Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu

Dois vídeos carregados de mediocridade, com especial destaque para o pretendente a estadista, Pedro Passos Coelho.

No primeiro vídeo, Coelho é muito rápido a criticar António Costa, talvez um dos demissionários mais felizes da história, depois de ter conseguido meter água em muita areia, ao ponto de ficar metido num lodaçal de todo o tamanho. No mesmo vídeo, surgem outros dois artistas pimba: José Sócrates defende Costa (como se Costa já não tivesse, por culpa própria, problemas suficientes) e André Ventura secunda Passos Coelho.

No segundo vídeo, o mesmo Passos Coelho recusa-se a comentar o caso de Miguel Albuquerque. O vídeo não está completo – na realidade, Coelho escuda-se no facto de ter sido primeiro-ministro e presidente do PSD, não querendo, por isso, intervir, adoptando uma pose conciliatória.

Tudo gente sem vergonha na cara. Tudo gente que confirma o velho ditado de que somos capazes de ver o argueiro no olho do vizinho, ignorando a tranca que trazemos no próprio olho. A democracia portuguesa tem as virtudes próprias no único regime legítimo; os defeitos que tem são todos destes figurões que vão governando em simpática alternância, sendo a rivalidade uma aparência consubstanciada em frases medíocres e resultante da disputa de alguns tachos, mais distribuídos do que disputados. [Read more…]

Durão, Sócrates, Passos

Todos no mesmo dia. Nem o Ebenezer Scrooge foi castigado com TRÊS fantasmas do Natal passado.

As montanhas e os ratos

Imagem retirada do Facebook @alexandremartins

Agora, vamos falar mais ou menos a sério:

O Ministério Público (MP) não vale a ponta de um prego enferrujado e é, hoje, antes de tudo o resto, um instrumento político.

Um MP que anda há mais de 9 anos a tentar “caçar” um ex-Primeiro-ministro sem provas concretas, não me merece qualquer credibilidade.

E isto não desculpa o PS, porque não sou como o João Soares e não ponho as mãos no fogo por corruptos mais ou menos socialistas, mais ou menos social-democratas, mas deixa com ainda pior imagem o próprio MP.

Resumindo: como sempre, e graças ao sempre incompetente MP, a montanha vai parir um rato.

Siga a banda, seja com o P”S” ou com as suas derivações centristas e populares democráticas.

Manuel Pinho, criminoso assumido

É a impunidade a bater recordes olímpicos. Manuel Pinho, socrático e avençado de Ricardo Salgado, assume, com a leveza de quem acordou e se lembrou de se ter esquecido da roupa na máquina por estender, que afinal cometeu vários crimes de fraude fiscal, prática comum – garante – no universo BES.

Mas está muito arrependido.

E ainda vai aparecer um idiota útil qualquer a louvar o arrependimento do criminoso.

Há sempre um idiota assim. É o irmão mais novo do idiota do “rouba, mas faz”.

Sócrates versus Costa: Está bonita a festa, pá!

Pelos vistos António Costa disse umas coisas sobre Sócrates no 4º volume das memórias de Mário Soares. Sócrates já reagiu chamando de “velhacas acusações” aos ditos de Costa. Por via das dúvidas já comprei pipocas.

 

A brincar, a brincar, o macaco…

O meu passado chama-se Passos, o passado de Costa chama-se Sócrates. 

Disse Luís Montenegro, candidato à liderança do PPD sem SD.

De facto, fica provado: o legado de Sócrates não serve ninguém. O legado de Passos só serve mesmo aos boys do PPD. Mas, se o passado é Passos e isso é assim tão bom… por que razão o PPD sem SD se encontra “mais para lá do que para cá”? Se Passos foi assim tão bom, não seria suposto que o PSD se apresentasse pujante, feroz e a fazer a melhor oposição de sempre?!

Noutra afirmação, o agora candidato à liderança dos Laranjas disse que com o socialismo as desigualdades aumentaram. Primeiro, a real confusão ideológica: eu sei que o PPD não sabe o que é a social-democracia, por isso é normal que ache que o PS é socialista. Segundo, é falso: as desigualdades não só não aumentaram como diminuíram com a social-democracia. Perdoo esta… mas só porque sei que o PSD só conhece o significado de neo-liberalismo e de conservadorismo social.

