Admitam: os imigrantes fazem mais falta que o partido de André Ventura

Raro é o dia em que não lido com indianos, nepaleses, brasileiros e pessoas de outras nacionalidades que chegaram à Trofa nos últimos anos, em busca de uma vida melhor.

Vamos sublinhar já esta parte: em busca de uma vida melhor.

Como aqueles portugueses que começaram a sair daqui quando Portugal era uma ditadura fascista. Fugiam de um regime opressor, fugiam da guerra e da miséria. Os mesmos motivos que levam indianos, nepaleses e brasileiros a fugir.

Ao contrário daquilo que afirma a extrema-direita e a direita radical, coro ao qual se juntou recentemente Pedro Passos Coelho, não se registou qualquer aumento de insegurança, ou mesmo da criminalidade, decorrente da chegada destas pessoas ao nosso país.

É falso e é uma canalhice usar este pretexto para atacar os imigrantes.

E é xenofobia também. [Read more…]

A escolha de Pedro Passos Coelho

Pedro Passos Coelho entrou na campanha da pior maneira.

No Algarve, região do país que, de forma literal, não sobrevive economicamente sem os imigrantes que chegam ao país, o antigo primeiro-ministro escolheu a demagogia, associando a imigração ao aumento da insegurança em Portugal, sem um único dado ou facto que sustente a sua insinuação.

E, de uma assentada, o discurso de Passos Coelho teve 3 efeitos imediatos:

  1. Revelou a permeabilidade do espaço político da AD a uma das mais perigosas ideias populistas defendidas pelo partido de André Ventura, o que nos dá indicações preocupantes sobre o futuro.
  2. Demonstrou que o PSD está disponível para combater o CH no lamaçal da demagogia. Um erro já tentado noutros países, sempre com o mesmo resultado: com a derrota da direita moderada.
  3. Fez mais pela mobilização do eleitorado à esquerda que qualquer aprendiz de fascista. Um erro táctico.

Dir-me-ão que Passos estava só de passagem. Mas eu sou céptico e não acredito em coincidências na política. E elas começam a ser muitas.

Como a proposta de Paulo Núncio para referendar o direito ao aborto.

Caminhamos sobre gelo fino.

Uma besta política, será apenas e só, uma besta!

Se parece besta, fala como besta, então é uma besta!
Não há muito mais a dizer sobre um animal, estou a ser literal, sem qualquer elogio, que pretende restringir apoios sociais a quem tendo entrado legalmente no país, cumprido a sua parte, por qualquer motivo ao qual é alheio, se viu privado do emprego. Imaginem alguém foi convidado por empresa a vir trabalhar para Portugal, só que entretanto perdeu emprego por falência da entidade patronal. Para o líder do Chega, ou terá meios de subsistência ou será abandonado à sorte, apesar de ter trabalhado, pago impostos e contribuído para a segurança social.

Desculpem, fascistas, mas não vai colar

É possível que aquilo a que hoje assistimos tenha sido premeditado. Não tenho dados para o afirmar, mas é um facto que sunitas e xiitas têm um historial de hostilidade que fala por si. Mas mesmo que estejamos perante um acto terrorista, é curioso que o mesmo não tenha como alvo as instituições da democracia secular, que representam os “infiéis”, mas uma comunidade religiosa que reza ao mesmo Alá que o monstro que hoje assassinou duas mulheres com a brutalidade de um selvagem.

Claro que, para aqueles que fazem do ódio aos migrantes o seu ganha pão, a tragédia caiu-lhes que nem ginjas. Para esses, tenho duas palavras: Alcindo Monteiro. [Read more…]

Sobre os 4 mil imigrantes a sub-viver em três casas de Lisboa

Segundo notícias que surgiram em jornais como o Expresso e o Público, existem três casas numa rua de Lisboa onde vivem 4 mil migrantes.

Viver não será o termo correcto. Trata-se de uma prática de partilha de camas, o que mesmo assim parece de dificílima execução. Isto não é viver. É, quando muito, sub-viver. Não confundir com sobreviver. Há quem neste país sobreviva em muito melhores condições.

