Croniqueta acerca de Krugman e Flege

“The anti-clockwise and the clockwise logarithmic spiral.” (de Vitiello, 2014) https://bit.ly/3IXQWZe

Há umas semanas, algures entre o Teams e o Zoom, o cronista apresentou, entre outros artigos, os New Methods for Second-language (L2) Speech Research, do Flege — e achou curiosa a serendipidade do próximo parágrafo que lhe caiu ao colo, o dos new methods do nosso querido Krugman. A serendipidade. Nada encontrareis igual àquilo. Nada. Garanto. Não há copy-paste, não há papel químico. Como dizem os miúdos (e já os egrégios gregos o diriam, mas em Grego Antigo), isto não se inventa:

We have to be more cautious in describing quantitative relationships. The one thing that we were just looking at, the interactive things we can do with the new methods, and we have a figure that we will keep, which shows the inflation unemployment counterclockwise spirals in the 70s and the 80s where you have to go through this bulge in unemployment to gt inflation down… I mean… clockwise spirals…. Anyway… Like that⮏. Or, from your point of view, like that ↺.
Paul Krugman

Quanto ao resto da crónica, ficará para depois da tarefa da semana: operacionalizar, por um lado, o carácter explícito e o carácter implícito e, por outro, o grau de dificuldade. É complexo, demora imenso, mas é divertido. Mas tem de ser com papel, lápis, borracha, uma Bic e um agrafador, porque o computador deu o berro. O outro. O do trabalho. O das crónicas é este e vai funcionando.

Garantir a informação e o *contato com a comunicação social?

Sir To. Fie, that you’l say so! he playes o’ th Viol-de-gamboys, and speaks three or four languages word for word without booke, & hath all the good gifts of nature.
— Shakespeare, Twelfe Night, Or What You Will (Folio 1, 1623), aka La Nuit des Rois.

A century has passed since John Maynard Keynes called the gold standard — and by implication the idea that gold is money — a “barbarous relic”.
— Paul Krugman, The New York Times, 24 de Janeiro de 2023 (data da edição internacional, a que chega em papel a Bruxelas)

***

Como é sabido, o Acordo Ortográfico de 1990 funciona como uma pedra de estimação, uma “pet rock”, como a mencionada por Krugman, no NYT, à qual alguns atribuem qualidades e defeitos inexistentes, tratando-a como se de um ente querido se tratasse. De facto, não tem valor, é uma fraude sobrevalorizada, uma “hyped-up fraud”. Mas, por aí, continuam acriticamente a dar palco aos promotores da fraude . E o palco não é o do S. Luiz.

Haja pachorra.

Efectivamente, ontem, ganhou força a teoria segundo a qual a proliferação de *fatos e *contatos na comunicação social que segue o Acordo Ortográfico de 1990 tem como origem a montra.

 

Exactamente.

Hoje, o espectáculo continua.

Hoje, de facto.

E amanhã? Previsivelmente, mais do mesmo.

Votos de uma óptima semana.

***

A sério, Expresso? Pára para?

We have to be more cautious in describing quantitative relationships. The one thing that we were just looking at, the interactive things we can do with the new methods, and we have a figure that we will keep, which shows the inflation unemployment counterclockwise spirals in the 70s and the 80s where you have to go through this bulge in unemployment to get inflation down… I mean… clockwise spirals…. Anyway… Like that ⮏. Or, from your point of view, like that ↺.
Paul Krugman

***

Pára para? Não era para para? Como em “uma lagosta para para me ver“? Ah! É pára para. OK.

Mais uma recaída. Exactamente. Efectivamente.

E qual é a explicação para factor?

Recaída? Deixaram de adoptar o AO90?

As duas coisas? Nem por isso? Que grande confusão. Tantas hipóteses, Expresso. Apesar de tanta conversa.

***

Desigualdades, salários e globalização

 

João Vasco Gama

Um recente artigo de opinião da autoria de Paul Krugman, laureado com o prémio Nobel de Economia em 2008, explica porque é que no passado os possíveis impactos perversos da globalização sobre os salários tinham sido subestimados pelos economistas.

No dito artigo, Krugman admite que foi um erro minimizar estes impactos perversos, hoje reconhecidos, sobre o emprego, a distribuição do rendimento e os salários.

