O Símbolo perdido é muito caro

Hoje, por questões de agenda familiar fui "obrigado" a passar uma horita na FNAC. Para aproveitar o tempo resolvi pegar no livro do Dan Brown " O símbolo perdido".

Li e reconheci nos primeiros cinco capítulos o mesmo autor de Código Da Vinci, de Conspiração, de Fortaleza Digital ou de Anjos e Demónios.

Convencido a fazer a aquisição, olhei para o preço… 22,46€.

Achei!

Acho!

MESMO.

Um exagero – na moeda antiga quase 4 contos e meio por um livro…

Pensei, é por ser na FNAC… erro… Continente, Wook, Bertrand

O melhor da concorrência em Portugal! O mesmo preço em todas!

Conclusão: fico à espera da próxima seca que levar no Shoping para continuar a minha leitura!

Nota: será que a Srª Ministra, mulher dos livros, poderá olhar para isto com alguma atenção? Em vez de nos dar a possibilidade de comprar portáteis a 150 euros poderia criar melhores condições para que os professores pudessem ler mais, por exemplo, através das bibliotecas das escolas… Digo eu, que não percebo nada disto.

Três Cantos no Coliseu: Fez-se História

Fez-se História no Coliseu do Porto, ontem à noite, e eu estive lá…

José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto começaram pelas canções actuais (de destacar, de José Mário Branco, o Onofre, a palavra portuguesa para o botão On/Off), e, com o decorrer do espectáculo, foram desfiando os êxitos mais antigos – aqueles que, como sempre, motivam mais o público.

José Mário Branco falou: «Estou tão contente. Podem continuar a contar connosco para cantar… e para o resto». Sérgio Godinho, depois das «4 Quadras Soltas», soltou o maior aplauso da noite: «Zeca Afonso não devia estar ausente esta noite». Isto depois de dizer com a ironia do costume, a propósito de «O Charlatão», que felizemente é uma espécie que hoje em dia já não existe em Portugal. Fausto, com o «low profile» que o caracteriza, pôs milhares de pessoas a cantar a sua Rosalinda.

Foi um espectáculo belíssimo. Cada um cantou as suas canções e as canções dos outros dois. E as canções dos outros que cantavam, parece que se apropriavam delas num instante e que toda a vida tinham sido suas.

A certa altura, José Mário Branco disse que iriam dizer e cantar naquela noite o que andavam a dizer há 40 anos. E foi isso mesmo. Sobretudo isso: um espectáculo de memórias, de recordações. De alguém faz parte das nossas vidas. Crescemos ao som das músicas deles.

É como dizia Sérgio Godinho: só faltou mesmo o Zeca!

80 anos de Zeca Afonso

 

 

 

 

Face Oculta, o abismo do PS?

O que se está a passar com gente do PS ao nível da corrupção mostra que exercer o poder sem escrutínio e por um longo período de tempo pode ser legítimo, se ancorado na vontade popular, mas está longe de ser salutar.

 

As pedras estão distribuídas nos postos e funções chave, sedimentam-se as amizades ao abrigo de interesses comuns, alarga-se a rede de contactos e o húmus da corrupção e do compadrio estão instalados.

 

O PS está em toda a parte, no governo, na alta administração, nas empresas públicas, tendo como sócios os grandes grupos económicos, está na banca de braço dado com os que  enriquecem a fazer negócios com o Estado.

 

As marés que renovam todos os dias as águas dos estuários são responsáveis pela vida

que sobrevive ao lodo e à falta de oxigénio  de que as águas paradas são responsáveis. No aparelho de Estado, a Democracia, de quatro em quatro anos tem essa capacidade de renovação, de limpeza. O PS está há 12 anos no Estado nos últimos 14 anos, a impunidade já leva responsáveis públicos a pensarem que podem usar o telefone para fazer negócios escuros.

 

Apesar de tudo há aqui, na Face Oculta, uma novidade. Há funcionários das estruturas intermédias acusados, esse polvo que vive à nossa custa, que faz os pareceres técnicos sobre os seus próprios trabalhos que vendem às empresas concorrentes aos concursos públicos, e que durante anos e anos foram passando informações aos jornalistas, ocultando sempre as responsabilidades dessas estruturas e centrais de interesses há muito instaladas.