É aqui que as democracias abrem o flanco à extrema-direita. Ao não controlar o processo de entrada de imigrantes no país com mínimos de organização, decência ou dignidade, geram-se casos extremos que não são a regra, mas que acabam por ser amplificados e abafam os casos bem sucedidos de integração. [Read more…]

Luís Montenegro: a cópia, o original e o comunismo

Marcelo avisou, aquando das lamentáveis declarações sobre a imigração, mas Montenegro fez orelhas moucas. Talvez seja parte de uma estratégia de curto prazo para atrair eleitorado do CH, mas, no longo prazo, a lição do presidente da República será implacável: entre o original e a cópia, o original leva sempre a melhor. Sempre. E isso terá um custo enorme para o maior partido da oposição.

Não contente, o líder do PSD continua na senda da radicalização. Nos últimos dias, o discurso de Luís Montenegro vem a apostar num delírio populista, que assenta na ideia de um PS comunista. Nada o distingue, a este respeito, daquela que é a narrativa do CH. Mas nem o PS é comunista, nem o governo tem políticas comunistas. É uma absoluta falsidade com a agravante de ser deliberada. [Read more…]

Carlos Moedas e a imigração sem noção

Carlos Moedas fez um número de circo político como há muito não se via. Visivelmente incomodado com as críticas certeiras de Marcelo Rebelo de Sousa, que alertou a cúpula do PSD para os perigos de se remeter ao papel de cópia de um perigoso original, a propósito das intervenções infelizes de Moedas e Montenegro sobre os problemas da imigração, o edil de Lisboa saiu-se com esta:

Eu fui emigrante, sou casado com uma imigrante, não aceito lições de ninguém nesta matéria.

Imagino as dificuldades que atravessou o emigrante Moedas, numa frágil jangada de madeira a caminho do Goldman Sachs. Ou a arriscada travessia do deserto que fez, a pé e sem comida, de Portugal até Bruxelas. Que importantes lições terá aprendido, nessas jornadas onde a morte está sempre à espreita? A da noção não foi de certeza.

A xenofobia da extrema-direita atropelada por um camião

conduzido pelo Daniel Oliveira. O artigo no Expresso é aberto e merece ser lido.

Portugal, os imigrantes e os parasitas

Pelo vigésimo ano consecutivo, as contribuições para a Segurança Social dos estrangeiros que residem e trabalham em Portugal ultrapassaram largamente os apoios sociais de que beneficiam. A diferença é abismal.

Igualmente abismal é a diferença entre a realidade e a narrativa populista da extrema-direita e de parte da direita radical, que continuam a sua cruzada xenófoba, instrumentalizando politicamente o ódio, o medo e a ignorância, alicerçados na mentira de sempre: os imigrantes são uma cambada de parasitas a viver à nossa custa.

Só que não.

E Portugal precisa deles.

O Al-Amin

Vou falar-vos do Al-Amin.

O Al-Amin tem trinta e três anos, tem um filho, tem esposa, tem casa. O Al-Amin tem um mini-mercado em São Domingos de Benfica. O Al-Amin sorri muito, cumprimenta sempre, de vez em quando desabafa e mostra empatia por quem passa pela sua lojinha – pequena e apertada, mas arrumada e asseada.

O Al-Amin, tendo esposa e um filho, está sem a esposa e o filho. Tem-nos, certamente, sempre na memória e no sentimento. Pode vê-los, sempre que quer, na tela do seu telemóvel ou computador, a nove mil quilómetros de distância. Da tela do Al-Amin saem saudades que se alojam directamente na tela da sua família, no Bangladesh. E será, certamente, pelas saudades que, sabe, nunca são eternas, que se mantém em Portugal. O Al-Amin abre a sua loja todos os dias, de Segunda a Domingo e aos feriados também, das 8:00 às 23:00. Não tem folgas. É patrão e empregado ao mesmo tempo. Paga com todas as suas obrigações. Quase 60% do que factura ao fim do mês, envia para o Bangladesh. “Para a minha esposa e para o meu filho ir à escola”, contou-me um dia. [Read more…]

No país de Salvini, solidariedade é crime

Domenico Lucano, o autarca que permitiu que centenas de refugiados dessem nova vida à pequena vila de Riace, foi hoje detido por “auxílio à imigração ilegal”.

