O perigoso trilho da personificação do mal

É indubitável que Vladimir Putin é um déspota, sem escrúpulos. E a questão essencial não é se há outros ou não. Até porque sabemos que há.

A questão essencial é se só agora ele se revelou como tal.

Obviamente que não. E, no entanto, todo o chamado “Mundo Ocidental”, do qual fazemos parte, hoje chocado e revoltado com a sua ofensiva bélica sobre a Ucrânia, num conflito armado que dizima vidas inocentes, não se inibiu de fazer negócios, de engrossar fortunas, e até, ficar na sua dependência.

Já se sabia quem era Vladimir Putin quando a Europa – leia-se França e Alemanha -, aceitou ficar em grande parte dependente do gás russo. Ou quando Portugal foi à Rússia vender vistos gold. Ou quando a OTAN começou a expandir-se para o outrora Bloco de Leste, rumo à fronteira com a Rússia, em violação do compromisso por si assumido de não fazer tal.

Tudo isto foi acontecendo enquanto jornalistas, activistas e opositores a Putin, eram assassinados; enquanto os envenenamentos se tornavam uma espécie de instrumento de política internacional russa, etc.

Da mesma forma que o “Mundo Ocidental” sabe bem quem é e que é Xi Jiping e a China. E se a China resolver invadir a Ilha Formosa, ou Taiwan, ou que se lhe quiser chamar, o mesmo “Mundo Ocidental” que deslocou para a China a sua indústria, e que se tornou dependente dos seus fornecimentos de bens e capitais, vai bradar “Sacanas dos chineses! Maldito Xi Jiping!”. [Read more…]

Porto Invicto

tviContinua a campanha centralista por parte dos órgãos de comunicação. Continuamos a ter Lisboa considerada o arquétipo da perfeição e o resto do país como paisagem. Do Norte a Sul, os portugueses merecem respeito. O Porto também merece. Um Porto exemplar nesta luta que devia ser de todos. Uma luta contra as mentalidades mesquinhas que tentam diminuir o resto do país.

Ao contrário de muitas regiões que já se renderam à capital, o Porto diz não.

A ler

O recuo dos rendimentos do trabalho, por Alexandre Abreu.

Em solidariedade contra a precariedade

É óbvio que os contratos colectivos de trabalho – como tudo o que forem direitos laborais, conquistados ao longo de décadas em lutas tantas vezes sanguinolentas – são um espinho intolerável na carne balofa dos investidores, especialmente, dos mais poderosos, via de regra transnacionais.

A relação de forças entre o capital e o trabalho vem resvalando, pela “mão invisível” e corroborada por governos que apetrecham o capital com poderosas ferramentas – como direitos exclusivos e tribunais privados que podem processar os estados (ISDS) -, cada vez mais, para o lado do capital.

Os estivadores do Porto de Setúbal estão em greve, ou paralisação, conforme se quiser, há quase 3 semanas. De cerca de 100 estivadores, apenas 11 têm contrato como efectivos. Os outros cerca de 90 são precários, “trabalhadores eventuais” – seja lá qual for o tempo de serviço que já têm, 5, 10, 15 anos – a saltar para o porto ao turno, sem vínculo nem protecções. A “oferta” entretanto feita pela operadora, a Operestiva, de um contrato de trabalho individual sem termo para 30 dos trabalhadores em causa, não foi aceite pelos estivadores, que exigem um contrato colectivo. Que atrevimento! [Read more…]

Fuga de capitais – sangria na economia global

A notícia do Público sobre a fuga de capitais entre 2010 e 2015 contém vasta matéria para análise do comportamento político, nomeadamente a forma como se tenta esconder o transvase do capital para centros offshore internacionais, como o fez a Autoridade Tributária durante o governo de Passos Coelho. No entanto, detenho-me, por ora, no enquadramento internacional do que se chama de mobilidade de capitais na economia globalizada.

Hong Kong - fuga de capitais
O pico constatado em 2015 de 8.885 milhões de euros, poderá sempre explicar-se com o que se sabia sobre a falta saúde do sistema financeiro português e, também, pela incerteza da continuidade de um governo que estivesse disposto a continuar a permitir a fuga de capitais sem prestar contas ao fisco.
O movimento de capitais para offshores não é um fenómeno nacional, nem tão pouco europeu, trata-se de uma tendência global [Read more…]

Boa, Passos, partiste a loiça toda!

