Os artistas de circo na hora da morte de Otelo

Capaz de defender tudo e o seu contrário: eis o bufão-mor.

Honra lhe seja feita:

   A morte do Otelo e a posterior decisão de António Costa de não decretar luto nacional, teve o condão de pôr os mais acérrimos críticos do primeiro-ministro a beijar-lhe os pés.
   Ler o João Miguel Tavares, o pinscher da opinião política, a louvar Costa por esta decisão, não só é lindo (o amor tudo supera), como é, ao mesmo tempo, embaraçoso. É preciso lembrar que esta gente é a mesma que, há uns meses, depois do inconsequente derrube de estátuas, veio defender, com o ar mais paternalista do mundo, que “é…preciso…enquadrar…na…época…não…podemos…julgar…com…os…olhos…de…2020…o…que…se…passou…em…1920!”. Teriam razão, se, agora, não se prestassem a fazer estas figuras quando o tema é Otelo, usando, como combustível, as FP-25 (e isto também é gente que tem zero para dizer acerca das spínoladas e do MDLP).
   Ainda assim, é natural: a postura de reaccionarismo, típica da direita em Portugal, leva-os a cair neste ridículo vezes sem conta. Não se cuidem, não…

Fotografia: José Carlos Carvalho

Uma aparente recaída

It was a little melody I had, and I started writing words. They seemed to be very simple and very corny, but they seemed to fit. There was no way I could make them more grammatical. Girl I love you so bad-ly…it had to be Girl I love you so bad.
Paul McCartney

Shut up and listen. And learn.
Mike Patton

***

Hoje, durante um intervalo para tomar café e depois de ter respondido às mensagens de amigos preocupados com a situação na Bélgica (e na Alemanha), li isto:

Aparentemente, mais uma recaída do Expresso. No entanto, não. Trata-se, isso sim, de uma honestíssima transcrição da informação veiculada pelo excelente Público, onde a diferença entre susceptível [suʃsɛˈtivɛɫ]  e *suscetível [suʃsɨˈtivɛɫ] é conhecida.

Expresso está de parabéns.

***

Adenda, com sete imagens, ao meu artigo de hoje no Público

Na passada sexta-feira, dia 24 de Abril de 2020, ao fim da tarde, enviei para publicação o meu artigo de hoje no Público. Nos anexos, incluí algumas imagens. Entre essas imagens, encontrava-se esta:

Trata-se de uma imagem deste texto de 19 de Abril de 2020, protagonista do meu artigo de hoje. Como vêem, lá está o vêem de Vital Moreira na quarta linha.

Aumentado, para aqueles que não o vêem bem:

Como refiro hoje, aquando do envio para publicação deste meu outro artigo no Público que tanto incomodou o ex-eurodeputado, adoptei exactamente o mesmo procedimento.

Eis a imagem da discórdia, do texto de 17 de Abril de 2020: [Read more…]

40 °C à sombra

Now I stand here waiting.

Gilbert/Hook/Morris/Sumner

Vicious
Hey, why don’t you swallow razor blades

— Lou Reed

ºF = (9 x ºC / 5) + 32 ou ºC = 5(ºF + 32) / 9

IPMA

***

40 °C à sombra? Por cá, nem por isso. Contudo, por aí, como reiterava alguém, no longínquo Verão de 1993, diz que sim.

Todavia, no sítio do costume, independentemente dos alertas, quer os ocasionais no Público (há ligação no Ciberdúvidas, embora as palavras que aí se encontram a negrito não sejam as do original), quer os habituais cá por casa, a temperatura mantém-se extremamente estável.

Deve ser do calor.

Efectivamente.

A direita também tem Mestres em saneamentos

“Força força companheiro Dinis, nós seremos a muralha de aço”

Às vezes, parece que o tempo para?

Não parece nada! Às vezes, parece que o tempo pára! Exactamente. Obrigado, Público.

Uma questão de prioridades

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O jornal PÚBLICO mantém há dois dias a entrevista a PPC em destaque. Nos entretantos, aconteceram coisas, como uma entrevista do primeiro-ministro e a questão da DBRS. Coisitas, afinal, a não merecerem destaque na filial do Povo Livre.

Jornal PÚBLICO adopta novo design

PUBLICO novo design

Parece que o objectivo consiste em colocar em sintonia o grafismo com o texto.