 

São estes interesses que têm como único objectivo lançar as obras públicas, depressa e irreversivelmente, alimentar essa teia de interesses com catorze anos de poder absoluto. antes que sejam varridos pela vontade popular.

 

Não se espere mais nada deste governo que não seja alimentar a máquina insaciável!

Morreu o Homem da Rádio

Este António Sérgio que não volta a fazer rádio foi tão importante para a minha geração como o outro António Sérgio, que escrevia livros, o foi para a sua.

Sei que isto para muitos será uma heresia.  Mas  quem o seguiu, desde os tempos da Rotação na RR, gravando programas inteiros nas velhas k7’s, única forma de ouvir a música que só ele passava em Portugal, e quem entenda que a música para nós ocupou o espaço dos ensaios, a comparação pode ser parva mas faz sentido.

António Sérgio abriu uma estrada de Lisboa a Londres e a Nova York que não existia, uma estrada com ligação directa às ruas de má fama, desviada de outros caminhos com passadeiras, os das todo poderosas editoras que moldavam o consumo da música moderna à maneira do negócio e da tacanhez., repetindo infindáveis Baby I Love You.  Trazia canções que nos falavam de jovens urbanos chateados com o mundo, e era isso que nós também queríamos ter o direito a ser. Há uma revolução escondida nessas esquinas, obrigado por nos teres trazido decibéis dela.

Resta-me a consolação de saber que quando chegar ao inferno ele já lá estará a passar música. Pobre Diabo, a sua vida nunca vai ser a mesma.

 

 

 

 

Sócrates II, O Dialogador, Quer Agradar a Gregos e a Troianos

UMA NO CRAVO, OUTRA NA FERRADURA

Segundo o que se pensa que o nosso Primeiro, Sócrates II, O Dialogador, vai fazer, o programa de governo terá duas componentes. Uma para agradar à direita e outra para agradar à esquerda.

Nas opções de vida, onde se incluem os casamentos dos homossexuais, o novo governo irá fazer todas as vontades à esquerda. Na questão económica, a governação deverá ser executada mais ao centro.

Falta saber que pormenores do programa do PS, sufragado nas eleições, e que venceu, deixará o nosso Primeiro cair no programa de governo, e que novidades este trará.

Faltam pouco mais de vinte e quatro horas para ficarmos a saber.

 

Bíblia-Saramago

Acabei de ler no Público o artigo de Frei Bento Domingues intitulado “Tempo glorioso para a Bíblia”. Embora o assunto Bíblia-Saramago já cheire mal, gostaria, uma vez mais, e dado que se trata de um intelectual religioso do estatuto de Frei Bento, dizer algumas palavras. Claro que não gastaria um minuto a contestar réplicas de Pulido Valente ou Richard Zimler.

 

Várias vezes tenho dito que qualquer discussão que meta a fé como argumento, não interessa. Dá sempre em águas de bacalhau. Uma coisa é discutir a fé como fenómeno social, outra é discutir o que quer que seja usando o argumento da fé.

 

Está por de mais dito que não move a Saramago ou a qualquer ateu, o mais pequeno desrespeito pelo livro histórico chamado Bíblia, um livro redigido durante séculos, por dezenas de gerações, escrito por sábios e ignorantes, caldeado, alterado, adulterado e interpretado pelos diferentes poderes e interesses que atravessaram mais de um milénio. O que está em causa é que, para os crentes, há um deus por trás de tudo isto, um deus a pegar na mão dos que escreveram a Bíblia, enquanto para os ateus e não crentes, a Bíblia é um livro que tem o respeito que merece, mas não deixa de ser anedótica, quando é impingida como sendo escrita sob o desígnio de deus.

 

O que me revolta é o que se infere das palavras de Frei Bento e do clero em geral, isto é, a ideia fundamentalista da igreja de que só uma interpretação cristã sobre o sentido metafórico do Antigo Testamento, pode ser tida como profunda e culta, e que qualquer outra interpretação é ignorante e inculta. Ninguém fora da igreja tem a capacidade intelectual e os conhecimentos necessários para se atrever a discordar de suas excelências os sábios da fé.