Esta gente não se enxerga e chega ao ponto de achar que Sócrates e Passos não são farinha do mesmo saco. E, com isto, diz ao que vem: reconstruir e reerguer o legado de Passos… que o país não quis… porque foi enganado. Dito isto… que o povo nunca se volte a enganar.

Boa Páscoa de ilusões.

O mestre e o seu delfim. Fotografia retirada do Jornal de Notícias.

O dia em que Putin mandou fechar a Praça Vermelha para Sócrates fazer jogging

Vejo muita gente do PS destroçada com a invasão da Ucrânia, e não duvido que estejam, mas não me lembro de ver qualquer indignação quando o corrupto czar mandou fechar a Praça Vermelha para o jogging matinal de Sócrates e sus muchachos. Não que sejam situações comparáveis, é óbvio que não são, mas não deixa de ser um bom exemplo do bom relacionamento entre as nossas elites e o regime autoritário de Vladimir Putin, ou, por outras palavras, da normalização para a qual contribuíram.

Sim, eu sei. Paulo Portas também andou aos abraços com o Maduro e Passos Coelho vendeu meio Estado ao regime totalitário instalado em Pequim. Cavaco juntou-se a minoria que votou contra a libertação de Mandela e Soares fez a folha ao Rui Mateus, de cujo livro, Contos Proibidos, o Aventar é fiel depositário. E o Durão isto, o Guterres aquilo e o Balsemão não-sei-quê Bilderberg. E isto só me leva a concluir o seguinte: andamos de calças em baixo, a normalizar ditadores e práticas ditatoriais há mais de 40 anos. E não, não é o divino Espírito Santo que os põe lá. Somos nós.

A senhora e o cavador

 

Era uma vez uma senhora que geria uma propriedade agrícola. Certo dia, um dos dois cavadores morreu e, para poupar dinheiro, a senhora decidiu que era melhor não contratar mais ninguém. O outro cavador ainda se queixou, mas lá foi fazendo o trabalho dele e o do falecido.

A senhora, um dia, sempre preocupada em poupar dinheiro, resolveu que a enxada do cavador era muito cara e substituiu-a por um modelo mais em conta. O cavador ainda disse que isto assim ia ser difícil, menina, se ao menos arranjasse mais um cavador, qualquer dia a terra não ia render. [Read more…]

Armando Vara soma e segue. Encarcerado.

Armando Vara, figura proeminente do Partido Socialista na era socrática, foi deputado, secretário de Estado, ministro e exerceu ainda as funções de administrador da CGD e de vice-presidente do BCP. Apesar do percurso de “poderoso”, Vara está a cumprir o terceiro ano de uma pena de cinco, no Estabelecimento Prisional de Évora. Hoje foi condenado a mais dois anos de prisão efectiva, por crime de branqueamento de capitais. Serão, no total, sete anos de prisão efectiva.

A justiça portuguesa não goza – nunca gozou – de grande popularidade. Por culpa própria e da incompetência/cumplicidade dos legisladores que, efectivamente, tomam decisões. Não obstante, e perante os desenvolvimentos dos últimos meses, e, em particular, das últimas semanas, não me recordo de outro momento, na história deste país, em que tantos intocáveis tenham perdido a aura inimputável como hoje. Nem em quase cinco décadas de democracia, muito menos no tempo do regime estruturalmente corrupto de Salazar. E isso, num tempo em que a democracia é diariamente atacada por aqueles que querem regressar ao autoritarismo estruturalmente corrupto e totalmente impune, é digno de registo.

Pavilhão Atlântico: mais um caso para o arquivo da direita

Pouco ou nada se falou sobre isto. O que não deixa de ser surpreendente, ou não vivêssemos nós num país comandado pela esquerda, com as instituições e a imprensa controladas pela esquerda, mais o marxismo cultural e não sei quê. E reparem que isto tinha tudo para correr maravilhosamente: está lá o Salgado e o Zeinal, a PJ queixou-se de falta de meios, o MP não ouvi nenhum dos intervenientes no negócio e até ligações ao caso Monte Branco ali existem. Só ficaram a faltar o Sócrates e o Carlos Santos Silva.