Krugman lembra que já desde 1941 se conheciam os mecanismos através dos quais o comércio internacional poderia, em princípio, conduzir a reduções salariais nos países com melhores condições laborais. No entanto, a importância real destes mecanismos deveria ser testada empiricamente, antes de ser dada como certa. [Read more…]

O progresso da ortografia e o véu da ignorância

A useful comparison here is with the problem of describing the sense of grammaticalness that we have for the sentences of our native language. In this case the aim is to characterize the ability to recognize well-formed sentences by formulating clearly expressed principles which make the same discriminations as the native speaker. This undertaking is known to require theoretical constructions that far outrun the ad hoc precepts of our explicit grammatical knowledge. A similar situation presumably holds in moral theory.
— John Rawls

L’agent voudrait se mettre au vert
L’Opéra rêve de grand air
A Cambronne on a des mots
Et à Austerlitz c’est Waterloo
Joe Dassin

***

Em recente debate com Steven Pinker, Paul Krugman teve a feliz ideia de lembrar o véu da ignorância, de John Rawls (cf. a partir de 24:15).

Debatia-se, então, o progresso da humanidade, note-se. Não se debatia o progresso da ortografia. O progresso da ortografia é assunto para os próximos parágrafos. Retomemos, então, neste nosso parágrafo, o véu da ignorância. O ponto de partida de Rawls é a possibilidade de se estabelecer um procedimento justo de tomada de decisão, de modo a que quaisquer princípios associados a este sejam também eles justos. No fim de contas, a ideia é anular efeitos de contingências concretas que constituam uma tentação para os decisores e os levem a explorar circunstâncias naturais e sociais em benefício próprio. Para esses efeitos serem anulados, um véu de ignorância deve impedir que os decisores saibam qual o lugar que ocupam na sociedade, qual a classe social a que pertencem, que estatuto social detêm, quanto vale a sua fortuna, quão inteligentes são, quanta força têm, etc.

Mudemos, abruptamente, de assunto.

Hoje é dia útil, portanto, não há novidades.

Efectivamente, no sítio do costume, além de adotante, temos união de fato:

De facto, ninguém ficará surpreendido, creio, com esse fato (sim, com esse fato):

Escrito isto, desejo-vos uma óptima Páscoa, com muitas amêndoas e pouco (se possível, nenhum) Diário da República.

Exactamente.

Até breve.

***

Qual é o país, qual é ele, parecido com a Emma Watson?

Now… I actually changed my mind, just about a year after saying this particular dumb thing.
Paul Krugman

‘Health of the economy’ is defined in such a way that the economy can be extremely healthy while just about everybody is starving to death. Those two things are uncorrelated.
Noam Chomsky

I’d rather ride a horse than drive a car.
— Sam Shepard

***

Quanto ao país parecido com a Emma Watson, efectivamente, o país é… Portugal!

Há cerca de uma semana, Emma Watson «usou tatuagem com erro ortográfico».

No outro dia (muito obrigado ao extraordinário leitor do costume), o jornal A Bola voltou a impressionar-nos com questões de alfaiataria, confrontando o porta-voz do FCP com um fato a usar.

Sim, porque o original da revista Sábado não tem fatos.

No mesmo jornal, também houve estes aborrecimentos com uma grafia (‘factor’) problemática em traduções, como sabemos desde os “human fator issues”:

Hoje, temos o panorama habitual, no sítio do costume.

Pegando num dos assuntos da semana passada, [Read more…]

Ortografia sem filtro

In Britain’s case, I’d suggest that we think of financial services as the industry in question. Such services are subject to both internal and external economies of scale, which tends to concentrate them in a handful of huge financial centers around the world, one of which is, of course, the City of London.
—  Paul Krugman

When there are external economies of scale, a country that has large production in some industry will tend, other things equal, to have low costs of producing that good. This gives rise to an obvious circularity, since a country that can produce a good cheaply will also therefore tend to produce a lot of that good.
—  Krugman & Obstfeld

***

Segundo o Público, o «imposto sobre o tabaco foi o ponto fraco das receitas fiscais», tendo sido a única cobrança a descer em 2017. Pelos vistos, aliás, o Governo contava com esta descida, mas de forma marginal, tendo a diferença ficado muito acima daquilo que se previra no OE, et pour cause, “oficialmente” (eis as aspas, na conhecida versão gráfica do gesto das orelhinhas de coelho).

O Governo tem vindo a contribuir, sistematicamente, desde 2012, para a acentuada descida da qualidade dos Orçamentos do Estado. Curiosamente, tal como a descida das receitas fiscais com o imposto sobre o tabaco, a descida geral na qualidade ortográfica estava prevista e deve-se também a um efeito único. Todavia, o Ministério das Finanças não previu esta descida e não sabe qual o efeito . Para prever e para saber, convém estudar. E querer saber. E o Governo está-se rigorosamente nas tintas.

