Vítor Escária: has anyone followed the money?

Julgo que será mais ou menos consensual que ninguém esconde 75 mil euros em livros e garrafas de vinho, a menos que tenha algo a esconder.

E Vítor Escária tinha, pelo menos, uma coisa: evasão fiscal. Os 75 mil euros encontrados pelas autoridades no gabinete em São Bento não tinham sido declarados.

O que esconderiam?

Talvez nunca venhamos a saber. Em Portugal é assim.

O que sabemos, porque o seu advogado nos disse, é que os 75€ são provenientes de trabalho de consultoria para um cliente angolano.

Que cliente será esse, para Vítor Escária sentir a necessidade de esconder o dinheiro?

Julgo que deveríamos estar a olhar mais para isto do que para o montante.

Mas ninguém parece interessado em seguir o rasto dinheiro.

Estranho. Ou talvez não.

Fascistas odeiam livros

Em Espanha, as primeiras medidas adoptadas pelos novos executivos locais e regionais PP/Vox consistiram na censura de várias formas de expressão artística, da obra Orlando, de Virginia Woolf, ao filme de animação Lightyear. E é natural que assim tenho sido. Quando a direita moderada fica refém da extrema, o resultado não pode ser outro. Os fascistas, para prosperar, precisam de um povo tendencialmente estúpido. Não surpreende que os livros sejam seus inimigos.

Uma barricada de livros em Kiev

Na sua casa em Kiev, o arquitecto e investigador Lev Shevchenko ergueu uma barricada de livros, junto à janela, para evitar que os estilhaços resultantes de uma eventual explosão atinjam os moradores. Não será por acaso que os ditadores odeiam e censuram a cultura. Os livros salvam vidas.

Pense e Fique Rico

 

@luadepapel

Não consigo precisar com toda a certeza, mas penso que a primeira vez que li um livro que se enquadre na categoria de “auto-ajuda” ou de “desenvolvimento pessoal” foi por volta dos 13 anos. Na altura “O Segredo”, de Rhonda Byrne.

Fiquei fascinado com toda uma série de conceitos como a lei da atracção, a força do pensamento e tantos outros que, estando mais ou menos atentos, já ouvimos falar pelo menos uma vez.

Nestes 12 anos que se passaram, fui do fascínio por estes livros à crítica profunda e ao rótulo de “banha da cobra” e adjectivações semelhantes. Posso dizer que atingi o equilíbrio no que à perspectiva sobre estes livros diz respeito (será que eles ajudaram?).

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Saudades da Santa Inquisição

Não vislumbro grande diferença entre este escrito e sermão-tipo de um qualquer fundamentalista religioso, algures numa montanha no Afeganistão. Segundo Ricardo Cristóvão, pároco de Alcobaça, a solução para “romances e poesias mundanas” é a fogueira. Tal como no tempo da Santa Inquisição, em que se queimavam livros e pessoas vivas no fogo purificador, a proposta do clérigo radical passa por reduzir toda a literatura herege a cinzas, pois as suas páginas, certamente obra de Satanás, “excitam a sensualidade” e “inflamam paixões”. No fundo, assegura o padre Cristóvão, trata-se do “meio mais seguro e poderoso para perder os jovens” à disposição do demónio. E basta um destes livros para desgraçar toda uma família. Allah akbar!

O homem que nunca existiu

©Marian

Um amigo recebeu, por motivos pessoais que não vou contar, uma pequena parte da biblioteca de um ilustre bibliófilo. “Pequena” tendo em conta o tamanho total, mas, ainda assim, pouco mais de uma centena de livros. Cheguei a conhecer o bibliófilo, ainda que só de vista. Era um professor aposentado, conhecido pelo humor cáustico, pelo apetite voraz e por jamais sair à rua sem um livro na mão. Troquei com ele pouco mais do que uma saudação fugaz, nos restaurantes do bairro, adiando sempre o dia em que me decidisse a meter conversa. Tanto adiei esse dia que o deixei fugir.