Sucede que o beneficiário da negociata é genro de Cavaco Silva, e Cavaco, o não-político com mais tempo de e no poder na história da democracia, goza de um estatuto de semideus que lhe permite ser um Sócrates sem sofrer as consequências de socratar. Seja no BPN, quando os protege, convida para comissões de honra ou faz bons negócios de compra e venda de acções, seja quando faz boas permutas na Herdade da Coelha, seja quando garante ao país que o BES está sólido e que os portugueses devem confiar nele. Enfim, nunca mais daqui saíamos. [Read more…]

Fernando Medina: uma lição de “eleitoralolismo”

Fernando Medina tem-nos dado uma lição de como saber surfar a crista da onda. Isto sem que se lhe conheçam quaisquer “actividades extra-curriculares” que incluam surf ou outra variante.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa é uma espécie de camaleão político, comporta-se como o aluno do quadro de honra, querendo passar a imagem de que é dos que diz irra! quando bate com mindinho na perna da mesa.

Está, portanto, do lado certo da política: a escola do Partido (pouco) Socialista. Oportunista, dissimulado e charlatão.

Puxemos o filme atrás.

Em 2011 dizia que precisávamos de José Sócrates como Primeiro-ministro, graças à sua “liderança”, ao seu “conhecimento”, “experiência”… ou seja, quando convinha, #JoséSócratesNoComando.

Em 2021, José Sócrates traiu a confiança dos portugueses. Depois de descoberto o véu à noiva, de ter sido dito o “sim” e de tantas noites de núpcias calorosas, naquilo que parecia ser um casamento para durar, afinal era violência conjugal e, portanto, #MeToo.

Pronto, tudo bem. José Sócrates ganhou duas eleições, uma delas com maioria absoluta, perdoemos Fernando Medina por esta, tendo em conta que muitos de nós fomos enganados.

Avancemos, continuando, ainda assim, em 2011. [Read more…]

Pois é

No estilo e na substância, Joao Galamba é a cara escarrada de José Sócrates, de quem foi próximo e fiel (enquanto rendeu). Este homem vai sair-nos muito caro. E porque conhecemos o outro, não podemos dizer que não fomos avisados.”

Sócrates vs Madoff

Bernard Lawrence Madoff morreu na passada semana com 82 anos num hospital prisional da Carolina do Norte, na mesma semana em que o juiz Ivo Rosa pronunciou a decisão instrutória relativa à Operação Marquês. Há uma ideia errada em Portugal de que o caso de Madoff é um bom exemplo de eficácia da justiça e há até quem julgue que deveria servir de exemplo para a Operação Marquês. Nada poderia estar mais errado.

A obra de investigação “Too Good to Be True: The Rise and Fall of Bernie Madoff” de Erin Arvedlund, que condensa as décadas do esquema de investimentos fraudulentos de Bernie Madoff e o período após Bernie se ter entregue à polícia pelo seu próprio pé, mostra claramente que o sistema de justiça americano falhou a toda a linha. Ao contrário do caso Sócrates, a justiça americana nunca tomou a iniciativa de investigar com profundidade os negócios de Madoff. A prisão de Madoff apenas foi consumada em 2009 após o próprio ter chamado a polícia à sua luxuosa penthouse da 133 East 64th Street em Nova Iorque e de ter encenado uma confissão previamente ensaiada com a ajuda de um dos seus filhos sobre uma parte dos crimes económicos da sua empresa, alegando ter cometido todos os crimes sozinho.

Não foi na sequência de qualquer processo de investigação que Madoff se entregou às autoridades. Madoff entregou-se porque temia pela sua vida, quando estava a ser quotidianamente ameaçado pelos seus credores que lhe exigiam de volta o dinheiro investido no seu esquema fraudulento, na sequência da crise financeira de 2008. Apresentando-se como culpado de crimes que não estavam a ser alvo de investigação, o processo seguiu para julgamento sem que qualquer investigação fosse lançada para verificar se existiam mais crimes e mais gente envolvida. A sua entrega voluntária criou assim um impasse no seu processo que apenas permitiria a abertura da investigação muito tardiamente, possibilitando imensa destruição de prova, ocultação de fundos e inúmeras fugas à justiça de familiares e de mais de uma centena de cúmplices à volta do mundo, de Londres a Singapura. Pouco mais de meia dúzia foram condenados até hoje. Por exemplo, Ruth, a sua esposa, que participou desde o início (desde os anos 60) no esquema fraudulento de Madoff, captando dezenas de investidores, não foi presa, nem condenada, nem sequer investigada. [Read more…]