Comentário em destaque

Este texto é da autoria do nosso leitor Ernesto Martins Vaz Ribeiro, em resposta a este meu post.

Peguemos na conversa da emigração de um modo sério e vamos às causas de raiz para o problema.
A emigração NUNCA foi um problema, pois ela faz parte da universalidade. O Homem sempre emigrou e todos os países das Américas e da Austrália foram construídos com base na emigração.
A teoria do povo ariano puro, com as perseguições que conhecemos, caiu já há muito tempo.
Mesmo em muitos países europeus a emigração foi uma fonte de desenvolvimento, a começar com França e no mais de um milhão de portugueses que para lá emigraram desde os inícios dos anos sessenta
A emigração transformou-se num problema devido à “lavoura” que os americanos fizeram no Médio Oriente e em África. Nós continuamos com o politicamente correcto, incapazes de distinguir a realidade, porque temos prazer em enganar-nos e em fustigar-nos e proteger certas quadrilhas, em detrimento de outras. [Read more…]

A dualidade moral é…

… sentir-se chocado por alguém usar uma foto de uma criança qualquer para ilustrar o que Trump fez aos filhos dos imigrantes ilegais mas não escrever uma linha sobre as acções de Trump propriamente ditas.

 

Dizem esses que é por isto que as pessoas desconfiam da comunicação social, como se por trás destas imagens não estivesse uma realidade cruel. Chutam para canto, também, afirmando que é uma lei de Obama. Pouco lhes importa que a realidade seja outra, tendo-lhes bastado um site alt-right publicar um vídeo com tais afirmações para virem gritar para a praça pública.

Na verdade, pouco importa se a lei é de Obama ou não. O que interessa é quem é que a está a aplicar e como – o diabo está nos detalhes e o “como” faz muita diferença. Sendo uma lei miserável, importa também explicar porque é não tinha sido corrigida, especialmente quando Trump tinha uma maioria no Congresso para o fazer. Chutar para o Obama, perdão, para canto, é uma forma de menorizar o que está a ser feito. Mas quanto a isso, silêncio. O problema está em algum idiota ter dado o flanco ao usar uma imagem que não é das crianças separadas e enjauladas.

Não faltam materiais que essa gente gente pudesse comentar, mas aquelas duas fotografias…. meu deus! [Read more…]

Prender crianças por crime nenhum

Entretanto, na Land of the Free, crianças são separadas dos seus pais, na fronteira texana dos EUA, e enviadas para centros de detenção, onde são confinados a uma jaula, dormem com cobertores feitos de papel de alumínio e são autorizados a passar apenas duas horas por dia ao ar livre, o que é sempre algo de que uma (alegada) democracia ocidental se pode orgulhar. Isso e prender crianças por crime nenhum. [Read more…]

Sobre imigração

Estarei sempre de acordo com a eliminação das restrições à entrada de quem pretende viver ou trabalhar em Portugal, desde que cumpra as Leis do país e tenha meios para assegurar a subsistência. Por isso considero positivo não ser necessário um contrato de trabalho para conseguir uma autorização de residência. Mas não seria aceitável ou sequer tolerável, ver pessoas que nunca contribuíram a usufruir daquilo a que chamam Estado social, ou seja, na prática aumentar a despesa à custa dos que contribuem. Sabemos que há quem procure a Europa em busca de trabalho, mas também infelizmente quem apenas procure viver do assistencialismo, seguindo o triste e lamentável exemplo de alguns nativos, graças à permissividade dos políticos, sempre interessados nos votos… [Read more…]