Ajudei o meu amigo a organizar a biblioteca e recebi, em troca, alguns exemplares (não vale a pena esconder o meu oportunismo). Entre as páginas dos livros foram aparecendo consultas de mesa de todos os restaurantes da zona, recortes de jornal sobre os mais diversos temas, algum número de telefone rabiscado, apontamentos nas margens, guardanapos com definições de palavras, escritas com uma letra vagarosa e muito desenhada, postais de viagem. Com tudo isto, foi-se definindo o retrato desse homem que mal conhecíamos, como se pudéssemos recriá-lo a partir destes escassos vestígios da sua passagem pelo mundo.

No final, com os livros ordenados e o montinho de papéis pescados entre as páginas pousados sobre a mesa, achei piada à ideia de que o meu amigo e eu tínhamos feito a operação “Carne Picada” ao contrário. Eu explico. [Read more…]

Mais festa no Aventar: Pedro Correia ganha o prémio UCCLA

No ano em que o Aventar festeja 10 anos de vida, o nosso A. Pedro Correia desengavetou os seus escritos, concorreu ao prémio UCCLA e ganhou. Nada que nos surpreenda, mas que nos deixa naturalmente orgulhosos.

Praças é o título do livro. Será apresentado na Feira do Livro de Lisboa e será vendido nas livrarias FNAC e com o jornal Público.

Deixo mais abaixo a opinião de quem pôde e soube ler estes escritos. É o Pedro Medina Ribeiro, também escritor e que, ainda há pouco, nos deu a honra de um texto comemorativo dos 10 anos cá de casa. Tomai e lede:

Há um par de anos li um grande livro. Ao prazer que retirei da leitura acrescentaram-se outros prazeres.
Em primeiro lugar, tinha sido escrito por um amigo e senti um orgulho enorme naquele amigo que escrevia tão bem.
Em segundo lugar, era prosa inédita. Não é muito bonito dizer isto, mas senti uma ponta de vaidade por ser detentor de conhecimento privilegiado: eu era das poucas pessoas que sabia que, um dia, aquelas folhas viriam a ser publicadas e lidas com o entusiasmo que merecem.
O A. Pedro Correia anunciou ontem que este seu livro ganhou, entre quase oito centenas de manuscritos, o prémio União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa.
E eu fico muito feliz.

O que dizer deste livro?

Para comemorar os cem anos da Revolução Russa, decidi-me a ler um livro que, segundo um amigo marxista, era o preferido da CIA. A responsabilidade desta leitura não deve ser atribuída apenas à Revolução, mas também a George Steiner que me despertou a curiosidade pela figura de Pasternak quando nos conta a história que relato neste texto que escrevi, após um simpático convite do Pedro Correia.

Yuri Andreevitch Jivago é nos apresentado em criança a chorar a morte da mãe. Abandonado pelo pai, o rapaz é entregue a um tio e a amigos que o sustentam e educam. A facilidade com que ele escapa à pobreza contrasta com a vida difícil de Larissa após a morte do pai. Apesar dos avisos sobre a quantidade de personagens que romances russos contêm, Doutor Jivago centra-se sobretudo nestas duas personagens. Ligados, desde a juventude, por uma série de coincidências lamentáveis, Larissa e Yuri vivem paralelamente numa Rússia dividida por extremas desigualdades sociais, até que se encontram na Primeira Guerra Mundial, onde a igualdade da situação – a morte num campo de batalha é para todos – os une.

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Da boa crítica literária

Numa altura em que tantas críticas se fazem ao jornalismo, creio ser igualmente importante sublinhar o que há de bom na imprensa. Algo que tem vindo a melhorar nos últimos anos, inclusive pelo acesso aberto aos artigos, são as secções de literatura de alguns jornais portugueses, notavelmente as do Público e as do Observador.

Nas últimas semanas, tive a sorte de encontrar excelentes críticas a livros. Excelentes porque me convenceram a comprar os livros que não planeava ler e aos quais não prestei grande atenção. Excelentes também porque estão exceptionalmente bem escritas.

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Lucrando com a ignorância

livraria_bertrand

[Nelson Zagalo]

E depois venham dizer que está tudo no Google, não é preciso saber nada. É como a Bertrand, existe imenso conhecimento por detrás desta montra, mas aquilo que nos apresenta é apenas a Ignorância Disfarçada de Livro.