 

Terminava dizendo que os não crentes, os ateus, os não criacionistas e os cientistas têm o mesmo direito de dizer que a capacidade intelectual e a cultura dos defensores das verdades bíblicas, nem de longe nem de perto é suficiente para entenderem livros como “A desilusão de Deus” e “O Espectáculo da Vida”, de Richard Dawkins, estes sim, livros profundamente credíveis, dificilmente contestáveis por quem quer que seja, livros aceites por praticamente todos os investigadores e cientistas mundiais, cuja capacidade intelectual está muito acima da que possa ser atribuída a qualquer mente, só pelo facto de ser crente ou ateia.

 

Poemas com história: Enquanto

 

 

Pelo final dos anos 60 os jornais traziam muitas fotografias semelhantes à que mostro: camponeses vietnamitas, guerrilheiros ou não, colhidos pela guerra, jazendo mortos sobre os arrozais. Lembro-me de uma imagem de uma criança com o rosto queimado pelo napalme, moribunda e cega. O texto explicava que os meninos pediam às mães que lhes rasgassem as pálpebras para as poderem ver uma última vez.

 Foi uma fotografia dessas que, apanhando-me a beber o café matinal, me chocou profundamente e desencadeou o poema que, afinal, procura demonstrar a futilidade das palavras, inclusivamente dos poemas e das canções de protesto. Ainda que bem intencionadas,  nada são perante a cruel enormidade das realidades que denunciam. Pensei também nessa manhã de há quarenta anos em como as nossas vidas, mesmo a de pessoas perseguidas pela polícia política, eram comezinhas quando comparadas com a daquelas gentes sobre as quais se abatiam as garras assassinas da guerra. Nunca me considerei um poeta, sempre disse que a poesia era para mim uma arma de arremesso contra a ditadura e contra o imperialismo. Não um fim, mas um meio. De acordo com esse princípio, o poema, publicado na colectânea «A Poesia Deve Ser Feita Por Todos»,  diz:

Enquanto

Enquanto apunhalada a paisagem arde,

um homem dorme num arrozal de pranto

deixando nas estrelas o olhar parado.

 

Eu canto,

canto com revolta e sem ela, canto

nesta janela de espanto e fel

           onde debruçado me revolto e canto

cravando a raiva na brancura do papel.

           Enquanto tudo arde à minha volta,

há um homem que apodrece no arrozal

e um fogo criminoso que percorre a aldeia.

Um menino morre, mas não chora

enquanto a morte vem

(as pálpebras queimadas

pelo napalme assassino

são duas mãos de fogo e pus

abatidas sobre os olhos do menino).

Não pode ver a luz e à mãe implora

que lhe rasgue à faca as pálpebras

de pus. Não para ver a luz.

mas para poder ver a mãe

ainda uma vez antes de morrer.

E eu canto, eu canto enquanto

as flores são assassinadas.

os frutos da vida são colhidos

por garras criminosas,

as escolas são bombardeadas

o gado, as pastagens, as aldeias

destruídos impiedosamente.

As crianças agonizam, as flores fenecem

e o sangue circula normalmente

nas minhas veias, enquanto

ardem as colheitas e os homens apodrecem

acometidos pela fúria de mão odiosa.

Enquanto canto, vou ao café ou leio,

Em meu redor a paisagem arde

e eu neste litoral a ocidente da coragem,

o sangue bem guardado no meu corpo,

capitalizado em napalme e morte.

Afinal,

cada qual tem a sorte e o esquife que merece

e se o coração não é maior do que o peito

qualquer leito nos serve para morrer:

uma cama, uma câmara de gás,

um túmulo de lama, tanto faz.

O homem que apodrece lentamente

trazia o Sol dentro de si a palpitar,

por isso investiu no futuro a sua carne,

transformou-a em semente

que a terra não devora em vão,

porque embora a paisagem arda,

tudo pareça morto e acabado,

 gado, a floresta, a pastagem,

tudo apodrecido ou incendiado,

um homem com os dedos na espingarda

funde-se com a terra lentamente.

Um dia, uma flor ou uma cidade,

uma árvore e talvez mesmo a liberdade,

nascerão nessa terra que comeu

o camponês no arrozal tombado.

 

 

 

 

Andam a vender os meus jarros

A maioria das árvores que embelezam a minha rua, não estariam grandes e viçosas se não fosse o meu trabalho, incompreendido, diga-se de passagem, noite dentro em pleno verão, a chegar-lhe água.

 

Entre a minha casa e a garagem do prédio há um pequeno jardim, que cresceu graças à minha força de trabalho e a algumas situações rídiculas, porque as pessoas nunca acreditam que alguem faça alguma coisa por altruísmo,  ou porque pura e simplemente gostam de jardinar.

