Ceuta, Melilla e Gibraltar

Ontem, mais de seis mil marroquinos entraram em Ceuta a nado. Sim, a nado. Hoje, até ao meio dia, já são mais 2.700. Isto numa cidade autonómica com 80 mil habitantes. Ou seja, em dia e meio já entraram o equivalente a 10% da população da região. A nado, repito.

Esta crise humanitária levou o Primeiro Ministro espanhol a cancelar a sua viagem a Paris e está, a esta hora, a fazer uma declaração ao país. As relações entre Espanha e Marrocos nunca foram as melhores. Contudo, nunca estiveram tão azedas.

Para quem vê de fora fica a pergunta: Qual a razão para Espanha continuar em Ceuta e em Melilla? Qual a razão para a Grã-Bretanha continuar em Gibraltar?

Quando os doidos tomam conta da casa

As medidas para um suposto combate à pandemia estão a enlouquecer os decisores políticos, um pouco por todo o lado. Na vertigem diária dos meios de comunicação com os números de infectados e de falecidos acontece de nos esquecermos de coisas que aconteceram nos dias anteriores. Ainda se lembram daquela reunião de madrugada em que Merkel decidiu uma coisa para nas horas seguintes pedir desculpa e decidir o seu contrário?

Agora foi em Espanha. Aliás, aqui em Espanha as contradições são tantas que era preciso criar um segundo Aventar e temático. A última foi ontem: decidiram que era obrigatório o uso de máscaras nas praias e piscinas. Perante os protestos, hoje decidiram que afinal já não é obrigatório.

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Pablo Hasél, Juan Carlos el Bobón

Os tiranos bêbados são protegidos assim. Explicação aqui.

Crónica do Rochedo 42 – Grécia: O Elefante na Sala

O gigante do mercado de viagens de turismo, TUI, através do seu presidente Marek Andryszak, lançou um comunicado a informar quais as tendências nas actuais reservas do mercado alemão para a temporada de férias de verão deste ano.

Pela primeira vez, as ilhas gregas atingem o primeiro lugar como destino escolhido pelos alemães (principal mercado para o turismo da Europa). Aliás, Grécia e Turquia são quem mais sobe. Já Portugal e Espanha quem mais desce. No Top 15 das reservas já contratadas pelos alemães, o Algarve aparece num assustador 15º lugar e Espanha vê a eterna número 1 das escolhas dos alemães, Maiorca, descer para segundo lugar, ultrapassada pela grega Creta. Algo inimaginável nos anos anteriores à pandemia. E a Riviera turca à frente das Canárias. Aliás, nos cinco primeiros lugares, a Grécia coloca três destinos e a Turquia um – só a espanhola Maiorca , em segundo lugar, se intromete nesta guerra. Antes da pandemia, a guerra pelo top 5 era dividida entre as espanholas Canárias e Maiorca com a Turquia a tentar espreitar. Como chegou aqui a Grécia em tão curto espaço de tempo? Pelo preço? Não. Com campanhas de marketing? Não.

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Crónicas do Rochedo 37 – Já alguém avisou quem nos governa?

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Há quase um mês, mais precisamente a 20 de Março escrevi a primeira crónica sobre a verdadeira catástrofe económica que se avizinhava com a queda do turismo fruto da pandemia. Mais tarde, abordei a questão dos supostos apoios lançados pelo governo e depois sobre outro sector com uma ligação muito forte ao turismo, o da restauração e similares.

Hoje, em Espanha, começam a surgir os primeiros números da realidade. Todos eles explicam que as previsões negativas apontadas pelo FMI afinal são mais optimistas que a realidade. A média apontada para a queda do sector em 2020 é de 81,4% do PIB. Sendo a menor nas Canárias (-76%) e a maior nas Baleares (-95%) e na Catalunha (-84%). Neste momento o sector já aponta para perdas superiores a 124 mil milhões de euros em 2020. Recordo que o Turismo e Similares representa cerca de 12,5% do PIB espanhol e 15% do PIB português.