Bertrand Livreiros não paga mais a quem lá trabalha e, no entanto, cede a estas estratégias de marketing que nada têm que ver com literacia, cultura ou sequer livros. Porquê? Ganância? Desprezo por quem respeita a livraria e o seu legado secular? Se ainda há pouco dizia aqui que o que me fazia ir a um dos centros comerciais da cidade era a Livraria Bertrand, tenho de confessar que depois de ver esta imagem perdi muita dessa vontade.

Como é que se pode acreditar, ou confiar, numa livraria que, para comemorar o dia do livro, preenche a sua montra desta forma? É com estes livros que a Bertrand espera realizar a sua contribuição para uma sociedade mais formada? Ou a Bertrand quer lá bem saber se a sociedade tem falta de literacia e nem sequer consegue compreender a fraude dos discursos anti-vacinas, anti-alterações climáticas, anti-imigração, etc…, etc…?
Parece que à Bertrand interessa apenas, no final do mês, o pote bem cheio.

Fotografia: Montra da Livraria Bertrand, Coimbra. Por @Filipe Homem Fonseca.

Uma volta ao mundo em 197 livros – A

1- Afeganistão-Argélia

 

Angola

Bom dia Camaradas, Ondjaki. Caminho.

A história de uma Angola corrompida vista através de os olhos de uma criança feliz.

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Uma Volta ao Mundo em 197 livros

Há uns tempos dei com um artigo sobre uma rapariga paquistanesa de 13 anos que começou um projecto online com o objectivo de ler um autor de cada país do mundo. Isto é mais difícil do que parece dado o número de países que existem e o facto de muitas vezes não termos sequer traduções das línguas originais.

De qualquer maneira pareceu-me uma ideia extraordinária e resolvi por isso roubá-la e aplicá-la aqui no Aventar. Por razões várias, não consigo agora estar a ler todos os livros que irei publicar. Vou ter de me contentar com uma lista e um pequeno resumo.

Comecemos então pelo A:

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Manuais Escolares

debater-escola-publica-e1467571337416Há, no nosso país um conjunto de pessoas com uma capacidade fantástica de saberem tudo, sobre tudo. Aliás, há quem diga que a TVI conseguiu colocar um desses a Presidente, mas eu não acredito.

Por maioria de razão, até a Ferreira Leite, por ter sido um dia mãe, achou que podia ser uma excelente Ministra da Educação.

E, trago até si, caro leitor (e cara leitora, para o politicamente correcto, tão em moda) esta reflexão introdutória porque há coisas sobre as quais sou um perfeito ignorante. Não sei falar Castelhano como o Jorge Jesus e estou longe de conseguir miúdas giras como o Pinto da Costa, isto só para citar dois exemplos.

Sobre Manuais Escolares também. É uma daquelas áreas que abordo com algum receio porque me parece que os lugares comuns existentes nas Praças da República deste país não têm permitido uma reflexão séria sobre o modelo. Entendam este texto como um contributo para um debate que poderá e deverá continuar até na caixa de comentários.

Começo por vos deixar a ligação para o site oficial do Ministério da Educação onde podem consultar toda a informação disponível e perceber como está tudo mais que regulamentado. Na prática e para abreviar a prosa, existe um calendário de adopções definido pelo Ministério da Educação, as editoras apresentam aos Professores as suas propostas e depois, em cada escola (ou agrupamento) o grupo de docentes responsável por leccionar cada uma das disciplinas escolhe o manual que entende ser mais adequado. A fase seguinte passa pela aquisição dos respectivos. Agora, no primeiro ano com oferta do Ministério da Educação, com a presença de inúmeras câmaras municipais na oferta de manuais no 1º ciclo, havendo ainda casos em que a colaboração das autarquias com os pais se alarga até ao 3º ciclo. Este envolvimento do governo e do poder municipal na aquisição dos manuais é uma demonstração da dificuldade que esta factura representa para as famílias, a quem compete uma parte demasiado importante desta despesa.

E, a pergunta que quase todos fazem é: não é possível ter uma política de manuais escolares que permita uma despesa menor às famílias? [Read more…]

A esperança está na cultura

Um livro sobre uma história de amor entre uma israelita e um palestiniano foi retirado dos programas curriculares dos liceus israelitas. Em resposta, Geder Haya tornou-se um dos livros mais vendidos em Israel e “ocupa o primeiro lugar lugar na lista de livros do jornal Haaretz”.
A resposta dos leitores Israelitas só por si agrada-me bastante (assim como a resposta da Time Out de Tel Aviv). Mas também me agrada o comentário de Amos Oz:

“Por que não, então, proibir o estudo da Bíblia, já que se trata de censurar relações sexuais entre judeus e não-judeus?”

