se mantiver». D. Januário Torgal Ferreira. [Expresso]
PàF: Pobreza à Frente
Pouco depois de ser eleito em 2011, Pedro Passos Coelho abandonou definitivamente a propaganda pré-eleitoral e mostrou ao que vinha: Portugal tinha que empobrecer. Ora bem, nem todos teriam que empobrecer, apenas aqueles que se encontravam do lado errado do fosso, fosso esse que não parou de aumentar desde que o actual governo chegou ao poder. Os restantes cresceram e multiplicaram-se. [Read more…]
Portugal, Agosto de 2015
Naufrage | Maria Helena Vieira da Silva, 1944
Há cada vez mais pessoas que vasculham nos caixotes do lixo. Já não têm vergonha, já só têm fome: abrem os contentores e enfiam-se quase inteiras lá dentro. Há aquela velhota que pede cigarros. Dizem-me que é para o marido. Que interessa para quem são os cigarros? Há o homem que suplica à porta do supermercado por qualquer coisa para dar de comer aos filhos, o corpo de pedir todo curvado, os olhos lacrimejantes, a miséria e a desolação espelhada neles. Nas ruas abandonadas pelos que foram de férias, ficaram os mais pobres de todos. Já no ano passado foi assim, mas este é pior, há mais que ficaram, mais pobres e mais tristes, muitos doentes, a querer morrer, adoecidos pela tristeza e pela impotência, já depois da indignação. E lembro-me de como era Portugal no início dos anos 1970. Era assim triste, desolado, miserável, e os portugueses pareciam náufragos, como estes que vejo abandonados pelos poderes em Agosto de 2015.
Orgulho
Nem sei se devia contá-la, porque há histórias que nos dão vergonha só de vê-las, assistir ao seu desenrolar faz-nos cúmplices do que vimos, e contá-las pode ser uma forma de servir-nos delas, ou isso tememos, que por contar estejamos a instrumentalizá-las e não é isso que queremos. Mas não contar é também como fechar os olhos ao que se viu, negar que tenha ocorrido, e tampouco podemos permiti-lo.
Era uma tarde de muito sol numa rua central da cidade. À porta de um hotel há dois contentores de lixo sempre cheios, muitas vezes os sacos ficam no chão até serem recolhidos. Passo por ali todos os dias, muita gente o faz. [Read more…]
“A dignidade dos portugueses não foi beliscada” (III)
“A dignidade dos portugueses não foi beliscada” (II)
A pobreza de Passos Coelho
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que o risco de pobreza aumentou em 2013, informação desvalorizada por Passos Coelho, sempre pronto a imitar exemplos como o de Luís Montenegro. Segundo o primeiro-ministro, esses dados correspondem a “um eco daquilo por que passámos, não é a situação que vivemos hoje. reporta aquilo que foi a circunstância que vivemos, nomeadamente em 2013, que foi, talvez, o ano mais difícil em que o reflexo de medidas muito duras tomadas ao longo do ano de 2012 acabaram por ter consequências.”
Convém relembrar, muito a propósito, que 2012 e 2013 foram considerados anos de viragem por Passos Coelho.
Em 2015, ano-mesmo-mesmo-de-viragem-agora-é-que-é, o risco de pobreza, segundo o ainda primeiro-ministro, diminuiu, o que, mesmo que fosse verdade, faria uma enorme diferença a quem continuasse pobre ou em risco de empobrecer.
Entretanto, o valor das penhoras da Segurança Social subiu 11% em relação a 2013 e foram cobrados coercivamente mais 68,8 milhões de euros que em 2011, o que só pode ser sinal de enriquecimento dos portugueses.
Passos Coelho em modo de economia de palavras
Lendo as entrelinhas, a citação completa será: Primeiro-ministro diz que “dados do INE sobre risco de pobreza não reflectem a minha situação actual”.
Trabalhos forçados
para repor o que o Governo tirou às pensões, para ajudar os filhos, pagar a casa e as contas, comprar medicamentos.
