Ética e Educação – 2ª Parte (11)

Educação no tratamento dos problemas éticos ligados à esfera da saúde. Considerações sobre a necessidade de integração de conhecimentos ligados à saúde no âmbito da educação escolar e social

 

A nossa sociedade vive triturada por uma poderosíssima máquina de mentir a verdade. A esta máquina não é poupada a assistência médica e a medicina, que sofre também as consequências deste “soro universal da mentira” que, cada vez mais, induz as pessoas a precisarem da medicina, dentro de um movimento de mercado que não olha a meios para criar a riqueza de alguns à custa da pobreza da muitos. Na ânsia desmedida do lucro, há uma imposição de falsas necessidades de saúde, saúde vendida na especulação de duvidosos benefícios, na escamoteação das consequências e no escuro das consciências, fortemente sustentada no privilégio que o beneplácito público oferece à coligação de interesses que funde medicina, indústria e comércio. A assistência média actual apresenta uma coreografia difícil de captar, mesmo pelas pessoas mais cultas. Hoje em dia, a saúde da humanidade não é um fim em si mesma ou uma meta, mas apenas um pretexto para atingir muitos outros fins.

 

 

 

O consumo exagerado e indiscriminado de medicamentos, como já aqui disse por mais de uma vez, constitui um grave problema não só nacional como internacional. Interesses de toda a ordem convenceram as pessoas de que a saúde está metida em caixinhas e frasquinhos, originando uma autêntica obsessão pelos remédios, não só por parte dos doentes mas também dos médicos. Todos sabemos que há medicamentos úteis, indispensáveis, alguns quase milagrosos. Mas há muitos que são inúteis, por vezes prejudiciais e perigosos. Mas, potencialmente mais perigosos do que os remédios inúteis são, tantas vezes, os bons remédios, os remédios eficazes, quando prescritos por rotina, sem critério nem critérios, sem precisão diagnóstica ou terapêutica, com desconhecimento das verdadeiras indicações e dos efeitos adversos, das contra-indicações, das interacções medicamentosas e da co-morbilidade presente. Presume-se que a terceira causa de morte no mundo industrializado de hoje esteja no uso dos medicamentos. Em particular, o consumo de remédios pelo doente idoso é um problema actual e de importância crescente. Intencionalmente foi-se criando a ideia de que a terceira idade é uma doença, o que não é totalmente verdade. A terceira idade é uma fase da vida carecendo de atenção específica e de cuidados sociais, humanos e diferenciados. Não pode, de forma alguma ser uma mina, a explorar pelos vendedores de falsa saúde, como está a acontecer. Raro será o idoso que não deixa na farmácia quase toda a sua magra reforma, a troco de pouco ou de nada ou, pior ainda, a troco de graves prejuízos. Pensa-se que cerca de 25% dos internamentos da terceira idade, nos países industrializados, se devem ao uso de remédios, e destes, 8% morrem.

 

(Continua)

 

O PSD precisa de um programa

Mais do que um presidente, o PSD precisa de dizer claramente, o que faria de diferente, nas diversas áreas de governo.

 

Na Educação avança com a autonomia nas escolas públicas, com uma avaliação dos professores assente no mérito e com uma carreira decorrente dessa avaliação? E quanto à liberdade de escolha, vulgo cheque ensino?

 

Na Saúde aprofunda a complementaridade entre o SNS e o privado numa óptica da melhor exploração do parque de equipamentos instalado e racionalização dos Recursos Humanos? E quanto à liberdade de escolha?

 

Avança com a Regionalização que tanto engulho causa ao PS centralizador e estatista?

 

O que tenciona fazer aos investimentos públicos anunciados, face à monstruosa dívida pública? Tem prioridades?

 

E na Justiça, o que tenciona fazer? Os actores na Justiça vão continuar a responder perante si próprios, perante o governo ou perante a Assembleia da República? Vamos continuar a ter juízes com 26 anos, titulares de um orgão de soberania? A Justiça para os ricos e poderosos  vai manter-se? O garantismo que só serve quem tem dinheiro e que atrasa todo o processo vai continuar? E as pequenas questínculas administrativas vão continuar a ter honras de tribunal?

 

Na Economia, as PMEs vão, enfim, ter a atenção que a sua importância exige, ou vamos continuar a cirandar à volta de empresas monopolistas com mercados sem risco? As exportações vão ter os apoios fiscais que merecem?

 

E sobre o ordenamento do território, o ambiente, a energia, a cultura,  o mar, a agricultura,

a eutanásia e o casamento gay?

 

Quem vota não sabe o que é que o PSD pensa sobre estas questões nacionais. Os dirigentes sabem?

 

E se o PSD começar por um programa?

