A LPM anda muito por baixo

Os jornais online (e os blogues) têm caixas de comentários. É bom, e claro que é um risco. Em situações de conflitualidade social com o governo já sabíamos que os profissionais atacam. Por profissionais entenda-se gente que mete o mesmo texto em tudo o que é sítio possível, e/ou glosa os mesmos argumentos que por espantosa coincidência são os que o governo debita nesse dia. Conhecemos também as suas vozes nos fóruns, tipo TSF. Fenómenos espantosos de cozinheiros que debitam sobre educação, energias renováveis ou as finanças públicas, engasgando-se aqui e ali na gíria, exímios em falar com a mesma mestria técnica sobre qualquer assunto na ordem do dia, sobredotados num país de novas oportunidades.

Como temos guerra professores/governo em fase de aquecimento já começaram a atacar, como ontem referi. Pesquei de um dos locais do costume esta pérola, que me parece exemplar no que toca à estratégia, a mesma do ano passado: fazer passar a imagem da classe docente como a de uma cambada de privilegiados, podres de ricos, e sem fazerem nenhum. De salientar que ainda não perceberam a parte em que Sócrates perdeu a maioriazinha, não entenderam que os professores falam directamente com as pessoas, e esta mensagem não passa. Luís Paixão Martins, tens de lhes mudar o discurso, com este já perdeste, e se insistes muito ainda perdes o contrato, embora ganhes outro com o governo seguinte, que a falta de concorrência no mercado é tramada.

Profª Chiquérrima e Fina!

Este comentário já foi retirado pelos coleguinhas mais de 20 vezes! A revolta dos explorados, refiro-me aos professores, principalmente. Eu sou professora e o meu companheiro é…bem, não se pode dizer assim não é, mas também trabalha no Estado; Temos dois filhotes, já adultos, já votam, mas ainda andam na faculdade; Os dois juntos só ganhamos líquidos 6 mil euros! Claro que temos a segurança de sabermos que não nos põem no olho da rua e os horários também são adaptáveis ao nosso modo de vida; Agora até só dou 18h de aulas por semana, o que me permite ir à minha ginástica e ter a minha vida social, afinal somos licenciados! Ele eram as avaliações, as aulas de substituição, as reuniões com os pais, enfim, uma maçada! Parece que vou voltar a votar no PS, afinal esta ministra é nossa amiga e quer livrar-nos de todas aquelas maçadas! Como disse antes, eles, o pai e o menino, votaram no BE e eu e a menina votámos no CDS, sempre era mais adequado à nossa condição feminina e mais chiquérrimo. Mas tenho que aqui confessar que votaremos no partido que prometer acabar com todas aquelas maçadas que referi; Se forem vários a proteger o nosso status, faremos como nas últimas eleições: o menino e o maridão votam num e eu a menina noutro. Beijinhos aos colegas que estão aqui no fórum. Colegas, temos que lutar pela conservação do nosso status! Hoje, colegas, por causa do stress académico, até estou na neve, mas não digo onde por causa dos invejosos. Ai que aliviada estou! Beijinhos!

Destra Sinistra: os blogues que eu leio são melhores que os teus

Ora assim é que é porradinha da boa: “Câmara Corporativa funciona cada vez mais como uma milícia virtual. Quem se mete com eles leva – este é o 1ª mandamento do espírito de milícia”…

Helena Matos no Blasfémias

Numa época de divórcios a blogosfera anda entretida com casamentos:A acreditar no Cardeal Patriarca, Sócrates não…

Rui Castro no Blogue de Direita

É o Paul e nós:Infelizmente para todos nós, e inclusivamente para o vidente José Sócrates, Paul Krugman não vê sinais nenhuns de melhoria no horizonte da economia“.

Jorge Costa no Cachimbo de Magritte

O comprimido azul não explica tudo e a seguir é a poligamia legalizada: “Um governador indiano foi apanhado na cama com três mulheres. O senhor tem 86 anos“.

Rodrigo Moita de Deus no 31 da Armada

É o Natal preferido do senhor indiano anterior: “TROCO A MINHA CEIA DE NATAL…

Animal no Blogue dos Marretas


Sinistra Destra: os blogues que eu leio são melhores que os teus

A Precariedade, seja lá o que isso for, queriam emprego ó idealistas?

Os partidos à esquerda do PS aplaudem a suspensão do código contributivo, não porque este aumente os impostos, mas porque se estava, segundo aqueles, a legitimar a precariedade. Para o PCP e para o Bloco, mais do que penalizar e regular, importa eliminar/ilegalizar a Precariedade (seja lá o que isso for). E é por isso que votaram contra: não se contentam com soluções aquém do ideal.

João Galamba – Jugular

Oxímoro

claro que um homossexual pode adoptar uma criança. basta que não seja casado com outro.

[os meus parabéns ao PS, criar este tipo de oxímoros não está ao alcance de todos].

Clara – Conto de Fuga

Família tradicional

A família tradicional foi destruída quando as mulheres começaram a desenvolver actividades profissionais fora do lar doce lar. Mais tarde foi abatida pela introdução e generalização dos métodos contraceptivos hodiernos e pela emancipação sexual das mulheres, essas porcas, novamente. Pela mesma altura, também foi morta pela televisão, que impôs um fim inglório aos serões de profunda comunhão que todas as famílias tradicionais partilhavam em torno da telefonia. Não consta que a telefonia tenha acabado com a família tradicional, mas não me espantaria que o tivesse tentado.

Eduardo B.- Ágrafo

Já não se fazem bolcheviques como antigamente

Penso que os Ferreira Fernandes deste mundo se arriscam a ser surpreendidos pela realidade básica de que a história das revoluções não ficou encerrada na Avenida Nevsky. Felizmente para ele, os «bolcheviques» de hoje saberão seguramente ser mais suaves do que aqueles que ele tentou, em vão, emular na sua juventude. Tudo faremos para que nunca lhe venham a faltar gelados nem hambúrgueres. Nem gulag, perdão, goulash.