Estes valores significam uma queda do PIB em Espanha (e em Portugal, não se iludam) superior, bem superior, à prevista pelo FMI no final da semana passada. Ora, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desaconselhou os europeus a marcar férias em Julho e Agosto. Na passada sexta, a Ministra do Trabalho espanhol foi mais longe, ao afirmar que não acredita que as restrições actuais existentes no que toca ao turismo possam ser levantadas antes do final do ano. Para piorar, a IATA reviu em baixa as suas previsões anteriores apontando que o tráfico aéreo talvez atinge um valor de 50% do normal no último trimestre do ano e o tráfico aéreo interno talvez chegue aos 50% no terceiro trimestre. Por isso mesmo, uma parte dos empresários do turismo nas Baleares assim como em Benidorm já assumiu que nem sequer vão abrir este ano, independentemente de serem ou não levantadas as restrições colocadas pelo governo espanhol.

O caso português não será muito diferente. Não será mais positivo. Podem esperar, se nada de concreto e real for feito antes, com no mínimo mais de 2 milhões de pessoas atiradas para o desemprego só neste sector e nos sectores com ele conexos. Milhares de micro, pequenas e médias empresas falidas. Mesmo acreditando (tenho muitas dúvidas) nos que dizem que em 2021 teremos uma recuperação do sector em 50% e que em 2022 já estará em valores normais, será preciso que as empresas e os postos de trabalho lá cheguem. Os custos para o Estado, para o país no seu todo, serão maiores que os custos das ajudas directas que o sector vai precisar para chegar vivo a 2021. Se o Governo e os partidos que o apoiam (BE e PCP), mais o PSD não perceberem isto, vai ser trágico para a economia nacional no seu todo e por vários anos.

Em Espanha acordaram hoje para os números desta catástrofe e para a necessidade de um plano de resgate urgente. Em Portugal alguém avise quem de direito…

Crónicas do Rochedo 36 – Restauração e Similares ou as costas dos outros…

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Nas últimas crónicas escrevi sobre o impacto do Covid19/Corona vírus no turismo em Portugal. Finalmente, em Portugal, alguém se debruçou na televisão sobre os problemas que se avizinham para a economia portuguesa fruto da mais que certa queda abrupta do turismo: foi na TVI24, ontem (15 de Abril), Paulo Portas no seu programa “O Estado da Emergência”. 

Se analisarem o que ele disse comparando com o que já tinha escrito AQUI e AQUI no Aventar, a grande diferença foi o assumir de que o número de trabalhadores directamente afectados ser superior a um milhão. Ou seja, Paulo Portas juntou aos cerca de 450 mil trabalhadores do sector, os trabalhadores de sectores que directa e indirectamente vão sofrer por tabela. Eu apontei para mais de 350 mil (800 mil, avisando que era um número bastante conservador) mas Portas, certamente com boas fontes, aponta bem mais para cima. Devo dizer que concordo plenamente com a sua análise mas continuo a considerar os números como conservadores. Não é preciso ser bruxo, basta conhecer minimamente a realidade do sector.

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A União Europeia ligada ao ventilador

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Na foto: dois imbecis holandeses

António Costa esteve muito bem, mas muito bem mesmo, a chamar os bois pelos nomes: as palavras do Ministro das Finanças holandês, que pediu uma investigação à falta de margem orçamental do governo espanhol para lidar com a pandemia, são, efectivamente, repugnantes. São repugnantes, irresponsáveis, negligentes e arrogantes. São mais um prego no caixão da União, que avança, triunfante, em direcção ao abismo da dissolução, para gáudio da extrema-direita. E são tudo que a União Europeia não precisa neste momento. [Read more…]