PPC

Adorava ver o deputado Pedro Passos Coelho repetir a pergunta, com aquela indignaçãozinha tão ternurenta que lhe vimos na TV, na presença dos camaradas do Partido Comunista Chinês, com quem tão boas memórias e negócios partilhou:

Quem é que põe dinheiro num país dirigido por comunistas e bloquistas?

Era capaz de ter a sua piada. Ter piada e ser piada porque, apesar da hibridez do regime, a China é um país dirigido por comunistas onde quase toda a gente quer investir. A Apple põe lá o seu dinheiro, a Google põe lá o seu dinheiro, a indústria automóvel põe lá o seu dinheiro, os grandes bancos e restantes piratas da alta finança põem lá o seu dinheiro, enfim, seria difícil um desabafo mais trapalhão mas a propaganda é o que é e os comícios de políticos desesperados precisam destas bacoradas.  [Read more…]

Enquanto a Europa definha, os dividendos aumentam

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© Jacques Demarthon

Uma parte importante dos recursos públicos destinados aos cuidados em saúde, à educação, à criação e fruição cultural, enfim, ao desenvolvimento numa perspectiva larga e de longo termo, foram já subtraídos aos orçamentos dos Estados como consequência de decisões políticas que privilegiam outras prioridades – mesmo se anunciadas em nome de pacotes reformistas ou do «rigor orçamental». É certo que as Constituições ainda asseguram, mesmo se nessa letra pequena de lei que a actual classe de governantes tem relutância em ler, os princípios democráticos que servem uma ideia de sociedade em que a desigualdade extrema não cabe – mas também que as leis fundamentais perderam relevância no quadro das actuais políticas dos Governos, ligados entre si pelos contextos obscuros de uma economia global cujos primeiros grandes embates justamente sofremos por estes dias.

A desigualdade atinge em 2014 níveis jamais sonhados pelas gerações nascidas na Europa e na América depois das guerras do século XX. Por todas estas razões, é sempre bom ir tendo notícias do paradeiro da riqueza que ainda ontem servia a vida de muitos mais, designadamente sob a forma de direitos adquiridos por contrato social, mais do que hoje empenhado na qualidade da vida e na mobilidade social dos cidadãos. Em França, um índice recentemente publicado por uma empresa de gestão de activos chamada Henderson Global Investors (HGI) acaba de revelar o aumento exponencial dos dividendos pagos pelas grandes empresas aos seus accionistas. Incidindo no segundo trimestre do ano, o referido índice dos melhores retornos mundiais em dividendos emergiu no espaço mediático francês no exacto momento em que as ajudas públicas às empresas privadas (em nome da retoma económica e da criação de emprego) atingiram um patamar de investimento jamais conhecido.

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Humanismo burocrata

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Depois do sucesso das suas mais recentes incursões pela história dos Descobrimentos, o chefe europeu dos Passos Coelhos teve outro momento de elevação intelectual, partilhado com a humanidade através da sua conta de Twitter, onde afirmou “People are just as important to me as goods and capital.”

Sossega-me saber que a direita da austeridade já nos coloca pelo menos no mesmo nível de importância que mercadorias ou capital. Mas é capaz de causar mal estar junto da malta liberal… O próximo passo será cotar-nos nos mercados internacionais. Dez milhões devem chegar para financiar as próximas fraudes bancárias dos amigos portugueses do Jean. Só a selecção nacional são logo 297 milhões de euros!

Boa viagem

E o Capital a esvair-se para mais longe.

Deixa-o ir Joaquim. Esse capital só rouba, não trabalha.

Zé Povinho na guilhotina e a fórmula do capital

guilhotina com cestoPENSAMENTO DO DIA EM 1867!

Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar
bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até
que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à
falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado

Karl Marx, in Das Kapital, 1867

 

Não é por acaso que coloco a citação de Marx ao começo do texto. O endividamento do povo poe causa das políticas de austeridade do governo de Portugal, não têm remédio, excluindo esse de juntar famílias na mesma casa. Como diz Marx, o endividamento do povo, vai conduzir a política do governo, a gastar mais dinheiro estatizando bancos que entram em falência, pela incapacidade do povo de pagar dívidas. [Read more…]

Os mercados são “gajas”