Ricardo Noronha  – 5 Dias

Pedro Passos Coelho e os Blogues

A esta hora o nosso Miguel Dias está a representar o Aventar no almoço organizado pela equipa de Passos Coelho com alguns bloggers do Porto. O Aventar foi convidado a “debater” ideias com o candidato a líder do PSD. Sim senhor, vamos a isso.

Em Paris, no Douro, em Espanha, em Coimbra, em Lisboa, em Famalicão e em todas as outras localidades onde existe um “aventador” estamos à espera do Miguel e das respostas às perguntas que lhe demos.

A título pessoal, entendo que a iniciativa de Pedro Passos Coelho é positiva. Só lhe fica bem. É um sinal que PPC transmite aos seus companheiros de partido e a todos os que se interessam pela política. Eu prefiro aqueles que procuram entender os fenómenos em vez de os amaldiçoar sem os conhecer.

Os suspeitos do costume

Existe uma aparente tendência para colmatar as falhas do nosso sistema judicial através da comunicação social. A fome popular de Justiça confundida com vingança, é saciada na praça pública, para onde, aos poucos, se vai transferindo os julgamentos de figuras públicas, em detrimento dos tribunais.

As constantes violações do Segredo de Justiça, trazendo para a rua aquilo que deveria estar contido nos gabinetes dos magistrados e dos investigadores criminais, são o primeiro passo para algo terrível num Estado de Direito Democrático*: descredibilizar e condicionar a investigação em curso bem como as funções dos tribunais, ao mesmo tempo que sujeita os visados ao degredo da suspeição.

Uma gravidade acrescida quando as fugas de informação procedem, reiteradamente, das instituições que deveriam proteger essa mesma informação.

Trata-se de autêntico terrorismo institucional, cujos agentes nunca têm rosto.

Reitero que se trata de uma “aparente tendência para colmatar falhas”, exactamente porque o que parece é que se está, sim, a institucionalizar o ópio do linchamento virtual: como não se acredita na Justiça, aproveita-se e os visados são condenados na praça pública, saciando os ímpetos e as ganas de vingança dos populares, para, no fim, ninguém, ou quase ninguém, sair condenado em sentença.

Este ópio, como qualquer outro, é pernicioso para uma sociedade democrática, tanto quanto ilude que Justiça é feita. A sociedade fica iludida que algo acontece ou vai acontecer, o êxtase do achincalhamento tão poderoso e viciante, para, depois, vir a ressaca do vazio a exigir mais uma dose.

Tudo isto faz-me lembrar a frase “Prendam os suspeitos do costume!”, do Capitão Louis Renault, no clássico “Casablanca”. Esta ideia de “suspeitos do costume” assenta numa distorcida lógica que contraria princípios básicos de legalidade e de Justiça: não importa os factos, o apuramento da verdade e a aplicação do Direito nos tribunais, mas sim estabelecer suspeitos.

Podemos não gostar das pessoas por diversas razões (políticas, clubísticas, etc). Mas não podemos é esquecer que a suspeição como estatuto, é um dos alicerces do despotismo.

 * Consagrado pelo artigo 2º da Constituição da República Portuguesa.

(Texto publicado no semanário famalicense “Opinião Pública”, em 16/12/2009)

Viver não custa. O que custa é saber ensinar a viver

Para Ana Paula Vieira da Silva, que sabe viver e ensinar a viver

Sem saber como, nascemos. Nascemos sem saber muito bem porquê. Somos resultado da paixão dos nossos adultos.

essa paixão casta que dá crianças

essa paixão casta que dá crianças

Essa paixão que não permite pensar, apenas agir. Essa paixão que tem, quase sempre como consequência, dar vida. O caminho ao Gólgota começa [1]. Dizer que viver não custa e, a seguir, referir o caminho ao calvário, parece uma contradição. No entanto, contradição não é. Dizer que viver não custa é já definir esse caminho semeado de espinhos dos preços, dos horários de trabalho prolongados, das esperas imensas de transportes lotados. De lutar contra a doença, porque o dinheiro descontado, no parco salário, faz falta. Um desconto feito pelos mais poderosos que apenas querem continuar a acumular riquezas com a força de trabalho dos outros. Estes espinhos são inevitáveis. A vida ensina como somos matéria e que essa matéria ou se cansa ou se aborrece ou nem sabe como se entreter. Não é em vão que Alice Miller comenta o que está na citação de nota de rodapé [2].

criança isolada para ser bem dotada

É por meio destas ideias de Alice Miller, do abuso que as crianças sofrem ao serem sempre consideradas pessoas cuja dotação intelectual é inferior ao normal, que entendemos finalmente, que viver não custa, o que custa é ensinar a saber viver. Viver não custa desde que se saiba escapar às doenças, entender de economia e gerir o corpo e a inteligência, com diligência e com informação.

Os mais novos aprendem estas ideias e outras, pelo real calvário dos seus pais, esses adultos que são a força de trabalho de uma nação, como já advertia Marcel Mauss em 1924 [3].E mais nada digo, excepto acrescentar que quer a análises das crianças, como faz Alice Miller e eu próprio, parecem enganar aos mais novos para não ver o Gólgota dos seus pais, trabalhos que também eles fazem e que o Estado e as Confissões Religiosas avalisam, com provo no meu livro citado e outros escritos por mim sobre o aspecto religioso da cultura, que ensinam como desde muito novos, devem trabalhar, saber de essa resignação a escravidão da crianças e subordinação ao que os adultos mandam, para poder lucrar com eles, como proletários[5]

rapaz pre púbere, proletário, a trabalhar

rapaz pre púbere, proletário, a trabalhar

Este texto é apenas um esboço de um livro que acabo de publicar com outro título: O presente, essa grande mentira social. A reciprocidade com mais valia, Afrontamento, Porto Texto debatido com Ana Paula, que merece, de longe, este ensaio, porque me ensina e vice-versa.