Le Pen: em nome do pai

 

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Por João Branco e Natascha Figueiredo

Marine não é Jean-Marie; é muito mais que Jean Marie. E é esse o facto que a torna mais perigosa que o pai. Marine herdou alguns dos traços político-identitários da liderança do pai mas soube também afastar-se da sua imagem tóxica de simpatizante nazi, promovendo um nacionalismo populista (iniciado pelo pai) que vai de encontro ao que o eleitorado francês neste momento quer ouvir. A verdade é porém, que todas as circunstâncias e problemas que enevoam o espectro político francês actual com o espectro político francês pré-eleitoral em 2002 não são os mesmos. Marine beneficia de um peculiar caos no país para colher benefícios. Em 2002, Jean-Marie levou a cabo uma campanha marcadamente ideológica, campanha que naturalmente o afastou da vitória na 2ª volta das presidenciais desse ano, muito por culpa do chamado “voto útil” em Jacques Chirac. O que efectivamente pode não acontecer no presente ano nas eleições que se avizinham com Marine.

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Dehors les immigrants! – diz o Santos

front_national_daniel_dos_santosEu (e todos os meus amigos da escola também) tenho (e cada vez mais!) m familiar, um vizinho ou alguém próximo que emigrou para França ou já de lá voltou depois de décadas a aforrar para um futuro menos pesado. Eu, e possivelmente todos os portugueses, conheço pessoas na diáspora em quatro continentes, em latitudes distintas e múltiplos fusos horários.
Pela coragem que tiveram no momento da partida (agora já não vão num comboio de saudades) e pelas provações por que passaram, fico também reconhecido aos países que os acolheram e onde fizeram questão de se integrar.
Não tenho dúvida alguma de que Portugal seria muito mais pobre do que apenas  “o país mais pobre da Europa Ocidental” (como escrevia o The Guardian há dias).
Se Paris (teremos sempre Paris, não é?) não fosse a terceira maior cidade portuguesa, se no Luxemburgo não se falasse português, assim como em Andorra ou na Alemanha, se na Califórnia, em Toronto ou Montreal, qual teria sido a miséria dos que para lá ousaram partir?

Mas, ainda que possamos achar estranho que portugueses (de segunda ou mesmo de primeira geração) a residir e trabalhar noutros países se associem a movimentos anti-imigração, a verdade é que tal acontece sobretudo a coberto de muita ignorância e alguma estupidez.

“Vêm para cá roubar os nossos empregos, baixar os salários”, dizia um… filho de um emigrante português… é por isso que é cada vez mais importantes o ensino da História nas escolas.
Por falar nisso, neste país com quase 900 anos, há um programa na tv aberta sobre História? – será por falta de tema?

(cartaz via Nuno Roby Amorim)

Imigrantes a mais?

Um dos blogues associados ao diário espanhol El País, o Café Steiner, destaca hoje um gráfico publicado no estudo anual sobre a opinião pública “Transatlantic Trends” (edição de 2014), particularmente interessante no que diz respeito à questão da imigração. O gráfico mostra a resposta obtida em vários países da União Europeia, na Rússia e nos EUA à pergunta: “Acha que há demasiados imigrantes no seu país?”.

O que torna as respostas ainda mais interessantes é o facto de surgirem divididas em dois grupos. Um primeiro grupo, assinalado a cinzento claro, a quem foram indicados os números reais da imigração antes de serem convidados a responder, e um segundo grupo, a cinzento escuro, a quem não foi dada nenhuma informação. Isto é, enquanto o primeiro grupo avalia dados reais, o segundo pronuncia-se sobre uma percepção. E as diferenças são flagrantes.

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Vem depressa, emigrante!