 

   

 

 

 

Vegetarianismo Ético (II)

continuação daqui

 

 Apesar disso, o homem continua a matar e torturar animais em larga escala para satisfazer os seus interesses mais supérfulos, sendo o mais cruel e gritante exemplo disso a criação em série de animais em condições absolutamente desumanas para satisfazer as suas preferências gastronómicas. 

 
Penso que hoje em dia, ao contrário do que se passava há uns anos atrás em que os defensores do vegetarianismo tinham que procurar persuadir as  pessoas de que o regime vegetariano é saudável apresentando uma miríade  de tabelas de valores nutricionais dos alimentos, declarações de organismos  de saúde internacionais e de nutricionistas reputados, etc, já não é  necessário procurar fundamentar a afirmação de que o regime alimentar  vegetariano é saudável e nutricionalmente adequado à alimentação dos  seres humanos. É a própria OMS que o afirma e informação avalizada sobre o tema pode ser encontrada em livros e publicações da especialidade e na  internet. 
 
Ultrapassado este primeiro obstáculo, existe também um importante  argumento a ter em conta para a adopção do regime alimentar vegetariano: o  argumento ecológico. 
 
Deixo apenas alguns dados para análise:  

a) Os vegetais fornecem pelo menos 10 vezes mais proteínas por hectar  do que a carne. 
 
 
 
b) Mais de metade da água consumida nos Estados Unidos é gasta na  criação de gado. 
 
c) Meio quilo de carne exige 50 vezes mais água do que a quantidade  equivalente de trigo, concluindo a revista Newsweek que “a água  necessária a um boi de 500 kg faria flutuar um contratorpedeiro”. 
 
d) A criação intensiva de animais é a indústria responsável por uma parte  substancial da poluição dos nossos recursos hídricos. 
 
e) Nos últimos 25 anos foram destruídas quase metade das florestas tropicais da América do Norte para plantações de cereal para  alimentação de gado. 
 
f) Por fim, citando Peter Singer, o maior argumento de todos, uma vez que se aplica tanto aos defensores dos animais como a quem estende as  suas preocupações éticas apenas aos seres humanos: “ a comida  desperdiçada na produção de animais nas nações ricas seria suficiente,  se fosse adequadamente distribuída, para pôr fim tanto à fome como à 
subnutrição em todo o mundo”.
 
Daí que seja lícito afirmar que o respeito  pelos animais não é concorrente com o respeito pelos seres  humanos. É, pelo contrário, complementar. 
 
Por tudo isto, o vegetarianismo merece pelo menos ser considerado como  uma hipótese séria para uma atitude mais justa perante os animais, os seres  humanos, e o próprio planeta. 
 
Por último, uma palavra às pessoas que aceitam os argumentos acima  expostos mas que afirmam que não vale a pena deixar de comer carne  porque “uma só pessoa deixar de comer carne não vai diminuir o número de  animais que é criado nas unidades de criação intensiva” ou que “o animal que  têm no prato já está morto e nada o pode ressuscitar”: 
 
É evidente que a criação intensiva de animais não vai acabar de um  momento para o outro, assim como é inverosímil pensarmos que todas as  pessoas se vão tornar vegetarianas de uma só vez. Cada pessoa consome  em média 4.022 animais ao longo de toda a sua vida. O máximo que  podemos almejar, e essa será já uma grande vitória, é juntarmo-nos aos 
milhões de pessoas que já tomaram essa decisão e se recusam a comer a  carne de animais torturados e mortos e, assim, diminuir gradualmente a  procura de produtos animais, diminuindo o lucro obtido por esta indústria e  levando a que menos animais sejam criados intensivamente e abatidos no futuro. 
 
A este argumento acresce um outro, talvez ainda mais importante, para  deixarmos de consumir produtos derivados da indústria da carne: o facto de  estarmos a fazer a coisa certa; de sabermos que não contribuímos de forma  directa para o florescimento de uma actividade que causa um sofrimento  intenso a milhões de animais todos os anos. Madre Teresa de Calcutá dizia:  “o meu trabalho pode ser uma gota no oceano, mas sem ele o oceano seria  menor”. 
 
Em jeito de conclusão, fica um trecho da obra do conhecido filósofo Tom  Regan, “The Case for Animal Rights”:  “But prejudices die hard, all the more so when, as in the present case, they  are insulated by widespread secular customs and religious beliefs, sustained  by large and powerful economic interests, and protected by the common law.  To overcome the collective entropy of these forces-against-change will not be  easy. The animal rights movement is not for the faint of heart. Success requires nothing less than a revolution in our culture’s thought and action.” 
 

