É oficial: a Huawei já não está a espiar ninguém

Há coisa de um, dois meses, comprei um Huawei. Comprei por ser um bom telemóvel, segundo o meu guru dos telemóveis, que confirmou ser uma excelente opção pela vantajosa relação qualidade-preço.

Dias depois, o lunático que manda nisto tudo decidiu fazer a folha à Huawei. Alegadamente porque a China estava a usar o gigante tecnológico para espiar os EUA e o Ocidente. E se calhar até está, tanto quanto os EUA espiam o mundo inteiro com um vasto leque de tecnologias desenvolvidas para o efeito.

Desculpas para enganar malta que degusta gelados com a testa à parte, era mais que óbvio que o cerco a Huawei foi apenas mais um capítulo de uma guerra comercial entre China e Estados Unidos, que nos poderá empurrar a todos para um abismo bem mais profundo que o de 2008. Seja pela possibilidade da China inundar os mercados com dívida americana, da qual é o maior credor, seja pelas sanções contraproducentes, que prejudicam a arraia miúda e às quais os senhores do dinheiro continuam e continuarão imunes, seja pelo potencial para escalar militarmente no Pacífico.

Entretanto, o G-20 reuniu-se e Trump andou por lá a roçar-se em alguns dos ditadores mais canalhas que o planeta pariu, como o talhante saudita ou o oligarca-chefe da mother Russia. E no regresso ainda foi apertar a mão ao Kim da Coreia. Mas antes de bater continência ao senhor absoluto de Pyongyang, Trump reuniu-se com Xi Jinping e levantou as sanções à Huawei. Parece que, afinal, já não estão a espiar ninguém. Ainda não é desta que fico sem acesso às aplicações e o Google pode continuar a espiar-me à vontade e a entregar os meus (nossos) dados à espionagem norte-americana. Tudo está bem quando acaba bem.

Mercosul: O histórico momento de mais um prego no caixão do planeta

Foto: DPA

Com a conclusão do acordo de livre comércio com o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), o bando político que governa o lado europeu do mundo provou mais uma vez que a sua irresponsabilidade e hipocrisia são abismais.

Por obséquio, explicai-nos como, mas COMO se conciliam os constantes compromissos de cumprimento dos acordos de Paris sobre o Clima com a promoção da devastação da floresta amazónica e da biodiversidade, a contaminação e esterilização dos solos à custa de práticas de monoculturas intensivas de grande escala ensopadas em pesticidas, a pecuária encharcada de antibióticos, a engenharia genética, a manutenção das externalidades negativas – p. ex. porque os custos dos danos ambientais adjacentes ao transporte de produtos não são incluídos no preço dos mesmos – enfim, com a prossecução do mesmo modelo de desenvolvimento obsoleto e destruidor que está a arruinar o planeta?

E COMO se encaixa a exaltação dos direitos humanos como valores europeus e a falta de pruridos em assinar acordos com quem os despreza, como Bolsonaro faz gala em demonstrar que faz?

Denominais de histórico este acordo comercial, porque sois uns farsantes cínicos, dirigentes rasteiros desta Europa esfiapada.

É que não sabeis escrever História. Escreveis episódios de telenovela reles e perversa, seguindo o primário lema do sacrifício do planeta em benefício dos lucros da vossa indústria trapaceira.

Este país não é para as pessoas…

Começo por dizer que não tenho qualquer interesse no prédio Coutinho em Viana do Castelo. Não conheço quem lá habite, não visito a cidade há cerca de 20 anos, escrevo por isso com total distanciamento e isenção sobre este assunto.
Ao que parece o município com o apoio do Estado, decidiu que uma obra devidamente licenciada, vendida aos proprietários há vários anos, por uma questão estética, estamos então a falar de gosto, o que é sempre discutível, deveria ser demolida e decidiu expropriar os proprietários. Não dei conta que alguém tivesse sido acusado pelo licenciamento ou construção da obra, nada pende sobre o construtor ou autarcas, mas sobre os proprietários que um dia compraram a sua habitação.
Pior, como vivemos num país onde existem sempre dois pesos, duas medidas, sempre que um proprietário pretende expulsar inquilinos para rentabilizar imóveis, aqui d’el rey que não pode ser, imediatamente a indignação toma conta dos noticiários, normalmente com o apoio de políticos ávidos por recolher uns votos na mercearia do bairro. Neste caso, o Estado pratica bullying sobre pacatos cidadãos e ninguém se parece importar por aí além. Se os vários municípios demolirem todos os mamarrachos que se construíram em Portugal nos últimos 50 anos, posso compreender a medida, de contrário, porquê apenas o prédio Coutinho? Porquê este desbaratar de dinheiro do contribuinte em indemnizações e realojamento?