888002011688.170x170-75Parece que foi há dois ou três anos (talvez por ter sido há dois ou três anos) que Passos, Relvas e outros sucedâneos espalharam a ideia de que os jovens portugueses precisavam de sair da sua zona de conforto e emigrar. O impagável primeiro-ministro chegou mesmo a afirmar que o português tinha de deixar de ser piegas. Pelo meio, como é típico da elite parola portuguesa, lá vinha a referência à valentia de um povo de descobridores que sempre soube ultrapassar adamastores e bojadores, entidades consubstanciadas, na maior parte das vezes, em politicotes que andam a minar o Estado praticamente desde a fundação da nacionalidade.

Em muitos casos, a zona de conforto de muitos que emigraram era a zona do desemprego. A direitola, neologismo resultante da expressão “direita tola”, não consegue falar ou escrever sobre desemprego sem recorrer às inevitabilidades de despedir ou à caracterização do desempregado como um inútil que vive confortavelmente sentado num subsídio de desemprego. Paulo Portas chegou mesmo a declarar que havia gente a receber o Rendimento Social de Inserção e a aforrar cem mil euros nas respectivas contas bancárias, sem especificar o número de prevaricadores, o que implica lançar uma lama fétida sobre todos os outros. Não admira: o porco, quando se espolinha, não está preocupado em saber se suja alguém.

Camilo Lourenço chegou a explicar que o país ganhava muito com o facto de haver profissionais portugueses altamente qualificados a trabalhar fora do país (esquecendo-se, talvez, de que esses profissionais terão filhos fora do país, pagarão impostos fora do país, servirão as populações de outros países, farão as suas compras nas lojas de outros países). [Read more…]

PARTIR, de Sarah Adamopoulos

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8, 9 e 10 de Maio | 21:30 | Teatro Extremo | Almada | Apareçam!!

Apontamento (Festival Literário da Madeira)

Antena 2 em directo da ilha da Madeira, um festival literário que lá decorre: escritores em volta de uma mesa a falar da literatura da insularidade, Herberto Helder sempre por perto, o jornalista Luís Caetano (exímio nas coisas da literatura) a suscitar um debate em directo para a rádio pública, e de repente alguém, decerto um escritor madeirense, insurge-se e lembra que a diáspora é hoje uma hemorragia, ou então metástases, sim, metástases da austeridade assassina, e diz que há ilhéus que cortam os pulsos, e que aquele festival literário é uma ilusão na biografia da fome e do sofrimento da Madeira. E logo o calam, claro, como se na literatura não pudesse hoje caber a realidade social que os escritores bem vêem (e vivem, e escrevem), ou os seus realismos passados fossem inultrapassáveis, e fosse hoje tempo apenas e somente de uma fantasia qualquer que sirva para entreter. Palmas para o escritor «sem frio nos olhos», como diriam os franceses.

Quando um bom gráfico estraga uma má história

Tenho uma enorme admiração, um verdadeiro espanto, pela relação do Vítor Cunha com os gráficos em particular e a estatística em geral. Deixando para outra oportunidade explicar porquê, é uma cena poética, vejamos a sua última obra de arte:

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O Vítor Cunha desenvolveu uma tese: os maus resultados da Suécia no PISA seriam uma consequência da imigração que por ali grassa, uma boa forma de contornar a realidade: os testes PISA demonstram que as coisas correm muito mal onde se privatizou o ensino.

Tal imigração, proveniente de países com um baixo nível sócio-cultural é que lhes anda a dar cabo dos resultados, uns suicidas, os suecos. Ora vamos lá ver quem de onde vêm os imigrantes na Suécia (dados de 2010): [Read more…]

Como contratar um iraniano em Portugal

Em tempos, que me conste a legislação tão inspirada em Paulo Portas não mudou, conheci o estranho mundo da contratação por uma entidade privada portuguesa de um cidadão estrangeiro absolutamente especializado naquilo de que precisávamos.

No caso uma companhia de teatro e um argentino, actor, encenador, e sobretudo praticante de teatro acrobático, na altura inexistente em Portugal.

O processo é simples: pede-se ao IEFP o que pretendemos, o pedido é espalhado pela pátria, não havendo ao fim de x tempo ninguém que corresponda podemos passar à papelada seguinte até à autorização de trabalho para cidadão estrangeiro, etc, essas coisas simples que distinguem um emigrante em situação legal de um clandestino.