Um trabalho de Ricardo Rodrigues para a Notícias Magazine.
Os malandros
Querem ver que (não) andam a tomar banho?! Não faltava mais nada, já agora.
Enquanto a Europa definha, os dividendos aumentam
Uma parte importante dos recursos públicos destinados aos cuidados em saúde, à educação, à criação e fruição cultural, enfim, ao desenvolvimento numa perspectiva larga e de longo termo, foram já subtraídos aos orçamentos dos Estados como consequência de decisões políticas que privilegiam outras prioridades – mesmo se anunciadas em nome de pacotes reformistas ou do «rigor orçamental». É certo que as Constituições ainda asseguram, mesmo se nessa letra pequena de lei que a actual classe de governantes tem relutância em ler, os princípios democráticos que servem uma ideia de sociedade em que a desigualdade extrema não cabe – mas também que as leis fundamentais perderam relevância no quadro das actuais políticas dos Governos, ligados entre si pelos contextos obscuros de uma economia global cujos primeiros grandes embates justamente sofremos por estes dias.
A desigualdade atinge em 2014 níveis jamais sonhados pelas gerações nascidas na Europa e na América depois das guerras do século XX. Por todas estas razões, é sempre bom ir tendo notícias do paradeiro da riqueza que ainda ontem servia a vida de muitos mais, designadamente sob a forma de direitos adquiridos por contrato social, mais do que hoje empenhado na qualidade da vida e na mobilidade social dos cidadãos. Em França, um índice recentemente publicado por uma empresa de gestão de activos chamada Henderson Global Investors (HGI) acaba de revelar o aumento exponencial dos dividendos pagos pelas grandes empresas aos seus accionistas. Incidindo no segundo trimestre do ano, o referido índice dos melhores retornos mundiais em dividendos emergiu no espaço mediático francês no exacto momento em que as ajudas públicas às empresas privadas (em nome da retoma económica e da criação de emprego) atingiram um patamar de investimento jamais conhecido.
E as pessoas?
N’O Insrugente pergunta-se “O país empobreceu com Salazar?“, prontamente se respondendo que não. Não sei que idade terá o autor da prosa mas eu, que apenas vivi 6 anos em ditadura, recordo-me bem que as pessoas eram pobres. E que era uma festa quando a tia da França trazia caramelos. E de fazer sandes de pão com açúcar amarelo e azeite, que isto da marmelada e do doce de tomate não duravam sempre. [Read more…]
O rosto da pobreza em Portugal
Mulher, meia-idade, desempregada, baixa escolaridade, rendimento abaixo dos 150 euros. “Amedrontada, sempre com uma forte vontade de ajudar quem está pior que ela”.
Papa Francisco e a economia mortífera
Sou agnóstico, opção, a meu ver, não impeditiva de manifestar apoio e concordância a posições políticas de religiosos – o Papa Francisco, no caso.
Nada me estorva, pois, na adesão às ideias de contestação do doloroso e injusto mundo em que vivemos, independentemente do credo ou doutrinas de quem as defende. Distancio-me de opiniões em outras matérias ditas ‘fracturantes’ – aborto, por exemplo – embora reconheça haver progressos em relação a antecessores.
Subscrevo, na íntegra, as críticas do Papa, expressas aqui, ao modelo económico universalmente dominante; críticas essas sintetizadas no 1.º parágrafo de notícia no ‘Público’:
Murros no estômago
Ontem à tarde, numa mercearia de Campanhã, zona oriental do Porto, o merceeiro comentava que, nos muitos anos que ali leva, perto da escola secundária, estava habituado a ver os miúdos passarem à sua porta sempre satisfeitos quando não havia aulas. Ontem, dia de greve, passavam quase todos cabisbaixos. A cliente quis saber porquê.
– Acho que é porque a cantina está fechada.
Já ninguém disse mais nada.