 

 

 

Aguenta-te Saramago

Há milhões de gajos que estão contigo, admirando a tua coragem. A igreja já não tem puto de credibilidade, no seio de todos aqueles que pensam e consideram a razão a sua maior riqueza. As vozes que da igreja se levantam contra ti, na lenga-lenga do costume, já não chegam ao céu. Ficam pelo caminho, caiem de “estelo” como costuma dizer-se. Os argumentos da igreja, de tão corriqueiros, de tão frágeis quanto absurdos, não se aguentam nas canetas. Classificar, entretanto, as tuas palavras como “operação de publicidade” para aumentar a venda de livros, é baixo e soes, e é uma maneira muito reles de denegrir e diabolizar a mente de um homem que pensa muito a sério pela sua própria cabeça. “Um escritor da craveira de Saramago deveria ir por caminhos mais sérios”, argumentam. Isto é, devia ser politica e religiosamente correcto, dizer amém as todas as patranhas e perversidades da igreja e cantar o Avé. 

Perante tudo o que se vê e tudo o que se sabe, a igreja devia fechar a boca e estar caladinha. Que respeito pode merecer uma comunidade religiosa, que na véspera do julgamento sobre abusos sexuais, decide declarar a falência da diocese de Wilmington, para impedir o julgamento e o pagamento das indemnizações e evitar as escandalosas páginas dos jornais? É a sétima (?!) diocese dos Estados Unidos a recorrer a este expediente. Havia receio de que as indemnizações a dar a oito vítimas fossem tão grandes que inviabilizassem as compensações a mais 133 vítimas (?!). Segundo Thomas Neuberger, advogado de 88 vítimas, a falência é “um esforço desesperado para encobrir a verdade e impedir que milhares de páginas de documentos escandalosos” se tornem públicos. E continua dizendo “este pedido é o mais recente e triste capítulo na história de décadas de encobrimento destes crimes condenáveis, para manter em segredo a responsabilidade e cumplicidade do abuso de centenas de crianças católicas”. Muitos milhares, se incluirmos a irlanda, austrália etc. etc.

 

Outras dioceses já evitaram as indemnizações, declarando falência (a primeira foi a arquidiocese de Boston, em 2002). A diocese de Wilmington, até agora, pagou 6,2 milhões de dólares e a arquidiocese de Los Angeles desembolsou em 2007 a quantia de 660 milhões de dólares, para “compensar” 508 (?!) vítimas. É caso para perguntar o que anda a igreja a fazer neste mundo. E todos sabemos que em matéria de crime aquilo que se vê e se sabe é a pontinha do iceberg. Mais uma vez nos perguntamos se a igreja católica não será a instituição que alberga mais pedófilos e pervertidos sexuais, no mundo. Porque é que ninguém fala disto, (isto sim, que cobre de vergonha a face da igreja) e todos caiem em cima de Saramago, que não faz mal a ninguém, e apenas transmite aquilo que pensa ser a sua verdade?

 

E vêm agora estes senhores dizer que Saramago é um malandreco, que deveria ir por um caminho mais sério (!), que não deveria entrar no caminho da ofensa (!) que Saramago é confrangedoramente ingénuo e incapaz de reconhecer o valor das obras que estão entre os grandes textos do património literário da humanidade. Saramago pode não reconhecer o valor dos grandes textos literários da humanidade, mas reconhece com certeza o valor da dignidade do ser humano. Não me gozem meus senhores. Deixem o Saramago em paz, que sabe muito bem o que está a dizer, e que, apesar da idade, tem uma lucidez e uma dignidade que faz muita falta à mentalidade esclerosada e anquilosada da hierarquia da igreja.

 

 

 

Suborno no licenciamento do Freeport

Um fax com notas manuscritas sobre luvas de dois milhões de libras para licenciamento do outlet de Alcochete. Um dia depois das eleições que levaram à demissão de Guterres, um dos administradores manifesta a sua preocupação "…se o parlamento é dissolvido até às eleições, o Secretário de Estado não pode aprovar nem rejeitar nada".

 

Reflectindo sobre o resultado das eleições, "a demissão do governo de Guterres significa que Sócrates deixou de ser ministro do Ambiente" e no ponto anterior refere "que Sócrates é considerado um dos pilares do PS e é tido como a integridade em pessoa".

 

O autor do fax, Keith Payne, confirmou à polícia ter ouvido falar de pagamentos corruptos através de Charles Smith, intermediário no processo e o primeiro arguido no decurso da investigação.

 

Depois do envolvimento de familiares, do vídeo, do licenciamento à pressa e nos últimos dias do governo, agora um fax a confirmar o que já se sabia. Houve suborno!

 

Dois milhões de libras valiam à época 3,2 milhões de euros, o equivalente a 650 000 contos.

 

Alguem acredita que só um é que beneficiou de um licenciamento que exigiu "tratamento urgente e medidas especiais"?

 

Entretanto, a TVI, muito convenientemente, foi calada durante as eleições!

