“A carga policial afetou crianças e mulheres“. Efectivamente, afetou.
A turba
Não sou católica, não sei praticamente nada sobre o funcionamento da Igreja Católica e se há assunto que nunca me interessou foi o da escolha de um padre para determinada paróquia. Levo, porém, meses a acompanhar o pequeno drama de Canelas, de início com simpatia por uma comunidade que se juntava para reivindicar o direito a manter o padre a quem estava reconhecida, e ultimamente perplexa com a transformação dessa comunidade de católicos numa turba enfurecida e canalha. Neste domingo, e pela quarta vez, o novo padre teve de sair protegido pela GNR, enquanto a turba gritava, exibindo bandeiras que diziam “A igreja passou a tribunal, só saem com escolta policial”, todo um tratado de bazófia caceteira e um bom começo para um linchamento.
Quatro semanas acossado pela turba, insultado de “badalhoco”, protegido pela GNR, e o novo padre, Albino Reis, continua a comparecer para a homilia de domingo, coisa que confesso que me espanta. Cenas como esta, de um homem ou mulher sós, caminhando por entre multidões furiosas, apontados por dedos acusadores, insultados, ameaçados, fazem-me sempre tomar o lado dos que caminham sós, ainda quando se trata de gente com motivos para receber insultos e acusações, ainda que tenham cometido terríveis crimes, porque da fúria da multidão jamais se pode esperar justiça, e porque a ausência de piedade dos carrascos ainda me parece uma das maiores infâmias dos que os seres humanos são capazes. [Read more…]
Info-trampolineiros
Por interesse de cidadão, decidi tentar acompanhar o Congresso do PS. RTPInf., Carlos Daniel, o futeboleiro, às alavancas. Tratando as coisas como se os diálogos com os convidados fossem painéis da bola e as entrevistas de corredor fossem aquelas inconcebíveis reportagens que se fazem à entrada e saída dos jogos. Tudo ficaria pela piada e pela incompetência, não fora a visível agenda do pivô. Reaccionarote, com um estilo francamente tablóide, conseguiu, com total desprezo por quem queria ser informado sobre o que se passava no Congresso, centrar-se exclusivamente em Francisco de Assis que, entretanto, já tinha tido a sua birra e tomado o avião.
Que pensa do abandono de Assis? E do “pensamento” de Assis? E do facto de o Assis, anulando a sua inscrição como orador, ter proposto Jaime Gama para candidato à presidência em entrevista aqui ao rapaz -(“vamos então passar, em repetição essa parte”, repetia, contente) ? E que pensa de só Assis ter uma proposta de aliança com a direita? Não acha que é a única hipótese para o país? Não acha que Assis abandonou por ver o PS numa “deriva esquerdista” (sic)? Não acha Assis um grande ausente? O que é o PS sem Assis? Assis…Assis…Assissssss. [Read more…]
O Estado Agradece
a boa cristandade dos portugueses e aos 23% de IVA dos bens alimentares que comprarem nos sítios do costume.
Um bom negócio para muita gente.
Mini-drama em 1/10 de Acto.
Abre o pano; em cena, Margarida, a empregada de limpeza – licenciada em Letras e a recibo verde – de Passos Coelho, trabalha e, nesse interim, vai explicando ao primeiro-ministro:
Margarida – Numa entrevista, dizia sobre Aquilino Ribeiro, Salazar: ‘É um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor’
Passos – Quem é esse Aquilino Ribeiro?
Cai o pano (envergonhado)
O Cante e o secretário
Mais uma vez foi um bem cultural que prestigiou o País. Já estou a ver o secretário de estado (não consigo usar maiúsculas…) a reflectir neste facto: “Cortei, cortei, cortei na cultura; e ela acaba sempre por dar mais resultados; de onde se conclui que quanto mais cortar, melhor é. Sou tão inteligente!…O sr. presidente do conselho vai ficar contente comigo”.
E é assim…
Ventos que sopram de Espanha
No dia a seguir ao pedido de demissão da ministra da saúde espanhola, alegadamente envolvida no caso Gurtel, um caso de corrupção que envolve alguns dirigentes de topo do PP, Mariano Rajoy foi ao hemiciclo espanhol dizer aos deputados e ao país que “a maioria dos políticos são decentes” e que “a Espanha não está corrompida”.
Eu não conheço a realidade espanhola o suficiente para me poder pronunciar mas é interessante verificar que, lá como aqui, existem ministros que pedem desculpa. Claro que, neste caso, o pedido desculpa de Rajoy aproxima-se mais dos pedidos de desculpas de alguns papas pelas heresias eclesiásticas praticadas por alguns dos seus pares do que dos motivos que levam ao mesmo comportamento por cá, regra geral relacionados com incompetência e experimentalismos ocasionais. Sempre muito comovente.
