Lagarde e a fascinante liberdade dos mercados

Christine Lagarde é uma tecnocrata nascida na política. Foi ministra de Villepin e Fillon, durante as presidências de Chirac e Sarkozy, e daí subiu à primeira, contratada para jogar a CEO no miolo do FMI. Seguiu-se o BCE, onde se encontra hoje a mandar nas finanças dos europeus, sem que 99,9999% dos europeus tivesse uma palavra a dizer sobre isso.

Esta semana esteve em Sintra, poderosa, para nos dizer que os juros são para continuar a subir. Para culpar os trabalhadores e os seus parcos aumentos salariais pelo aumento da inflação. Para avisar os governos que os apoios extraordinários relacionados com a covid e a guerra são para reduzir até desaparecer. Para nos dizer a todos, sem excepção, que temos que empobrecer. E tê-lo feito em Portugal tem um simbolismo que dispensa explicações. [Read more…]

O futuro da Ucrânia nas mãos dos agiotas

Military cemeteries in Ukraine are expanding just as rapidly as the northern Virgina McMansion beach front estates of executives of Lockheed Martin, Raytheon, and assorted beltway contractors, benefiting form the second highest level of military spending since WWII.

Defender a autodeterminação da Ucrânia não te obriga a negar a realidade. A Ucrânia não é uma preocupação do Ocidente. É um negócio. Um negócio rentável. Muito rentável.

Partido CH, uma ameaça à segurança nacional

Um dos argumentos mais usados pela extrema-direita para vender o seu projecto de autoritarismo e supressão da liberdade é o da segurança. Sempre de mãos dadas com o medo. Medo de crentes de outras religiões, medo da imigração, apimentada por teorias estapafúrdias de substituição populacional programada, medo de tudo o que é diferente.

Azar o deles, Portugal não padece de nenhum desses problemas. E voltou a surgir no top 10 do Global Peace Index, como o 7º país mais seguro do mundo. Uma chatice para a minoria liderada por André Ventura, que lá terá que continuar agarrada aos ciganos. [Read more…]

Só não vê quem não quer ver

Impressiona-me a quantidade de carros de luxo a circular em Portugal: Jaguar, Porsche, Tesla, Mercedes, BMW, etc. Isto, além dos que enchem stands de automóveis, por todo o país. Os SUV`s de luxo, esses, então, parece que pululam.

O recurso ao crédito pode ajudar a explicar alguma coisa, mas está longe de explicar a substância. Tanto mais com o aumento das taxas de juro.

Há,sim, sinais exteriores de economia paralela em todo o lado, e só não vê quem não quer ver.

Se atendermos ao PIB per capita (7º mais baixo na UE em 2021 e em 2022), ao custo dos bens essenciais e dos combustíveis, à carga fiscal sobre o trabalho e as empresas, para além das altas taxas de IVA, ao custo do metro quadrado de construção, o aumento das taxas de juro, e à alta inflação, é fácil de perceber que tanto carro de luxo não bate certo com a nossa realidade económica e social espelhada nos dados oficiais.

Faz lembrar o tempo de Alves Reis, em que as pessoas questionavam-se como é que num país tão velho, havia tantas notas de quinhentos Escudos novas.

Qualquer pessoa que viva do seu salário, ou que tenha um negócio lícito, sabe o quanto custa ganhar a vida para cumprir compromissos básicos. Aliás, quem tenha um salário, por exemplo, de € 4.000,00 – que face à nossa realidade salarial, é um salário alto, topo de algumas carreiras -, entrega cerca de metade ao Estado.

Só a economia paralela pode explicar – ou, pelo menos, numa substancial parte -, que crescentes sinais exteriores de riqueza coabitem com o aumento da perda de poder de compra e do empobrecimento.

E essa realidade, que tem vindo a crescer a olhos vistos, foi recentemente exposta por um estudo da Faculdade de Economia do Porto. Estudo, esse, que passou ao lado da divulgação e da discussão públicas.

Segundo aquele estudo da FEP, a economia paralela tem vindo a crescer desde 1999 e já representa, em 2022, 82.232 milhões de Euros.