Tenho dúvidas de que a Espanha seja uma democracia


No meio do turbilhão provocado pela decisão da Justiça espanhola, vem a Liga Espanhola atirar achas para a fogueira ao defender a mudança do Barcelona – Real Madrid para a capital espanhola por razões de «segurança».
Alguém de bom-senso acredita que as gentes da Catalunha vão aceitar pacificamente esta decisão?
Se não é de propósito, parece.
Um regime onde o chefe de Estado não foi eleito pelos cidadãos através de eleições livres não me parece que possa ser considerado democrático. O actual usurpador é um tal de Filipe Grécia, que sucedeu no cargo ao seu pai, João Sicílias. Para além disso, sabemos muito bem como foi formada a Monarquia espanhola há uns séculos.
Um regime que mantém presos políticos e ex-governantes no exílio – esses, sim, eleitos pelo povo – não é definitivamente uma democracia.
Quanto ao resto, Madrid usa a violência em Barcelona da mesma forma que Pequim a usa em Hong-Kong.

Crónicas do Rochedo XXIX – Península Ibérica 2483 d.C.

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“Em 2485 vamos celebrar os 500 anos do nascimento de Cristiano Ronaldo e por esse motivo, os responsáveis das cidades do Funchal, Lisboa, Manchester, Madrid, Turim e Miami aqui reunidos, decidiram criar a ACRM (Associação das Cidades Ronaldianas no Mundo) que terão como responsabilidade criar o programa das festividades em todo o ano de 2485 ficando a sede desta associação aqui, na cidade de Madrid” – anunciou em conferência de imprensa a governadora da província de Madrid.

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Cenas chocantes de brutalidade policial sobre manifestantes pacíficos na Venezuela

Ninguém escapa. Há mulheres a voar pelas escadas abaixo, idosos agredidos no chão, vai tudo à frente. Bastonadas e pontapés na cabeça, pessoas levadas pelos cabelos, o cúmulo da violência policial só possível nas mais violentas ditaduras.

Esperem lá: eu disse Venezuela? Enganei-me, queria dizer Espanha.

Ufa, por momentos pensaram que era motivo de forte indignação, não foi?

Dia de Reis

Foto de Josep Lluis Sellart

Há poucos meses, no Verão, o líbio Betcha Honorée esteve prestes a morrer. Ele e mais umas dezenas de pessoas que tentavam atravessar o Mediterrâneo para começar uma nova vida na Europa. O barco em que seguiam naufragou, mas foram resgatados pelo navio da ONG «Open Arms» e recebidos em Espanha.

Foto de Olmo Calvo

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Põe os olhinhos, Portugal

Fotografia: Javier Soriano/AFP@El País

Aqui ao lado, na vizinha Espanha, o antigo ministro da Economia de Jose Maria Aznar, Rodrigo Rato, foi condenado a uma pena de prisão efectiva de 4 anos e meio por corrupção, encontrando-se já encarcerado.

Por cá, corrupto que é corrupto safa-se com penas suspensas e férias em domiciliária, onde pode alegremente usufruir do fruto dos seus crimes, que em momento oportuno colocou em nome da mulher e dos filhos.

Por cá, corrupto que é corrupto raramente é incomodado pela justiça, o que motiva o sector a apostar, ano após ano, na mesma prática de sempre, com resultados comprovados. [Read more…]

Um dia destes, acordamos em 1984

Cartoon via Madrid me Mata

Pensava eu que Espanha era um Estado laico, e não uma daquelas tiranias teocratas onde o comum cidadão pode ser preso por satirizar figuras religiosas, cuja simples existência não reúne sequer unanimidade. Anda a Europa às aranhas com Orbáns e quejados, e eis que um cidadão espanhol, o actor Willy Toledo, se vê na situação de ter que responder perante um juiz por, alegadamente, ridicularizar Deus e a Virgem Maria. Não sei bem porquê, mas vem-me imediatamente à cabeça imagens de fundamentalistas islâmicos a pedir a cabeça de cartoonistas que ousam ridicularizar o profeta Maomé e outros símbolos do Islão. [Read more…]

Equivalências políticas manhosas

Fotografia: Reuters

Aqui ao lado, na vizinha Espanha, registou-se um novo aumento no número de políticos de primeira linha com um grau académico manhoso. Daqueles que se obtém ao Domingo, entre o pequeno-almoço e o banho turco, com uma forte componente de inglês técnico e muitas equivalências. Vocês conhecem o tipo.

