A ONU, o bloqueio a Cuba e as sanções do bem

Vigora há sessenta anos um bloqueio económico imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba, condenando milhares de cubanos ao desespero e à pobreza.

A ONU, desde 1992 que pede, na sua Assembleia Geral, o fim do bloqueio económico. No passado dia 3 de Outubro foi votada, pela terceira vez, uma resolução que exige o fim do embargo a Cuba. A resolução foi aprovada com 185 votos a favor. Sem surpresa, EUA e Israel votaram contra a resolução; Brasil e Ucrânia abstiveram-se.

O embargo, que dura desde 1962, já lesou o povo cubano em 154 biliões de dólares. Só nos primeiros quatorze meses de governação de Joe Biden, o prejuízo causado pelo embargo a Cuba ascende já aos 6 biliões de dólares.

Esperemos, agora, que os EUA possam cumprir com o aprovado na ONU e levantar o embargo. Caso não o façam, mantendo a coerência, é tempo da Comunidade Internacional se levantar da cadeira como quem tem calos nas nádegas e exigir sanções severas contra a economia norte-americana… penso eu de que… ou não funciona assim deste lado?

Sala da Assembleia Geral da ONU. Fotografia: Joe Penney – Reuters

Vladimir Putin, Isabel II e o Holodomor

– Sim, Vlad. Nós também fizemos um Holodomor na Índia, vários até, mas aquilo era tudo sub-gente, muito escurinha, e ninguém quis saber. Para a próxima, em vez da Ucrânia, invade, sei lá, o Bangladesh!

(baseado em factos verídicos)

Para onde iriam vocês?

O desastre humanitário no Afeganistão é total.
6 milhões de refugiados.
9 milhões de afegãos a passar fome.
Mulheres brutalizadas.
Direitos humanos esmagados.
1 milhao de crianças desnutridas.

Se estes seres humanos não conseguem viver, comer ou sobreviver, para onde acham vocês que eles irão?

Para onde iriam vocês?

A Câmara de Gondomar a dar fome às criancinhas das escolas


Esta é a sopa que deram hoje aos alunos na cantina de uma das EB 2 3 de Rio Tinto. Via-se o fundo do prato.
Já na última quinta-feira, na mesma escola, recusaram a fruta (melancia) a uma criança do 6. ano, com o argumento de que já tinha acabado. Mas a criança, não sendo cega, viu que era mentira.
Foi o primeiro dia de aulas e deu-se um desconto.
Hoje não.
Nesta municipalização da Educação à moda de Gondomar, que inclui ter de pagar uma taxa para carregar o Cartão Escolar obrigatório, ninguém está a salvo.
Numa outra escola do concelho, neste caso secundária, tudo o que os professores consomem (cantina, bar ou papelaria) vai para o livro. Bem, é mais um caderninho mal amanhado onde o professor regista aquilo que consumiu.
Alguém na Câmara de Gondomar esqueceu-se que tinha de emitir cartões para os professores e que as aulas começavam em Setembro. Fizeram para os alunos e mesmo assim chegaram mesmo em cima da hora.
Deve ser a isto que chamam municipalização da educação.
Ao menos, salva-se a forma como a Câmara protege os alunos na saída das escolas – as passadeiras devem ser sagradas. Ou se calhar não…

Fome de vencer II

A fome podia ser muita, mas os acentos lá se safaram. Exactamente. Efectivamente.

Foto: Francisco Miguel Valada (28/06/2021)

Fome de vencer

Hoje, ri-me imenso quando recebi o troco das compras.

Não foi porque causa das moedas, ou de algum erro na conta.

Foi por causa desta oferta, entregue por entre talões:

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Equívocos

No degrau onde um homem costuma dormir estava uma embalagem de donuts de morango. Não havia sinal do homem, mas estavam lá os cartões que lhe servem de colchão, agora ao alto, encostados à parede. No chão, a embalagem de plástico, fechada, com três donuts de um estridente cor-de-rosa E128, intactos. Faltava pouco para as nove da manhã. Os donuts eram de uma marca estranha, talvez saídos da loja de oportunidades da esquina, que vende produtos “de fora do nosso mercado”, como diz a gerente, e que vêm com rótulos em servo-croata e prazos de validade indecifráveis.