Um governo que se diz (pf. não se riam) socialista, e que invoca, rotineiramente, a equidade fiscal para justificar o que é menos popular -, desde reduzir a remuneração do aforro até à redução ilegal dos apoios às rendas -, deveria, há muito, ter abordado esta fonte de desigualdade social.

É possível que quem leia este texto, ainda se esteja a rir do Governo se dizer socialista. Sim, é cómico. Mas, o enraizamento da economia paralela, é uma das maiores tragédias de qualquer país.

Imposto só é roubo quando um país é governado por ladrões

Não sei quanto a vós, mas eu adoro a patranha neoliberal que garante, com arrogância pseudo-académica, que os nossos jovens abandonam o país devido à carga fiscal, porque, lá está, “imposto é roubo”.

Depois vai-se a ver para onde estão a sair os nossos jovens e constata-se que estão a trocar o Reino Unido – onde Rishi Sunak anunciou há dias a intenção de reduzir impostos – pelos países nórdicos.

Imposto só é roubo quando um país é governado por ladrões. Porque, até ver, ainda não se produziu um sistema mais funcional, decente, humano e capaz de gerar tanto bem-estar a tantas pessoas como aquele que assenta precisamente na ideologia que propõe impostos elevadíssimos para financiar um estado social amplo e eficaz. Chama-se social-democracia, é filha do socialismo, neta de Marx, Engels e Lassalle.

Imposto não é roubo. Roubo é querer deixar o cidadão comum ao Deus-dará, para proteger as grandes fortunas que, regra geral, são quem mais beneficia dos serviços e infraestruturas do Estado. E do favor dos sucessivos governos. Taxem-se.

Polónia, o autoritarismo e o futuro

“O Mundo a seus pés” é um podcast do Expresso que merece ser ouvido. O último episódio foi sobre a “iliberal” Polónia.

Alto e quê, Expresso?

OK. Muito bem.

Alterações climáticas, em Portugal um não-tema

Bem podem o Alentejo e o Algarve estar em situação de seca severa, as temperaturas a níveis cada vez mais extremos: a única coisa realmente interessante é o PIB – mesmo que as pessoas continuem a fazer equilíbrios para chegar ao fim do mês. Não se larga o osso do modelo de agricultura super intensiva – que contribui para agravar a situação – nem a construção de enormes hotéis e resorts.  É sabido de cor e salteado que não é possível continuar com a ideia fixa do crescimento e delapidação de recursos, é sabido que há que priorizar a acção climática AGORA, se se quer evitar os pontos de ruptura climática, mas segue-se o caminho errado até ao fim, agarrados ao status quo que já nos trouxe aqui onde estamos. O governo/os governos/os presidentes de câmara querem ser eleitos; regulamentar bens escassos como a água – acabar finalmente com monoculturas exigentes em água, onde ela é exígua, acabar com piscinas em cima de cada apartamento dos condomínios de luxo, dimensionar o turismo em vez de o alavancar a todo o vapor – tudo isto não é nada favorável à obtenção de votos. Portanto adiante. Dessalinização para continuar no ritmo predador. Os preços da água aumentam? Paciência, o agronegócio precisa.

Este governo demonstra todos os dias que a preservação do ambiente lhe é igual ao litro e o ministro do ambiente só aparece para anunciar e justificar medidas com impactos negativos para o ambiente. Um pseudo-ministro do ambiente, com a função de legitimar os negócios. E pelo poder local abaixo, afinam-se todos pelo mesmo diapasão.

Os negócios. O crescimento. O PIB. A alimentação do sistema insaciável. A corrida para o precipício, ao som dos estridentes gritos neoliberais pela liberdade de conduzir um SUV em cidades enfartadas.

Bens escassos como a água terão, obrigatoriamente, que vir a ser racionados e terá de haver ALGUMA justiça nisso. Bem podem espernear os neoliberais: Quando chegar o momento da sobrevivência do e no planeta, a liberdade não lhes vai servir um tusto. E ainda vão clamar pelo estado para vir gerir a escassez. Como aliás já clamam quando há disrupções.