São saberes em desencontro [6], entre adultos e crianças, que acabam por se abater nos mais novos. Por esse motivo, ou são punidos… ou são levados ao especialista, sabe Deus, para quê. Normalmente, na má empregue psicanálise que nada adianta. Eis porque viver não custa, o que custa é ensinar a viver no meio das ideias aqui sintetizadas.

Não há beleza naquela parte da cidade. Não se encontra cartão postal sendo vendido pelas ruas e nem turistas querendo fazer uma visita. Nunca nenhum artista fez uma música do tipo; “Cidade maravilhosa…”. Mas o que se vê é um lugar sombrio e cheio de pedras.

“Levando a sua própria cruz, ele saiu para o lugar chamado Caveira” (João 19:17). Foi assim que João descreveu aquele momento.

operários sem meios de produção

operários sem meios de produção

Ao aprender estas ideias de resignação, especialmente a ideia pela qual continuo a lutar de que a religião é a lógica da cultura, como reitero em vários textos, especialmente no texto do seminário de Universidade da Beira Interior, Beira Alta, Em Nome de Deus [4], é já na catequese que a criança aprende o que é bom e mau. As crianças se exprimirem o que sentem e fizerem como entendem, são punidas. Daí que viver não custa: os adultos guardam os seus pensamentos, incutidos nos mandamentos religiosos, adaptando-os a sua realidade.

É no meio desta contradição que as crianças tentam aprender…

crianças em catequése a aprender resignação

crianças em catequese a aprender resignação

Raúl Iturra; Jornal “a Página” , ano 10, nº 102, Maio 2001, p. 24.

E em Aventar, 24.11.08

[1] Gólgota é sempre definido como Calvário, mas não como um Calvário qualquer: Calvário (em aramaico Gólgota) é o nome dado à colina que na época de Cristo ficava fora da cidade de Jerusalém, onde Jesus foi crucificado. Calvaria em latim, (Kraniou Topos) em grego e Gûlgaltâ em transliteração do aramaico. O termo significa “caveira”, referindo-se a uma colina ou plano que contém uma pilha de crânios ou a um acidente geográfico que se assemelha a um crânio.

[2] A relação psicanalítica, a que chama de pedagógica, onde o terapeuta tem um projecto explícito ou implícito para o seu paciente e tudo faz para engajá-lo em sua verdade preestabelecida; em contraposição, a atitude não – pedagógica, onde o terapeuta tenta criar condições para o desenvolvimento individualizado do parceiro daquela viagem a um País desconhecido que ainda não existe. Em Alice Miller, 1984: MILLER, Alice. Thou Shalt not be Aware: society’s betrayal of the child. N.Y., Farrar, Strauss, Giroux, em: http://www.google.pt/search?hl=ptPT&q=Alice+Miler+Thou+shalt+not+be+aware&btnG=Pesquisa+do+Google&meta=, traduzido ao luso-brasileiro, em 1986, como: O Drama da Criança Bem Dotada, (1994 em alemão, Frankfurt am Main,1998 em Castelhano, Tusquets, Barcelona : como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. Texto que diz: Alice Miller mostra como somos desviados dessa verdadeira natureza humana por um processo educativo alienante e caduco, obrigados a satisfazer exigências explícitas e dissimuladas de nossos pais, para nos sentirmos merecedores do seu amor.

[3] Mauss, Marcel Essai sur le don. Forme et raison de l’échange dans les sociétés archaïques (1923-1924),     l’Année Sociologique, Seconde Série, Felix Alkan, Paris, aparecido como livro da Press Universitaires de France ou PUF, em 1950, Paris, intitulado de L’essai sur le don, prefaciado por Claude Lévi- Strauss. Em língua portuguesa: Ensaio sobre a dádiva, Edições 70, duas edições, 1988 e 2001. O texto pode ser lido em língua francesa, em linha em formato Word 2001 à télécharger, em : http://classiques.uqac.ca/classiques/mauss_marcel/socio_et_anthropo/ 2_essai_sur_le_don/essai_sur_le_don.doc

[4] Comentado em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S000325732005000300015&lng=es&nrm=iso, Analise Social n.175 Lisboa Jul. 2005.

[5] O Gólgota não é um lugar que faz alguém sorrir toda vez que se passa por ele. Crianças não pedem para brincar lá. Famílias não fazem piqueniques naquele local. Programas infantis não são gravados e nem excursão escolar quer ir para o Gólgota.

[6] Comentado também em Saberes em desencontro. O desabamento da criança.

Representantes do Porto – Gustavo Pimenta (PS)

Nesta quarta edição de Representantes do Porto falei com Gustavo Pimenta, líder do grupo socialista na Assembleia Municipal do Porto.
O tema principal foi naturalmente o Orçamento e Plano de Actividades que tinha ido a votação no dia anterior (22-dez) mas falamos também do Parque da Cidade, de Orçamentos Participativos e da representatividade dos deputados na Assembleia da República

Podem descarregar o programa directamente ou subscrever o podcast através deste link .
Duração total: 56:45
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A máquina do tempo: em demanda de Eça* (3)

– Foi, por certo uma época muito interessante.