Sim, nas tintas. Para isto: [Read more…]

Para o bailinho, sff

Did this stability come at the expense of economic growth?
Paul Krugman

Do you think—now that you know a true account of lightning striking tall trees—that you have a greater wisdom in advising kings on military matters than did Artabanus 2400 years ago? Do not exalt yourself. You could only do it less poetically.
Richard Feynman

Spotting hidden patterns, extracting deep gists, forming high abstractions, making subtle analogies – these to me define the crux of the mental; they are what we do best of all creatures, natural and artificial, on the surface of this tiny huge green ball spinning its way through vast empty chasms of space.
— Douglas HofstadterJust Who Will Be We, in 2493?

***

Em meados de 2008, algures na cidade de Lisboa, eu e António Emiliano conversávamos sobre o pára/para, discutindo exemplos que simultaneamente mostrassem o ridículo e a nulidade científica do Acordo Ortográfico de 1990. Muito antes de me ter surgido o “Mourinho pára Portugal” e de me ter aparecido o “Bloqueio nos fundos da UE pára projecto de milhões na área do regadio” (exposto quer em comunicações, lisboeta e atenienense, quer na própria fonte, i.e., no Público), apareceu-nos o

Alto, e para o baile.

Para onde? Para o baile.

Para o baile? Para o baile.

Entretanto, anteontem, 10 de Janeiro de 2018, comme si de rien n’était, Ferreira Fernandes escreveu o seguinte

Não, não vou. Vá para o baile, mas sem mim, sff.

Já agora, essa *perspetiva é muito pouco unificadora e merece que acerca dela se reflicta.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

***

Aparentemente, «o acréscimo das taxas decorrente deste fato não é significativo»

Excelente guarda-redes.

— Rodolfo Reis, 28/5/2017

As he [Noah Smith] says, sometimes there are vast literatures of nonsense, or at any rate of dubious quality, that mainly serve to protect vested intellectual interests.

Paul Krugman

***

Efectivamente.

A exactidão e o estendal

Como outros passeiam os cães de companhia, ela traz à rua o seu estendal.

— Carla Romualdo

Nun, was >Tatsache< hier meint, ist nicht die Tatsãchlichkeit der fremden Tatsachen, mit denen man fertig werden muß, indem man sie sich erklãren lernt.

Hans-Georg Gadamer

J’ai passionnément désiré être aimé d’une femme mélancolique, maigre et actrice.

— Stendhal, 30/3/1806

***

Eis como alguém na RTP decidiu traduzir para português europeu o remate do «We’re just not going to sit back and let, you know, false narratives, false stories, inaccurate facts get out there» de Sean Spicer.

rtp-2522017

Agora, aproveitando este intervalo dado quer à frase nuclear, na perspectiva de Grevisse e de Goosse, quer aos sintagmas nominais do Antoine de La Sale, regresso ao Krugman (que percebe imenso de factos) e ao meu espanto por ver o Searle (um velho conhecido do Aventar) mencionado por aquelas bandas.

Continuação de um óptimo fim-de-semana.

***

A Arca do Dilúvio e a Pipa Apocalíptica

It’s hard to focus on ordinary economic analysis amidst this political apocalypse.
Paul Krugman

Blessed is he that readeth, and they that hear the words of this prophecy, and keep those things which are written therein: for the time is at hand.
Ap 1, 3 (apud, KJV)

Deslargue-me.
— António Lobo Antunes (p. 270)

***

Hoje de manhã, li este belíssimo texto do António Fernando Nabais. Depois, regressei ao meu trabalho académico e devidamente arbitrado — felizmente, não tenho a infelicidade de ser nem autor nem promotor do Acordo Ortográfico de 1990.

Lido o texto do nosso Nabais e tendo terminado a minha table of contents, dei por mim a pensar: “efectivamente, chegou”. Ou seja, chegou o Apocalipse Now, isto é, o apocalipse agora. Apocalipse, sobre o qual, aliás, já tive a oportunidade de tecer breves comentários (e de citar os sempiternos GNR).

Apocalipse significa descoberta. Apocalipse significa revelação. Por esse motivo, depois de João Roque Dias ter indicado esta pergunta [Read more…]

«Things are terrible here in Portugal, but not quite as terrible as they were a couple of years ago»

wirtschaftswissenschaften

Foto: Alamy/mauritius images (http://bit.ly/1VH8Yki)

«Quoi ! Après Auguste, Augustule ! Quoi, parce que nous avons eu Napoléon le Grand, il faut que nous ayons Napoléon le Petit !»