Na adversidade, meus amigos, a resposta é ler livros.

 

Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz e o PS dos Negócios

Não, não estamos em Palermo, Nápoles ou numa ditadura do terceiro mundo. Estamos nesse portugalito onde a Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, não perde a apresentação do livro de Miguel Relvas, o mesmo Relvas que está no centro da investigação do Gabinete da Luta Anti-fraude da União Europeia (OLAF) sobre o financiamento da empresa Tecnoforma através de fundos comunitários em 2004, quando Passos Coelho era gestor da Tecnoforma e o próprio Miguel Relvas, então secretário de Estado da Administração Local, adjudicou 1,2 milhões de euros à mesma Tecnoforma para a formação de funcionários de aeródromos. O Miguelito de costas quentes, estava radiante na apresentação. Parecia um puto perdoado pela mãe depois de partir a cristaleira.

Se tivéssemos um presidente a sério isto seria motivo para demitir a Ministra, mas não sejamos demasiado exigentes.

Aliás a lista de presenças durante a apresentação do livro de Relvas foi muito esclarecedora: Maria Luís Albuquerque, Durão Barroso, Passos Coelho, Luís Marques Guedes, vários secretários de Estado, Fernando Seara (que também não perdeu a apresentação do livro de Domingos Névoa), Marco António Costa, o empresário José Maria Ricciardi e o PS dos Negócios (tal como o definiu Seguro) representado por Jorge Coelho. Se Nuno Crato também comparecesse, Relvas conseguiria o jackpot da falta de decoro.

A grande questão é: o que sabe Relvas para ter ascendente sobre toda esta constelação? Quando a coisa tem esta dimensão o mais provável são questões de financiamento do partido e/ou de campanhas eleitorais. Nah, estou a reinar, votem outra vez nos mesmos, força!

Os amigos de Relvas

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Quando se traça a geografia política dos amigos de Miguel Relvas é impossível ficar indiferente à amplitude da máquina de influências que Relvas montou. Já conhecíamos o poder que continua a deter sobre Passos Coelho e Paulo Pereira Coelho, ambos envolvidos no caso Tecnoforma que está a ser investigado pelo OLAF (Gabinete da Luta Antifraude da União Europeia). Hoje, Durão Barroso assume a filiação ao grupo exclusivo dos amigos de Miguel Relvas apresentando o seu novo livro, no qual Aznar assina o prefácio. Este é o mesmo Durão Barroso que em Abril do passado ano lamentou que o ensino em Portugal perdeu exigência, como é sabido Relvas é a encarnação suprema da exigência do ensino nacional. Mas este é certamente um irrelevante detalhe comparado com o serviço que um ex-presidente da comissão irá prestar a uma pessoa que está a ser investigada por múltiplas fraudes curriculares e é suspeito de beneficiar a Tecnoforma quando foi Secretário de Estado da Administração Local. O ex-político mais descredibilizado do país demonstra assim ter um poder notável sobre o nosso primeiro-ministro e o ex-Presidente da Comissão Europeia. Espero que a Procuradoria Geral da República se interesse por esta questão e sobretudo que comunique muito com o OLAF.

Em Abril, Rodrigo Rato, vice-presidente do governo de Aznar, começou a ser investigado por fraude fiscal. Afinal faz todo o sentido o prefácio de Aznar ao livro de Relvas.

Adaptação de artigo publicado no diário As Beiras a 11/06/2015.