– Não tenha dúvida. Aquela época foi uma pequena Restauração, tanta era a vida, a seiva espiritual, a vaga convulsão melodiosa da alma. Adorávamos o teatro. O teatro era a paixão, a luta, a dor, o coração arrancado, e gemendo, sangrando, rolando sobre uma cena resplandecente. O nosso teatro – era Shakespeare e Hugo, e os cómicos espanhóis, sombrios e magníficos, do século XVI.

– Que papéis desempenhava?

– A minha versatilidade não foi grande. Era pai nobre. Durante três anos, como pai nobre, ora grave, opulento, de suíças grisalhas, ora aldeão trémulo, apoiado ao meu cajado, eu representei entre as palmas ardentes dos académicos, toda a sorte de papéis de comédias, de dramas – tudo traduzido do francês. Por vezes tentávamos produzir alguma coisa de mais original, de menos visto que a Dama das Camélias, ou o Chapéu de Palha de Itália: reunimo-nos com papel e tinta; e entre aqueles moços, nascidos em pequenas vilórias de província, novos, frescos, em todo o brilho da imaginação, uma só ideia surgia: traduzir alguma coisa do francês.

Um dia, porém, Teófilo Braga, farto da França, escreveu uma drama conciso e violento, que se chamava Garção. Era a história e a desgraça do poeta Garção. Eu representei o Garção, com calções e cabeleira, e foi sublime; mas o Garção foi acolhido com indiferença e secura. E só um grito ressoou nos bastidores: «Ora aí têm… um fracasso! Pudera! Peças portuguesas!…» [Read more…]

Apontamentos de Inverno (5)

Arcos de Valdevez

(Rio Vez, Arcos de Valdevez)

Crónica de Paris (um salto a Fontainebleau)

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Foi uma aventura, a ida a Fontainebleau, que fica a 70 quilómetros a sul de Paris. Decidi aceitar o empréstimo de um carro velhote e lá me aventurei eu pelas ruas de Paris. No início estava com receio, mas depois de enfrentar diariamente os selvagens das estradas portuguesas, cheguei à conclusão de que nada havia a temer. Ainda por cima, emprestaram-me um GPS que parecia funcionar lindamente.

Para lá, à excepção de alguns enganos, que a macaca do GPS assinalava de imediato, mesmo sendo insultada por mim, tudo correu às mil maravilhas. Por várias vezes, dei a pensar de mim para mim nas maravilhas da tecnologia, que permitem meter uma pessoa inteira, só com os olhitos de fora, dentro de um aparelho tão pequeno como é um GPS.

No regresso a Paris é que foi pior. A bruxa deixou de piar e, por mais que tentasse, não mais tugiu nem mugiu. Pela auto-estrada, as placas indicativas não enganavam. Quando foi altura de escolher por qual das portas da cidade devia entrar é que tudo correu para o torto. Como não fazia a minima ideia e na Auto-Estrada (a Peripherique, uma espécie de VCI) estava muito trânsito, tomei uma decisão trágica: sair logo na primeira porta e depois procurar o caminho. Afinal, é o que faço no Porto quando nao sei o caminho: vou por qualquer lado até perceber onde estou e chego sempre onde quero.

Esqueci-me que Paris é um bocadinho maior do que o Porto. Por mais quilómetros que andasse, não conhecia nenhuma rua nem placa. Percebi então que estava numa outra cidade dos arredores de Paris. Dei voltas e mais voltas mas, uma hora depois, já estava outra vez a caminho de Fontainebleau. Tudo acabou em bem depois de um telefonema salvador.

Quanto à cidade, cresceu e desenvolveu-se em redor de um velho Mosteiro medieval. No mesmo local, viria a nascer aquele que é hoje o seu mais importante monumento: o Palácio Real, símbolo do Absolutismo francês e mesmo do imperialismo napoleónico. A entrada custa 8 euros, com audio-guia incluído, mas vale bem a pena.

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As conversas que se ouviriam em Portugal…

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Karsten Nohl é engenheiro informático, 28 anos licenciado nos Estados Unidos. Ele e a sua equipa conseguiu, às custas de um equipamento de três mil euros e tabelas de código, quebrar o algoritmo A5/1, utilizado para garantir a privacidade dos telefonemas das redes de 2G. Ao longo dos últimos seis meses esteve a ouvir, com toda a facilidade, conversas alheias.
Por estranho que pareça, a lucrativa indústria de telecomunicações usa a mesma encriptação desde há 21 anos nas redes Global Systems for Mobile (GSM), utilizadas nos telemóveis, abrangendo 80 por cento dos 4,3 mil milhões de cartões activos.

Claro que a GSM Association não achou piada nenhuma à investigação de Nohl. Mas devia achar. Como avestruz que prefere não encarar o problema e as falhas detectadas, e tão laboriosamente escondidas, considerou o trabalho "ilegal" e "contra-intuitivo", já que o objectivo seria promover a privacidade dos telefonemas. Por isso, preferiu atacar o mensageiro.

A organização garantiu que esta descoberta não ameaça a segurança do sistema mas agora ninguém tem a certeza. A começar pelos órgãos políticos e de justiça em Portugal.

AS VICISSITUDES DE SERMOS PAIS

Para os meus filhos Camila e Felix, que passam ao estatuto de pais, em breve dias ou horas… e eu, avô do quarto descendente da família, com essa ansiedade da espera…

Faz dois dias, neste mesmo sítio, falei de amor e paixão. Definia o amor como um sentimento duradouro e a paixão, uma emoção que dura o que deve durar. As definições estão no texto e ao texto remeto-me.