Agora, o fogo de artifício do presidencialismo

    

 

«É o presidencialismo possível ou desejável em Portugal?» Debate com a participação de João Gonçalves e de Pedro Mexia. Ciclo de debates – "QUE DEMOCRACIA PARA O SÉC. XXI? – organizado pelo CADC – Centro Académico de Democracia Cristã, em colaboração com as Livrarias Almedina. Na Almedina, Estádio Cidade de Coimbra. 23 de Outubro 2009, às 21h 00."

 

A resposta só pode ser uma: não! 

Tivemos uma experiência presidencialista com Sidónio Pais e uma tentativa abortada com Manuel Arriaga – Pimenta de Castro. A 2ª república não foi presidencialista, devido aos condicionalismos impostos pela personalidade do primeiro-ministro Oliveira Salazar e à clara necessidade de manter as Forças Armadas tranquilas e aparentemente ttulares do exercício da soberania. Gomes da Costa jamais poderia ter sido o "presidente-total" e ainda menos um general Carmona ou a conhecida nulidade Craveiro Lopes. Pelo contrário, o sempre subestimado Américo Tomás, viu crescer a sua importância – embora discreta e camuflada pelo governo de Marcelo Caetano – após o desaparecimento político de Salazar.

 

O ilusório presidencialismo, não passa de uma reedição de um neo-sebastianismo disfarçado de "novos tempos", enfim, um bonapartismo querido por alguns, num projecto de moralização da coisa pública. Conhecendo a personalidade e a carreira de alguns – ou melhor, do único – candidato(s) a salvador(es) da pátria, conclui-se com um simples apontar do dedo à manipulação e à quimera. Não será desta forma que a república conseguirá sobreviver ao vórtice que criou. Aliás, temos coisas mais importantes para tratar.

Vegetarianismo ético (I)

 

Peter Singer, no início do seu mundialmente famoso livro “Libertação Animal”, por muitos considerado a Bíblia do vegetarianismo, conta um episódio passado no Reino Unido em que uma defensora dos direitos dos animais o convidou para lanchar e conversar sobre o tema da defesa animal, e lhe serviu sanduíches de fiambre. 

 

Em 1989, 14 anos mais tarde, na edição revista do livro Peter Singer refere que felizmente hoje em dia os activistas do Movimento de Libertação Animal e os membros das Associações de Defesa Animal são já todos vegetarianos e não servem sanduíches de fiambre aos seus convidados. 

 

Embora isso possa ser verdade no Reino Unido, não o é certamente em Portugal nem em muitos outros países. 

 

Na realidade, muitas (atrevo-me mesmo a dizer a maioria) das pessoas que simpatizam com a causa da defesa dos animais e é contra as formas de exploração de que milhões de animais são vítimas às mãos dos humanos, continua a contribuir para a mais brutal de todas estas formas de exploração, e que maior sofrimento causa ao maior número de animais em todo o mundo: a indústria da criação intensiva de animais para alimentação. 

 

Há vários motivos para que seja assim: 

a) A maioria das pessoas nunca visitou um matadouro ou uma unidade de criação intensiva de animais, logo nunca viu (nem ouviu) a agonia prolongada que constitui a vida das vacas, porcos e galinhas que sofrem dentro deles, até ao dia em que sofrem uma morte cruel e lenta no momento do abate. 

 

b) A força do hábito. Quase todas as pessoas são habituadas desde a infância a comer carne e não só lhes custa a imaginar como poderiam sobreviver sem ela, como não desejam abandonar o prazer que retiram das refeições compostas por carnes de animais. 

 

c) As pessoas tendem a simpatizar mais e a sentir mais compaixão pelos animais que lhes são mais próximos e com quem convivem diariamente (cães e gatos) do que com aqueles que nunca tocaram ou observaram de perto. Daí que fiquem chocadas com a criação de cães e gatos para alimentação em alguns países asiáticos mas não se choquem com a criação muito mais maciça e brutal de outros mamíferos como as vacas ou os porcos para o mesmo fim. 

 

A estes motivos acresce um outro, que se prende com o facto de muitas pessoas se preocuparem com os animais apenas por gostarem deles. Por sentirem compaixão por eles, por se enternecerem com o olhar desolado dos cães abandonados com que se cruzam. No fundo, por se sentirem sentimentalmente ligados a eles. 

Gostam mais do seu animal de estimação do que de todos os outros animais da mesma espécie, gostam mais de gatos do que de cães ou mais de cães do que de porcos, e dirigem a sua consideração e instinto de protecção apenas aos animais da sua preferência. 

Assim, não baseiam a sua conduta perante os animais em princípios éticos ou morais, mas nas suas emoções. 

Na realidade, todos os animais merecem ser tratados de acordo com o seu valor intrínseco, independentemente da nossa simpatia por eles. Devem ser respeitados enquanto indivíduos que são capazes de sentir dor e prazer, e que por isso não podem ser considerados como meros instrumentos de satisfação dos nossos interesses. É um princípio de Justiça básico que assim o exige. 