Rui Moreira comenta pronúncia de José Sócrates por Ivo Rosa

Sei, tenho bem presente e defendo a presunção de inocência a que todos os indiciados, arguidos, acusados e pronunciados têm direito até ao trânsito em julgado, mas isso não obsta a leitura política.
Nessa perspectiva, talvez eu seja esquisito em demasia, não me caiu nada bem que Rui Moreira, acusado pelo Ministério Público, tenho usado o espaço de comentário que tem na TVI para zurzir num outro acusado e agora pronunciado, José Sócrates.
O pudor nestas situações, mesmo de quem se sabe inocente, deveria sensibilizar ao recato.

Perfeito anormal

A anatomia de um perfeito anormal, em directo, na TVI.

«’Tá vendo esta mansão sensacional?
Comprei com o dinheiro desviado do hospital.
Ah e o meu cofre, cheio de dólar?
É o dinheiro que seria p’ra fazer mais uma escola!
Precisa ver minha fazenda!
Comprei só com o dinheiro da merenda!
E o meu filhão? Um milhão só de mesada.
E tudo com o dinheiro das crianças abandonadas…
E a minha esposa?
Não me leva à falência porque eu tapo esse buraco
com o rombo da previdência!
Vossa excelência, ‘cê não viu meu avião?
Comprei com uma verba que era p’ra construir prisão!
E a superlotação? Problema do povão!
Não temos imunidade? P’ra nós não pega, não!
(…)
“Todos os que me conhecem sabem muito bem que eu não admito…
O enriquecimento do pobre e o empobrecimento do rico!”»
Mas há quem esteja há dez anos a tentar criminalizar o enriquecimento injustificado. Hoje, é tarde demais. Mas, “apesar de você, amanhã há-de ser outro dia“. Não deixemos para ontem.

Um país cobarde tem os Sócrates que merece

José Sócrates é corrupto. E foi Ivo Rosa quem o disse. Mas antes de Ivo Rosa o dizer, já nós o tínhamos sentenciado. Porque a informação disponível nos convenceu disso. Da parte que me toca, e sabendo que a minha opinião de jurista virtual, no que à aplicação da lei diz respeito, vale zero, há vários anos que não tenho dúvidas que Sócrates foi corrompido, que usou o seu cargo para favorecer amigos e militantes do partido, entre outras cunhas, que lesou financeira e moralmente o Estado, que utilizou recursos públicos em benefício próprio, ou para pagar favores, para não falar nas múltiplas fraudes cometidas.

Dito isto, e voltando a um tema que me é caro, porque inclusive já cheguei ao ponto de uma antiga chefia directa me dizer, no final de uma avaliação anual, que “fizeste globalmente um bom trabalho mas tens que parar de escrever e denunciar situações relacionadas com a CM da Trofa, mesmo que tenhas razão, caso contrário deixará de haver lugar aqui para ti, porque existem pessoas com muito poder e influência a exigir que sejas silenciado ou despedido”, quero dizer-vos duas coisas:

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Ouvido no Portugalex (Antena 1)

“O que os magistrados de bancada não percebem é que a Justiça tem um tempo próprio. Que é o tempo de deixar prescrever os crimes.”

Para memória futura

Também AQUI

Reacções ao caso Sócrates – Adaptar-me ao envelhecimento

De ano para ano, de mês para mês, de dia para dia, sinto-me a perder capacidade de compreensão do que me rodeia. De início pensava que era cansaço, depois que talvez fosse de dedicar poucas horas ao sono, até que sim, um gajo assume a consciência de que envelhece, o raciocínio vai deixando de fluir da mesma forma e a incompreensão tolhendo-nos. Envelhecer mentalmente é, afinal, ir perdendo lentamente a faculdade de adaptação ao meio. Daí o progressivo isolamento…
Escrevi lentamente, porque assim é, mas creiam que agora tudo parece ter sido num ápice, num instante, como se diz, de um momento para o outro.
Mas vem esta confissão a propósito de quê?