— Victor Hugo

«Be afraid. Be very afraid».

— Ronnie

***

Efectivamente, na actual perspectiva (ah! a perspectiva) de Krugman, “here in Portugal” e não “there”. Entretanto, houve quem tivesse pegado no artigo de Krugman, adaptando (aliás, truncando) a frase, com omissão do importante «but not quite as terrible as they were a couple of years ago» que complementa o «things are terrible here in Portugal», tendo adoptado no título a adaptação forçada — felizmente, houve quem já tivesse dado por ela.

Aliás, sobre esta plataforma, há algumas interessantes considerações feitas pelo João Mendes — o fenómeno desperta o meu interesse, há alguns anos, mas devido a razões relativas e integrantes e, porventura, desinteressantes e até mesmo, quiçá, irrelevantes.

kkkkkkkkkkkk

Is that a fact?

…that is a fact.

David Bowie, Heroes

These days many Americans live in an alternative political reality, in which the simplest factual assertions are met with anger and derision.

Paul Krugman

***

Efectivamente, desde Janeiro de 2012, muitos portugueses vivem numa realidade ortográfica alternativa.

DRE 1312016

***

Now the dress is hung, the ticket pawned
The Factor Max that proved the fact
Is melted down

— David Bowie, The Bewlay Brothers

6%

«Portugal has also obediently implemented harsh austerity — and is 6 percent poorer than it used to be» — Paul Krugman

Aznavour, BB, Cloclo e o Diário da República

Retirez-moi cette poussière sidérale
Contact
Contact
BB

***

Como escreveu ontem Paul Krugman, “OK, this is real“. Não, não é formidable. Sim, é comme d’habitude.

dre 2962015

A ler. Depois não digam que não foram avisados.

Grécia: tradução de artigo de Paul Krugman no NYT.

Chomsky e Houaiss: perspectiva, concepção, aspectos e facções

110p

Elements of Linguistic Structure, Noam Chomsky, 1955 © MIT (http://bit.ly/1vRi4OH)

Truly, we live in a world in which people feel entitled not just to their own opinions but their own facts.

Paul Krugman

***

Em qualquer área em que seja usada, tanto no Brasil, como em Portugal ou na África, a língua portuguesa será grafada de uma só maneira. Isso significa que um livro editado em português pode correr todos esses países, porque a ortografia é a mesma

Evanildo Bechara

***

Li recentemente um artigo de 1996, do jornalista brasileiro Ibsen Spartacus (1965-2003), acerca do Roda Viva com Noam Chomsky. Lembrei-me, obviamente, do Roda Viva com Antônio Houaiss (1915-1999), ao qual me referi em 2009 (p. 10), com o conhecido lexicógrafo a admitir o valor diacrítico da letra ‘c’, embora errando o alvo: na palavra ‘actividade’, a letra consonântica ‘c’ tem de facto valor grafémico, sim, mas esse valor não é diacrítico.

Neste registo, com um desempenho teórico francamente melhor, Houaiss esclarece aqueles que não conhecem o sistema ortográfico do português europeu: “[a consoante muda], em Portugal, se escreve para fins de abrir o timbre ou por coerência; como em ‘activo’, eles põem o ‘c’ para dizerem ‘activo’ [aˈtivu], em lugar de dizer *’ativo” [ɐˈtivu]; eles põem esse ‘c’ em ‘acção’, coerentemente, por serem co-radicais”. Depois, acrescenta: “para dizerem ‘optimizar’ [ɔtimiˈzaɾ], eles têm que pôr o ‘p’; ao pôr em ‘optimizar’ o ‘p’para essa função de timbre, automaticamente eles levam o ‘p’ para o cognato ‘óptimo'”.

Muitos anos volvidos sobre estas intervenções de Houaiss [Read more…]

O azul não tem qualquer conotação clubística

Diz Eduardo Aires. Pois, sim, está bem. “Os típicos azulejos azuis e brancos que cobrem tantas igrejas da cidade”? Como escreveu o Krugman: “yuk-yuk-yuk (…) hahaha“.

“Department of Corrections”,

escreve hoje Paul Krugman. Se isto vai parar a uns sítios que eu cá sei, é possível que apareçam umas *corretions.