Apenas que não referi que a paixão é curta, enquanto que o amor é duradouro. Especialmente se esse olhar nos olhos reflecte uma atracção que pode ser duradoura. Duradoura, tempo que transcorre entre a primeira vez que duas pessoas se encontram, e o derradeiro dia em que tudo acaba, seja divórcio, separação ou a morte de um membro do casal. Na minha lembrança, encontra-se viva a ideia da emotividade que o amor entrega. Amor que pode passar a ser uma paternidade/maternidade de um pequeno ser que nasce da fusão dos corpos que, com delicadeza e com carícias gentis, se procuram, onde cada beijo é uma rosa vermelha que não lacera, mas enternece…, essa ternura que um casal capaz de criar, sabe entregar… [Read more…]

A imbecilidade de Ferreira Fernandes

Ferreira Fernandes deveria ser mais criterioso no uso da sua imbecilidade e cingir-se às crónicas irrelevantes que lhe põem comida em cima da mesa“.
Foi o Ricardo Noronha do “5 Dias” que escreveu esta frase acerca da ultima polemica protagonizada por um dos lambe-botas do regime, o quadrado Ferreira Fernandes, de quem ja disse tudo o que tinha a dizer aqui.
Quem me dera ter sido eu a escrever aquela frase…

Professores – A Isabel alçada a ministra…

É claro, para mim, que há um certo número de questões, que servem para ganhar espaço de manobra, tão esdrúxulas são. Até porque não acredito que a visão que nos é transmitida do processo de avaliação seja a que esgota o assunto no que diz respeito à gestão da escola e à obtenção de melhores resultados.

Todos sabemos, que tanto os sindicalistas como os burocratas do ministério, há muíto que deram umas voltas (turísticas e pedagógicas) pela Europa e viram implementados processos de avaliação no quadro mais vasto da “Gestão por objectivos”.

Enquanto interessar às partes, transmitir esta ideia que o que se trata é dividir professores, ter inimigos a quem apontar por levantarem barreiras à governação e, aos sindicatos, que são uns “insensatos” defensores da classe, isto não anda. Como não anda na Justiça, para não ter que dar outro exemplo, que podemos desfilar uns atrás dos outros.

O exemplo que o João dá, é tão óbvio, que só por sí mostra que a avaliação não pode ser o que nos andam a vender. Como é tambem esdrúxulo, colocar professores a “assistir” a aulas para dar notas a colegas, ou passar pela escola um “inspector” que assiste a aulas para classificar professores.

Ora, como já aqui disse dezenas de vezes, ninguem conhece melhor o trabalho de cada um que os seus colegas, sejam eles da equipa da cadeira, do Conselho Pedagógico, ou de outro orgão Director da Escola.

O que leio nos jornais, as grandes divergências, sublinhadas pelos sindicalistas, já não são mais do que despojos que cada um carregará o melhor que puder sem ter que perder a face. Agora já se fala que ” a fixação de vagas não está clarificada,” o que quer dizer que agora é só saber o “como”, o “documento do ME é ambíguo” o que quer dizer que é só “limar arestas”, que “é fundamental que o documento sofra alterações” o que quer dizer são alterações e não mais do que isso…

Estas negociações são uma parte de um todo e o que resultar delas, têm que “encaixar” em outros resultados de outras negociações que por sua vez…

Ninguem acredita quando nos toca à porta, mas a verdade, nua e crua, é que a festa acabou!

O princípio socrático encavacado

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O Partido Socialista declara estar o presidente Cavaco ao serviço da oposição.

Diz-se que em política ou história, a memória é curta. Durante anos a fio, o país soube e gozou com as quase públicas desavenças entre o 1º ministro Cavaco Silva e o presidente Soares. No seu segundo mandato, Mário Soares tornou-se no promotor da alternativa ao desgastado governo do PSD e as “presidências abertas” nada mais foram, senão uma clara demarcação de Belém em relação ao governo de maioria absoluta. Inventaram-se direitos à indignação, Soares falou “privadamente em público” – até alto e em bom som diante de quem o quis ouvir, em pleno restaurante Bel Canto (1992, eu próprio escutei as suas palavras) – e todos conheciam a profunda aversão mútua que se foi criando entre os dois homens. Mais tarde, quando Cavaco quis tornar-se presidente – a velha historieta do grão-vizir que se quer tornar califa no lugar do califa – e alijou o PSD como …” esse partido”…, Sampaio surgiu na corrida a Belém e proporcionou-se ainda a alegria a Mário Soares, de “acabar o mandato dando posse a um governo socialista”. Assim, sem qualquer tipo de equívocos. É esta a alegada presidência de todos os portugueses.

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Mordeu-me uma mosca, carago

Por falar em casamento tradicional

  • Rafael Sanzio de Urbino, Casamento da Virgem Maria, 1504Raffaello Sanzio de Urbino, Casamento da Virgem Maria, 1504
  • Crónica de Paris, ou a árdua tarefa de comer e beber

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    Mercado de Aligre

    Por ser a sexta vez que estou em Paris, ainda não senti necessidade de revisitar os principais monumentos da cidade. Ao invés, os primeiros dias têm sido ocupados a visitar uma família numerosa, que, no fim de contas, é quem nos tem permitido vir tantas vezes. Basicamente, não tenho feito outra coisa senão comer, beber e dormir sempre que me sento num sofá. Sempre adorei a gastronomia francesa, mas desta vez fiquei deliciado com a Sopa de Peixe vinda directamente de Biarritz, e, claro, com as inevitáveis tábuas de queijos e os deliciosos vinhos de Bordéus.

    Pelas ruas da cidade, descobri, numa transversal do Faubourg Saint-Antoine, o Mercado de Aligre. Ali se vendem, desde o sec. XIII, todos os produtos hortícolas e frutícolas a preços que não são nada de especial se pensarmos no salário médio dos franceses.