Imagem superior: prédio caixa geral de aposentações – Viseu.
Imagem inferior: prédio com vista serra – Covilhã.

A opção amarela

Isto é material para muita chalaça, desde o banho de ouro, até ao Tio Patinhas, sem esquecer o jacuzzi que lava dinheiro.

Infelizmente, o assunto não tem graça nenhuma. É uma boa ocasião para recordar os Amarelos e tudo o que foi escrito e dito sobre esses imaculados colégios. E para pedir, também, responsabilidades.

PJ encontra barras de ouro escondidas num jacuzzi do presidente dos colégios GPS

Interessante negócio, à nossa custa, claro.

A prova

Já se sabia que a tese de a Huawei ser um perigo para a segurança dos EUA tinha uma forte possibilidades de ser um bluff. Agora, a prova está aí. Como era óbvio, a questão sempre foi uma guerra comercial, onde os americanos exerceram toda a sua força para tentar não perder o controlo comercial e técnico das futuras redes 5G.

Se havia um perigo de segurança há uns meses, este continua a existir agora.

O que é que mudou, então? Por um lado, diversas empresas americanas começaram a fazer pressão para que a barreira colocada à Huawei fosse levantada, pois os seu negócios estavam a ser afectados. E se há argumento a que Trump é sensível, o lucro é, porventura, o principal. Ver, por exemplo, a anacrónica decisão de reforçar o investimento nas central de carvão (“beautiful, clean coal“).

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Os prejuízos do Observador

Eu sei que a fonte não é de confiar, mas, na falta de contraditório, é provável que haja fogo de onde sai o fumo. O poderoso projecto ideológico disfarçado de jornal, criado há pouco mais de 5 anos e que dá pelo nome de Observador, registou, em 2018, prejuízos na ordem dos 600 mil euros. O que não deixa de ter alguma piada, tendo em conta que se trata de uma espécie de jornal onde a coluna de opinião, plural ao ponto de ir da direita à extrema-direita, insiste, vezes sem conta, em temas como a má gestão da coisa pública – que é uma realidade – ou no péssimo hábito dos portugueses viverem acima das suas possibilidades – que é uma treta.

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Portugal e África do Sul ligados por futuro cabo submarino

A Google anunciou o lançamento de um novo cabo submarino privado que irá ligar a África e a Europa, a que chamou Equiano, em homenagem a Olaudah Equiano, escritor e abolicionista nigeriano que foi feito escravo em pequeno.

As extremidades serão Lisboa e Cidade do Cabo, com diversas ramificações ao longo da costa africana, sendo Nigéria a primeira delas.

Este cabo submarino faz parte da estratégia da Google de investimento na melhoria da sua infraestrutura global de telecomunicações, na qual já investiu 47 mil milhões de dólares entre 2016 e 2018.

É notório o poder das Empresas-Estado, como a Google e o Facebook, que conseguem esculpir uma nova ordem mundial graças ao dinheiro reunido à conta da privacidade dos seus clientes. Na linha deste raciocínio, é de acompanhar, também, as mudanças que virão com a nova cripto-moeda do Facebook, a Libra.

Descobriu a pólvora

É certo que Adolfo Mesquita Nunes ainda era um catraio nos tempos áureos da formação profissional do Fundo Social Europeu, do FUNDETEC e dos cursos profissionais dos anos 80 e 90. Muita gente fez rios de dinheiro nestes tempos a formar pessoas cuja profissão era serem formandos. Governos, CEE/UE, formadores e formandos, todos ganharam alguma coisa, em dimensões diferentes. Excepto o país, que mais uma vez viu o ouro do Brasil ir para catedrais.

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O código de ética do PS também se aplica a Carlos César?