Este é o problema, tudo o resto é conversa sem valor
Imagens do Bairro de S. Sebastião
Ontem, Carlos Esperança partilhou isto na sua página de Facebook.
Copio para aqui porque retrata o que muitos de nós sentimos. Já li e reli várias vezes este texto e a teimosa da lagrimazita continua a cair.
Quem dera que fosse o governo e os interesses tão egoístas a cair. O povo, esse, creio que ainda é solidário com quem sofre.
«Imagens do bairro de S. Sebastião
Avalio o que é chegar a casa, ver a alegria dos filhos, e reprimir a lágrima de quem não sabe se mantem o emprego e a capacidade de os sustentar. Até quando a sopa e o arroz com carne de segunda, onde já falta a fruta, poderão perpetuar a dieta mínima com que se criam os filhos?
Hoje, do outro lado da rua do prédio onde moro, em frente a uma garagem, por baixo da capela, dezenas de pessoas aguardavam a distribuição de víveres que uma instituição religiosa distribui regularmente. Havia gente de todas as idades, negros e caucasianos, homens e mulheres, numa fila que cresce, em cada semana que passa.
Por pudor, quando passei, baixei os olhos, mas reconheci várias pessoas cujas carências ignorava. Até quando é possível manter a fome escondida, esta sobrevivência ameaçada e a dignidade atingida?
Nos olhos tristes de quem pede vi o reflexo de uma sociedade em fila a estender a mão à caridade, perdidos os sonhos de uma vida digna, espoliada do direito á felicidade.
Do meu bairro vi o País.»
Texto escrito por Carlos Esperança e publicado na sua página de Facebook
25 milhões de novos pobres europeus em 2020/2025
Desigualdade, desemprego, empobrecimento. Se continuar, o programa de austeridade vai levar 1/3 dos europeus à pobreza até 2020/2025.
Fonte: Relatório da Oxfam.
Desemprego: mais de 200 vítimas na Cova da Beira
Quando me deparo com certos comentadores e escribas da propaganda governamental que por aí circulam nas TV’s, nos jornais e na blogosfera, não os ouço nem leio. Cuspo, cuspo forte e sonoro de espontânea reacção pela náusea perante a falsidade, o artificialismo e o ardil de quem anda a impingir gato por lebre.
Por efeitos de experiência vivencial directa, regular e na maioria dos casos durante mais de 20 dias por mês, conheço com suficiente pormenor diversas regiões do interior; em especial o Alto Alentejo e as Beiras Baixa e Alta. Terras em continuado despovoamento, habitadas em grande maioria por idosos e com estruturas produtivas, incluindo agrícolas, abandonadas e muitas delas degradadas e destruídas.
Já sabia do triste desfecho, porque o processo se iniciou há meses. Contudo, o ‘Expresso’ acaba de confirmar: a Carveste, empresa têxtil de Caria, Belmonte, em processo de encerramento desde há tempos, vai expulsar para o desemprego mais de 200 trabalhadores.
Oxfam denuncia os demoníacos paraísos fiscais
Na imprensa portuguesa, o ‘Público’ deu relevo detalhado mas célere à vergonha dos paraísos fiscais. Compreende-se a brevidade. O texto citava a quase totalidade das empresas do PSI-20 que utilizam a Holanda, como paraíso fiscal. A Sonae é uma delas. Belmiro ficou furioso com a audácia dos jornalistas e rapidamente a notícia passou de destacada a escondida.
A denúncia noticiada partiu do Oxfam, Comité de Oxford de Combate à Fome, fundado em 1942 – uma pequena curiosidade: durante a II Guerra teve o mérito de convencer o governo britânico a permitir a remessa de alimentos às populações famintas da Grécia, então ocupada pelos nazis e submetida ao bloqueio naval dos aliados.
O relatório do Oxfam tem o seguinte título:
Imposto sobre os biliões de “privados” agora guardados em paraísos seria suficiente para acabar com a pobreza extrema do mundo duas vezes [Read more…]
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