 

continua

 

 

Blasfémia! Ele disse-o outra vez!

 

As minhas desculpas pela ausência de legendas, não consegui encontrar nenhuma versão legendada.

Telejornal: 50 Anos

Portugal Amordaçado

 

No «ranking» da liberdade de imprensa, Portugal caiu de 16.º para 30.º lugar de 2008 para 2009. Em termos de respeito pela liberdade dos jornalistas, foi um ano negro. Bastaria olhar para o caso TVI e o fim do Jornal de Sexta através de pressão directa sobre o Grupo PRISA, as manobras de compra da TVI ou os processos judiciais a jornalistas.

Foi o Portugal Amordaçado, resultado da maioria absoluta do PS e das eleições legislativas deste ano. É triste, muito triste, o estado a que chegou a democracia que Abril nos legou.

 

 

5 000 Euros de prejuízo / dia / estádio

É quanto nos custa cada um dos quatro estádios construídos a mais para o Europeu de 2004.

 

Aveiro, Leiria, Coimbra e Faro custam-nos a "visão" de estadistas, os mesmos que nos querem agora empurrar para obras megalómanas, com o mesmo tipo de argumentos. Cinco mil euros por dia é quanto nos custa cada um daqueles estádios que, como todos diziam, não eram necessários e que agora estão às moscas.

 

Mas o lobby do betão manda e o PS ainda manda mais, pelo que há que fazer obras, muitas obras, logo se vê quem paga.

 

O descalabro é de tal ordem que há em Aveiro quem proponha que se impluda o estádio e no seu lugar se construa outro de menores dimensões. Em Leiria, andam a tentar construir, num dos topos, uns hoteis e, em Coimbra, o Presidente da Académica tambem já propôs que se deixe aquele estádio, cuja manutenção é caríssima, e se construa outro bem mais pequeno.

 

Responsáveis, pais da ideia, promotores do desenvolvimento, não há, ninguém foi, ninguém dá a cara. Por acaso (ou não), foi num governo onde o responsável pela secretaria da juventude e desportos era um senhor agora muito conhecido e que tambem é o paladino das obras públicas, para que o país não fique para trás.

 

É uma espécie de trabalhar para aquecer, não serve, não precisamos mas faz-se na mesma, fica já feito, alguma vez há-de ser preciso e alguém vai pagar. Finalmente, até nos dizem que é graças aos estádios que não são precisos que podemos agora concorrer em parceria com a vizinha Espanha, ao Mundial de Futebol de 2016. Recuperamos o investimento.

 

E não vêem que é a forma de arranjar o argumento decisivo para o  investimento do TGV? Já está, para quem não quer ver, multidões a andar entre Lisboa e Madrid para não perderem nenhum jogo. E depois mais multidões para verem onde foi e outras multidões para verem..

 

Está garantida a viabilidade financeira, e em caso contrário, implode-se!

 

 

Saramago: Não Gosto Do Homem Nem Um Bocadinho

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SARAMAGO, O INTOLERANTE

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Não gosto deste escritor. Nem do que escreve, nem da maneira como o faz. Nem como pessoa eu gosto. Ele, não gosta de Portugal nem dos Portugueses, e eu não gosto dele. As suas palavras, os seus escritos, as suas ideias, as suas atitudes, arrepiam-me, de um modo que me faz mal.

Dizem-me que tenho de gostar do senhor porque ele recebeu um Nobel, e ainda por cima é Português.

Muitos o receberam e há mais portugueses por aí, e não tenho de gostar de todos.

Não gosto deste, pronto.

Agora, nem ele sabe porquê, resolveu apresentar o seu último livro em Penafiel. Por certo nem saberia onde ficava a cidade antes de saber que ia ser homenageado.

Na apresentação deste seu livro, Caím, mostra muito do que este homem é. Mais uma vez, e de novo, resolve bater em Deus e na Igreja Católica, e embora me não interesse minimamente que seja quem for escreva ou fale (bem ou mal) sobre o Antigo Testamento ou até mesmo sobre o novo, não precisa de para isso ser desnecessariamente estúpido, e estupidamente jacobino, sectário e intolerante, como o foi este autor. As suas palavras sobre a Bíblia, são cruéis, vingativas e se nos déssemos ao trabalho de as ouvirmos bem, enlouquecedoras. A sua incapacidade para ter Fé, é por demais evidente. E essa capacidade é uma mais valia para quem a possui. E embora, não a ter, não possa ser considerado defeito, já o é criticar quem tem a felicidade de ter nascido com ela .

Não precisava, mas insulta e despreza a fé de terceiros para dizer o que pensa, e tem um prazer orgásmico em agredir os outros.