Fotografia via Rádio Renascença

Parece-me uma dúvida legítima. Segundo o Expresso, o Partido Socialista vai impor aos novos deputados a assinatura do código que ética do partido, como de resto fez no início da actual legislatura. Não conheço o conteúdo do referido código, se se trata de um documento sério ou de uma mera encenação para português ver, mas é sempre de saudar a boa intenção, apesar do Inferno, que, lá diz o povo, na sua imensa sabedoria, está cheio delas.

Sendo transversal a todos os socialistas a exercer funções no Parlamento, imagino que Carlos César também o tenha assinado. E aqui reside a minha dúvida sobre este código, nomeadamente sobre o que dirá acerca de políticos com vários familiares directos a trabalhar na administração pública, em cargos de nomeação. E Carlos César tem – literalmente – uma mão cheia deles: esposa, filho, nora, irmão e primo. E, pelos vistos, ainda existem mais alguns. [Read more…]

Só???

Tribunal arresta dois imóveis pertencentes a Joe Berardo.

A corrupção legal

A corrupção tem estado ultimamente muito presente na agenda politico-mediática. Já no espírito da maioria dos portugueses, é um tema constante há imenso tempo.

Pensa-se no que é feito dentro ou fora da lei para se decidir se há ou não corrupção. Não é dessa corrupção que aqui se vai falar. É de outra, daquela que é feita dentro da legalidade. Esta passará sempre incólume, apesar de ser um forte factor para o atraso do país.

Por exemplo, Fernando Ruas, enquanto autarca de Viseu, iniciou a moda de plantar rotundas em todos os cruzamentos, fossem ou não necessárias. Havia dinheiro da “CEE” para gastar e esse foi um dos destinos. Foi ilegal? Acreditando que os devidos procedimentos foram observados, certamente que não houve ilegalidade. Portanto, não existiu corrupção. Mas não é também uma forma de corrupção saber-se que se está a fazer algo que não faz sentido, para daí obter o benefício financeiro e eleitoral, apenas porque tal se pode fazer? [Read more…]

Sinais acacianos

[Santana Castilho]*

O ardiloso João Costa tem motivos para contentamento. No fim do ano escolar, o absurdo faz o pleno dos sinais acacianos que nos chegam. Mais uma legislatura dedicada ao patético evangelho da flexibilidade e da inclusão e a destruição fica concluída. Faltam três meses para as eleições.

  1. Uma ministra e um ministro (Cultura e Educação), siameses pela irrelevância, apresentaram o Plano Nacional das Artes para os próximos 5 anos. O plano prevê a criação de “residências artísticas” (contratos que podem durar um ano, para pôr artistas a trabalhar nas escolas) e a criação do cargo (mais um) de coordenador cultural das mesmas. O comissário da coisa propõe-se “indisciplinar a escola”, “desarrumá-la”, “introduzir o lúdico e o jogo” e valorizar “a inutilidade que as artes podem trazer”. Chegou tarde nos propósitos. Está tudo feito. Não me espanta que o tenha dito com a bênção de irrelevantes. Preocupa-me que o resto não reaja a tamanha concentração de disparates.
  2. O último relatório da rede Eurydice não contabilizou as horas que Portugal dedica às Ciências Naturais e aos Estudos Sociais, porque a flexibilidade curricular deixou a Comissão Europeia sem modo de fazer contas. Recorde-se que o documento em análise evidencia o tempo de aulas que cada um dos 38 países observados dedica a quatro domínios de ensino: Matemática, Ciências Naturais, Estudos Sociais e Leitura e Escrita. Esta originalidade junta-se a outras, que impedem a continuidade das séries estatísticas que vinham a ser construídas desde o início do século. É o caso das provas de aferição, leviana e propositadamente aplicadas em anos que não são de fim de ciclo e a disciplinas diferentes, para impedir a comparação com resultados anteriores. É evidente que não é caminho recomendável. Mas é a luz que emana do DL 55/2018.
  3. O circunspecto Conselho Nacional de Educação deu-se conta da borrasca que se aproxima. Preocupado com a qualificação e a valorização dos professores, puxou pela cabeça e decidiu recomendar que deixe de ser exigido um exame de Matemática para ingresso nos cursos de formação de professores do 1.º ciclo. Com efeito, segundo a maioria dos sábios conselheiros, a obrigatoriedade do exame de Matemática tem “estrangulado ainda mais o ingresso de alunos em cursos de formação de professores”, que estão a ficar sem interessados. Assim, se estamos a resolver o problema do insucesso dos alunos exigindo menos e menos, até passarem todos, porque não fazer o mesmo com os futuros professores? Os alunos de Matemática não querem? Baixe-se a fasquia e aceitem-se os que sabem pedalar, que ensinar todos a andar de bicicleta até já é desígnio nacional.