Quem os deixara ali? Podia ter sido uma compra disparatada, um desses impulsos de que é difícil não acabar arrependido. Podiam estar fora de prazo ou perto disso. Ou podiam ter sido comprados de propósito para oferecer ao homem que nunca pede esmola mas aceita o que lhe oferecem. [Read more…]

A luta pela sobrevivência

Madaya

Imagine que vivia numa cidade sitiada. De um lado as forças de um regime opressor, do outro um grupo de rebeldes, que apesar de se oporem ao regime estão dispostos às mais monstruosas atrocidades. Como se tudo isto não fosse já mau demais, existe um terceiro grupo, bárbaro e radical, que luta pela abolição absoluta de qualquer tipo de liberdade. [Read more…]

Os fracos, os mais fracos e os mais fracos dos mais fracos

hqdefaultO Estado Social, segundo Isabel Jonet, deve limitar-se a ajudar os mais fracos dos mais fracos. O Estado Social não deve, portanto, ajudar os que são apenas fracos, porque os fracos, no fundo, são fortes e fortes do pior tipo. O fraco é um forte que se limita a fazer força para parecer fraco. Não é por acaso que dos fracos não reza a História: não porque não sejam fortes, mas porque não são suficientemente fracos. Para Isabel Jonet, fraqueza é algo que se resolve com um copo de água e açúcar.

E os mais fracos? Não deveria o Estado Social ajudá-los? Os mais fracos são só fraquinhos, gente tão desprezível que é olhada de lado pelos fracos. Cálculos recentes permitem, aliás, saber que um fraco terá a força de dez mais fracos.

Os mais fracos terão, todavia, força suficiente para, pelo menos, pedir esmola, o que isenta o Estado Social do dever de os ajudar. Se os mais fracos, aliás, tiverem deficiências físicas, Isabel Jonet poderá, até, dizer-lhes: “Vá lá pedir esmola, que tem muito mau corpo para isso!” Não há, afinal, como uma boa chaga para que o mais fraco não vá chagar o Estado Social. [Read more…]

A fome do povo e dos lesados do BES

Paulo Portas disse que conhece desde 1975 (desde o PREC) o povo que hoje em Braga gritou que tem fome.
[TVI 24]

Portugal, Agosto de 2015

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Naufrage | Maria Helena Vieira da Silva, 1944

Há cada vez mais pessoas que vasculham nos caixotes do lixo. Já não têm vergonha, já só têm fome: abrem os contentores e enfiam-se quase inteiras lá dentro. Há aquela velhota que pede cigarros. Dizem-me que é para o marido. Que interessa para quem são os cigarros? Há o homem que suplica à porta do supermercado por qualquer coisa para dar de comer aos filhos, o corpo de pedir todo curvado, os olhos lacrimejantes, a miséria e a desolação espelhada neles. Nas ruas abandonadas pelos que foram de férias, ficaram os mais pobres de todos. Já no ano passado foi assim, mas este é pior, há mais que ficaram, mais pobres e mais tristes, muitos doentes, a querer morrer, adoecidos pela tristeza e pela impotência, já depois da indignação. E lembro-me de como era Portugal no início dos anos 1970. Era assim triste, desolado, miserável, e os portugueses pareciam náufragos, como estes que vejo abandonados pelos poderes em Agosto de 2015.

Orgulho

Nem sei se devia contá-la, porque há histórias que nos dão vergonha só de vê-las, assistir ao seu desenrolar faz-nos cúmplices do que vimos, e contá-las pode ser uma forma de servir-nos delas, ou isso tememos, que por contar estejamos a instrumentalizá-las e não é isso que queremos. Mas não contar é também como fechar os olhos ao que se viu, negar que tenha ocorrido, e tampouco podemos permiti-lo.