Os seu problemas com a religião nunca terão ficado resolvidos, e agora, já velho e casmurro, é muito tarde para os solucionar.

Não consigo gostar de pessoas assim.

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O caixeiro – viajante

Sempre que passa por aqui é para vender alguma coisa. Aproveita as homenagens que de bom grado o país lhe vai concedendo numa tentativa de o acolher, mas o ódio do senhor não se contemporiza com lamechices.

 

Vive fora do país para mostrar quanto está ofendido, o país não o merece, a não ser para lhe entregar a Casa dos Bicos para lá meter os papéis, que em Espanha, não querem. Está ofendido porque os seus conterrâneos, democraticamente, rejeitaram as suas ideias políticas.Nunca mais esqueceu que um homenzinho de estatura igual lhe fez um agravo escusado, muito semelhante, aliás, ao que ele fez aos seus colegas no Diário de Notícias.

 

Este homem quando se viu com um grama de poder mostrou o carácter de que é feito, tentando impor uma ideologia num grande diário de comunicação social que, naquela altura, era bem mais influente do que é hoje, saneando pessoas porque não confessavam a mesma ideologia. É este homem a quem agora devemos vergar a cerviz, porque o que ele diz passou a ser a bíblia, que ele renega.

 

Odeia tudo e todos com especial carinho os que lhe vão prestando homenagens e que têm orgulho por verem nele um compatriota que ganhou um Nobel. Tem vergonha de ser português. Já me cruzei mais do que uma vez com ele no estrangeiro, ouve falar portugues mas faz de conta que não percebe, não vá os batráqios dirigirem-lhe a palavra.

 

É este homem que agora vem substituir a Bíblia, é um livro que ele percebe que põe os dele no lugar a que têm direito, e não pode com isso.

 

Vou passar a benzer-me sempre que o vir !

Homenagem a João Miguel Tavares contra as manigâncias de Sócrates (onde se compara com João Vale e Azevedo)

Mais uma vez, José Sócrates perde um processo em Tribunal. Desta vez, contra João Miguel Tavares que, no fim de contas, só disse o que muitos já disseram: «A sua licenciatura manhosa, os projectos duvidosos de engenharia na Guarda, o caso Freeport, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso Cova da Beira não fazem necessariamente do primeiro-ministro um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.»

As dificuldades de José Sócrates em conviver com a democracia impediram-no, mais uma vez, de ver que só um cego não vê que o primeiro-ministro é claramente suspeito de um conjunto de manigâncias, mesmo que as mesmas não tenham sido (ainda) provadas em tribunal. Não é culpado, pelo menos até ver, mas que é suspeito, é.

Faz-me lembrar João Vale e Azevedo: enquanto foi Presidente do Benfica, a Justiça nunca lhe tocou e era tudo difamações do FC do Porto e da Olivedesportos. Quando deixou de o ser, cairam-lhe todos em cima.

 

A máquina do tempo: «A realidade é uma invenção do nosso espírito» (ou o elogio da surdez)

Ao longo dos tempos e consoante as civilizações, os surdos têm sido olhados de formas diferentes. Por exemplo, no Antigo Egipto eram pessoas importantes, adorados como deuses, servindo de mediadores entre as divindades e os Faraós. Eram temidos e, logo, muito respeitados pelo povo. Não era nada conveniente para um felá que um surdo embirrasse com ele. No outro extremo da escala fica a Alemanha nazi onde os bebés surdos eram, nos hospitais e maternidades, eliminados à nascença, por questões económicas, mas também para não virem com os seus genes defeituosos macular a pureza ariana da raça germânica. Os surdos adultos foram tratados como os judeus, os ciganos, os homossexuais e os comunistas – guetos, campos de concentração e, às vezes, câmara de gás, com eles. Sou um pouco surdo e adivinhem lá para onde é que eu iria com mais prazer na minha máquina do tempo – para o Antigo Egipto ou para a Alemanha nazi?

 

 

 

Germano da Fonseca Sacarrão, zoólogo e ecologista de renome, foi um grande professor catedrático da Faculdade de Ciências de Lisboa. As suas aulas eram tão vivas e participadas que muitos alunos de outras faculdades, de outros cursos, licenciados e pós-graduados, a elas assistiam. Dirigiu cientificamente alguns projectos editoriais a que eu estava ligado e criámos uma amizade sólida e que durou até ao dia em que, fazendo anos de casado, foi comprar um ramo de flores para oferecer à esposa, D. Maria Manuela Sacarrão, que estava de cama com gripe. A meio do caminho caiu fulminado por um ataque cardíaco.Era surdo, assumia-o sem qualquer problema, e usava um aparelho auditivo que tirava quando não queria ser incomodado. Muitas das coisa que aqui vou dizer sobre a surdez, e não só, são da lavra do Professor Germano Sacarrão.