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Oficiais de Justiça em greve

A Ministra da Justiça prometeu integrar no salário dos Oficiais de Justiça uma compensação financeira que lhes é paga há 20 anos sob a forma de “suplemento de recuperação processual”. A proposta do ministério consiste em dividir os 11 suplementos em 14 meses, enquanto que em outras carreiras, como a dos Magistrados, os suplementos não só serão pagos 14 vezes, como até foram aumentados.

Há, portanto, dois pesos e duas medidas na forma de tratar os profissionais da Justiça. E por isso, os Oficiais de Justiça estão em greve.

À hora de almoço, RTP1, SIC e TVI passaram as suas reportagens da greve, com a SIC a fazer pouco mais do que uma nota de rodapé e com a RTP1 a fazer a reportagem mais completa, inclusivamente passando a reacção da ministra. Francisca Van Dunem, Ministra da Justiça, soube ser uma verdadeira política, ao ter conseguido não dizer uma única palavra sobre o tema em disputa na greve. Ficou-se pela repetida declaração de a Justiça ter melhorado nos últimos 3 anos. Talvez tenha havido melhoria nos indicadores que a ministra apresentou. Afinal de contas, é sempre possível encontrar os números certos. E talvez até tenha havido alguma melhoria na Justiça. Isso não implica, no entanto, que os Oficiais de Justiça deixem de ter razão.

Lembrado um governante do anterior governo, a Justiça até pode estar melhor, mas a situação dos Oficiais de Justiça está a piorar.

Adivinha

Qual foi o OCS que pegou num vídeo feito para dar nas vistas à conta de um conhecido fabricante de robots e o transformou numa notícia, sem um mínimo de validação jornalística, titulada “A ‘vingança’ das máquinas está aí. Robots já atacam“?

Talvez o texto fosse também uma paródia, à semelhança do vídeo, poderíamos pensar. Indo pelo endereço encontrado no Google logo se percebe que o artigo foi apagado, pelo que se ficaria na dúvida, não se desse o caso de a Internet ainda ter memória. E de ter uma cópia.

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Sobre a degradação do SNS

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Fotografia: Lusa

Ao contrário de Marques Mendes, que será, porventura, o cidadão português mais bem informado da actualidade, eu não sei se o SNS está pior ou melhor do que no tempo da Troika. Não tenho números ou dados estatísticos que me permitam chegar a uma conclusão clara e objectiva sobre o problema. Nem sei sequer se o que se passa hoje no SNS resulta das políticas deste governo ou dos seus antecessores.

Contudo, não me interessa saber se, estatisticamente, o SNS está pior ou melhor que no tempo da invasão pirata neoliberal, à qual nos submeteram as mesmas pessoas que participaram na fabricação da crise artificial que colocou a economia mundial de rastos, e da qual os mais ricos emergiram mais ricos, e os mais pobres, sem surpresa, mais pobres. [Read more…]

Boas notícias que chegam de Istambul

Erdogan bem tentou, mas a repetição do escrutínio apenas veio aprofundar os números da derrota eleitoral. Que seja o princípio do fim para o autoritário presidente turco.

O Ministério das Finanças continua a não cumprir a lei

Parece que o fisco vai fazer mais um sorteio e resolveu-me enviar um email a dar conta disso. Dá-se o caso de este email não decorrer de uma necessidade de prestação do serviço ao utente, fazendo parte, isso sim, da estratégia de marking do Ministério das Finanças. É, portanto, spam, tal como já anteriormente se havia constatado. Como tal, deveria estar sujeito ao mesmo processo legal de obtenção de consentimento para uso dos dados pessoais recolhidos. Mesmo que se questione esta obrigatoriedade legal, já a necessidade moral de dar o exemplo é inequívoca.

No portal das finanças existe a possibilidade optar por não receber emails e SMS. É uma escolha de tudo ou nada, não permitindo distinguir entre o que é importante e o que é supérfluo.  Já era tempo de corrigirem isto.