 

Não senhor, passei a ser o encarregado da câmara que trata dos jardins e vá de mandar bitaites, o senhor não quer varrer ali aquelas folhas, está tão feiínho, ou aquela árvore  precisa de poda e eu a ver se não me desmancho, assim talvez tenham alguma consideração pelo encarregado e não estraguem.

 

Bem, um dia (há sempre um dia) cheguei à rua e tinham-me roubado os jarros lindos que cresciam numa mancha de branco, que davam nas vistas, mas isto é como um pai que tem uma filha linda, sabe que um dia lha vão roubar, é a lei da vida e ainda bem que é assim, não se pode esconder.

 

Pior que estragado, torno a colocar a tabuleta " este jardim é seu, proteja-o" e vou até à Guerra Junqueira ver as "teens" enquanto almoço, e ler uma horinha ali debaixo do frondoso arvoredo quando, entre o barulho de conversas, ouço um tipo a gritar " um molho de jarros, um euro" e, aparece-me o facínora com os meus jarros a querer vender-me os meus jarros!

 

Não perdi a cabeça porque o preço, enfim, fazia juz à beleza dos jarros e além disso, não me ofereceu desconto…

A máquina do tempo: passam hoje 254 anos…

 

Eram as 9,30 do dia 1 de Novembro de 1755. Dia santo, grande parte da população de Lisboa encontrava-se nas igrejas. Subitamente, um rugido medonho subiu das entranhas da terra e sucessivos abalos destruiram em minutos uma das maiores e mais ricas cidades da Europa. Aos abalos sucedeu um pavoroso tsunami e um enorme incêndio. O cálculo do número de vítimas mortais vai em alguns autores até quase às cem mil (a cidade teria 275 000 habitantes).

O primeiro abalo, o mais forte terá durado entre três  e nove minutos, pensando-se que terá atingido o grau 8,7 na escala logarítmica de Richter. Abriu fendas com cinco metros de largura. Minuto e meio depois, uma violenta réplica provocou o tsunami com vagas que atingiram os 20 metros e devastaram o que o abalo deixara de pé. Horas depois, desencadeou-se um forte incêndio que completou a destruição. A Sul, a região de Setúbal e o Barlavento algarvio foram também grandemente afectados.

 

É muito difícil imaginar como seria hoje Lisboa se não tivesse sido flagelada pelo terramoto de 1755. É praticamente incalculável o valor do que se perdeu – conventos, palácios, igrejas, o Castelo, a sumptuosa Ópera do Tejo, a Casa da Relação, o Paço da Ribeira (e a sua valiosa biblioteca de 70 mil volumes), a Torre do Tombo, o Hospital de Todos-os-Santos as livrarias do marquês de Louriçal e dos conventos de S. Domingos, do Carmo, do Espírito Santo, documentos, quadros, baixelas valiosas… Sabemos o que se ganhou – a nova cidade pombalina , construída em cima das ruínas da urbe medieval.

O terramoto impressionou vivamente a Europa da época. Numerosas obras literárias se inspiraram ou se referiram ao cataclismo – entre muitos outros, nomes com os de Voltaire, Kant, Humboldt, Goethe, Le Brun, padre Feijoo, Charles André, Goldsmith, Baretti, Lemercier.  

Em 26 de Janeiro de 1531, Lisboa fora abalada por um outro sismo de grande intensidade. Segundo descrições coevas, terá durado «o tempo de um credo», durante o qual ruíram cerca de mil e quinhentas casas e numerosas igrejas. Há uma colorida descrição de Garcia de Resende. Gil Vicente esforçou-se por explicar as causas naturais da catástrofe, contrapondo-as à generalizada opinião de que ela significou «um castigo de Deus» pelos desmandos dos homens.

 

Alguém me sabe dizer porque razão anda parte dos portugueses a celebrar o Halloween?

É uma festividade de raízes estranhas mas genuinamente anglo-saxónica e pagã e sem presença histórica em Portugal, onde preferimos assinalar o Dia dos Fiéis Defuntos.

Até há alguns anos não tinha qualquer expressão em terras lusas, salvo um grupo de indivíduos que se reunia num ‘jantar dos 13’, mais para o espectáculo que para promover qualquer motivação esotérica.

