deste nem qualquer cargo político de relevo.

4. O discurso de Pedro Passos Coelho foi brilhante e uma bofetada de luva branca em muito boa gente…

(Igualmente publicado AQUI)

José Manuel Coelho venceu no Funchal, no Machico e em Santa Cruz


Todos os resultados por distrito no site do Público.

O presidente de vinte e tal por cento dos portugueses

queijo suíçoCom mais de 50% de abstenção, Cavaco conseguiu metade dos votos. O que significa que o presidente de todos os portugueses foi eleito com dois milhões e tal de votos. Cerca de 25% dos eleitores e de 22% dos portugueses. Uma fatia apenas do queijo eleitoral.

Isto numa eleição onde os votos em branco não contaram, já que, caso contrário, Cavaco ficaria aquém dos 50% e haveria segunda volta. Cavaco é pois um Alegre’2006 em dobro, apesar de mais magriço. Já Alegre’2011 passou de um milhão para 800 mil votos, o que representa uma nítida quebra no valor bolsista. Ai, os mercados…

Falta agora saber da apetência do reconduzido presidente para o bombas atómicas e cogumelos nucleares. Por bolo-rei já sabemos que é considerável mas há que mudar a dieta. Um fondue de queijo em molho de parlamento dissolvido far-lhe-á o gosto? Vamos ver o que diz a ASAE, já que estamos perante um prato com validade de alguns anos…