Mercosul, o meganegócio

Imagem: Fundação Heinrich Böll

É banal e fatal: quando chega à parte do negócio, não há valores elevados que resistam.

Bolsonaro atenta declarada e sabidamente contra os direitos humanos e o ambiente? Mas que importam essas minudências, se em cima da mesa das negociações está o Mercosul (acordo de livre comércio da UE com a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) com oportunidades bem rechonchudas, entre outros, para a indústria automóvel, a manufatura e a indústria química? Nadinha, principalmente para António Costa, Angela Merkel, Pedro Sánchez, o holandês Mark Rutte, o sueco Stefan Löfven, o tcheco Andrej Babis e o letão Krisjanis Karins, que lançaram um veemente apelo à Comissão Europeia para a conclusão do Mercosul, a que chamam um “histórico” acordo comercial.

Por parte da sociedade civil, mais de 340 organizações exigiram em carta aberta que a União Europeia suspenda imediatamente as negociações do Mercosul, devido à deterioração dos direitos humanos e das condições ambientais no Brasil. A carta foi dirigida ao presidente da comissão europeia por ocasião da reunião do Conselho Europeu, que decorreu entre quinta-feira e ontem, em Bruxelas. [Read more…]

A corrupção de Moro

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O cerco aperta-se em torno de Sérgio Moro. O juiz brasileiro, em tempos tido como uma espécie de herói nacional, é, afinal, um player politico de longa data, que usou o seu poder e influência de magistrado para manipular e condicionar o julgamento de Lula da Silva, favorecendo, de forma objectiva e intencional, a ascensão de Bolsonaro, que premiou Moro com um ministério, por serviços prestados à extrema-direita brasileira. E não, não se trata de defender Lula da Silva. Trata-se de constatar dois factos: que o julgamento do antigo presidente foi uma farsa, encenada pelo Ministério Público brasileiro, e que esse Ministério Público, comandado à distância por um juiz que se está nas tintas para a separação de poderes, se deixou corromper e mentiu os brasileiros. Não admira que Bolsonaro o tenha escolhido.

Bunker anti-fuga ao fisco

Reza a lenda que o empresário de futebol Jorge Mendes desejou oferecer um donativo às populações vítimas dos incêndios de 2017, tendo contactado pessoalmente a Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande. Uma das obras a realizar é um abrigo para altas temperaturas e ventos ciclónicos a ser construído em Ferraria de São João, no concelho de Penela. Jorge Mendes ofereceu-se para financiar este abrigo anti-fogo. Teoricamente, a generosidade é de louvar. As populações necessitam de ajuda e atenção. Jorge Mendes, um dos homens mais ricos do país, está disponível para ajudar. O preço estimado deste abrigo é de cerca de 200 mil euros.
O problema é que Jorge Mendes e a esposa estão a ser investigados pelo fisco português e pelo fisco de outros cinco países europeus por terem recebido dividendos de cerca de 100 milhões de euros e supostamente não os terem declarado. Os rendimentos relativos a contratos de cedência de imagem de desportistas (casos em que os clientes da Gestifute de Jorge Mendes têm sido condenados) são taxados em cerca de 20% ou mais, dependendo do país. Ora, 20% de uma evasão fiscal de 100 milhões são cerca de 20 milhões de euros. Uma módica quantia que dá para custear não um, mas 100 bunkers anti-fogo. É caso para dizer que o contribuinte precisa de um bunker, não anti-fogo, mas sim anti-fuga ao fisco para se abrigar de empresários como Jorge Mendes. [Read more…]

O experimentalismo educativo

Ano após ano, governo após governo, o padrão tem sido repetido. Mudanças de rumo na política educativa, aprovadas em cima do momento de entrada em vigor, muitas vezes em sentidos antagónicos, têm sido a marca educativa de um ministério em constante experimentalismo desde os finais dos anos 80.

Agora, o grande tema é passar a existir semestres no ensino secundário. Deve ser uma medida altamente estruturante, tal como foi terem colocado os alunos do ensino básico do 3.º ciclo em aulas de língua estrangeira uma vez por semana durante 90 minutos, em vez das anteriores duas aulas de 45 minutos.