O novo líder do Partido Popular – uma espécie daquilo seria a tão aguardada absorção do CDS-PP pelo PSD, versão castelhana – Pablo Casado, terá obtido o grau de mestre em Direito Autonómico, pela Universidad Rey Juan Carlos, com 18 equivalências em 22. Para concluir o curso, restava-lhe apenas fazer quatro trabalhos, dos quais aparentemente não existe qualquer registo, e não precisou sequer de colocar os pés numa sala de aula. Uma única vez. [Read more…]

Tempo de investigar Mariano Rajoy

Agora que foi derrubado por uma moção de censura legítima, ainda que a mesma tenha mais que ver com o desespero do PSOE em chegar ao poder do que com o caso de corrupção em si, é tempo de nuestros hermanos investigarem Mariano Rajoy. Até porque, existem fortes indícios de que o primeiro-ministro deposto terá recebido pagamentos ilícitos do tesoureiro Bárcenas, como de resto meio Partido Popular espanhol recebeu. Será que é desta que a pasokização chega a Espanha? Ou será a direita espanhola imune à justiça, como a sua congénere portuguesa?

Catalunha – eleições improcedentes

A Catalunha vai hoje a votos devido à decisão de dissolução do seu Parlamento pelo governo de Espanha, na sequência de uma Declaração de Independência aprovada pela maioria dos deputados eleitos.
Os catalães vivem um momento particularmente difícil, uma vez que se encontram profundamente divididos sobre a independência e, mais do que isso, absolutamente extremados nas suas convicções, varrendo não só a política, mas também a economia e, saliente-se, famílias inteiras! O ambiente de crispação entre eles é avassalador, não se antevendo qualquer intenção de pacificação através de um diálogo inclusivo e profícuo entre eles, e entre eles e Espanha.

Para além da dissolução do Parlamento, Espanha, aplicando as leis e a Constituição, é certo, suspendeu a Autonomia e, nomeou um governo provisório até às eleições de hoje e acusou os membros do governo de rebelião e sedição, num cúmulo penal de prisão efectiva que pode ir até 25 anos, sem que tenha ocorrido um único acto de violência, [Read more…]

O original de “Y Viva España” é belga

O país que serve de refúgio a Puigdemont é também aquele que criou o tema que serve quase de hino à Espanha (o verdadeiro hino é uma marcha militar sem letra) e que tem sido cantado durante as manifestações pró-espanholas na Catalunha.

O original intitulado “Eviva España” de 1971 era uma cançoneta para animar programas de televisão e festas para a terceira idade cuja ideia de Espanha remetia para o exotismo das férias de Verão, de letra simples e carregada de estereótipos sobre os povos ibéricos. Os autores são ironicamente flamengos, Leo Caerts e Leo Rozenstraten, e a cantora Samantha interpretava a música em flamengo. Tornou-se num sucesso quase global quando Manolo Escobar interpretou o tema em espanhol em 1973, sob o título “Y Viva España”.

Presos políticos em Espanha


Carles Puidgemont mostrou que não é um verdadeiro líder, não está à altura dos que nele votaram e acreditaram. Mas concorde-se ou não com a independência da Catalunha, há que reconhecer que estão pessoas presas pelo Estado espanhol, mesmo que preventivamente, sem terem sequer sido condenadas. Isto apesar de não terem resistido à aplicação do famigerado artigo 155, nem promovido qualquer violência. Não são políticos presos, são presos políticos o que diz bem da natureza da Espanha. Felizmente que nos livrámos em 1640.