Da solidão que sinto apoderar-se de mim, sem estar só, entenda-se.
Consigo compreender profundas indignações com as injustiças, mas esta em particular, a que visa apenas Sócrates e Ivo Rosa, com sensibilidades assomadas de aleivosia contra duas pessoas, quando vivemos a corrupção em Democracia há quase meio século, com casos atrás de casos, com compadrios à vista de todos, com uma indecente promiscuidade entre negócios e política com a alta-finança a corromper a eito, [Read more…]

Sócrates, o multivitamínico

Não tenho instrumentos nem conhecimentos que me permitam avaliar as decisões do juiz Ivo Rosa. Não tenho grande fé na humanidade, respirando apenas uma uma leve esperança de que o confronto dialéctico da vida nos leve, por vezes, a um caminho menos injusto, menos desequilibrado.

José Sócrates representa, para mim, o pior de Portugal, o chico-esperto que finge frontalidade, mas que é só desonesto, o politicote vácuo, uma figura que fica bem numa galeria cheia de medíocres como Durão Barroso, Cavaco Silva, Passos Coelho ou António Costa, todos chefes de uma comandita que, ao mesmo tempo, mantém e corrói a democracia portuguesa, esse território habitado por praticantes de uma corrupção legal, que sobrevive à custa de incompreensíveis prescrições, constantes de leis criadas pelos amigos daqueles irão beneficiar com essas mesmas prescrições.

José Sócrates foi um dos piores primeiros-ministros de Portugal, num campeonato em que quase todos andam perto dos lugares cimeiros. Entregou a tutela da minha área profissional a Maria de Lurdes Rodrigues, uma figura amarga e sinistra, ignorante atrevida erigida em senadora da Educação. Sócrates é, ainda, uma figurinha irritante e suscita-me uma embirração que me levou ao ponto de ficar grosseiramente satisfeito por ter sido preso, quando, na realidade, me faz impressão a facilidade com se recorre à prisão preventiva. A minha intuição diz-me que Sócrates é culpado de tudo o que é acusado e apostaria que ainda há muito de que deveria ser acusado, mas não se sabe o quê. Com a sobranceria que lhe é característica, teve o atrevimento de vir considerar-se inocente, fingindo que não houve prescrições e esquecendo-se selectivamente de que ainda irá a julgamento, podendo, por isso, vir a ser condenado. [Read more…]

José Sócrates, democracia e o monopólio da promiscuidade

João Miguel Tavares, uma das vozes mediáticas que mais ferozmente tem esmiuçado e criticado José Sócrates ao longo dos (pelo menos) últimos 15 anos, no último Governo Sombra:

É fácil ser corrupto, é muito difícil provar a corrupção. Portanto eu acho que todos os indícios que estão na acusação são indícios muito sólidos, mas, de facto, a solidez esbarra em algo que é ainda mais sólido, que é a dificuldade de provar coisas em função daquilo que é a lei portuguesa no que diz respeito à corrupção. E isso é que é muito assustador.

Faço parte do grupo de pessoas que está absolutamente convicto que José Sócrates é culpado da maior parte dos crimes que lhe são imputados pelo Ministério Público. E só não digo todos porque não integro o amplo grupo de pessoas que leram as 6728 páginas da decisão instrutória de Ivo Rosa, nos 15 minutos que se seguiram à leitura do resumo pelo juiz do Ticão, depois de terem analisado a acusação ao mais ínfimo detalhe, para concluir que o Ministério Público fez um excelente trabalho e que a única explicação possível para o revoltante desfecho da instrução é o facto provado de que Ivo Rosa reside no bolso das moedas de José Sócrates. Ao contrário dessas pessoas, não tenho dados objectivos que me permitam saber se Ivo Rosa favoreceu deliberadamente José Sócrates. E acho formidável que se simplifique um problema destes, que é estrutural e está na raiz do regime, muito maior que a Operação Marquês, porque é preciso encontrar um bode expiatório instantâneo para direccionar a raiva das massas. Desta vez foi Ivo Rosa, noutras ocasiões foram advogados, procuradores ou outros magistrados. E enquanto se lincha o juíz, quem escapa em toda a linha abre garrafas de champanhe na Comporta, e já ninguém quer saber deles. Da parte que me toca, quero agradecer a Ivo Rosa por ter liberalizado e oficializado algo que já todos sabíamos mas que, finalmente, ouvimos da boca de um juíz: que José Sócrates é corrupto. E não será a prescrição do crime que alguma vez mudará isso. José Sócrates é corrupto.

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A Operação Marquês e os obcecados pelas selfies

Fonte: Rui Rocha.