Era uma tarde de muito sol numa rua central da cidade. À porta de um hotel há dois contentores de lixo sempre cheios, muitas vezes os sacos ficam no chão até serem recolhidos. Passo por ali todos os dias, muita gente o faz. [Read more…]

Uma Família Humana, Comida Para Todos

Resume-se a isto. Comida para todos, saúde para todos, abrigo para todos, paz para todos.

Se nos limitarmos a pensar apenas em nós, em nos alimentarmos a nós, todos passamos mal, mas se nos ajudarmos uns aos outros, todos podemos estar alimentados. Uma pequena alegoria que vale para tanta coisa na vida.

 

Maldito Estado Social!

Vítor Cunha descobriu por que razão há ocidentais atraídos por causas radicais, islâmicas ou outras. Segundo o ilustre estudioso, tudo começa no facto de ser uma gente que sofre do gravíssimo problema de ter as refeições garantidas. Logo, conclui a luminosa criatura, isto é tudo culpa do Estado Social, essa baba solidária que encharca a sociedade, contribuindo para que as pessoas fiquem demasiado desocupadas e descansadas. Não é por acaso que do ócio ao ódio vai uma pequena consoante.

Vítor Cunha tem, portanto, a solução: é pôr as pessoas a passar fominha e tornar a sua vida o mais insegura possível. Assim, é certo que nunca haverá revoltas nem extremismos.

“La Grande Bouffe”

“Que afinal o que importa não é haver gente com fome, porque assim como assim ainda há muita gente que come.” Mário de Cesariny

Rostos de quem passa fome para que a banca lucre

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Em Dezembro passado, a revista Visão trouxe a reportagem “Os rostos reais da fome em Portugal“. Oito testemunhos, que poderia ser nossos, do país onde se salvam os bancos primeiro e se olha para as pessoas depois – mas apenas para ver que cortes adicionais se podem fazer.

O país está melhor

As pessoas é que se lixaram (era para escrever com f…)

Sopa dos pobres

Deveria ter escrito isto ontem, mas não fui capaz. Deveria ter entrado naquele parque de estacionamento e oferecido a minha ajuda, mas não fui capaz. Deveria ajudar mais quem de mim, de todos nós necessita, mas nem sempre sou capaz. É mais fácil, muito mais fácil, encostar-me no meu canto, ficar com as minhas filhas e com o meu marido e não sair à noite para conviver com a infelicidade alheia.
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Cristiano Ronaldo: pelo teu país

Pelo TEU povo, Recusa receber esta condecoração.

(carta aberta disponível no facebook) [Read more…]

Talvez a malta de direita

possa explicar melhor

A banalização da fome

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Em 2010 o Arnaldo Antunes, um professor de profissão que vinha aqui desabafar do seu quotidiano profissional, escreveu um artigo intitulado A Fome nas Escolas onde narrava o seu encontro com uma mãe com “2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.

Deve ter sido dos um dos textos mais badalados que se publicaram nesta casa, ele foi pedidos de entrevista, gente voluntariosa pronta para ajudar a família necessitada, um corropio, que de resto assustou o pobre Arnaldo, vidas privadas e vidas profissionais levam-nos ao desabafo mas podem transformar-se em complicação para um funcionário público.

Neste ano da graça de 2013 a Carla Romualdo veio denunciar outras fomes que descobriu num Hospital público e central: [Read more…]

Os pobres não saem à rua

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foto jn – é melhor não clicar, que aumenta

Foram um fracasso as manifestações organizadas pela CGTP no passado sábado. Uma capitulação dramática da central sindical perante o povo e os trabalhadores. E a mobilização fraquinha, como se previa na bloga mais pura, verdadeiramente rubra. [Read more…]

Não Ficar Para Trás, Dever Nacional

Pois, João Paulo, a nossa fome não é, de facto, um dever constitucional, mas por exemplo o fim das subvenções de ex-políticos, actuais políticos, como Cavaco, Assunção Esteves e Catroga, e futuros políticos, a esta luz, torna-se um dever imediato da legislatura e outros movimentos similares autorreformistas do Sistema tornam-se imperativos precisamente perante a penúria, a fome e a nudez de muitos portugueses apanhados no tsunami deste ajustamento. Não deverias partir do pressuposto de que acato acriticamente a papa regurgitada pelo Governo Passos Coelho II ou papo com cara de tolo todas as desculpas para o agravamento da factura social para suster a factura do défice: também eu fui posto a pão e água pela Troyka e por Passos e se me rebelo, rebelo-me, sim, cumulativamente contra o passado culpado e contra a covardia e incompetência que são as do Governo, mas também em larguíssima medida da Oposição liderada pelo Partido Chupcialista.