 

Morava em Campo de Ourique, era, aliás, um entusiasta do bairro, o «quartier latin», com se diz entre os nativos. É um bairro charmoso, projectado nos anos 70 do século XIX, pelo grande engenheiro, Frederico Ressano Garcia (1847-1911), um discípulo da teorias urbanísticas do barão de Haussmann, o arquitecto da Paris imperial, com grandes vias cortadas perpendicularmente por ruas secundárias, como, aliás, já no século anterior, Eugénio dos Santos fizera com a Baixa. Campo de Ourique é uma cidade dentro da cidade, tem tudo, é auto-suficiente.

 

Até tem lugares de culto – o mercado, a Livraria Ler, do Luís Alves, no Jardim da Parada, o café centenário «A Tentadora», «Os Alunos de Apolo», onde desde 1872 milhares de lisboetas aprenderam a dançar, o CACO – Clube Atlético de Campo de Ourique… Um mundo. Há um texto muito interessante de Miguel Sousa Tavares, que também ali mora: «Viva Campo de Ourique» para o qual vos remeto, pois não é do «quartier latin» que quero falar.

 

Pois era precisamente no café « A Tentadora», na Rua Ferreira Borges, com a sua linda fachada Arte Nova, que Sacarrão contava como uma manhã foi encontrar dois surdos célebres: António José Saraiva, um morador, e Óscar Lopes que, na altura de que Sacarrão falava, era presidente da Associação Portuguesa de Escritores e vinha com frequência, creio que semanal, a Lisboa, ficando, ao que julgo saber, em casa do amigo. Saraiva há muito que abandonara o PCP (desde 1962), enquanto Óscar Lopes ainda hoje é militante (mas creio que já não está no Comité Central).As amistosas discussões de natureza ideológica eram prolongadas e ricas em finos argumentos vindos de ambos os lados, mas nunca chegando a acordo – Sacarrão que os escutava interessadíssimo, comentava – «um verdadeiro diálogo de surdos!».

 

Contava também como muitas vezes chegava a casa ao fim da tarde, fatigado e ansiando por repouso. O neto, que vivia com os avós, estava no quarto com música rock em altos berros a criada, na cozinha, ouvia rádio. A esposa via também televisão na sala. Ou ambas viam a telenovela. Um barulho dos demónios, dizia. Então, Germano Sacarrão tirava o aparelho e entrava numa deliciosa ilha de silêncio, apenas habitada pelos seu pensamentos.

 

Um dia estava ele absorto ante um quadro, numa exposição de pintura na Galeria 111, do Campo Grande. Ouviu um tropel de passos e um rumor de sussurros que se aproximava. Uma voz conhecida diz : – Olha, o meu querido professor! Voltou-se. Diante dele estava, nem mais nem menos, do que o presidente da República, Mário Soares que, aliás, reside ali, a poucos metros, na rua que tem o nome de seu pai. Na verdade, Germano Sacarrão fora professor de Mário Soares no Colégio Moderno.

 

Por questões políticas, quando veio da Suíça, onde, após a licenciatura e com bolsas do Instituto de Alta Cultura, estagiou entre 1938 e 1943, não lhe foi dada colocação no ensino oficial – nem na Universidade, nem sequer no Secundário. Generosamente, João Soares deu-lhe guarida no seu Colégio Moderno. Sacarrão nunca esqueceu esse gesto solidário.

 

Agora, a comitiva do presidente ali estava, respeitosa e sorridente, esperando a reacção de Germano. Soares abraçou-o e repetiu: – O meu querido professor! – Então Germano, olhando a comitiva numerosa, esclareceu: – De Física! Professor de Física! (Não fossem eles pensar que fora ele o mestre de política!) – E, perante os sorrisos da comitiva, correspondeu ao abraço do seu antigo aluno que, segundo parece, era um cábula de primeira. -«Muito esperto e inteligente, mas um cábula», dizia Sacarrão, que mantinha uma grande estima por Soares, embora não apreciasse a sua prática política.

 

O Professor Sacarrão era um homem generoso e bom, ao qual os problemas alheios não eram indiferentes. Um exemplo pessoal – a seguir ao 25 de Abril era considerado «burguês» e, logo, condenável, pagar impostos. Segui a onda. Por volta de 1981/82, apareceu-me um postal da Repartição de Finanças, ameaçando-me com penhora de bens, pois devia cinco anos de impostos ao Fisco – os impostos em dívida não chegavam a dez contos, mas a coima andava pelos cento e tal – hoje uma pequena importância, mas muito dinheiro na altura.