“Contribuintes, vocês são o elo mais fraco”

banco bom banco mau

“Começou a ser escrito há mais de um ano e teve uma recta final alucinante porque, qual novela, não paravam (não param!) de acontecer coisas aos seus protagonistas. Chegou hoje às livrarias. E eu ainda estou num certo estado de estupefacção. Espero que gostem.” Rute Sousa Vasco

Obrigada por este bocadinho, François! (III)

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Na montra de uma livraria em França onde o livro da ex de Hollande não está à venda, um poster de um filme imaginário com menção ao caso do tweet contra Ségolène Royal com que Trierweiler desafiou Hollande

Alguns livreiros recusam-se a vender o livro de Valérie Trierweiler, Merci pour ce moment, revoltados que estão com o fenómeno estapafúrdio gerado por um livro que, com justeza, consideram sem qualidades, apesar de ter vendido numa só semana o que a maior parte dos escritores franceses não consegue numa vida literária. [Read more…]

Quando os lobos julgam a justiça uiva

No dia 25 de Abril de 1974, de manhã, cheguei ao Liceu de V. N. de Famalicão, terra onde vivia, e não havia aulas. De acordo com o que nos disseram havia mudanças e ninguém sabia muito bem o que se iria passar. Uma coisa ficamos logo a saber, não íamos para a tropa! (ir para a tropa significava, para mim e para os meus amigos, então com 16 anos, ir para a guerra, e falávamos muito disso).

Durante toda a manhã ficamos nas imediações do Liceu, entretanto fechado, em pequenos grupos e a conversar sobre o que ainda não percebíamos muito bem. Lembro-me de dois aviões que passaram nos céus, e não eram os da TAP. De tarde, e depois de mais informações, quer de alguns professores quer de alguns pais, ficamos a saber algo mais. Tudo iria mudar.

Para mim, verifiquei logo uma mudança, alguns livros que havia em minha casa, escondidos pelos meus pais, começaram a estar à vista, junto com os outros. Lembro-me de alguns do Miguel Torga, do Aquilino Ribeiro, e outros, que um amigo de meus pais trazia às escondidas do Brasil (Roberto das Neves, um célebre anarquista, Tomás da Fonseca, etc.). E assim tratei logo de ler alguns desses livros que estavam proibidos. Lembro-me do Bichos, do Torga, e Quando os lobos uivam, do Aquilino Ribeiro. Este retrata o que foi a expropriação violenta dos terrenos baldios (que tem uma administração própria, em regime comunitário) pela administração fascista do Estado Novo, com a consequente plantação de pinheiro em grandes parcelas do nosso território, e que matou a economia local em muitas localidades. O romance descreve essa luta, as perseguições e a repressão, com mortos.
Proibido, pois.

Junto com este havia outro, editado no Brasil, que hoje conservo. Trata-se da transcrição da  acusação e da defesa em tribunal do Aquilino por causa daquele livro.

Passados 40 anos do 25 de Abril, relembro esse, intitulado Quando os lobos julgam a justiça uiva.

As botas, o futebol e os livros

Os tempos que se seguiram ao 25 de Abril, foram de grande ânimo para a criançada da aldeia, onde a luz ainda não chegava a toda as casas e muito menos a água canalizada.

Essa recolhia-se na “bica”, com “canecos” de um plástico azul grosso, tarefa que era deixada para os mais pequenos, assim que conseguiam provar ter força para tal.

Para além das idas à bica, a mando dos pais, onde para animar os dias se faziam verdadeiras batalhas de água, que, ao chegar a casa, davam direito a umas boas chineladas, o tempo corria muito devagar.

O Verão, o estio, era o período do ano mais longo e chato de atravessar, com os seus dias grandes e de calores como nunca mais vi, já que a aldeia ficava no fundo de um vale, onde só ia quem tinha que ir, pois não era zona de passagem, para nenhumas das “terras importantes” das redondezas.

Na colectividade, cujo edifício naquele tempo já existia, mas que não passava de um pavilhão para realizar um baile por mês, começaram a aparecer, aos fins de semana, grupos de “gente de fora” (“as brigadas de alfabetização” ou como lhe chamavam na terra “as brigadas culturais”), que projectavam filmes, tentavam fazer debates e “educar” os autóctones, com longas explicações, pouco entendidas – parece-me – “que depois da revolução, quer os homens, quer as mulheres tinham os mesmos direitos.”
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Três Corruptos. Um Livro. Um Público.

friso de corruptosEra uma vez um simpático friso com três corruptos: Soares, Lula e Sócrates. Soares, com a EMAUDIO-Fax de Macau e outro tanto num longo currículo de nebulosidades negras, delinquentes, pelas quais nunca foi julgado ou demitido: ele é o Regime e o Regime geme na mão dele; Lula, com o Mensalão, um escândalo nacional a estarrecer o Brasil, esse imenso Portugal; Sócrates, com tudo e ainda mais, especialmente o tardo-cripto-burlo-keynesianismo 2008-2011 de encher pneus e atochar o recto dos amigos com o último dinheiro, vai-fechar, coisa que veio a revelar-se a Falência de um País, com suas malignas consequências, com os seus dez milhões de torturados, vítimas, danos colaterais. [Read more…]

Alice Munro é Prémio Nobel da Literatura

Confesso que sei muito pouco sobre a autora.