As “*atividades inspectivas”: um Guião da cacografia do Estado

Depois de ter partido sem resolver o problema, Paulo Portas acaba de contribuir para um terrível golpe desferido no sonho que alguns persistem em manter acerca da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990. Por seu turno, se Paul Krugman soubesse português e tivesse lido o Guião ontem apresentado, os parágrafos de John Taylor seriam relegados para o segundo posto.

Efectivamente, fazendo um pequeno apanhado de co-ocorrências presentes neste Guião

  • acção (p. 32) e ação (p. 39)
  • adopção (p. 10) e adoção (p. 110)
  • aspecto (p. 12) e aspeto (p. 72)
  • activo (p. 55) e ativa (p. 84)
  • actividade (p. 8 ) e atividade (p. 69)
  • actual (p. 11) e atual (p. 81) [Read more…]

Há vida em Marte?

Segundo a NASA, apesar da ausência de metano, é provável, David, é provável. Contudo, uma coisa é certa: não há dinheiro em Marte. Não, não há.

House of Turds

HouseOfTurds

Há pouco, julgava estar a folhear a publicação com a capa mais divertida da semana – excepto, talvez, a da edição de ontem do Jornal da Madeira –, quando, entretanto, me deparei com esta, que teve o condão de atrair a atenção do Language Log e de Paul Krugman. A história, em português europeu, é contada pelo Público. O senhor que faz de Kevin Spacey chama-se John Boehner. Ah! Sim, “House of Turds”. Em inglês, ‘turd’ significa isto (o UD, como sempre, vai ao osso); em português, sim, está bem, pode ser.

Krugman e o Speaker

A propósito deste texto de Krugman, convém recordar que ‘Speaker’ não significa ‘porta-voz’.

Uma estátua de Estaline em Bruxelas

Krugman Foto AFP SCANPIX

Foto: Paul J Richards AFP/Getty.

Krugman, hoje, no Le Monde:

Pensez-vous, comme Mario Monti, que la crise pousse à l’union politique de l’Europe ?

P. K. J’espère qu’il a raison, mais j’en doute. C’est un peu comme penser qu’il faudrait ériger une statue de Staline à Bruxelles, en considérant qu’il a aidé à construire l’Europe. Qui sait, peut-être aurons-nous un jour une plaque en l’honneur de Lehman Brothers, pour avoir rendu possible une union politique en Europe.

Nota pessoal: Felizmente, por cá temos o meu vizinho: o nosso Fernando António, na Place Flagey. Confesso a minha aversão ao Manneken Pis, mesmo em versão “homenagem“.

Duas ou três coisas sobre *fatos do Acordo Ortográfico de 1990

DR AO90

Pour prendre position il faut, en général, 
savoir d’abord un certain nombre de choses.
— Georges Didi-Huberman (2009:15)

And intellectual bankruptcy, I’m sorry to say, 
is a problem that no amount of drilling 
and fracking can solve.
— Paul Krugman, 15/3/2012

Em 2009 (p.18), escrevi:

Existindo, como em qualquer reforma, opções susceptíveis de contestação e de debate no plano linguístico, já se torna difícil rebater argumentos taxativos, simplistas e contraditórios, que não vão ao cerne da motivação, ou então acusações avulsas, suspiradas através do facilitismo da emoção, peças movidas em tabuleiros não linguísticos e não culturais.

De facto, é extremamente difícil rebater aquilo que Seixas da Costa escreveu há pouco mais de um ano:

A má fé [sic] e a distorção propositada obtêm, por vezes, algumas vitórias. Admito que alguns possam não gostar do novo Acordo Ortográfico, mas não é aceitável que, por mera vigarice intelectual, se procurem criar mitos em torno das mudanças que ele introduz.

O mais flagrante, e que tenho verificado que que [sic] está já na cabeça de muitas pessoas incautas, é a ideia de que a palavra facto passa, por virtude do Acordo, a mudar para fato. De tanto isto ser repetido, há quem acredite.

Ora isto é uma falsidade, que alguns se entretêm a instilar. Por uma vez, que fique claro: o novo Acordo Ortográfico não altera a forma de escrita (e, naturalmente, de pronúncia) da palavra “facto”.

Quantas vezes será necessário repetir isto?

Depois desta acusação em abstracto, consideremos uma hipótese remota, mas concreta: [Read more…]

Virgílio e Scheppele

Quicquid id est, timeo Danaos et dona ferentis.

Verg. A. 2.49

But beware of Hungarians bearing gifts.