História dos Fatos Sociais e fator issues

En sa robe, couleur de fiel et de poison,
Le cadavre de ma raison
Traîne sur la Tamise.

Émile Verhaeren

***

A propósito do “Doutor em Estratégia ou História dos Fatos Sociais” e dos “fator issues”, mencionados em artigo recentemente publicado no portal das comunidades portuguesas na Bélgica www.luso.eu (apresentado com versão ligeiramente modificada no Público de ontem), eis as imagens do caos.

DRE452016pic

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E hoje? Teremos História dos Fatos Sociais? Haverá fator issues? Não! Hoje, [Read more…]

Os fatos são eternos

James Bond: What would you like to talk about?
Tiffany Case: You pick a subject.
James Bond: Diamonds?
Diamonds Are Forever (1971)

***

Em 2009 e 2010 não houve nem fato, nem fatos no Diário da República. Em 2011, houve 5 fato e 5 fatos no Diário da República. Em 2012, o Diário da República começou a adoptar o Acordo Ortográfico de 1990 e, nesse ano, houve 140 fato e 237 fatos.

O primeiro número de 2016 do Diário da República (já sabiam os leitores do Aventar e sabem, a partir de hoje, os leitores do Público) trouxe “valorização dos fatos constantes nos números precedentes” e “registo contabilístico dos fatos patrimoniais”.

Souberam hoje os leitores do Público – e saberão, doravante, os leitores do Aventar – que, em 6 de Janeiro de 2016, um município publicou uma declaração de rectificação de edital, no qual se grafara ‘contatar’, em vez de ‘contactar’:

contatar

Entretanto, a situação melhorou? Sem sombra de dúvida. [Read more…]

José Sócrates não deve responder

Sócrates1

Pol. and now remaines
That we finde out the cause of this effect,
Or rather say, the cause of this defect;
For this effect defectiue, comes by cause,
Thus it remaines, and the remainder thus.
— Shakespeare, “Hamlet” (Folio 1, 1623)

***

A entrevista que José Sócrates concedeu ontem à TVI terá, no mínimo, dois aspectos que merecem ser distinguidos. Contudo, hoje, em vez de nos debruçarmos sobre a entrevista propriamente dita e sobre os aspectos pertinentes, reflictamos acerca das 16 perguntas que o redactor Luís Rosa considera merecerem resposta do ex-primeiro-ministro.

Depois de terminado o exercício de reflexão, facilmente se conclui que a 13.ª pergunta pura e simplesmente não merece resposta. Encontra-se [Read more…]

Zeinal Bava e o Lince

bava

© Nuno Botelho (http://bit.ly/1t4CXFC)

“Quem tramou Zeinal Bava?”, pergunta-nos Público. Não faço a mínima ideia. No entanto, à primeira vista, diria que este desfecho apenas vem confirmar a tese da irrelevância.

Ao ler

Facto relevante: o comunicado da Oi que anuncia a saída de Zeinal

e

FATO RELEVANTE,

 

num jornal com recaídas de excelência ortográfica, lembrei-me de uma citação de Ivo Castro que divulguei em 2009 (p. 94)

Nós dizemos ‘facto’, escrevemos o c. Os brasileiros dizem ‘fato’ não escrevem o c. Portanto, mantêm-se as grafias duplas.

Como é sabido, nada disto impediu que fossem dados todos os passos necessários em direcção ao abismo ortográfico.

Ao folhear o diploma mencionado no ‘fato relevante’, isto é, a Lei nº 6.404/76, decidi alimentar o Lince (sim, o Lince) com o articulado e obtive os seguintes comentários:

respectiva convertido para respetiva

respectivas convertido para respetivas

respectivo convertido para respetivo

respectivamente convertido para respetivamente

prospecto convertido para prospeto

perspectiva convertido para perspetiva

aspectos convertido para aspetos

Resumindo: apesar de em português europeu se escrever respectiva, respectivas, respectivo, respectivamente, prospecto, perspectiva e aspectos, o conversor Lince (adoptado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011) não admite estas grafias. No entanto, em português do Brasil, tais grafias são perfeitamente legítimas — aliás, “em atendimento” a um parágrafo de um artigo de uma Lei com respectiva, respectivas, respectivo, respectivamente, prospecto, perspectiva e aspectos, ficámos a saber que “o Sr. Zeinal Abedin Mahomed Bava renunciou nesta data ao cargo de Diretor [sic] Presidente da Companhia”.