 

De repente, aos poucos, começou a ganhar dimensão. Uma festa aqui, um evento acolá. De ano para ano foi crescendo. Hoje, dou por mim a ver muitas lojas com decoração do Dia das Bruxas, restaurantes a fazer especiais do Dia das Bruxas, bares com iniciativas do Dia das Bruxas. Quase de um ano para o outro, os portugueses começaram a celebrar o Halloween.

 

Sim, não foi bem de um ano para o outro mas não vamos entrar em demasiados detalhes.

A coisa é uma espécie de Carnaval mas sem serpentinas e mais preto. E o Carnaval tem a vantagem de mostrar mais raparigas em roupas diminutas.

 

E esta descoberta do Halloween em Portugal deve-se a quê? Apenas à influência do cinema? Efeitos da globalização? Necessidade de escapismo e as parvoíces como o Dia das Bruxas servem para isso? Foi a crise?

Jantares de Autor e Termodinâmica Clássica da Bloguística

 

 

Imagem Kaos e dedicado a todas as generosas pessoas que mantêm viva a Reflexão Pública, neste trise País

 

 

Finais de mês e pontos de encontro são sempre lugares ideais para reflexões "à vol d’oiseau". Sendo a Bloguística, como Descartes diria, Ciência nova e de fronteiras por desbravar, a ancoragem terá de ser feita anteriormente, e vamos lá bem aos primórdios, aos "chats", às caixas de comentários, e a uma era ainda bem mais antiga, em que os protocolos da fala de fantasmas se processavam através de "Telnet", e eu posso afirmar que ESTIVE LÁ, com a mesma força da gravidade de quem pôs as botas na Lua.

Depois, desde as chamadas páginas pessoais, a mais este fenómeno efémero dos Blogues e das hediondas redes de comunicação, os "Twitters", os "Facebook", os "Orkuts" e essas merdas todas, que as pessoas adoram, por se julgarem lugares inimitáveis do Mundo, e alimentarem silenciosos narcisismos da permanente contemplação dos outros — e eu cada vez estou menos nessa — portanto, desde essas eras que o inexorável Segundo Princípio da Termodinâmica, a Prova do Tempo, se exerce, e vou já direto ao tema: aquando do colapso do primeiro "The Braganza Mothers", pelos acasos de uma reles intriga de serralho, já eu estava, há muito, a abandonar o lado utópico do Virtual, e a questionar, como matéria de pesquisa vindoura, as palavras em que continuo a acreditar, quer AQUI, mas, sobretudo, AQUI.

 

Na Realidade, a Utopia Virtual já estava, com uma apressada degenerescência, a imitar todos os vícios da Realidade, importando cinismos, impunidades, cobardias, bastardias e jogos de opressão, impróprios de quem inaugurava um Novo Mundo da Expressão. Mais, ainda, gerava, no seu próprio fio evolutivo, uma permanente mancha de "spam", que, muito "ad laterae" e muito difusamente, até dava 1% de razão à miserável Clara Ferreira Alves e ao seu memorável período de má prosa e mau perder: "A blogosfera é um saco de gatos que mistura o óptimo com o rasca e acabou por tornar-se um prolongamento do magistério da opinião nos jornais. Num qualquer blogger existe e vegeta um colunista ambicioso ou desempregado ou um mero espírito ocioso e rancoroso. Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, agora publicam-se as ejaculações. Mas, sem querer estar aqui a analisar a blogosfera e as suas implicações, nem a evidente vantagem dessa existência e da qualidade e liberdade que revela por vezes, destituindo do seu posto informativo os jornais e televisões aprisionados em formatos e vícios, o resíduo principal de tudo isto é que os jornais mudaram, e muito, e mudaram muito rapidamente. Parafraseando Pessoa na hora da morte, We know not what tomorrow will bring."

No que a mim respeita, mero fantasma literário, que nasceu pelas caixas de comentários do "Expresso on-line", tenho a plena consciência do Devir. Nesse tempo de primeiro colapso, alguém me disse que, como nos seus tempos áureos, nem que o "Braganza" fechasse as portas, já teria desempenhado, na atitude, postura, irreverência e intervenção, o equivalente ao "Independente" dos Anos 80, mas isso ajuizará como certo ou apologético quem assim melhor o entender, porque eu não venho aqui falar disso, mas só referi-lo, de passagem.