Bloco Central: a ganhar desde 1976

Aquando das últimas sondagens, houve alguma surpresa na opinião pública, acerca do PSD não ganhar impulso face ao PS, considerando tantos tiros nos pés dados pelo Governo, em tão curto espaço de tempo.

Ora, é por estas e por outras, que o PSD não se alavanca. Porque existe uma percepção clara de que não haverá muita diferença de políticas, com a excepção de que os socialistas são sempre mais generosos nos gastos públicos em apoios sociais. Mesmo quando dão o dito por não dito , a bem da “equidade fiscal”. Sim, porque  o respeito pelos direitos adquiridos, não é para todos.

Se juntarmos a isto o facto do discurso crítico do PSD, não ser acompanhado de uma mensagem clara e concisa do que faria diferente, percebe-se porque, nas sondagens, o PSD não capitaliza: há uma clara ideia de que são todos  iguais, mas, à boa maneira portuguesa, os socialistas  sempre “dão mais um bocadinho”.

Seja como for, o Bloco Central, esse, ganha sempre. Pois não há melhor cliente, do que o Estado.

Está tudo como dantes no sítio do costume?

For phonological similarity, for example, Flege (2003) concludes: “It will be necessary to study a wide range of L1–L2 pairs and L2 speech sounds in order to draw general conclusions regarding the nature of constraints, if any, on L2 speech learning” (p. 28).
— Schepens, van Hout & Jaeger (2020)

***

Curiosamente, na semana em que voltei a ouvir uma entrevista dada por Richard Dawkins, apareceu-me no Facebook um vídeo publicado pela Universidade de Oxford, com uma apologia do envio de memes aos amigos. Dawkins é um celebérrimo oxoniano e criador do conceito meme original. Por isso, tão-somente curiosamente. Adiante.

Nessa entrevista, Dawkins cita Bertrand Russell. Já lá vamos. Pouco antes de Russell, Dawkins citara Mark Twain, dizendo:

I was dead for billions of years before I was born, and never suffered the smallest inconvenience.

Tudo bem. É uma simplificação, chamemos-lhe uma “citação livre” de um clássico das citações de algibeira:

I had been dead for billions and billions of years before I was born, and had not suffered the slightest inconvenience.

Não há qualquer problema. Aliás, a simplificação até tem piada e é riquíssima em dados para as minhas notas.

No entanto, depois disto, quando Dawkins cita Russell, cita-o assim: [Read more…]

O Governo das Sombras Chinesas

A ancestral arte das sombras chinesas feitas com as mãos, é fascinante. O saber usar as mãos à contra-luz para se obter uma forma de algo tão distinto das mãos em ofício, seja um porco, um cisne, um cão ou um homem de chapéu, desperta não só o imaginário como aguça a nossa capacidade de percepção.

Ora, parece que António Costa tem sabido aplicar esta arte oriental à prática governativa.

O mais recente exemplo, e que melhor espelha esta fina arte de iludir, reporta-se ao tão propalado apoio ao pagamento das rendas habitacionais, como medida social para debelar os efeitos da inflação e da perda de poder de compra. Foi notícia de primeira página, abertura de noticiários, holofotes, palanque, gráficos e tudo mais.

Posteriormente, foi aprovado o DL 20-B/2023, de 22/03, que, segundo o Portal do próprio Governo, estabelecia o seguinte regime de acesso:

Para serem elegíveis, os inquilinos deverão ter uma taxa de esforço (rendimento mensal afeto ao pagamento da prestação) igual ou superior a 35% e rendimentos coletáveis anuais até 38.632 euros (6.º escalão do IRS) e com contratos de arrendamento ou subarrendamento para habitação permanente celebrados até 15.03.2023

Parecia ser linear, a interpretação do artigo 4º daquele DL 20-B/2023, de 22/03. Parecia. Pois, segundo a notícia de hoje do “Dinheiro Vivo”: [Read more…]