    Goosto de caminhar à noite pelas ruas desertas da cidade. Foi assim que descobri, cá como aí em Portugal, a luta dos cidadãos contra o encerramento dos servicos públicos por razões puramente economicistas.
    Anteontem, fui pela primeira vez ao Centro. Era o último dia do Mercado de Natal dos Campos Elíseos, que vai na segunda edição e ocupa as duas alas da histórica Avenida, desde a Grande Roda ao Arco do Triunfo. Mais uma vez, os preços eram muito acessíveis, até para os portugueses.

    Ontem, meti-me numa aventura e fui de carro emprestado a Fontainebleau, a 70 quilómetros daqui. Mas isso já vai ficar para amanhã.

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    Rua Jean Mace                                              Protesto contra encerramento de Posto de Correios

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    Sopa de Peixe com croutons, rouille e queijo ralado       Tabua de queijos e Vinho de Bordeus

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    Campos Eliseos (a direita, o Arco do Triunfo ao fundo)

    Para o anedotário nacional, mais um contributo do Ministério da Educação

    Imaginem que numa escola apenas existem dois professores que leccionam uma dada disciplina. Imaginem que ambos pretendem atingir um determinado escalão, para o qual haverá uma quota de 30%.

    Segundo a proposta ministerial de avaliação os professores, ou pelo menos o que entendi dela, uma vez que ambos os professores necessitam de quem lhes assista a umas aulas, terão de assistir às aulas um do outro. As aulas assistidas, a maior imbecilidade de todo este processo já que qualquer calaceiro prepara 2 ou 3 aulitas à moderna, com uns paurpóins e tudo, mesmo que nas restantes se limite a ditar apontamentos retirados de um manual qualquer, serão uma espécie de intercâmbio: hoje assistes à minha, amanhã vou eu à tua.

    Num caso destes (que não é uma raridade, mas a banalidade nas escolas mais pequenas) é suposto que ou chegam a um acordo, ou cada um  tramará o outro, o que até pode dar jeito, sempre se poupam uns tostões nos 30% (que não sei muito bem como se aplicam, já que se for a nível de escola/disciplina apenas 2/3 de um dos professores poderá subir na carreira).

    Há mais anedotas destas, mas agora vou cogitar noutra coisa: como serão avaliados os assessores de comunicação que andam numa azáfama doida desde ontem nas caixas de comentários de tudo o que é online. Terão quotas? Os comentários são lidos por um supervisor? É que dado o insucesso que tiveram nos últimos tempos, eu se fosse do governo já os tinha chumbado.

    Como uma onda, como uma onda que ninguém pode parar

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    Póvoa de Varzim, Setembro, 2008: “Tudo começou aqui e hoje”.  Assim inaugurava  Manuel Pinho o Parque de Ondas da Aguçadoura, na Póvoa de Varzim, o primeiro parque mundial de aproveitamento da energia das ondas.

    Um milhão e 250 mil euros de investimento público depois, aliás, de  4 milhões de euros repartidos não se percebe muito bem entre quem,  Manuel Pinho pode orgulhar-se de ter inaugurado o primeiro parque mundial deste género a encerrar. No mundo e provavelmente no universo.

    Já agora, ouçam com atenção o sr. da EDP. E depois leiam isto:

    “Neste momento, não estamos ainda perante uma tecnologia completamente estabilizada. As máquinas do Parque da Aguçadoura tiveram um Inverno duro, do ponto de vista marítimo, e vieram para terra fazer algumas reparações, isso não é nada de especial. Não podemos esquecer que isto é um projecto”, afirmou o administrador, refutando as declarações de Rui Barros, da Companhia da Energia Oceânica, que considerou estar “seriamente comprometido” o projecto do ‘cluster’ português da energia das ondas, devido à paragem do parque de ondas de Aguçadoura.

    Dito ao Público em Março por Jorge Cruz Morais, administrador da EDP.

    Via Blasfémias. E já agora, na Wikipédia, no artigozinho de propaganda, as ondas ainda não pararam.

    Le soutien (sutiã) = apoio

    Quando a escritora e feminista Maria Velho da Costa comandou as mulheres no movimento de libertação feminino, começou pelo soutien. E com razão! Se há alguma peça de vestuário bem feminino e que caracteriza as mulheres é o apoio. Às mamas!

    Fizeram uma bela fogueira ali entre o Marquês de Pombal e o Parque Eduardo VII, tiraram os soutiens e vá de fazer um “auto de fé” com a peça feminina por excelência.

    Claro, que foi o ínicio de muitas outras coisas, como os jeanes, as t-shirts e as sapatilhas de que resultaram estas mulheres maravilhosas, eternamente jovens e meninas. Eu aderi imediatamente. Desde logo porque ficaram mais jovens e bonitas (nunca gostei do tipo mulher “marqueza” ) e porque tudo era mais simples e prático. Para elas e para nós.

    Mas o problema (há sempre um problema) é que as mulheres querem fazer a vida militar e para andarem a correr e ” à batatada” não podem e não dá jeito andarem com as “pendurezas” a oscilar demasiado. E, aí está, o primeiro movimento a favor dos soutiens que já partiu das mulheres Suecas, que criticam não haver no seu uniforme uns soutiens “à maneira”.

    São elas próprias que têm que comprar o seu próprio soutien, normal, que não está adaptado e que se rasga com relativa facilidade.

    Agora começo eu ( e elas, aposto) a tentar perceber porque nunca foi colocada a questão de, em vez de se chamar ” soutien”, que dá logo a ideia de uma peça íntima e feminina, não lhe termos chamado aquilo que ele é na verdade. Um simples apoio. Lá se vai a carga erótica e feminina, mas eu, por uma vez, deixo de andar aqui feito “tolo”, ora bato palmas por deitarem fogo à peça (literalmente) ou grito de contente por ver as mulheres com as mamas a saírem do decote!