A minha inconstitucionalidade é menos inconstitucional do que a tua

Já várias personalidades da primeira linha do poder europeu se pronunciaram sobre o desenrolar dos acontecimentos na Catalunha. Há vários elementos comuns nos seus discursos, a par do apoio incondicional ao governo espanhol, mas há um argumento, absolutamente legítimo, que importa destacar, e que foi central no processo de intervenção externa a que Portugal foi sujeito.

Não que sejam situações iguais, é óbvio que não o são. Mas é fascinante, para dizer o mínimo, que todos estes chefes de Estado, dirigentes europeus e porta-vozes hoje afirmem, do alto dos seus púlpitos e com seus megafones virtuais em punho, o primado da constituição espanhola. O imperativo do respeito pela lei fundamental. A suprema prevalência do Estado de Direito.

Onde é que estes gajos andavam quando o governo Passos/Portas passou quase cinco anos a (tentar) atropelar a Constituição da República Portuguesa? Ah, já sei: estavam na retaguarda dos ditos, a disparar chumbo grosso sobre a lei fundamental e o Estado de Direito português. Aparentemente, para a nata política da União, algumas inconstitucionalidades são menos inconstitucionais do que outras. Como é que o projecto europeu não haveria de estar de boa saúde?

Crónicas do Rochedo XIV – Uma direita musculada numa Espanha dividida

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O referendo da Catalunha veio provar que em Espanha ainda existe uma direita “musculada”, profundamente saudosista dos tempos de Franco. Uma direita que está desejosa de dar uns sopapos, de tirar a poeira ao revólver guardado na escrivaninha e disposta a empurrar Rajoy para o colo da ala dura do PP. “Empurrar” é simpatia minha, pois não me parece que D. Rajoy se sinta muito incomodado com a possibilidade.

Esta direita cohabita com uma esquerda ainda mais folclórica que o nosso Bloco. Um misto de saudosistas da cortina de ferro, anarquistas de cubata na mão (mas de Havana 7, que Bacardi é coisa de meninos) e deslumbrados do anticapitalismo internacional. No fundo, estão bem uns para os outros.

E depois temos a confusão: temos os independentistas da Catalunha, os independentistas da Galiza, os Independentistas do País Basco, os Independentistas da Andaluzia, os Independentistas das Baleares (sim, das Baleares que não são catalães e gostam tanto destes como dos de Madrid). Depois temos as Asturias, Castela, Leão e Estremadura sem esquecer as Canárias. Com excepção dos primeiros, os restantes até nem se importam de ficar juntos. Uma enorme salgalhada. E ainda me deve faltar aqui um ou outro movimento independentista mais discreto. Já para não falar nos casos de Ceuta e Melilla…

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Crónicas do Rochedo XXIII – Catalunha: É onde dói mais…

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No fundo ainda sou um ingénuo. Muito ingénuo. E porquê? Porque pensei que as empresas que nasceram na Catalunha, que a ela muito devem a força e pujança de hoje, iriam resistir. E que seriam elas a mola impulsionadora do diálogo entre as partes em confronto. Sou um ingénuo.

Quando o grupo Banc Sabadell, o grupo Caixa Bank (agora donos do BPI) ou a seguradora Catalana Occidente decidiram desertar atiraram um tiro no “meio dos olhos” da economia da Catalunha. Foi onde dói mais. A força do poder económico catalão era, para mim, a última esperança para colocar as coisas nos eixos, ou seja, obrigar as partes a ceder neste braço de ferro: por um lado, obrigar Castela/Madrid a aceitar a realização de um verdadeiro referendo na Catalunha e, pelo outro lado, obrigar Puigdemont e os seus aliados a aceitar não levar a cabo a DUI (Declaração Unilateral de Independência). Só o poder económico e a Igreja podem conseguir obrigar as partes a negociar. Se a Igreja está, discretamente, a fazer o seu papel de mediador, já o poder económico catalão escolheu um lado, o do velho pragmatismo capitalista sem pátria.