Viktor Orbán, o André Ventura favorito de António Costa

O desvio do Falcon a caminho da Moldávia é um pequeno peanut. Grave é ver o primeiro-ministro reincidir na normalização de Viktor Orbán. Se António Costa quer rasgar as vestes a cada nova gritaria do CH – que até já lhe “cercou” a sede do partido – não pode a seguir alterar a agenda oficial para se sentar ao lado da principal figura da extrema-direita europeia a ver um jogo de futebol. Nem pode exigir clareza ao PSD na sua relação com o CH. Ou até pode, mas deixa a nu a sua hipocrisia. [Read more…]

Uncomfortably Numb

Mesmo junto ao local onde trabalho, existe um daqueles espaços com máquinas automáticas que estão abertos vinte e quatro horas. “Aberto” é termo apropriado para este sítio em particular: os vidros que serviam de parede foram partidos por mitras em tempos imemoriais e jamais foram substituídos. E é desses mitras de que vos falarei hoje.

Habitualmente, o espaço está ocupado por um grupo de três ou quatro mitras e uma gaja, que deve andar a comer um deles, ou mais provavelmente os quatro. Fazem-se acompanhar de colunas de som e da bolsinha da ganza. Diria que o fumo pesado dos charros num espaço muito frequentado por crianças (é uma zona com várias escolas) seria desadequado, não fosse o lugar muito pouco kids-friendly por si mesmo, uma vez que uma das máquinas vende utensílios tão esdrúxulos quanto dildos, anéis vibratórios ou flashlights. Uma vez, de forma a pregar uma partida a um amigo mais ingénuo, uns alunos meus compraram uns preservativos na máquina, disseram ao amigo que se enganaram a pedir, que tinham pedido algo de que não gostavam, mas se ele quisesse podia ir buscar, que ficava para ele, e o pobre voltou confuso e com um anel vibratório na mão, que os colegas compraram convencidos de que eram preservativos. Ri-me e alertei que eles queriam enganar o colega, mas que nem sabiam comprar preservativos, contudo não daria mais explicações, alegando que lhes faltavam anos de vida para terem acesso à verdade, quando a mim é que faltava o conhecimento do que raio é um anel vibratório. [Read more…]

O Manuel do Laço (1947–2023)

Vi-o, pela última vez, há quatro anos, no dia 28 de Abril de 2019. Eu, ao  balcão do nosso Convívio, entre a melhor tosta mista do Porto, um príncipe e o SC Braga — Benfica. Ele, vindo do lado da tabacaria, a espreitar à pressa o mais cobiçado televisor da sala. Na ausência de informação do resultado no ecrã, olhou para mim, com confiança, à espera do veredicto: “O Glorioso está a ganhar”, disse-lhe eu: “3–1”. “Este já não me escapa”, rematei, piscando-lhe o olho. O Manuel riu-se, ainda viu uns cinco minutos do jogo — não chegou a ver o 1–4, golo do Rafa — e despediu-se. Um abraço aos familiares e amigos e a toda a nação boavisteira.

A quem serve o Estádio Nacional?

À beira de completar 80 anos, o Estádio Nacional, obra inspirada no estádio olímpico de Berlim, foi inaugurado com pompa e circunstância pelo Estado Novo no dia da raça 10 de Junho de 1944, servindo os propósitos do regime.

Desde 1946, salvo alguns anos que são excepção à regra, acolhe a final da Taça de Portugal, durante muitos anos recebeu jogos da selecção nacional e até a final da Taça dos Campeões Europeus em 1967. [Read more…]

Se tiver havido ocorrências de recepção em vez de recessão, agradeço que mas facultem

Corrigiram? Antes isso. Mas o mal já estava feito. Exactamente.

Tax the Poor

Guerra, inflação, especulação imobiliária e aumento generalizado do custo de vida.

O que fazer?

Não posso taxar as grandes fortunas, ou os lucros astronómicos dos grandes poluidores, que isso do clima resolve-se com bicicletas e palhinhas. Os lucros da banca também não, principalmente em Portugal, que ainda há para lá uns certificados de aforro a 2,5% e os bancos já não aguentam a concorrência, quanto mais outro imposto. Tecnológicas? Porra! Ainda nos substituem por AI.

Mas então, o que fazer?