Este é o momento!

(com a devida autorização do autor, o aventador Carlos Garcez Osório, publico aqui o seu texto da sua página de facebook)
Vou fazer um enorme esforço para tentar que este texto não reflita a descomunal raiva que me perpassa, não por receio de qualquer consequência pessoal (quem me conhece, infelizmente, sabe-o bem), mas porque não é fácil fazermo-nos compreender por entre os “perdigotos” da fúria.
A imagem reproduz um excerto da decisão instrutória, neste caso uma das muitas (são mesmo muitas) ordens para que os Arguidos possam, DE IMEDIATO e sem qualquer restrição, voltar a ter acesso às verbas (imóveis, contas, etc.) que se encontravam arrestadas. Num despacho cujas consequências judiciais são muito mais limitadas que aquelas que o desprezIVO gostaria que fossem, esta é uma das nossas (dos Portugueses) grandes derrotas. O mais que previsível provimento do recurso do MP, já não evitará que estes milhões e milhões de euros desapareçam total e definitivamente.
E a partir daqui poderia lançar-me, como quase todos nesta hora, num legítima, sustentada e lógica investida contra os problemas do sistema judicial, da corrupção, etc. Só que como a maior parte do que está a ser dito e escrito, isso não seria mais que ruído. Ruído que nos impede de perceber o que realmente aconteceu e o que realmente interessa fazer agora.
Não sendo de forma alguma “dono” da verdade, admito que posso estar equivocado. Aliás a cólera é um natural inimigo da lucidez. Mas mesmo assim, “sem rede” ou agenda de interesses, apenas configurado pelas minhas opiniões, convicções, forma de perspectivar o mundo e de nele estar, deixem-me tentar distinguir o que neste momento (para mim) é urgente e o que pode ser discutido depois.

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Duas inofensivas reflexões linguísticas acerca de Sócrates

By chance I met this same wine again, lunching with my wine merchant in St James’s Street, in the first autumn of the war; it had softened and faded in the intervening years, but it still spoke in the pure, authentic accent of its prime, the same words of hope.
Evelyn Waugh, “Brideshead Revisited

But was there more to Socrates’s attitude to Sparta than vague and general admiration from afar?
Paul Cartledge

Foto: Anadolu Agency/Getty Images (https://bit.ly/2PPQwv6)

***

Provavelmente, em português actual, nunca teremos visto nem o singular *Sócrate (como ‘Socrate‘, em francês), nem o plural *Sócrateses. Provavelmente, repito. E isto vale quer para Sócrates com ‘S’ inicial e ‘s’ final, quer para Sócrates com sigma inicial (Σ) e sigma final (ς). Ora, sabendo que o plural Sócrates corresponde ao singular Sócrates e nunca a *Sócrate e que ao singular Sócrates corresponde o plural Sócrates, também sabemos que o plural lápis corresponde ao singular lápis e não a *lápi e que (para falantes de português europeu de Lisboa e arredores, pois eu digo ‘sapatilhas’) o plural ténis corresponde ao singular ténis e não a *téni (como já ouvi, por hipercorrecção).

A expressão, em inglês, através do “s’ genitive”, de uma relação possessiva em que Sócrates é o possuidor faz-se através de Sócrates’s e não através nem de *Sócrate‘s, nem de *Sócrates’, como se aprende quer nas melhores escolas e afins, quer numa ida a Londres (e.g., St. James’s Park).

Muito bem, Mendes. Muito bem, Maio.

***

Sócrates de todo o mundo: uni-vos!

Queria aqui propor um soleníssimo minuto de silêncio, em memória da credibilidade daquela malta que está em ebulição desde ontem, motivada, com razão, com o desfecho da decisão instrutória da Operação Marquês, mas que apoia, que defende, que normaliza e que pactua com autarcas corruptos e com a corrupção instalada no poder autárquico, de norte a sul do país, ou porque “são todos iguais”, ou porque o filho tem um tacho na câmara, ou porque a mãe fez um ajuste directo com a junta, ou pelo raio que os parta. 52% das denúncias por corrupção neste país têm origem nas autarquias, segundo dados de 2019 do Conselho de Prevenção da Corrupção. A esmagadora maioria das denúncias é arquivada e nem chega sequer a ir a julgamento. A denúncias que vão terminam igualmente arquivadas ou com penas suspensas. Parabéns a todos eles! Nenhum destes pequenos Sócrates autárquicos poderia algum dia chegar a marquês local sem o seu inestimável contributo. A corrupção agradece os seus contributos.