Ironia do destino: um dos mais importantes empregadores e contribuintes para a força do PIB da Catalunha (e de Espanha), os alemães da SEAT (Grupo VW), já desmentiram qualquer tipo de fuga da Catalunha.

Crónicas do Rochedo – XXI :: Referendo da Catalunha, E se D. Afonso Henriques…

CATALUNHA
Aos olhos de alguns, muitos, que analisam o problema da “legalidade” do referendo da Catalunha imagino o que passou D. Afonso Henriques…
 
Aos 14 anos, armou-se a si próprio cavaleiro (uma ilegalidade, tendo em conta as regras da época). Não satisfeito, luta contra a sua mãe e vence em 1128 a famosa Batalha de S. Mamede e declara o Reino Portucalense como independente (sem referendo, coisa que à época não era costume), contrariando todas as leis vigentes (de Castela, diga-se). Em 1139 vence a Batalha de Ourique e afirma-se como Rei de Portugal, contrariando as leis da época – podemos considerar as batalhas como uma espécie de “referendos” de hoje? Só mais tarde, em 1143 é que Castela aceita a independência (Tratado de Zamora) e só em 1179 a Santa Sé reconhece o Reino de Portugal. Ou seja, se a coisa dependesse do cumprimento das leis soberanas de Castela (e Leão) ainda hoje andava a malta a discutir a realização de um referendo cumpridor da Constituição de Espanha, para que, cada um dos habitantes deste pedaço de terra, chamado Portugal, fosse um país soberano e independente. É isto, em resumo, que defendem os actuais legalistas, certo?
 
A escolha dos habitantes da Catalunha só pode ser feita através de um referendo (as batalhas caíram em desuso). Um referendo livre e democrático. Se votam a favor da independência ou contra ela é uma decisão de cada um dos eleitores do respectivo território, a Catalunha . Querer fazer depender disso o cumprimento integral do disposto na Constituição de Espanha é uma aberração política. O mesmo se aplica, obviamente, a outros povos na mesma situação (dentro e fora de Espanha).
 
Ver tantos portugueses a referir-se ao referendo da Catalunha como uma violação dos preceitos jurídicos de Castela (desculpem, de Espanha) é, no mínimo, de ir às lágrimas…

O Banco Popular está a arder

e a factura já vem a caminho.

Agir com base na solução e não na prevenção – a actuação diplomática portuguesa no caso de Almaraz

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O Ministério dos Negócios Estrangeiros Português retirou a queixa que mantinha desde dia 16 de Janeiro contra o governo espanhol na questão de Almaraz. Em troca da retirada da queixa, o governo espanhol concordou em tomar algumas medidas provisórias (não avançar com o processo de construção enquanto nos próximos 2 meses não ceder toda a informação sobre o assunto ao governo português; técnicos portugueses e da Comissão Europeia irão realizar uma vistoria técnica à central), o que levou o Ministro Artur Santos Silva a declarar-se disponível para realizar uma nova queixa se o governo português entender daqui a 2 meses que continua a ter motivos:

“Ao fim dos dois meses, faremos o balanço. Se Portugal entender que continua a ter motivos para que a queixa prossiga o seu curso, a mesma mão que assina a carta a retirar a queixa, assina a carta a repô-la” – retirado aqui.

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Crónicas do Rochedo XII – Alguma coisa deve estar errada…

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De Valência (Espanha) à Maia são pouco mais de 900 quilómetros. No caso em apreço, de Valência a Chaves são cerca de 800 quilómetros. Sem utilizar qualquer alternativa às auto-estradas espanholas, o valor pago em portagens neste percurso até chaves são €12,30 (podendo ser zero evitando o túnel de Guadarrama nos arredores de Madrid). Por sua vez, de Chaves à Maia são cerca de 140 quilómetros e €11,25 de portagens (classe 1).