Alexandre Teles

Os mercados são sensíveis, qualquer coisa que se lhes diga e pumba (acabam-se as actividades recreativas de quarto), de vez em quanto chateam-se connosco e nós não sabemos porquê, quanto tentamos fazer alguma coisa só pioramos a situação, pois afinal não é suficiente ou então é demais (e essa austeridade, não é assim), os mercados só gostam dos outros países, porque eles é que têm muito capital e porque eles é que têm um sistema fiscal melhore etc.., só os outros países lhes dão as prendas que eles querem, só sabem dizer que temos que os tratar bem e nos arranjar para eles (que é como quem diz, arranjar leis, desregulamentos) e que já não os tratamos como antigamente e que é por isso que agora já não nós passam credito, os mercados dizem que já não podem confiar em nós, já não merecemos a confiança deles, os mercados não só se zangam com o que dizemos e nós muitas vezes não sabemos o que é que dizemos, como pela maneira como dissemos( que pode levar a interpretações das acções e medidas futuras), são controladores e queixam-se de tudo o que fazemos que nunca esta bem e que à outros países a fazer melhor, os mercados são instáveis e emotivos e intuitivos, principalmente em alturas especificas, os mercados tentam gostar das mesmas coisas que nós e principalmente tentam que gostemos das mesmas coisas que eles, concluindo os mercados são “gajas”.

E o Homem conseguiu o seu máximo ao personificar uma “instituição” virtual criada por ele mesmo  controladora do mundo com a qual a única maneira de tentar controlar é namorá-la.

Heresia

A heresia paga-se cara.

Agora está na berlinda apontar baterias à migração de capitais, e seus benefícios fiscais. É capital de empresas, de famílias. Tudo vai.

Acontece que antes disso, assistimos à campanha de migração dos portugueses, com as sugestões do Secretário de Estado da Juventude e do próprio Primeiro-Ministro.

Talvez fosse tempo de se perceber que quanto mais se fala de emigração aos portugueses, mais dinheiro português se verá também a emigrar e menos capital estrangeiro se terá a imigrar na nossa economia.

Porque num país onde o Governo passa a mensagem do “se queres ganhar a vida, emigra”, é um país que não oferece segurança para manter ou atrair capital.

Isso mesmo: o sagrado capital, que é deus convosco, na unidade do lucro santo!

O presente, essa grande mentira social. III- A mais-valia

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Capítulo Terceiro

AMais-Valia

Para se manter dentro da História, todo ser humano precisa de consumir bens, sejam estes de agasalho, de abrigo, ou de alimentação. Para poder consumir, é necessário produzir esses bens de diversa qualidade e em diversas quantidades. Todo o ser humano sabe, especialmente os economistas ou os cientistas sociais.

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Mea Culpa, Mea Culpa, Mea Máxima Culpa

Foi a sua persistência, a da sua mulher Jenny e a de Friedrich Engels, o amigo eterno, que Karl Heinrich Pembroke Marx foi capaz de descobrir a formação do capital e convertê-lo numa fórmula que todos deviam saber. Sem saber economia, como tenho referido entre outros dos meus livros:

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Uma questão de distribuição

Quando falha a distribuição da riqueza, mais cedo ou mais tarde acabamos por ter distribuição de sacrifícios.

Vivemos hoje os chamados “tempos difíceis”, porque nos tempos da aparente abundância nunca esta foi por via da distribuição da riqueza. Pelo contrário: concentrou-se o esbanjamento e distribuiu-se endividamento.

Veja-se como os salários baixos foram durante décadas um chavão para o nosso progresso. Num país dito da Europa, alicerçávamos a nossa competitividade nos salários baixos. Depois, para colmatar a falta de dinheiro para se comprar aquilo que era dado como imprescindível para se ser feliz, fosse na televisão fosse na casa do vizinho, abriram-se os cordões da bolsa do financiamento e tudo pôde comprar aquelas coisas para as quais poucos tinham rendimento. Agora que as ilusões de felicidade do crédito fácil estouraram na cara de toda a gente, há que refazer contas à vida e lá vamos no fado dos sacrifícios.

Mister é saber como são distribuídos os sacrifícios, pois que sendo mal distribuídos acontece como na má distribuição da riqueza: muitos empobrecem e alguns engordam. [Read more…]

Contra Natura?