Leiam livros, são mais leves

Consta que duzentas mil crianças ficaram feridas com quedas de televisores, nos últimos 20 anos, nos Estados Unidos.

Código da Estrada no Porto: os livros perdem prioridade

feiralivroportoEstá suspensa a realização da Feira do Livro do Porto, em 2013. A Câmara Municipal, ainda presidida por Rui Rio, tem dinheiro para “sustentar os 700 mil euros de prejuízo do Circuito da Boavista, houve dinheiro para sustentar a empresa de Filipe La Féria em igual montante durante a sua polémica passagem pelo Teatro Rivoli, num negócio que saiu caro à cidade, aos seus artistas e aos agentes culturais” (Porto24), mas não está disposta a investir no apoio a um evento profundamente enraizado na história da cidade.

Tal como na estrada, é tudo uma questão de prioridades: no Porto de Rui Rio, a cultura e produtos derivados, como os livros, têm de deixar passar os carros, especialmente se forem desportivos.

A imagem de cima mostra a Feira do Livro noutros tempos e foi encontrada em Do Porto e não só. A imagem que se segue corresponde ao projecto de Rui Rio para a Feira do Livro deste ano. [Read more…]

Projecto ManuaisUsados.Com

Carlos Oliveira

manuaisusados

Este projecto tem como objectivo ser um local de fácil acesso para a troca e venda de manuais escolares. Começou como um projecto de um grupo de amigos, que, devido à falta de um local especifico para a troca e venda de manuais escolares, resolveu criar uma plataforma de fácil acesso, sem custos de utilização, em que o utilizador tem o controlo sobre como decorre a totalidade do negócio, desde as condições de venda, preço, formas de pagamento, envio.

Sabes aqueles livros que olhas e dizes “mas que raio vou fazer contigo agora?” Aqui está a solução, e ainda podes ganhar alguns trocos para substituir a tua biblioteca.

Qualquer esclarecimento: geral@manuaisusados.com

e-corrúpio

Em 2020 já não haverá livros, assegura-me ao telefone um amigo tomado de fascínio por essa visão pós-moderna da nossa existência próxima. Digo-lhe que não, que haverá sempre livros. Contra-argumenta lembrando a quota de mercado que têm actualmente os e-books, e afirma, insuflado de certeza pelas garantias da propaganda da tecnologia de ponta que o subjuga, que esse mercado vai crescer, que as pessoas já não vão querer ler livros em papel, que vão lê-los nos seus formatos digitais, com tablets e essas coisas que hoje também servem para ler. Digo-lhe que haverá sempre livros porque haverá sempre leitores de livros. Diz-me que esses leitores analógicos e anacrónicos vão morrer, e gradualmente dar lugar a novas gerações de leitores nada interessados no objecto-livro – segundo ele condenado, mais que não seja, porque é demasiado caro. Insisto que haverá sempre livros, e que pessoalmente não aceito participar desse programa de matança do livro. E para o calar remato: que me deixe às minhas utopias, sendo certo que essa espantosa engenharia das possibilidades se constrói com as cabeças que pensam e com as mãos que escrevem, com os olhos postos no Mundo que é preciso fazer nascer dos escombros – ruínas produzidas pelas mesmas tecnologias de mercado que reduzem pessoas a números indexados em bases de dados de consumidores-contribuintes dos e-Estados.