Sem sombra de dúvida, mais uma vez, eis-nos perante um “passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional”.

Grafia azul

blue led

© LEHTIKUVA/Reuters (http://bit.ly/1nYg8Bx)

Acabo de saber, através de Brian Greene – a propósito, vale a pena assistir a este excelente debate entre Greene e Dawkins –, que o Nobel da Física foi atribuído a Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura, pela invenção de emissores eficientes de luz azul (convém ler o excelente texto de Teresa Firmino, no Público).

O Professor Jorge Manuel Torres Pereira lecciona a disciplina Fundamentos de Electrónica no Instituto Superior Técnico e explica (7.8) que

O díodo emissor de luz, LED – “Light Emission Diode”, é um dispositivo que converte a energia eléctrica em energia luminosa. A conversão está associada a transições electrónicas acompanhadas da emissão de fotões de comprimentos de onda compatíveis com a variação de energia ocorrida.

Contudo, segundo o Expresso,

O prémio Nobel da Física foi hoje atribuído (…) pela invenção do díodo eletroluminescente (LED), anunciou hoje o júri em comunicado.

Ora, independentemente de, por exemplo, por estas bandas, LED significar “diode électroluminescente” e até o Professor Lobo Ribeiro ter vacilado entre “díodos emissores de luz” (p. 6) e “díodos electroluminescentes” (p. 93), há um dado grafemicamente adquirido: eletroluminescente é grafia inadmissível em português europeu. Sim, eletroluminescente. Efectivamente, inadmissível.

Recordando as sábias palavras de outro Nobel da Física,

I’m not going to do this, I’m not going to simplify it, and I’m not going to fake it. I’m not going to tell you it’s something like a ball bearing inside a spring, it isn’t.

No, it isn’t. Se não souberdes o que significa ‘ball bearing’, não vos preocupeis. O Eng.º João Roque Dias explica-vos.

Continuação de uma óptima semana.

Ativadas? I’ve smelled a rat

thelma

© Brian Cliff Olguin for The New York Times (http://nyti.ms/1pGZbGN)

Como aconteceu ao James Bond, no final de Os Diamantes São Eternos, “I’ve smelled a rat”. De facto, quando se lê ‘ativar’ em vez de ‘activar’ ou ‘ativo’ em vez de ‘activo’, num texto aparentemente escrito em português europeu, devemos desconfiar. Sendo verdade que o Mouton Rothschild é um clarete, também não podemos esquecer que ‘ativar’ e respectivas formas flexionadas são características do português do Brasil.

Para que não haja dúvidas, consultemos a Folha de S. Paulo:

Cada conjunto de neurônios de localização só se ativa em um local específico.

Mais de 30 anos depois, em 2005, o casal Moser descobriu outro tipo de neurônios que se ativam no córtex entorrinal quando os animais estavam em uma região, formando um mapa.

Efectivamente: ‘neurônios’ e ‘ativa’ (como “em uma região” ou “em um local”, mas essa é outra conversa) indicam-nos que estamos a ler um texto escrito em português do Brasil.

Por isso, ao contrário daquilo que se lê no Expresso, as células nervosas identificadas por John O’Keefe não são *ativadas. Aliás, basta ler-se o texto de Ana Gerschenfeld, no Público de hoje, para rapidamente se perceber que “certas células se activavam”. Exactamente: activavam.

O Comité Nobel é claro

In 1971, John O´Keefe discovered the first component of this positioning system. He found that a type of nerve cell in an area of the brain called the hippocampus that was always activated when a rat was at a certain place in a room.

Por esse motivo, é incompreensível esta adaptação do Expresso:

John O’Keefe identificou, em 1971, o primeiro componente deste sistema de localização ao perceber que um determinado tipo de células nervosas de um ratinho, localizadas numa região do cérebro – o hipocampo -, eram ativadas quando este estava num determinado local de uma sala.

Dito isto, parabéns a John O’Keefe, May-Britt Moser e Edvard Ingjald Moser.

Fatos, fatos, fatos: muitos, muitos fatos

 "Any minute now I’m expecting all hell to break loose"
Bob DylanThings Have Changed

António Costa aceitou o desafio do jornal Observador, respondeu às perguntas do Political Compass e, aparentemente, não terá pestanejado quando leu esta tradução de “It’s a sad reflection on our society that something as basic as drinking water is now a bottled, branded consumer product”:

O fato de a água que bebemos ser um produto de consumo de marca e engarrafado é um triste reflexo da sociedade em que vivemos.