Não deverias cavar a trincheira das nossas distintas razões por finalidades comuns colocando-me no lado sádico da questão e ficando tu com o lado monopolista do bom senso e da sensibilidade e do sentido social. A Esquerda farta-se de estigmatizar outros redutos desapossando-os de humanidade e de boas intenções, pelo menos tão boas quanto as dela: concordarás comigo que se o Aparelho de Estado foi colonizado pelos partidos com camadas e camadas de clientes, há-de ser uma magna tarefa desparasitá-lo e é por isso que Soares reincide em apelar ao motim, à balbúrdia, à queda fragorosa de todos os esforços por mudar o paradigma parasitário segregado no pós-Abril. [Read more…]

A fome não é um dever constitucional

Caro camarada aventador,pinheiro

não há nada de pessoal nas minhas análises. Obviamente, quando sugiro um Pinus no reto de alguns governantes, não é porque tenha algo contra os pinheiros. Antes pelo contrário. Do mesmo modo, os erros de Mário Soares não justificam, nos argumentos que ele usa, a assertividade ou a ausência dela. Umas vezes argumenta de forma lógica, outras nem por isso. O mesmo acontece com qualquer dos escribas deste corner, que são pouco recomendáveis apenas do ponto de vista do mercado blogueiro – são um produto a evitar.

Mas, não tenhas qualquer dúvida, nós, os que estamos do lado oposto ao de Relvas e Coelho, fazemos mais pelo futuro de Portugal no Euro e na Europa do que aqueles que, como tu, aceitam sem questionar as práticas imorais deste governo. Eu, como Adriano Moreira, sinto que estamos à esquerda dessa gente porque temos – usurpação de argumento, reconheço – a convicção de que a fome não é um dever constitucional.

E, dizer que este não é o caminho é defender o futuro de Portugal e dos Portugueses. O que eu escrevo – renegociação da dívida – é uma certeza. Vai acontecer. Só não sei quando, mas vai acontecer por uma razão simples: Portugal não a vai conseguir pagar.

Se calhar fazemos os dois falta ao Governo: tu segues a linha passista e passadista – a culpa é do dia de ontem. Eu faço o favor de não me preocupar com o ontem, com a raiz do problema, e procuro apontar uma saída para o labirinto onde Passos se meteu.

E agora, vamos lá meter os pés ao caminho para ir atravessar a ponte. Por um futuro, para ti e para mim!

A fome de uns é a fome de todos

Foto: Carla Olas

Passei o mês de Agosto a ir ao hospital todos os dias. E em cada um desses dias veio um enfermeiro ou auxiliar ter comigo à porta do refeitório para lembrar-me que eu não podia entrar ali. Eu ia de braço dado com o meu pai e só queria garantir que ele chegava inteiro à cadeira, e preparar-lhe a comida, como se faz com as crianças, tirar as espinhas do peixe, descascar-lhe a laranja. Com bons modos, mas sem deixar margem para protestos ou pedidos especiais, apareceu sempre alguém para mandar-me sair porque só os doentes podem entrar no refeitório, as visitas estão proibidas de fazê-lo. A proibição justifica-se por razões de organização interna, espaço, ruído, etc. A razão principal só se sabe ao fim de alguns dias a passear pelos corredores: enquanto puderam entrar no refeitório, era frequente as visitas comerem as refeições destinadas aos doentes. Sentavam-se ao lado dos pais, avós, irmãos, maridos ou mulheres e iam debicando do seu prato, ou ficando com a parte de leão. [Read more…]