Desligo o telefone e baixo-me para apanhar um desses escombros: uma lamentável tradução recente de um livro de um grande escritor, talvez realizada num prazo absurdo para uma obra literária, num e-corrúpio à moda dos tempos, talvez unicamente revista num monitor de computador, talvez sem as sempre necessárias (e anacrónicas e analógicas, bem-entendido) provas de papel com emendas a lápis, ou talvez mesmo jamais revista por um revisor profissional, o que acrescentaria custos à edição – e sobretudo retiraria receitas aos editores reféns das lógicas monopolistas abjectas das grandes superfícies e suas cadeias de intermediários que, duma assentada, acabaram com as livrarias e com os ofícios da edição. E abro o escombro (editado por uma importante chancela, como agora se diz das editoras compradas pelos grandes grupos que se têm dedicado a dar cabo da edição de livros em Portugal) nas primeiras páginas para descobrir, atónita, a certificação que dá cabo de mim: as traduções dos livros desse escritor em Portugal são todas obrigatoriamente revistas por uma senhora professora doutora que assegura a sua qualidade. Como diria a minha filha tomada de perplexidade: what the fuck?!

Livros digitais grátis

Em países civilizados livros cujos direitos de autor caíram, ou melhor, subiram ao domínio público oferecem-se em formato digital. Há mesmo instituições para isso.

Os que descarreguei estavam todos em pdf formato texto, permitindo pesquisa, anotação, etc.

Clássicos de Dante a Fernando Pessoa, passando por Eça ou Swift, escolha e sirva-se.

No Brasil é assim. Por cá vai-se digitalizando pouco, e normalmente por mera imagem. As grandes editoras agradecem.

«Publique finalmente o seu livro»

Quem nunca desejou escrever um livro?

Depois de escrito, ninguém o quer numa gaveta. Ninguém escreve só para si. Procura-se uma editora interessada, mas é preciso investir bastante dinheiro.

Agora está na moda o self-publishing. Vivemos a «época de sucesso» da auto-publicação. Não faltam editoras online, que surgem como cogumelos na net, atractivas, como a Bubok.pt ou a Sítio do Livro. São irresistíveis os seus slogans: «Quer publicar um livro?», «Realiza um sonho. Publicque finalmente o seu livro».

E. L. James é um fenómeno editoral. Já vendeu mais de 40 milhões em todo o mundo. A escritora britânica, de romance erótico, começou sem editor, recorrendo à auto-publicação.

Na Feira do Livro de Frankfurt, último dia, James é tema de conversa. Neste certame, encontram-se à venda muitos livros de autores que fizeram sucesso no self-publishing.

Não deixe de sonhar em escrever um livro. Agora é mais fácil: existem todos os meios para a auto-publicação e promoção do seu livro.

Não estou a ser irónica. Eu mesma estou a pensar, seriamente, em auto-publicar…

O gramonofe

Pode um gramonofe fazer um post?

Pode uma coisa que não existe dar num post?

A palavra não me sai da cabeça, desde que a vi e li (e reli) pela primeira vez na página 100 (mas que pontaria) de Os Funerais da Mamã Grande (1962) de Gabriel García Márquez, numa tradução de Luís Nazaré e com revisão de Susana Baeta, Dom Quixote.

– Vamos lá, sê honesta com os leitores do Aventar… Sabes muito bem que foi apenas uma troca de letras. A revisora deixou passar «gramofone» não, enganei-me, «gramonofe» por «gramofone»:

Arriscou-se a olhá-la no instante em que dava corda ao gramonofe. (…) Dava corda ao gramofone, mas a sua vida estava fixa nele.

Um autor e o leitor deviam pedir uma indemnização por cada letra fora do seu lugar!

Mais à frente, agora mais atenta às pedras do caminho, outra calinada (página 106): [Read more…]

«Ninguém imagina que vai cair no desemprego»

“Ela confiava nas previsões metereológicas dos calos do senhor Carmichael. (…) O mundo está mal feito – soluçou. Aqueles que a visitaram nesses dias tiveram motivos para pensar que ela tinha perdido a razão. Mas nunca foi tão lúcida como então. (…) se Deus não tivesse descansado no domingo, teria tido tempo para terminar o mundo. -Devia ter aproveitado esse dia para não ficarem tantas coisas mal feitas -dizia. – Ao fim e ao cabo, ficava com toda a eternidade para descansar.”

No meio da minha leitura, por entre linhas e palavras que, não obstante estarem divinalmente (!) escritas  por Gabriel García Márquez, não pude deixar de pensar em Ana, trinta anos, designer gráfica, que não adivinhava, na manifestação de 15 de setembro, que semanas depois iria engrossar a estatística. [Read more…]