    Os amigos dos correios: manual prático de gamanço

    Compra-se um edifício por 20 milhões de euros, por acaso vendido uma hora antes pelos CTT por 15 milhões , mas isso agora nem vem ao caso. No edifício ficam instalados os mesmos CTT (55000€ mês), o Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra (22000€), a Associação de Informática da Região Centro (23000€] e a Associação Fernão Mendes Pinto, transformada em IPSS com protocolos firmados com o estado (136000€).

    O jornalista Nelson Morais fez as contas e diz que 7 anos depois os 20 milhões foram recuperados.

    Ah, e os CTT ainda foram alugar outro edifício à Bascol, mas não dizem por quanto.

    Pergunta de algibeira: quanto é que teriam os CTT  ganho se não tivessem vendido e  tivessem mantido os inquilinos que já lá estavam (todos menos a tal espécie de IPSS) e arranjado outro para o espaço que ficava vago com a saída dos seus serviços de distribuição?

    Eis os amigos do alheio, aliás os amigos dos correios, em todo o seu esplendor, e assim vai o gamanço em terras de Portugal.

    Não há acordo possível

    Com uma proposta que é pior que o pesadelo Maria de Lurdes.

    Aroncilhe na Imagem (SEMPRE na frente!)

    Aroncilhe na Imagem (SEMPRE na frente!)

    O low profile de Isabel parace ter adormecido as coisas, mas com essa capacidade não consegue disfarçar outra – a de que o ME está transformada na maior secção do Ministério das Finanças.
    Uma coisa há de positivo – deixaram-se das tangas da qualidade da educação, de que isto tudo é para melhor, etc…
    Assumem que é tudo uma questão financeira.
    Muito bem. Vamos então à guerra no terreno onde ela tem que ser feita – o da política pura e dura.
    A pergunta que todos podemos fazer: a educação custa muito dinheiro? Mas… já não se lembram do que ainda estamos a pagar pela ignorância do Salazar?

    Quero com isto avançar um primeiro argumento para justificar o que me parece MUITO evidente – a Educação e a qualificação das pessoas têm que ser a nossa prioridade número um porque é a única coisa que nos pode valorizar quando comparados com outros povos.
    Mas, apesar de parecer o Sócrates a falar, quero com estas palavras significar uma mudança TOTAL na realidade presente – na escola quase tudo tem que mudar, nomeadamente os currículos e a sua centralidade: temos, enquanto sociedade, que responder à pergunta:
    – o que é que se aprende nas escolas públicas?
    Pois… eu nem vos dou a resposta… CEF, EFA… Novas Oportunidades… zero reprovações…
    Voltaremos em breve a esta discussão.

    A máquina do tempo: em demanda de Eça* (2)

    Na manhã seguinte, sob um sol magnífico, num fiacre de praça chegamos ao palacete de Neully onde vive Eça de Queirós. Quando me apeio e enquanto o Sousa paga ao cocheiro, ouço gargalhadas de crianças. Venho depois a saber que, na casa ao lado, funciona um Orfanato. É a hora do recreio.

    Uma criada abre-nos a porta. D. Emília, a esposa de Eça, vem-nos receber e apesar de sorridente o seu rosto não esconde as sombras de uma viva preocupação. Depois da troca de amabilidades de circunstância, diz-nos que o Dr. Melo Viana, que com o Dr. Bouchard, tem acompanhado a evolução da doença de Eça não acredita já na cura. Havia alguma esperança em que os ares de Glion, perto de Genebra, lhe fossem favoráveis. Ramalho Ortigão, de passagem em Paris, oferecera-se para o acompanhar à Suíça.

    Porém, ao cabo de duas semanas regressara a Paris, pior do que partira. O médico francês ministrou hoje pela manhã um soro especial vindo do Instituto Pasteur e o doente está melhor, mas teme-se que sejam falsas melhoras. Ontem, a esposa e os médicos interrogavam-se sobre a oportunidade da entrevista, mas Eça, com ouvido apurado, percebeu o que diziam e insistiu em nos receber:

    – Ora, digam aos moços que venham. Mal não me pode fazer. Até me vai distrair.

    Por isso, nessa manhã recebi no hotel o telefonema a confirmar a entrevista.
    Acompanhados por D. Emília e por uma prima sua, carinhosa enfermeira do doente, entramos no quarto iluminado pelo sol da manhã. Muito magro, muito branco, de olhos encovados, Eça espera-nos, sorridente, sentado num divã, vestindo uma leve «cabaia». Oferta do conde de Arnoso que a trouxe da China, como nos disse depois, durante a conversa. «Pareço um mandarim», comenta. [Read more…]

    O preço dos erros

    O caso iraniano, é mais um exemplo do preço dos erros que se cometem. Um preço com elevados custos humanos.

    Se em tempos idos os EUA tivessem dado melhor atenção ao Xá Reza Pahlavi, muito do que se passa agora no Irão, e do que já se passou, ter-se-ia evitado.

     Apesar da sua concepção autocrática, Reza Pahlavi promoveu a modernização do Irão com a laicização do Estado, a igualação de direitos entre homens e mulheres, dinamizou as artes e as mentalidades imprimindo um forte cunho ocidental. O Xá estabeleceu os fundamentos para a estanquicidade do avanço do clero xiita e a delimitação das influências muçulmanas, ao mesmo tempo que travava as influências soviéticas junto da Jordânia e da Síria, de modo a permitir um melhor equilíbrio geopolítico naquela região.

    Acontece que Reza Pahlavi quis libertar-se do jugo norte-americano, começando a estabelecer as suas próprias cotações de crude. Porque percebeu que só verdadeiramente autónomo é que poderia construir o Irão moderno e de matriz ocidental que tanto ambicionava. Mas com isso feriu os interesses das companhias petrolíferas norte-americanas, e os EUA fizeram aquilo a que já nos habituaram: deixaram cair quem já não lhes era útil no imediato, sem medir as consequências no médio e longo prazo.