Coelhinho, se eu fosse como tu

coelhinho
Se eu fosse como tu, seria um ser do mais abjecto que há, um cara de pau com a cabeça cheia de nada e a boca aberta para dizer coisa nenhuma.
Se eu fosse como tu, marimbar-me-ia para todos os seres humanos que me rodeassem, tratando apenas de me ver no espelho sempre favorável do meu egocentrismo poeirento e bafioso.
Se eu fosse como tu, teria uma vida confortável, rir-me-ia da pobreza alheia, achando-me o maior por ser superior a essa gentalha.
Se eu fosse como tu, seria o responsável por milhares de mortes. Sim, milhares de mortes. Directa ou indirectamente, eu estaria a carregar no gatilho de quem dá um tiro na sua própria cabeça, a empurrar aquelas pessoas das pontes abaixo, a atirá-las, sozinhas ou com os filhos, para debaixo de carros, comboios, para dentro de poços. Mas, claro, não me sentiria nada culpado. As pessoas suicidam-se porque são malucas, que diabos!, e se levam os filhos com elas, isso não é desespero, porque há uma luz ao fundo do túnel e não, não é o comboio, é porque são ainda mais malucas.
Directa ou indirectamente, eu mataria os velhinhos à fome e com falta de medicamentos e cuidados médicos.
Directa ou indirectamente, eu seria responsável por haver hoje muito maior mortalidade infantil do que há dez anos atrás.
Directa ou indirectamente, eu tiraria carne, peixe, iogurtes, leite, fruta do prato dos Portugueses.
Directa ou indirectamente eu tê-los-ia despejado das casas que já não podem pagar. Não podem pagar? Que trabalhem! Ou que procurem casas mais baratas. Não podemos todos viver em casarões. Para que é que uma família precisa de sala? Ou de quartos para os filhos? Basta-lhes dormir todos no mesmo quarto, até é mais aconchegante no Inverno, poupam no aquecimento…
Directa ou indirectamente seria eu quem teria atirado com milhares de conterrâneos para a miséria.
Mas eu não sou um ser tão desprezível como tu és. Não sou uma pessoa ressabiada com um país que fez uma Revolução de flores em Abril e com isso conquistou a liberdade. Uma liberdade que usaste quando te deu jeito para ascenderes as postos de poder e que agora te incomoda, te prende os movimentos.
Orgulho-me de ser quem sou. Ao contrário de ti, faço o que posso pelos outros. Dou-me aos outros, algo que tu deverias experimentar fazer, coelhinho.
Claro que eu sendo eu e não tu, há todo um abismo que nos separa.
Eu, sendo eu e não tu, vivo com dificuldades. Não consigo encontrar trabalho que me permita garantir o pagamento das minhas despesas. Tenho que fazer contas para comprar sapatos ou roupas para as minhas filhas.
Eu, sendo eu e não tu, preocupo-me (apesar dos meus próprios problemas) com os outros. Com os que me rodeiam e estão numa situação muito pior do que a minha.
Eu, sendo eu e não tu, vou ter que fazer mais contas à vida porque vais roubar mais 150 euros do salário do meu marido, que, actualmente, é o único que ganha salário cá em casa. Sim, se lhe vão ser roubados 150 euros é porque ele tem um bom salário. É verdade. Tem um bom salário. Mas é um salário que tem que pagar todas as despesas e, deixa que te diga a ti, que achas que com 600 euros já se é rico, 1100 euros líquidos para pagar casa, alimentação, infantário e todas as outras despesas não são suficientes.
Ainda assim, eu,sendo eu e não tu, não baixarei os braços e, se antes me tinhas nas manifestações a lutar mais pelos outros do que por mim, desta vez vais ter-me a lutar muito pelas minhas filhas.
Não vou deixar que lhes roubes o direito de ser crianças.
Já lhes roubaste algumas coisas, mas também, admito, lhes deste muito. À custa de todo o lixo que tens feito, e à força de ouvir algumas conversas cá em casa, a minha filha mais velha, com cinco anos, sabe o que é ditadura, sabe que o passos coelho, primeiro-coiso de Portugal é um ladrão, sabe que só tratas bem os teus amigalhaços, os palhaços que aí te colocaram, sabe que a mãe vai a manifestações porque é importante lutar pelos direitos dos nossos semelhantes.
As minhas filhas, graças a ti, sabem que em Portugal há muitos meninos como elas que passam fome, que perderam as casas onde viviam. Sabem que, por respeito a essas crianças e porque é preciso controlar o dinheiro, não podem ter tudo o que desejam (isso, é verdade, já acontecia antes de tu começares a tua saga destruidora de uma nação).
Por tudo isto, coelhinho, se eu fosse como tu, começava já a tirar a mão do bolso e a proteger o traseiro. É que isto vai piorar para o teu lado e só espero que se te atravessem não um, não dois, mas vários. Ao mesmo tempo.
Fim!