Assunto nosso
Já tenho idade suficiente para lembrar-me que houve tempos, e não tão remotos, em que se morria decentemente, que é como quem diz em casa, rodeado da gente com quem se tinha vivido, e morrer era uma coisa normalíssima, que acabaria por acontecer a todos e que não requeria medidas excepcionais, além dos paliativos possíveis. O quarto do doente não era território tecnológico, como o é agora a enfermaria do hospital, com máquinas a apitar e enfermeiras a interromper a sopa para medir glicoses e temperaturas, e médicos sempre cheios de pressa porque lhes pedem que se desdobrem em vários e que rematam tudo com um vamos ver isso, vamos ver isso, para logo se sumirem pela porta.
O quarto do doente era o quarto de toda a vida, o seu, com a colcha herdada de uma tia solteirona, o Cristo na parede, a foto do casamento, a cama onde a quase viúva se sentava ao lado do marido a fazer tricô, com os netos que entravam a pedir dinheiro para um gelado, o filho a contar à mulher a discussão com o patrão, e o doente era um moribundo mais ou menos conformado, mais ou menos paciente, ora tinha um feitio dos diabos ora era um santo, que ia pedindo que lhe chegassem coisas, ou que já não abria os olhos nem sabia quem era, e a quem se tentava amenizar os dias que lhe restavam. [Read more…]
Mário Soares
Sobre a coerência política de Mário Soares, a recordar este texto de Clara Ferreira Alves…
Foi hoje
Estiveste bem, UNESCO, o cante alentejano já é património imaterial da humanidade, com louvor e distinção. Agora é rir com a nossa extrema-direita e as suas piadolas de oportunidade latifundiária. Faz parte.
A fonte e o mal
Agora que o poder judicial está sob desafio, era bom que não houvesse confusões quando se fala em corrupção e lixo jurídico. Não esqueçamos que é o poder legislativo, com maiorias determinadas, agentes determinados, leis determinadas, intenções determinadas, que produz as leis que permitem fazer negócios e transacções públicas e privadas que, sendo formalmente legais, podem ser abjectamente imorais e éticamente contaminantes. Confunde-se legalidade com legitimidade.
A conformidade com a lei ostentada por muita da acção e decisão dos governos, não garante nada senão uma obediência ao, em tempo, prescrito e aprovado que pode, ela própria, ser intolerável para qualquer cidadão com um mínimo sentido de decência. É política, pois, aquilo de que falo. E as leis podem ser boas, más, mas nunca neutras, pelo que a tensão entre elas traduz uma conjuntura do conflito social. Não nos espantemos, então, que também as mais brutais agressões sociais e os mais moralmente repugnantes negócios públicos se fundem e suportem nas leis da República, elaboradas e aplicadas por maiorias devidamente legitimadas pelo consentimento eleitoral.
Quem analisar, brevemente que seja, a arquitectura contratual de uma PPP à portuguesa, percebe imediatamente do que estou a falar. A corrupção está, frequentemente, na lei. É sistémica. E tem actores,autores e mandantes. É essa uma fonte do mal. Ou do Mal, se quiserem. Ou, dito de outro modo, é a luta de classes, pá.
É pra amanhã
Ó senhores lá da UNESCO, se isto não é do melhor que a humanidade pariu hoje e em qualquer tempo, vossas mercês sois surdos, e nem nos lábios sabeis ler.
Tenham tino, e botem vem.
Estudo para o documentário Cante Alentejano. Realização de Sérgio Tréfaut. Serpa 2012
Confusões convenientes
É confrangedor ver a ligeireza com que jornalistas e comentadores televisivos de direita (passe o pleonasmo…) manipulam os factos nas suas análises. Nem digo que seja sempre má fé; muitas vezes é pura ignorância. Não têm conta as considerações que já ouvi sobre o alegado embaraço que a corrente situação política provoca ao líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, considerado próximo e até colaborador dos governos de Sócrates. Ora vão lá estudar a história, criaturas. Ferro Rodrigues foi ministro nos governos de Guterres (XIII e XIV) e não nos de Sócrates. Da sua acção – e sou insuspeito de qualquer simpatia política por tais governos – retenho uma imagem de decência e de capacidade de diálogo à esquerda que os seus sucessores nunca tiveram. Foi o líder do PS antes de Sócrates e não merecia as circunstâncias em que foi substituído por este. Por isso, parem lá com as telenovelas e ajeitem a “narrativa”.
Com o bloco central quem paga é você!
José Ramalho, vice-presidente do Banco de Portugal, a entidade supervisora que não supervisiona coisa nenhuma, disse ontem na comissão de inquérito do BES que seriam os bancos a pagar a factura do Novo Banco. Muitos contribuintes respiram de alívio ao ouvir estas palavras, pois não percebem que a Caixa Geral de Depósitos também é um banco, que por sinal é público e como tal de todos nós. Outros percebem isso mas esquecem-se que a contribuição de cada banco para o fundo de resolução é proporcional à sua quota de mercado e a CGD, nem de propósito, é quem tem a maior. Fica o lembrete. Seja o PS, seja o PSD, seja o BPN ou o BES, quem paga a factura, de uma maneira ou de outra, é sempre o mesmo. Sim meu caro, é você. Mas não se preocupe que o Sócrates está preso na cela nº44 e comeu cozido à portuguesa ao jantar. Se o Sócrates está preso é porque está tudo bem.