    O próprio Kissinger apercebeu-se da importância vital que seria sustentar o Xá, dando-lhe mais e melhor apoio político e militar. Disso deu a devida conta em Washington DC, mas de nada adiantou: como sempre os interesses corporativos do petróleo falaram mais alto. Foi um dos maiores erros de política externa do Presidente Jimmy Carter.

    A França, com fortes interesses no mercado do crude soube aproveitar, e após dar exílio político a Khomeini, manteve uma postura no mínimo dúbia que permitiu o regresso em força do xiita.

    O resultado está à vista: desde que o khomeinismo se instalou no Irão, o retrocesso civilizacional foi enorme. Sendo que os actos de violência hoje relatados em toda a comunicação social mundial, com especial enfoque na perseguição do governo iraniano aos líderes da oposição, serão mais um capítulo da herança sangrenta e castradora que a vitória xiita representou no rumo do Irão.

    Infelizmente, uma das vantagens de se ser super-potência é que os erros são quase sempre pagos pelos outros.

    Um Padre solidário

    Um Padre anglicano defende que as pessoas muito desfavorecidas devem roubar os produtos que estão nas montras das grandes superfícies.

    O Padre Tim Jones de York (bonita cidade do norte de Inglaterra com um centro medieval absurdamente belo por parado no tempo) diz que é preferível roubar a quem tem muito do que andar a prostituir-se ou a usar a violência.

    Uma sociedade que deixa que alguns dos seus caiam na mais funda das misérias, merece ter uns “achaques” de medo e de consciência, que o senhor Padre trocaria de bom grado por uns roubozinhos.

    Ora bem, o senhor Padre está a dizer que os roubos são legítimos por matarem a fome a quem nada tem para comer, ou são próprios para que a sociedade não tenha que pagar mais caro?

    Isto pode ser visto como uma caridadezinha, estilo chá dançante ? Ou é mesmo “roubem a eito até que os vossos filhos tenham o suficiente “?

    Por falar em família tradicional

    Jacopo Pontormo, Anunciação, S. Felicita, Florença, 1528

    Jacopo Pontormo, Anunciação, S. Felicita, Florença, 1528

    Disse Maria ao Anjo: “Como se fará isto se não conheço varão?”

    O Anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, e por isso o Santo gerado de ti será chamado Filho de Deus”. Lucas (1,26-38)

    2 580 000 000 ou os excessos natalícios

    Os portugueses gastaram 2,58 mil milhões de euros em compras e um valor médio de 44 euros, entre os dias 1 e 26 de Dezembro deste ano, indicam os dados da SIBS, a entidade gestora dos sistemas de pagamento, que junta os bancos a operar em Portugal. Feitas as contas, algo em que não somos grande coisa, “investiram” (palavra mais bonita que “gastaram”) o equivalente a 2,9% do produto interno bruto.

    Perante estes números assola-me uma dúvida: os portugueses são completamente doidos pelo Natal? Perderam a cabeça de vez? Ou a história da crise é uma treta?

    Já São Mil e Duzentas

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    FUNDAÇÕES, COMO COGUMELOS

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    Pelo que se sabe, devem ser já cerca de mil e duzentas as fundações.
    Desde 2001, foram criadas mais de setenta e cinco, e só os governos do nosso estimado líder, Sócrates II O Dialogador, já terão criado ou aprovado cerca de cinquenta, desde que ele chegou ao poder.
    Estas coisas estranhas, recebem milhões de euros anuais em subsídios e isenções fiscais, e não existe qualquer controlo para as fiscalizar.
    Por causa das coisinhas menos claras que se vão passando com a Fundação Magalhães ( na realidade chama-se Fundação para as Comunicações Móveis, e até para calar quem afirma que o controlo não existe, o Tribunal de Contas lá se pôs, muito a custo, a caminho, e está a realizar uma auditoria.
    Das outras mil cento e noventa e nove, quase nem se ouve falar, excepto, claro, e porque nem tudo se esquece, na Fundação Para a Prevenção e Segurança, de António Vara (o homem dos dez mil euros), que, no tempo de Guterres (outro Dialogador), suscitou mais um escândalo.

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    Decadências

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    O inelutável processo de esvaziamento dos partidos a que temos assistido, parece apontar para uma nova forma de democracia representativa. Garantindo a democracia formal e todos os direitos constitucionais a ela inerentes, o sistema foi cedendo o caminho a um novo mundo que deixou há décadas de ser bipolar. Os partidos não conseguiram conceber modelos alternativos ao hegemónico neo-liberalismo que de Los Angeles a Moscovo e até Pequim, esfacelou dogmas ideológicos, derrubou alianças militares e tornou o negócio, como o exclusivo centro do debate na sociedade.

    O efeito da mudança torna-se notório em Portugal, quando os dois principais partidos da rotação em nada se distinguem na sua praxis e nos projectos de gestão corrente do Estado. Assim, parece que evoluiremos para um sistema onde as eleições beneficiarão aquele que estiver em melhores condições tácticas e isto significa antes do mais, a possibilidade de influenciar através da paternal mão do aparelho do Estado e consequentemente, o decisivo peso junto das empresas que no nosso país, históricamente sempre muito dependeram dos serviços públicos. Entramos de forma assumida, num círculo vicioso de comprometimentos que garantem o status quo. Para o sector empresarial privado, a titularidade do poder político já não é um problema que se coloca, pois a existência de apenas um modelo possível de gestão – por que é disso mesmo que se trata -, atenua as velhas querelas entre “direita e esquerda”, cada vez mais submissas a conjuntos normativos globais, inteiramente gizados extra-fronteiras.

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