Tivemos azar: o IEFP local ligou e perguntou-me na cara se aquilo não era um perfil muito especializado só para legalizar um estrangeiro. Descaí-me, acabei a perguntar-lhe como é que os clubes de futebol da zona contratavam os seus especialistas em bolas paradas ou remates de cabeça ao fundo da baliza, não apreciaram a comparação, correu mal. Passei depois uma manhã a ligar para o Ministério da Cultura acabando na secção de Dança, só sabiam de casos em importação de coreógrafos, mas nem com essa simpática cooperação encontrámos outra forma de satisfazer o SEF. Sim, o SEF, de quem neste caso o IEFP foi amigo. O SEF é que exige a declaração do IEFP em como ninguém respondeu à oferta de emprego que obviamente exagerámos. [Read more…]

Heresia

A heresia paga-se cara.

Agora está na berlinda apontar baterias à migração de capitais, e seus benefícios fiscais. É capital de empresas, de famílias. Tudo vai.

Acontece que antes disso, assistimos à campanha de migração dos portugueses, com as sugestões do Secretário de Estado da Juventude e do próprio Primeiro-Ministro.

Talvez fosse tempo de se perceber que quanto mais se fala de emigração aos portugueses, mais dinheiro português se verá também a emigrar e menos capital estrangeiro se terá a imigrar na nossa economia.

Porque num país onde o Governo passa a mensagem do “se queres ganhar a vida, emigra”, é um país que não oferece segurança para manter ou atrair capital.

Isso mesmo: o sagrado capital, que é deus convosco, na unidade do lucro santo!

Desenvolvimento e paz

     Dizia Churchil que a democracia é  o menos mau dos sistemas políticos.  É  verdade.  Tem defeitos e falhas,  como tudo o que é humano, mas tem vantagens incontestáveis sobre as ditaduras. Também se diz que a democracia é um  sistema político caro porque as  suas decisões  obrigam a debates e consensos,  não são tão rápidas como  as  imposições das ditaduras.  É  igualmente verdade.  Mas  a crítica,  unilateral,  vem dos que não querem ter o trabalho  de pensar  pela sua cabeça,  de participar activamente na coisa pública.  Exige civismo 365 dias por ano, 24 horas  por dia. É uma vocação  de bem comum,  de solidariedade,  de construção  cultural assente em liberdade  e respeito pelo próximo.

     Todo o ser humano tem direito  à  educação, à saúde, à habitação, ao trabalho,  à  livre expressão  dos seus pensamentos,  à associação na defesa  dos seus legítimos interesses –  seja qual  for a sua raça, religião, sexo,  orientaçao sexual,  opção  política  e  país de origem.  Não é preciso ser crente ou pertencer a  uma religião  para se saber que é assim.   Basta ser decente. [Read more…]

Prevaleceu o bom senso, mas convém reflectir…

Um eventual recurso do PS para o Tribunal Constitucional, visando a anulação dos votos dos emigrantes do Rio de Janeiro, teria um efeito prático nulo, porque mesmo que a pretensão viesse a ser atendida, seria o PSD a eleger os dois deputados pelo círculo fora da Europa. Seria assim incompreensível persistir num acto, que resultaria apenas no atraso da tomada de posse do novo governo.

Prevaleceu o bom senso no Largo do Rato, mas considero que este caso não pode ser desvalorizado, pelo contrário, deve ser averiguado e politicamente debatido, por forma a reforçar os mecanismos de segurança, evitando qualquer hipótese de fraude, convém ter presente que a CNE deu razão numa queixa apresentada pelo PS, por factos que desconheço se vieram ou não a ser confirmados. Antes que um destes dias possamos ter o resultado de uma eleição decidida nos Tribunais, com o país paralisado, basta lembrar Bush vs Gore em 2000 na Florida, ou mesmo ver colocada em causa uma maioria no parlamento, na 2ª eleição de António Guterres, houve um empate, o célebre 115-115, seria interessante reflectir sobre a forma como chegam os votos dos nossos compatriotas que vivem além fronteiras. Ninguém de bom senso, contestará o direito ao voto a qualquer português, mas certamente todos queremos ver os nossos políticos eleitos sem sombra de suspeita, quer o resultado nos agrade ou não.