ESQUISITO!
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Saí à rua perfeitamente absorto.
Nem me lembrei que hoje, os adeptos de um clube da capital estariam todos muito contentes pois tinham, ao fim de alguns anos de jejum, ganho o campeonato de futebol da primeira liga.
Como se esse facto fosse de algum modo importante para a felicidade do nosso povo.
Mas, afinal era com eles, com eles e com os da terra deles, e estariam todos cheios do direito de festejar. [Read more…]

A última palavra

A última palavra (um conto do meu filho do meio, Marcos Cruz)

Um dia havemos de ir a Paris. Geraldo estava em crer que esta devia ser uma das sugestões amanteigadas mais gastas desde que o imaginário colectivo consagrara a capital francesa como a grande estância termal do romance ritualista. Ele, na sua essência de pinga-amor, tinha por certo contribuído, e muito, para as estatísticas, e mais uma vez acabara de visitar esse lugar, não Paris, o da promessa que, havendo sido feita uma e outra vez, por si e por tantos, soava sempre como nova ao sair da boca de quem saísse, sobretudo da sua, cuja extraordinária capacidade de lavar mil e um passados com a saliva do momento era já proverbial entre os seus amigos e conhecidos, a que perdia irremediavelmente a conta, dada a propensão que lhe habitava a massa do sangue para somar e multiplicar relacionamentos de todo o tipo, aí, desde que não amorosos, sem excluir memórias, antes incluindo tudo o que transcendia. [Read more…]

Memória descritiva: A capital e o capital – («Braga reza, o Porto trabalha, Coimbra estuda e Lisboa diverte-se»)

Capital é palavra com muitos significados. Das mais importantes acepções destaco duas, dois substantivos com géneros diferentes – o capital, acepção do foro da economia; a capital, na área da geopolítica. Dois famosos livros, entre muitos outros, celebram cada uma das acepções – «O Capital», de Karl Marx, e «A Capital», do nosso Eça. Como adjectivo tem também a sua importância – pena capital, por exemplo, para quem a ela tiver sido condenado, assume uma dimensão transcendente.

O significado de que, para já, me quero ocupar, é aquele sobre o qual Eça de Queirós dissertou num romance que viria, depois, a dar lugar à sua obra-prima «Os Maias». Isso mesmo, a capital de Portugal – Lisboa. No seu livro, Eça relata as vicissitudes de um provinciano numa capital, também ela provinciana. Porque naquela época final do século XIX, tal como agora, a capital era um espelho do País. Como se cada país tivesse a capital que merece.

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A Noite de S. João, o Vinho do Porto e a Casa da Música

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Como Se Fora Um Conto
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AS NOSSAS COISAS ESTÃO A CAMINHO DA CAPITAL
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Está decidido.
A Câmara Municipal da capital, apoiada pelo governo da capital e pelas empresas públicas da capital, bem assim como por outras cuja presença camuflada do governo da capital, é conhecida, conseguiu que a noite de S. João do Porto mais o seu fogo preso da meia noite, o vinho do Porto, e a Casa da Música do Porto, fossem para a capital do que já foi um império, e passassem a ser sua parte integrante. Esta conquista vem na sequência do que também conseguiu anos atrás com o Salão Automóvel, com o Salão de Moda, e mais recentemente com (como bem lhe chamou um conhecido empresário do Porto) com Aquela Bebida Air Race (sobre a qual já escrevi aqui).
Essa cidade, vai assim poder ombrear em categoria com a do Porto. Mas não contente com isso, se calhar, um dia destes, ainda vai assenhorar-se do nome (Porto) para que assim possa passar-lhe à frente.
Depois de tanta roubalheira, depois de tanta sem vergonha, só nos resta fazer como um grande amigo meu que, já há vários anos combate sozinho este estado de coisas. Esse meu amigo, só bebe Vinho Verde ou do Douro, só come legumes que saiba oriundos de regiões a norte do rio Douro, só abastece gasóleo em bombas de marca branca, só vai a restaurantes da zona norte, só come enchidos transmontanos, vai deixar de ser cliente da EDP, só usa lápis da marca Viarco, e por fim, só faz férias no Gerês ou no Douro. Para além de muitas outras coisas do género que «nem  ao diabo lembram»
Desde que existam fábricas a norte do Douro só usa productos dessas marcas.
Talvez que nada consiga do que se propõe, mas outros lhe estão já a seguir as pisadas, aos poucos eu sou um deles, e mais cedo do que se possa pensar muitos seremos e nessa altura outro galo cantará. [Read more…]

Pergunta básica

Vamos imaginar que eu não percebo nada de economia. Não deve ser assim tão complicado porque se trata de algo absolutamente verdadeiro.
O PIB de Portugal não tem crescido, certo?
Escrito de outro modo…
Vamos imaginar que Portugal é uma família com duas pessoas: as Empresas (entenda-se Capitalistas) e os Trabalhadores.
Ora, se o que esta família (Portugal) ganha tem sido sempre o mesmo (para ser simpático) e o lucro das empresas aumenta, quem é a parte que está a ficar sem o que é seu?

Se calhar esta ideia é demasiado elementar, mas alguém poderá ajudar a esclarecer?

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