Professores em Sofrimento

O nosso sofrimento é duro. O modo como nos dois últimos anos o Sistema Cratoniano comprimiu as condições na sala de aula e inventou desemprego docente em larga escala ficará nos anais do maquiavelismo moderno, em estados particularmente falidos. Em todo o caso, o Estado Português tem de sobreviver e seguir adiante, der por onde der. Por isso atira borda fora lastro, víveres, alma, cérebros, doentes e especiais. A Barca Nacional navega à bolina e é uma casca de noz perante a procela da dívida. Não há muito a fazer senão cada qual inventar um caminho nunca dantes percorrido, ter uma bóia e agarrar-se a ela. Hoje, os desempregados do Ensino amargamente pedem meças ao impotente Ministério. Amanhã cotizar-se-ão para um bilhete dos One Direction e procurarão esquecer esta sina triste de ser utilizados e deitados ao lixo, sobretudo professores que escrevem de mais em blogues e não poupam aselhas sejam eles do PS, do PSD, do CDS-PP, do BE ou do PCP. Ser franco-atirador da palavra vale a pena. É pena esta fome, este desperdício humano, esta sensação de não-pertença, de não-inscrição. É no que dá ter-se governado com os pés. É no que dá aceitar a corrupção enraizada e transversal no Regime dos soares e dos cavacos, dos sócrates e dos passos.

Professores desempregados ocupam Ministério da Educação

Parece que a coisa está complicada. O 5 dias fala no assunto e o face do SPGL tem imagens. (em actualização).

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Precários confirmam a ocupação. TVI informa que os Professores pretendem chegar à fala com o Ministro. Agora com vídeo. Também na RTP e no Público.

Imagens do Bairro de S. Sebastião

Ontem, Carlos Esperança partilhou isto na sua página de Facebook.
Copio para aqui porque retrata o que muitos de nós sentimos. Já li e reli várias vezes este texto e a teimosa da lagrimazita continua a cair.
Quem dera que fosse o governo e os interesses tão egoístas a cair. O povo, esse, creio que ainda é solidário com quem sofre.

«Imagens do bairro de S. Sebastião

Avalio o que é chegar a casa, ver a alegria dos filhos, e reprimir a lágrima de quem não sabe se mantem o emprego e a capacidade de os sustentar. Até quando a sopa e o arroz com carne de segunda, onde já falta a fruta, poderão perpetuar a dieta mínima com que se criam os filhos?

Hoje, do outro lado da rua do prédio onde moro, em frente a uma garagem, por baixo da capela, dezenas de pessoas aguardavam a distribuição de víveres que uma instituição religiosa distribui regularmente. Havia gente de todas as idades, negros e caucasianos, homens e mulheres, numa fila que cresce, em cada semana que passa.

Por pudor, quando passei, baixei os olhos, mas reconheci várias pessoas cujas carências ignorava. Até quando é possível manter a fome escondida, esta sobrevivência ameaçada e a dignidade atingida?

Nos olhos tristes de quem pede vi o reflexo de uma sociedade em fila a estender a mão à caridade, perdidos os sonhos de uma vida digna, espoliada do direito á felicidade.

Do meu bairro vi o País.»

Texto escrito por Carlos Esperança e publicado na sua página de Facebook

Pode começar o fogo

Não sei de que lado do rio. Mas tem que haver fogo! Aí está o regresso aos mercados!!!