Aliás, este “fato de a água” nem sequer é uma tradução: é o produto de uma deturpação da versão portuguesa, criada pelo Público:

O facto de a água que bebemos ser um produto de consumo de marca e engarrafado é um triste reflexo da sociedade em que vivemos.

Sim, o problema é grave. Efectivamente, este fato é um triste reflexo da sociedade em que vivemos. Considerando a gravidade do problema, prometo aos leitores do Aventar alguns meses de descanso sobre este assunto.

Em 21 de Março de 2013 (ou seja, há cerca de ano e meio), o ILTEC pronunciou-se nos seguintes termos [Read more…]

Passos perdidos

na sala de espera da Tecnoforma. Afinal ainda há jornalismo de investigação.

Com o devido respeito

Exactamente: with all due respect. Vítor Gaspar, hoje, duas vezes, no Público.

Acordo Ortográfico de 1990: alto e para o baile!

Hänninen

Peter Spinney/ Lat Photographic Archive (http://bit.ly/19vk417)

Dizem-nos que “a comunicação social já está quase toda a usar a nova ortografia” e garantem-nos que “a adoção [sic] do AO está em curso acelerado“.

Convém refrear o entusiasmo.

Segundo nos informam,  “[e]sta notícia foi escrita nos termos do Acordo Ortográfico”. Parece que esta também. No Correio da Manhã, escrevem ‘pára’ e assumem. Hoje, no Diário da República, mais três ocorrências de ‘fato’ em vez de ‘facto’. Na TVI, “Tino comenta o fato [sic] de não ter ficado nomeado” e a FERLAP pronuncia-se sobre “o fato [sic] de o Ministério da Educação…”. N’A Bolao “curso” da “adoção [sic]” da “nova ortografia” é tão acelerado que até se despistam nas traduções (sem a elegância de Hänninen).

Efectivamente, está na altura de o baile parar.

Expresso e Visao 762013

O Novo Site do Público

Muito mais clean, sem dúvida. Tão clean que todos os anteriores links desapareceram.

bright side of life, mas atenção

A edição de hoje do jornal “Público” explica-nos, decerto contando que, num domingo de Outono, estejamos todos um pouco ensonados e remelentos, que “os desempregados têm mais tempo para os filhos, mas isso nem sempre é bom”.

Parece-me esta abordagem um extraordinário serviço público, já que o artigo não se limita a alardear as vantagens evidentes do desemprego no seio de uma família, mas esforça-se por ir mais longe e prevenir-nos de que – atenção, não enviem já a vossa carta de demissão – “isso nem sempre é bom”.

Na linha deste importante contributo, humildemente sugiro ao Público alguns temas que creio que, bem desenvolvidos, poderiam dar origem a artigos de grande interesse público: [Read more…]

O que é uma pressão lícita de um ministro?

ERC diz que PÚBLICO não foi alvo de “pressões ilícitas” de Relvas

Problemas de percepção

If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite.

William Blake, The Marriage of Heaven and Hell, plate 14

Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, o resgate financeiro era a causa de uma maleita de que Portugal sofria. A maleita tinha um nome: “problema de percepção internacional”. Há um ano, a resolução desse “problema de percepção” tornou-se a “prioridade”. Ao Público, Paulo Portas admitiu que, entretanto, “ a percepção sobre Portugal melhorou consideravelmente”. Felizmente. A percepção manteve-se e melhorou. Consideravelmente. Óptimo.

Infelizmente, Paulo Portas esqueceu-se de resolver um problema de “percepção” mais premente, sobre o qual foi avisado, cuja resolução está ao seu alcance e que não se limita aos “efeitos na percepção sobre Portugal” causados pelo que “a imprensa americana diz”.

A percepção em português europeu está em perigo, devido a uma maleita mais grave do que um mero “problema de percepção internacional”. Quando pensamos em “percepção internacional”, lembramo-nos imediatamente da volatilidade. Há um ano, havia um “problema de percepção”. Entretanto, a percepção “melhorou consideravelmente”. Amanhã? Não sabemos. [Read more…]

NO PÚBLICO DE HOJE

No PÚBLICO de hoje. Boa leitura.

Os nomes dos meses: Abril na CPLP
Por Francisco Miguel Valada

O Que Diria Eça de Queiróz?

… do Jornalismo Patrocinado?