Já sei: vou aumentar novamente a taxa de juro de referência. A malta já anda há muito a viver acima das suas possibilidades. Que gastem menos dinheiro em vinho verde e coisas.

Rankings escolares do Terceiro Mundo

Chegamos àquela altura do ano em que se anunciam os rankings escolares, como sempre dominados por colégios privados, a maior parte dos quais habitualmente apanhados a inflaccionar artificialmente as notas, sobretudo de educação física, ou não fossem os seus alunos, mais do que o futuro deste país, o futuro do Comité Olímpico Português. Em Portugal, mérito é ter dinheiro. E com esta cultura de mérito, o nosso lugar no Terceiro Mundo da Europa está garantido.

Habituem-se

Regresso rapidamente ao tema “Costa vítima de racismo por aparecer num cartaz com nariz de porco“, para vos recordar que, em Dezembro passado, em pleno hemiciclo, o mesmo António Costa apelidou os deputados da IL de “queques que guincham”.

Sabem quem é que também guincha?

Os porcos.

Marcelo Rebelo de Sousa: da irreverência à irrelevância

O passado de episódios de irreverência de Marcelo Rebelo de Sousa, desde o famoso “lélé da cuca” ao não menos famoso episódio da “vichyssoise”, é sobejamente conhecido.

Na construção do seu percurso rumo ao Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa cuidou de gerir a sua imagem de comentador político de referência em Portugal. De início na rádio e depois na televisão, passou a ser visto e escutado com reverência ao Domingo à noite. E rara era a Segunda-feira que as suas análises não eram debatidas.

Quando em 2016, finalmente, atingiu o seu propósito maior, tornando-se Presidente da República, logo se percebeu que não iria conseguir largar a pele de comentador político. E se antes apenas o tínhamos a comentar a actualidade política na televisão ao Domingo à noite, desde aquela data passamos a tê-lo todos os dias e a todas as horas.

Contudo, algo mudou: a sua irreverência deixou de ser espontânea e episódica, que o fazia uma referência interessante, e até quase icónica, no cinzento panorama político português. E passou a ser um saturante exercício de popularidade de quem quer ser amado, ou mesmo venerado, por todos. Ou, simplesmente, notícia.

O seu ego poderá estar satisfeito com todos os microfones e holofotes que tentam, todos os dias e a qualquer hora, captar-lhe uma frase, um gesto ou tão só um trejeito. Qualquer coisa que se venda, num país sem mercado para tanta imprensa, e noticiários inchados à custa de esteróides feitos à base de cartilhas político-partidárias.

Todavia, a figura institucional de Presidente da República tem vindo a deteriorar-se. Pois que a sobriedade e probidade não combinam, por exemplo, com um Chefe de Estado que surge na televisão em calção de banho a fazer considerações sobre o Orçamento do Estado. [Read more…]

Os Talibans da moralidade

Eu percebo que o primeiro-ministro não goste de se ver representado como um suíno de lápis enfiados noj’olhos. Eu também não gostaria de me ver assim representado, se bem que me pareço mais com um rato.

Puxar a cartada do racismo, por um lado, desvaloriza todos os reais actos de racismo (que é estrutural, diga-se) e, por outro, atropela todo e qualquer pressuposto da liberdade de expressão (e artística).

Somos todos Charlie Hebdo, mas não caricaturem o primeiro-ministro de Portugal porque isso é racismo. E uma caricatura que representa Hitler com a estrela de Davi, para chamar a atenção para o genocídio do povo palestiniano, é anti-semitismo. E um actor cis-género a interpretar uma personagem transexual é transfobia. E uma escultura em forma de falo pode chocar os senhores padres pedófilos. E isto serve, (também e) sobretudo, para a wokice que, em certas camadas, invadiu os espaços à esquerda.

Relembro o desenho abaixo representado, que indignou muita gente beata, porque Talibans das liberdades há-os um pouco por toda a parte, sejam mais progressistas ou mais conservadores.

Ide.

Imagem retirada do site esquerda.net

Marques Mendes against banqueiros

Reparem que foi Marques Mendes o conselheiro de Estado, não Marques Mendes o comentador/membro de conselhos de administração de grandes empresas. Esse costuma ser mais brando na censura a aplicar à banca. Mas não deixa de ser um momento inesperado de grande esquerdalhice de tão destacado intelectual da nossa direita. Ali a roçar o extrema-esquerda.