 

Numa reunião de trabalho com o Professor (ele estava a dirigir uma obra da editora), viu-me com ar preocupado, perguntou-me o que tinha e lá lhe confiei o problema. Comentámos a dureza do Estado relativamente aos que trabalham e a sua complacência para com os grandes empresários. Despedimo-nos. À tarde telefonou-me: – Ouça lá amigo Loures, estive a pensar no seu problema e eu resolvo-lho. Talvez não possa emprestar-lhe tudo, mas arranjo uma boa parte». Fiquei tão comovido que quase não consegui responder e, claro, recusei, mas agradeci muito, com as palavras que na altura considerei mais adequadas.

 

Pensava propor às Finanças um acordo de pagamento faseado. Depois João Paulo II visitou Portugal, fiz um requerimento e fui amnistiado – só paguei a pequena importância dos impostos em dívida. Mas nunca me esqueci da generosíssima oferta de Germano Sacarrão. Que, ainda por cima, e segundo me dizia, não era rico. Ele e a esposa, tinham o neto e a mãe da Doutora Maria Manuela a seu cargo.

*

A propósito de um poema que há dias aqui publiquei, referi o erro que se comete ao atribuir aos animais características próprias dos seres humanos. Sacarrão costumava dizer: – «As galinhas não são estúpidas; têm a inteligência de que necessitam para sobreviver».

 

Como
r
efere a escritora Maria Estela Guedes num excelente trabalho seu sobre Sacarrão, este preocupava-se com o facto de o discurso biológico transportar conceitos da esfera zoológica para a antropológica e vice-versa. Esta metaforização é abusiva e acientífica, na sua opinião. As metáforas nascem do impulso de manipularmos a sensibilidade alheia, de moldarmos o ponto de vista dos outros pelo nosso. «A realidade é uma invenção do nosso espírito», costumava dizer; o cérebro tem barreiras de conhecimento, está adaptado a um dado mundo e não a outro. Embora também manipuladora, em poesia, a metáfora é aceitável; em ciência não.

 

Sou um pouco surdo, como já disse. Um audiograma recente registava alguma perda de audição no ouvido direito. Mas ouço muito bem do lado esquerdo (sempre a sinistra!). Tenho o cuidado de, nas reuniões, me sentar estrategicamente com a minha antena parabólica, o ouvido esquerdo, em condições de captar o que se diz. Numa tertúlia semanal, a do restaurante Baleal (de que o nosso Luís Moreira também faz parte), os amigos já sabem onde me quero sentar e, mesmo que chegue um pouco atrasado, o lugar está reservado. Porém, sempre que me falam em usar um aparelho auditivo, lembro-me do que dizia Germano Sacarrão: «Nunca tive problemas por ser surdo – todos os meus problemas, tive-os por ouvir bem demais».

 

 

Palmas

Quando em Aveiro se discute o que fazer com o mono herdado do Euro, falando-se mesmo em implodir a inutilidade, ouvi o aveirense Gilberto Madaíl, com cara de paciência é a crise, avisar que a candidatura ibérica a um Mundial de Futebol passa apenas pelos 3 estádios portugueses que não precisam de grande obras para o receber por terem a lotação necessária.

Chegou um bocadinho de bom senso, e se a culpa é da crise que viva esta crise.

Claro que também temos o populista Macário que sente o Algarve excluído, e não entende nem aceita. Nem eu entendo para que serve tal estádio, e sobretudo porque tive de o pagar.

 

A intolerância

Index Librorum Prohibitorum

"As Horas de Maria" deve ter sido o pior filme que vi na minha vida. Não saí da sala, esgotada, porque a malta se foi entretendo a mandar umas bocas, e concurso de bocas em sala de cinema sempre espairece.  Mas porque me meti eu e mais umas mil pessoas ali dentro, sabendo de antemão que a relação do "realizador" António de Macedo com o cinema era a de um homicida com a sua vítima?

Por causa da propaganda de uma Igreja, neste caso a Apostólica Católica Romana, vulgo ICAR.

Encarniçaram-se de tal forma contra a película apenas porque supostamente tocava um tema religioso quando na realidade apenas apalpava o tédio na sua forma mais pastosa, que aquilo foi sucesso de bilheteira garantido.

É um episódio  tantas vezes repetido que já chateia.

Fizeram o mesmo com o Je vous salue, Marie, os Versículos Satânicos ou o Evangelho segundo Jesus Cristo, obras estas de autores com obra, e que dispensavam a sanha propagandística das religiões.

Existe a presunção entre os fanáticos religiosos de a sua crença ser mais do que simplesmente a sua crença, e glosar os seus dogmas uma blasfémia.

Arrancar os cabelos porque lhes tocaram no tal de sagrado, que não passa de uma convicção pessoal a que ninguém mais está obrigado, saudosos do Index Librorium Prohibithorium só abolido em em 1966, resulta sempre em publicidade gratuita.

E isso Saramago bem o sabe.