O seu a seu dono
Há muito quem se questione sobre se a gravidade de comportamentos criminais de alguns políticos – refiro-me aos já condenados – não é muito menor que a devastação que provocaram no desempenho, dentro da lei, dos seus cargos. É sim; frequentemente. Mas são coisas de natureza distinta. Por isso, aos juízes exijo o escrupuloso desempenho do seu papel, rigor e sentido de justiça, no estrito âmbito dos seus deveres. Quanto ao resto, nós tratamos da luta política. Recuso em absoluto alienar a minha responsabilidade de cidadão na acção de juízes. Já tivemos Tribunais Plenários, não queremos mais. Não quero que o sistema judicial se encarregue de me vingar as ofensas e agressões políticas. Isso é outro plano. As respostas políticas dão-se na sua esfera própria, seja qual for a sua natureza. Pacífica ou não. Quem de direito tratará da justiça. De nós espera-se justeza.
Dizem que é um governo liberal…
Ninguém é perfeito, mas nem todos abusamos da imperfeição
Tirei esta fotografia em 2001, são os portões da Cimpor, em Souselas, tentávamos bloquear a entrada dos primeiros resíduos industrias tóxicos que ali iriam ser utilizados como combustível gratuito, num processo conhecido por co-incineração.
Foi uma luta inglória. Do outro lado estava um secretário de estado e depois ministro do Ambiente apostado em aplicar as técnicas neoliberais de combate político, à velha moda tatcheriana os cidadãos de Coimbra foram acusados de não passarem de uns nimbys (termo popularizado por Nicholas Ridley, secretário de estado de Margaret Thatcher), e a batalha quando perdida afirmou um político bem falante, firme, implacável, que escolhera a cidade onde estudara três anos (e que ficou a odiar profundamente por razões meramente passionais) como cobaia, José Sócrates de seu nome. O Zé.
Do lado da minha cidade a reacção foi conduzida de forma infeliz, num combate desigual, que esqueceu dois aspectos fundamentais: a localização da Cimpor já era em si um problema (como os ecologistas locais denunciaram ainda na década de 70) e mais do que uma questão ambiental era de um negócio que falávamos: a fábrica ia receber combustível gratuito e uma série de benfeitorias (que verdade se diga diminuíram mesmo a poluição que já levávamos). Fomos muito poucos os que questionámos o óbvio interesse económico, e levantámos suspeitas sobre a eventual corrupção do político que assim aparecia aos olhos dos portugueses como uma estrela cadente. [Read more…]
A prisão preventiva de José Sócrates
Quem me lê há algum tempo sabe da forma como me atirei a José Sócrates durante o tempo em que foi primeiro-ministro. «Atirei-me» a José Sócrates é, aqui, um eufemismo, porque no auge do socratismo o antigo primeiro-ministro tornara-se o meu ódio de estimação. Por razões políticas mas também porque, do ponto de vista jurídico, tudo me parecia demasiado óbvio: projectos da Câmara da Guarda, Cova da Beira, Freeport, licenciatura, compra da PT, Face Oculta, etc.
Três anos depois, José Sócrates está preso preventivamente. E ao contrário do que eu próprio poderia supor, não estou nada feliz com o desfecho. Ver a queda de um homem como José Sócrates não é uma coisa bonita de se ver.
Será talvez o tempo de deixar a Justiça trabalhar e, a seu tempo, avaliar o trabalho feito. Com a esperança de que todo este caso não tenha qualquer influência no futuro político do país. Era o que faltava que os principais beneficiários da prisão de José Sócrates fossem precisamente Paulo Portas e Passos Coelho – e logo eles…
Poderemos?
Sobre este discurso de Pablo Iglesias, dirigente do Podemos, no comício internacional promovido pelo GUE/NGL na véspera da IX Convenção do Bloco de Esquerda, tenho a dizer que é a melhor peça de oratória e lucidez que ouvi em toda a minha vida, e já levo mais de 40 anos a ouvir, ou ler, discursos de esquerda. E a fábula do país onde os ratos votavam nos gatos até a tinha publicado em tempos no Aventar, o que me reduziu um bocado o efeito.
Em Portugal faltam-nos duas coisas: quem seja capaz de falar assim, mas antes de mais e sobretudo (quando são precisos os dirigentes sempre apareceram, é uma constatação histórica) quem o ouça.
E mais não digo por enquanto, vejam o vídeo.
A “Justiça” ao serviço de quem?
Carlos de Sá
José Sócrates foi detido, já toda a gente sabe. O que muitos não saberão é que o Correio da Manhã TV estava no aeroporto à espera da detenção, e que o semanário SOL tem uma edição especial a sair amanhã (Domingo) “com tudo sobre o caso” – segundo o próprio jornal.
Porque Eu Amo Jesus!
Fode-me por trás, perdão,
vamos unir as nossas almas,
vamos juntar os nossos corpos,
vamos voar nas asas do amor.
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