Nobel da Paz para Berlusconi

Foi constituído o comité que irá preparar a candidatura de Sílvio Berlusconi ao prémio Nobel da Paz, pelo “seu empenho humanitário no campo nacional e internacional.” Não sei exactamente que medidas tomadas no plano interno têm em mente os patrocinadores desta candidatura, uma vez que a notícia que está a ser avançada apenas refere a actuação do Cavaliere na cena internacional, mas creio que bastaria citar a nova lei da imigração, aprovada há dias, e as suas humanitárias propostas, para justificar a atribuição do Nobel a Berlusconi: – Criminalização da imigração ilegal, com aplicação de uma multa de até dez mil euros a quem entrar ou permanecer no país sem visto; – Aumento do tempo máximo de permanência de imigrantes em situação irregular nos Centros de Identificação e Expulsão (o nome diz tudo); – Proibição às mulheres estrangeiras sem visto de permanência de registarem os filhos que tiverem em território italiano, o que, a ser cumprido, abrirá caminho a que percam a guarda das suas crianças quando forem expulsas do país; – Legalização das milícias populares formadas por cidadãos que pretendem garantir a segurança pública (as “guardias padanas”) e que até aqui se têm dedicado a vigiar os imigrantes em situação irregular; – Proibição do arrendamento de imóveis (casas ou quartos) a imigrantes em situação irregular, com aplicação de multa e detenção até três anos para os senhorios infractores. Bem vistas as coisas, porquê parar por aqui? Por que não reclamar o Nobel que a Cosa Nostra há tanto merece? Ou exigir a Oslo que, ainda que a título póstumo (bem diz o povo que mais vale tarde do que nunca), distinga o pacifista Benito, e assim redima Il Duce daquela morte patética, de pernas para o ar, exposto à multidão desrespeitosa naquela praça de Milão?

Itália, 4 de Abril de 2009

Lembrem-se, antes de mais, de que se completaram já 54 anos desde esse 1 de Dezembro em que Rosa Parks recusou ceder o seu lugar a um passageiro branco num autocarro de Montgomery, no Alabama. Em Foggia, uma cidade agrícola na província de Puglia, em Itália, as autoridades locais anunciaram a criação de duas linhas de autocarros distintas: uma apenas para imigrantes e outra apenas para cidadãos locais. Na verdade, a linha é a mesma: a número 24, que une o centro da cidade ao bairro periférico de Borgo Mezzanone. A cerca de dois quilómetros deste bairro está um centro de acolhimento para imigrantes. De forma a evitar as fricções que se poderiam fazer sentir entre residentes e indesejáveis, nada melhor do que separar os veículos, ampliando o percurso do autocarro dos imigrantes até ao centro de acolhimento, e assim poupando-os à caminhada de dois quilómetros, e libertando os locais da presença dos não-europeus. O racismo mascara-se muitas vezes com a capa da falsa piedade, das hipócritas boas-intenções, da segurança que se impõe pela violência. E também esta medida vem com o rótulo de higiénica e bem-intencionada. Para quê forçar a convivência de pessoas que, não fosse a vaga de imigração africana que assola a Europa, nunca se teriam cruzado? Naturalmente será mais prudente isolar estes imigrantes para que a sua frustração, o seu sentimento de impotência e de injustiça não venham a encontrar expressão numa espiral de violência que se acenda com um olhar, um insulto, o encontro súbito de dois seres humanos assustados. Deparei-me com a notícia hoje e a coincidência deixou-me um sabor amargo na boca. É que hoje cumpre-se mais um aniversário, o 41º, do assassinato de Martin Luther King.