Essa gente que enxameia os gabinetes do ministério, como demonstram as evidências, é incapaz de estabelecer um plano de forma atempada e de o manter no horizonte do percurso académico de um aluno. São o exemplo final da incompetência aliada à prepotência, com a particularidade de esta indigência ser independente da cor política.

Miguel Duarte ou Matteo Salvini?

Sempre que damos dinheiro a um arrumador de carros, podemos estar a fazer parte da cadeia do tráfico de droga, com tudo o que isso implica de muitos contras e poucos prós (podemos, por exemplo estar a adiar um assalto ou a agressão a um familiar). Por outro lado, é verdade que não deixamos entrar em casa todos os desfavorecidos do mundo, por muito que nos preocupemos. Além disso, não deixamos no chão alguém que esteja caído, a não ser, talvez, que tenhamos a certeza de que merece estar no chão. [Read more…]

Literatura sem bluff

A apresentação pública foi há um mês (a 18 de Maio, para ser exacto, na Livraria Círculo das Letras, em Lisboa), mas, por circunstâncias várias que não vou detalhar, só agora me foi possível lê-lo com o vagar a que me obrigo para com os livros e autores de que gosto.

É, porém, um livro que se devora em pouco tempo. Tão pouco quantas as páginas de que dispõe (cerca de 30, sem numeração), mas que exigem a atenção aguçada e exclusiva do leitor, como é próprio de todas as coisas que valem a pena.

Chama-se, o livro, “Bluff”, e o seu autor António Ferra. É uma história que nos revela, em flashes curtos, os detalhes da vida de uma Graziela casada com um Jacinto bêbado e disfuncional possuído por t(r)emores de vários demónios que sobrevoam os descampados periféricos de um lugar sem nome nem geografia. Vidas feitas dos vários bluffs da vida real, onde se cruzam enganos e sentimentos, incertezas e contradições, seres e pareceres com alma e sem futuro aparente, pequenas coisas e momentos de humana desumanidade. [Read more…]

Educação: pão e circo

No campo da Educação, os poderes, políticos e outros, juntam à ignorância a sobranceria e o exibicionismo habilidoso de um marketing vazio, cheio de palavras melífluas que, em si mesmas, não podem, aparentemente, ser contestadas, de tão consensuais (alguém é contra a inclusão, por exemplo?).

Ao terminar o ano, perto do final de outro mandato desastroso, mais uma vez, não se mexeu na forma de acesso à Universidade (o que garante o lucros de alguns colégios), manteve-se a imposição de novas inutilidades (no caso desta equipa, as provas de aferição) e aprofundou-se o ataque aos professores (roubados em tempo e dinheiro).

O Paulo Guinote chama a atenção para duas cerejas em cima do bolo mal cozido: a criação do Plano Nacional das Artes e a proposta de retirar o exame de Matemática do acesso aos cursos para professores do Primeiro Ciclo. No primeiro caso, haverá pão para alguém; no que se refere ao segundo, é o habitual circo do Conselho Nacional de Educação.

Douro, outro país


Pela reabertura do troço encerrado da linha do Douro: assinar.

O futebol é um lugar corrupto

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O mundo do futebol, só não vê quem não quer, é um lugar corrupto. É corrupto em Portugal, é corrupto em Espanha, é corrupto no mundo obscuro dos agentes e dos fundos de investimento, é corrupto na UEFA, na FIFA e na CONCACAF.

A corrupção no futebol é, portanto, planetária. Manifesta-se na viciação de resultados, nos subornos a árbitros, dirigentes e jogadores, nas votações que atribuem lugares ou a organização de grandes eventos futebolísticos. Há luvas para todos os gostos, lavagem de dinheiro e comissões estratosféricas que ninguém consegue perceber. Há fruta para dormir, padres para rezar missas e malas cheias de dinheiro sujo – ou já lavado – com as quais se compra um pouco de tudo que se relacione com a bola. O futebol é hoje um esgoto a céu aberto que ofusca o espectáculo dentro das quatro linhas. [Read more…]

Para quedas, para pentes e pentes para carecas

La résilience, la définition est très simple : c’est la reprise d’un type de développement, après avoir subi un traumatisme.
Boris Cyrulnik