Scheppele

Rectificação (11/6/2013): Link de Scheppele dava para texto de Krugman.

Um cacilheiro em Veneza II

cacilheiro II

Pavilhão de Portugal, Bienal de Veneza 2013 (http://bit.ly/11bu6yt)

Ainda estou a recuperar da machadada final  — golpe desferido sem dó, nem piedade — e da mágoa de não ter conseguido ver em directo aquilo que queria. Em diferido verei.

A propósito, quando leio ‘Taxing the rich’, lembro-me não só dos Aerosmith, mas também desta excelente versão e desta obra de arte.

Quanto aos Aerosmith da retentiva (sim, da retentiva) e para que não haja dúvidas, Krugman já esclareceu não se tratar nem de inveja, nem de desejo/vontade/intenção de castigar os ricos, apenas o reconhecimento da necessidade de o equilíbrio ser atingido através de compensações. Creio que se trata de algo tão elementar, como saber-se que atirar gente para o desemprego não é solução, antes pelo contrário: mas há quem discorde.

E, claro, desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

Ao contrário de Veneza, mesmo sem o cacilheiro, o fim-de-semana sem hífenes (*fim de semana) não tem nem lógica, nem piada.

E fiquemo-nos pelas consoantes

Não constitui qualquer novidade a confusão actualmente instalada na ortografia portuguesa europeia, sendo este apenas mais um exemplo. Lembremos, pela terceira vez, as palavras de Gonçalves Viana:

Les lecteurs seront surpris de rencontrer dans les textes des contradictions et des irrégularités orthographiques. J’ai gardé l’orthographe de chaque écrivain, à fin de mettre sous leurs yeux l’état anarchique où elle se trouve.

Por estranho que possa parecer a algumas almas mais atreitas à distracção, já não nos encontramos em 1903. Este exemplo é fruto do péssimo serviço cívico prestado pelo jornal A Bola, que consequentemente perdeu, pelo menos, um leitor e se meteu num imbróglio já devidamente aventado

Post scripta:

  1. A propósito de Marx, darei futuramente nota das minhas impressões sobre a interpretação de Michel Poncelet e espero poder abstrair-me da sublime prestação do Brian Jones
  2. Os meus parabéns ao António Fernando Nabais por mais este excelente texto.
  3. Já agora, um comentário perfeitamente superficial, inútil, pessoal e banal: na quarta-feira, estarei aqui.

ABola 1252013

A CPLP e Maio. E o Keynes?

Ao ler estas informações acerca de «colóquio subordinado ao tema “O Direito Constitucional de Língua Portuguesa”» (tendo o programa chegado ao meu conhecimento através de publicação de Ivo Miguel Barroso de partilha de Jorge Bacelar Gouveia), deparo com o seguinte cenário catastrófico: uma *receção, oito *perspetiva, um *diretor, uma *subdiretora, dois *objetivo uma *atividade, uma *atuação, uma *ação, um *retroprojetor e, para rematar, dois Maio (exactamente) com maiúscula.

Sabemos, através de nota informativa, que o colóquio é organizado pela CPLP. Tendo o programa sido divulgado por Bacelar Gouveia e participando o próprio activamente no colóquio, convinha alguma cautela nas partilhas em redes sociais e que a organização fosse alertada quer para a extraordinária redacção da base XIX, 1.º, b), quer para o início desta reflexão de Bacelar Gouveia acerca do AO90: «Quem se der ao trabalho de ler esse tratado internacional logo perceberá que se trata de um conjunto de normas sem sanção, aquilo que os romanos designavam por lex imperfecta». Efectivamente, convém alguém “dar-se ao trabalho de ler esse tratado internacional”. A começar pela própria CPLP.

No caso de a CPLP decidir, duma vez por todas, ignorar o AO90, o processo, garanto, é reversível e a solução, como todas as coisas boas da vida, é bastante simples: mantêm-se os dois Maio e, quanto ao resto, não demora muito (uma recepção, oito perspectiva, um director, uma subdirectora, dois objectivo uma actividade, uma actuação, uma acção e um retroprojector). [Read more…]

‘Nao’, professor Krugman? Não!

Nao? a? ã! Não!

Actualização (7/6/2013): «Update: yes, I know about the tilda [sic], but could not persuade the software to show it. The tilda [sic], I’ve always said, means that there’s an “n” at the end that isn’t written but which you don’t pronounce — if you’ve ever heard Portuguese, you’ll understand what I mean», PK (s.d.).

Nobel prize of economy 2008 Paul Krugman