Em Espanha o gasóleo varia entre os €0,98 e €1,08. Aqui, a coisa anda entre os €1,27 nas auto-estradas e os €1,17 nos postos mais baratos. Uma botija de gás custa em Espanha, em média, metade do que custa em Portugal. Os produtos de supermercado, salvo raras excepções, são praticamente todos iguais ou ligeiramente inferiores. Bens de primeira necessidade como água, pão ou leite equiparam-se nos preços. Porém, os salários são bem diferentes: O salário médio bruto em Espanha anda nos €1.640 mensais para uma carga fiscal de 21,5%  (contra os €986 em Portugal e uma carga fiscal de 28,3%).

Como compreender estas diferenças? Alguma coisa deve estar errada…

Por Quem os Sinos Dobram

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Por quem os Sinos Dobram – a assinalar os 80 anos do início da Guerra Civil Espanhola.

Página IMDB.

Filhadaputice é isto

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Seis países não cumpriram as regras do pacto de estabilidade em 2015

Disse-se que houve unanimidade entre os ministros das finanças europeus, que formam o Ecofin, na aplicação de sanções a Portugal. O que é falso, logo em primeiro lugar.

Durante a reunião não houve votação. Portugal e Espanha manifestaram-se contra as sanções, mas os restantes países não levantaram objeções dando luz verde à decisão. [Expresso]

Nem houve votação. Assim se confirma, novamente, que a “europa” é o projecto de um país, capaz de impor aos restantes o seu domínio.

Mas quem cala consente. Seis países ficaram em procedimento de défice excessivo em 2015. Croácia, França, Grécia, Reino Unido (se ainda conta), Portugal e Espanha.

A Croácia calou-se. A França calou-se. A Grécia calou-se. Filhadaputice é assobiar para o lado enquanto as chamas do vizinho não chegam ao palheiro. Mas lembrando Brecht

Actualização: a Grécia opôs-se às sanções.
Vivemos um tempo em que a contra-informação domina a informação. Neste caso, passámos de unanimidade para vários protestos. Mesmo assim, não chegou a haver votação. Grande europa.

PP de Rajoy ganha sem maioria

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Infografia: El Mundo

O jornal El Mundo disponibiliza uma ferramenta para fazer coligações. Vai ser muito útil a partir de amanhã, num país onde nenhum partido conseguiu chegar à maioria por si mesmo.

Quanto aos resultados, apesar da corrupção à volta do PP, este foi o partido mais votado, tendo obtido um melhor resultado eleitoral comparativamente à eleição de 2015.

Tempos estranhos estes, onde políticos atolados em escândalos conseguem ganhar eleições.  [Read more…]

Golpes que matam

67 anos a torturar em Euskadi até 2014.

Crónicas do Penedo I – A antena

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No tempo em que não existia TV Cabo e a televisão a cores era uma realidade um pouco recente, o meu pai decidiu comprar uma antena parabólica para termos alternativa ao elevado número de canais televisivos que a pátria oferecia: RTP 1 e RTP 2…

Na altura foi um acontecimento. De repente passei a ter, vejam lá, um canal de música (já não me lembro do nome a não ser que era qualquer coisa “europa”). Isso e alguns que durante a madrugada passavam umas coisas interessantes para maiores de 18. Nalguns casos, como diziam um amigo meu, era mesmo para maiores de 40… Depois veio a TV Cabo e nunca mais se utilizou a antena. Continua lá no alto do telhado sobrevivendo a custo a alguns temporais de inverno.

Até que um dia Espanha nos chama e lá vamos nós em trabalho por uns tempos valentes. De repente decides que vais ter uma parabólica pois não estás para fazer um contrato de fidelização de televisão por cabo e pagar uma fortuna todos os meses para levares com as melhores series americanas dobradas em castelhano…Ouvir Frank Underwood em castelhano é quase tão pornográfico como o “xiii cariño, xiiii” dos anos oitenta.

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