Como todos os fantasmas, o "Arrebenta" gerou amigos apaixonados e respeitáveis inimigos, pessoas com as quais, por igual, me dou sinceramente bem: porque estamos em paridade, o que é excelente, num país de expressão livre e maturidade intelectual, ao contrário das patologias da perseguição, aqui exemplicadas, e aqui ridicularizadas por terceiros, mas isto não impede a reflexão sobre o tempo de vida útil de uma ficção, e ontem, ao sentar-me, para jantar, com algumas das altas patentes da Blogosfera, também estava em cima da mesa, como tema de debate, a utilidade, ou inutilidade, de continuar a escrever(-se), ou, se preferirem, de se continuar a escrever. Pessoalmente, tenho muito mais vida para além dos blogues, e, neste preciso instante, andar por aqui é um optar por estar aqui, enquanto poderia estar noutro lugar, eventualmente de maior prazer e com mais relevância, ou de maiores consequências, no nosso frágil devir terreno.

De existência, assim por alto, já leva a Ficção, "Arrebenta", 8 anos de existência, exatamente o tempo que o "Independente" levou a passar do esplendor ao declínio, o que pode ser uma bitola, e aviso, para medições futuras…

Ontem, discuti o cenário, aliás, já aventado aqui, de, pura e simplesmente, interromper a escrita por… inútil. Não é inocuamente que abrimos uma televisão, para ouvirmos desbobinar os nomes de todas as Empresas Públicas desta Cauda da Europa, ligadas por um mesmo, ou mesmos, "Polvos".

A pergunta pertinente, é, pois, valerá a pena escrever uma mais linha que seja, contra um estado de coisas destas?…

Esta é uma questão pertinente.

Ao nosso redor, as coisas definham e emergem: o "Abrupto", coisa que nunca frequentei, por lastimável, suponho que agonize, e agonize e agonize; os blogues aguerridos, para os quais fui, sucessivamente convidado, estagnaram, e falo do "A Sinistra Ministra", que era chateado e perseguido por tudo o que era o "Sistema" — e com quem eu, ainda ontem, discutia o interesse e a validade de manter "on-line" o espaço, que continua a ter um peso notável no "Google" –, o "Democracia em Portugal", que a Imprensa adorava, e ora está anquilosado, a excelente "Grande Loja do Queijo Li
mi
ano
", que se fraturou, entre o brilhante "José" e… nada, e, acima de tudo, o caso mais preocupante, o "Do Portugal Profundo", em cujas caixas de comentários, num dado momento, se iam sacar todas as informações proíbidas de Portugal, e que, agora, sobretudo depois da grave cisão, se desertificaram.

Infelizmente, tinha razão, quando o previ, nesta "Sonata al Santo Sepolcro", RV 684.

"The Braganza Mothers" nunca foi um espaço de comentários alargados, como o "Aventar", por estes tempos, em plena adolescência, mas que também deve começar a refletir no que escrevi atrás: há uma Síndroma do Silêncio, quando as caixas de comentários emudecem, o que nos leva a pensar que alcançámos o Poder das Escrituras, ou já, ou ainda, não existem temerários que nos afrontem. Qualquer das hipóteses é redutora e empobrecedora, mas deixo ao vosso critério debatê-la.

Hoje, é tão só a Noite do "Haloween", e este é um décimo do texto em que vinha anunciar que tenho mais vida para além dos blogues. Não, não é deixar de escrever, nem sequer arrumar na gaveta o "Arrebenta", uma de muitas outras personagens, de maior ou menor sucesso, que tenho vindo a criar, desde 1995, até por que isso, como ontem se debateu num jantar de autores, poderia ter um efeito dominó, e começar a calar muitas outras bocas, QUE É ISSO QUE "ELES" QUEREM, e assim ficaremos, atentos, preparados, armados até aos dentes, à espera de que a Realidade ainda se afunde e decline, muito mais depressa dos que as nossas ficções blogosféricas.

Até quando?…

Pois… até amanhã, com certeza, como sempre…       🙂

 

(Por pura necessidade explicativa, no "Aventar", no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino", e em "The Braganza Mothers" )

Este campeonato é vermelho, está pouco azul e não vai ser encarnado, II

Prognósticos a um mês do jogo:

No próximo dia 1 de Novembro (mais um menos outro) Jesus vai a Braga ver todos os santos. Depois conversamos sobre o Natal.