Thus, if learners are applying a ‘first-noun strategy’ when beginning to learn Latin, they might miscomprehend something like Ursum tigris amat (bear-ACC tiger-NOM loves) as ‘The bear loves the tiger.’ For this reason, it is not enough to only measure reading times of grammatical and ungrammatical sentences to see if learners develop sensitivity to case marking. It is also prudent to determine whether learners can make use of case marking during sentence comprehension. That is, can they correctly interpret something like Ursum tigris amat as ‘The tiger loves the bear’?
VanPatten & Smith

Jouis et fais jouir, sans faire de mal ni à toi ni à personne : voilà, je crois, toute la morale.— Chamfort (apud Onfray, bah oui, Onfray)

***

Já sabíamos que a ausência crónica de contacto com a realidade é uma disfunção que afecta muitos decisores políticos. Todavia, hoje, ficámos igualmente familiarizados com o conceito “sem contato com o solo”.

E lá está o famoso paraquedas (versão 1990 de pára-quedas), ao qual, apesar dos boatos, Manuel Monteiro não se referiu.

Efectivamente, como dizia anteontem Nuno Pacheco,

o Acordo Ortográfico não é uma coisa com erros, é um erro com coisas.

Siga.

***

Resumo do silencioso massacre sudanês

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Pedro Amaro Santos

SUDÃO:
— 500 mortos (pelo menos 19 são crianças);
— 723 feridos (pelo menos 49 são crianças);
— 650 presos;
— 54 violações;
— 1000+ desaparecidos.

Em dezembro de 2018, começaram os protestos contra o Presidente al-Bashir. Os manifestantes exigiram que fosse deposto. Os protestos forma motivados pelos cortes súbitos do governo nos subsídios para pão e combustível.

A 6 de abril, os manifestantes encheram a praça em frente ao principal quartel militar. Cinco dias depois, os militares anunciaram que derrubaram o governo de al-Bashir.

Os protestos evoluíram para um pedido de transição para a democracia, acreditando que um longo período de transição era essencial para reconstruir completamente o governo do país. No entanto, os militares, controlados pelo Transitional Military Council (TMC), tomaram o poder sobre o governo.

O conselho é liderado pelo tenente-general Abdel Fattah al-Burhan e apoiado pelos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e pela Rapid Support Force (RSF) – também conhecida como Janjaweed, a força paramilitar responsável pelas atrocidades cometidas em Darfur.

Os líderes das forças militares e organizadores dos protesto acabaram se unir num grupo chamado Alliance for Freedom and Change e, cerca de um mês depois da deposição de al-Bashir, chegaram a um acordo. A 15 de maio anunciaram que haveria um período de três anos de transição para um governo civil de poder repartidos.

Algumas semanas depois, tudo mudou. A 3 de junho, o RSF e outras forças policiais espancaram e abriram fogo sobre manifestantes não-violentos durante um protesto. Mataram mais de 60 pessoas e feriram mais de 300. Iniciaram a chamava grande ofensiva militar (major military crackdown).

Esta semana, o número de mortos subiu para mais de 100, depois terem sido encontrados mais de 40 corpos no rio Nilo. A RSF também foi acusada de violar mais de 70 pessoas durante o ataque.

Pelo menos 19 crianças foram mortas e 49 ficaram feridas. Outras estão a ser capturados, recrutadas e sexualmente abusadas ​​pela RSF.

Os manifestantes pró-democracia sudaneses são principalmente a população jovem do país. Os direitos limitados das mulheres do Sudão estão bem documentados: casamento infantil e o abuso sexual continuam a ser problemas no país.

Desde a semana passada, tem havido relatos de blackouts na rede móvel e internet. Os meios de comunicação estão proibidos de transmitir notícias sobre o conflito.

 

 

Debate “Acordo Ortográfico: Manter ou Revogar?” Feira do Livro de Lisboa 2019

As paupérrimas intervenções de Lúcia Vaz Pedro confirmam que só é possível defender o chamado acordo ortográfico desde que não se fale de ortografia. Defender o acordo ortográfico implica, ainda, não ser capaz de demonstrar a sua superioridade relativamente a outros instrumentos anteriores. Veja-se e ouça-se tudo, do princípio ao fim, e atente-se nos exemplos dados por Manuel Monteiro e nos argumentos aduzidos por Nuno Pacheco. Exemplos e argumentos.