Diz que é uma espécie de racismo

racismo|rà|
(ra·cis·mo)

nome masculino
  1. Teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outros, baseada num conceito de raça, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país ou região (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria.
  2. Atitude ou comportamento sistematicamente hostil, discriminatório ou opressivo em relação a uma pessoa ou a um grupo de pessoas com base na sua origem étnica ou racial, em particular quando pertencem a uma minoria ou a uma comunidade marginalizada.

Uma caricatura de António Costa com nariz de porco e dois lápis espetados nos olhos não parece encaixar nesta definição. Encaixa na definição de insulto, eventualmente na de mau gosto, dependendo dos gostos de cada um, mas não na definição de racismo. Talvez a máquina de propaganda do PS tenha outra. Mas esta relação simbiótica com a extrema-direita já está para lá de ridícula.

Os traidores não têm pátria!

 

10 de Junho, dia de Portugal.

Local – Peso da Régua, cidade pombalina, cujos autarcas (o actual é do PSD) não sabem o que é nem o que significa.

Presidente da Comissão Organizadora – Nicolau de Almeida, enólogo, dispensa apresentações.

Douro – um bem inscrito na lista da UNESCO como Património Mundial. 

Vinhos do Douro e vinho do Porto – activos valiosos do país.

Casa do Douro – a casa dos lavradores do Douro

Áreas da governação – Agricultura, Cultura, Economia, e Território, pelo menos.

Ausentes no Peso da Régua – Ministra da Agricultura (Maria do Céu Antunes), Ministro da Cultura (Pedro Adão e Silva), Ministro da Economia (Costa e Silva), e Ministra da Coesão Territorial (Ana Abrunhosa).

Como qualificar estes Ministros? Dizermos que não tem vergonha na cara é pouco! 

O que mereciam?

Da Lei da Morte Libertando

Sportswashing lava mais branco

Mohammed bin Salman é o novo Vladimir Putin, imparável a comprar o Ocidente com petrodólares vermelho-sangue. Tenho pena de ver o Cristiano Ronaldo ser pioneiro no sportswashing do totalitarismo saudita, só comparável à Coreia do Norte em termos de repressão, e mal posso esperar para conhecer os argumentos dos hipócritas, no dia em que a narrativa fizer com ele o mesmo que fez com Putin, após duas décadas a branquear os seus crimes.

A Bíblia é pornográfica, disse o talibã cristão

A multiplicação dos doidos do cancelamento segue imparável.

No Estado do Utah, a Bíblia foi banida de todas as bibliotecas de escolas de primeiro e segundo ciclo por estar “cheia de sexo”. O argumento do pai peticionário chega a afirmar que:

[A Bíblia] não tem valores sérios para menores, porque é pornográfica, segundo a nova versão.

Pornográfica.

Por-no-grá-fi-ca.

A extrema-direita e os fundamentalistas religiosos metem os wokes no bolso das moedas. Fácil.

Grande Entrevista: Noam Chomsky

Efectivamente.

Certificados de aforro: o cartel é quem mais ordena

Coube a João Nuno Mendes, Secretário de Estado das Finanças, a árdua tarefa de vir a público garantir ter havido “zero pressão” da banca no cancelamento da série E dos certificados de aforro, que remunerava até 3,5%.

No início achei estranho, dado que, dias antes, ouvi o antigo presidente do IGCP, hoje presidente do Banco CTT, defender a suspensão da emissão de certificados de aforro, que o governo, solícito, cancelou quatro dias depois, na passada Sexta-feira.

Depois ocorreu-me tratar-se do mesmo secretário de Estado que soube da indemnização de Alexandra Reis pela comunicação social e pensei: coitado, mais um infoexcluído.

Adiante. [Read more…]

Uma Europa Social como prioridade

mais um excelente artigo de Teresa Violante, no Expresso, sobre as prioridades esquecidas de uma Europa à beira do precipício.