PSP – Polícia Sonsa de Portugal

Ontem, quer à entrada, quer à saída do Campus de Justiça, mais de uma dezena de agentes da Polícia de Segurança Pública escoltaram José Sócrates, garantindo que o suspeito chegasse ao tribunal e saísse do mesmo em total segurança. No fim, José Sócrates foi sentar-se numa esplanada com outros quatro colegas (onde, pelas regras impostas, só podem estar quatro pessoas numa mesa, estavam cinco) e, aí, já não foi necessária a escolta da PSP.

Gostaria de perguntar ao Estado e à PSP o porquê das diferenças de tratamento entre cidadãos, consoante o estatuto, a carteira e a classe social: a diferença de tratamento que as polícias têm entre os poderosos e o cidadão comum é óbvia, é repugnante e é inconcebível. Porque é que a PSP protege os poderosos e persegue o cidadão comum?

É que em Portugal, para a PSP, vale mais a pena andar à caça da multa ou de uma grama de haxixe, perseguindo trabalhadores e/ou estudantes que nunca extraviaram ou mataram. Já os suspeitos de corrupção e de outros crimes de colarinho branco, são escoltados como se de bons samaritanos se tratassem. Como bons capatazes que são – eufemismo para paus mandados -, dirão “apenas cumprimos ordens”. Mete tudo muito nojo.

Deixo-vos com Peste & Sida.

Fotografia: Ana Baiao/EXPRESSO

Sócrates foi corrompido mas não faz mal: o caso prescreveu e não se fala mais nisso

Foram mais de três penosas horas de leitura do longo resumo do gigantesco processo. Durante a mesma, Ivo Rosa lá nos explicou que ou está tudo prescrito, ou não foi produzida prova suficiente que permita sustentar grande parte das acusações, ou não houve intenção, ou não é possível estabelecer uma relação entre os milhões que por aí circularam – e que, estranhamente, foram aparecer nas contas de Sócrates e Carlos Santos Silva – e qualquer acto ilícito. No fim da linha, eis-nos pois, perante o habitual cenário: os poderosos voltaram a safar-se do crime que verdadeiramente interessava: o de corrupção. Isto apesar de Ivo Rosa ter assumido que Sócrates foi corrompido. Parafraseando uma antiga procuradora, “Portugal não é um país corrupto”. Ficamos todos muito mais descansados.

Segue-se um julgamento com tudo para dar em nada, durante o qual Sócrates, Salgado, Santos Silva, Armando Vara e João Perna responderão por crimes menores (quando comparados com o crime de corrupção). Mas, pior que isso, segue-se um perigoso aprofundar do descrédito em que caiu a justiça, que, por não funcionar com os Sócrates e os Salgados desta vida, passa a ser considerada, por cada vez mais pessoas, como um todo inútil e ineficaz, pese embora o seu bom funcionamento noutras áreas. Até nisto, Sócrates, Salgado e restante pandilha são um cancro social: não só se safam, como descredibilizam ainda mais as instituições, que há muito se arrastam pelas ruas da amargura.

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TCIC 122 – Decisão Instrutória :: Ivo Rosa

Pode ler aqui as mais de 6000 páginas que fundamentam a decisão do Juiz Ivo Rosa:

TCIC 122 Decisão instrutória

Chegou a hora dos comentadores televisivos

Agora que o juiz já terminou, entram nas televisões a comentar: Paulo Futre, Diamantino, Pedro Guerra, Manuel Serrão e demais especialistas nestas coisas. O tema principal é: Sócrates estava ou não em fora de jogo? O VAR decidiu bem? O árbitro estava comprado?

A não perder numa televisão perto de si.

José Sócrates’s Gang

Foto: AFP/Getty Images

O segredo da amizade:

Crime de corrupção que liga Sócrates e Salgado prescreveu, diz Ivo Rosa

«Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti
Não te chega para o bife?
Antes no talho do que na farmácia
Não te chega para a farmácia?
Antes na farmácia do que no tribunal
Não te chega para o tribunal?
Antes a multa do que a morte
Não te chega para o cangalheiro?
Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir»
(‘FMI’ de José Mário Branco)